Ruliá sempre tomava o antidoto, para manter a farsa, mas com o grau de entorpecimento muitas vezes o efeito era lento. E ele, como já conseguira o que queria, não ligava, mais tanto para a esposa. Muitas vezes, fazia um esforço sobre-humano para a enganar com um amor incondicional, que não existia. Ruliá abriu a porta com força, o que já a assustou.— Lara, estou com fome, meu jantar está pronto.— Sim, e tenho uma surpresa para você, meu amor.— Depois que eu jantar. Estou com fome — ele falou com a voz alterada.— Tudo bem, Ruliá.Ela o serviu, o esperou comer e depois soltou a notícia, que para ele, foi como uma bomba.— Ruliá, estou grávida.— O quê? Um filho, com essa energia da estrela. Jamais. — Como assim — ela falou assustada, pela reação do marido e o tom de voz.— Renuncie as suas funções como guardiã. Não quero um filho meu com essa energia. Entendeu, Lara.— Como assim.O tapa foi tão forte, que para não cair, a jovem se segurou na ponta da mesa.— Faça o que estou manda
— É muito bonita, meu filho. Vamos abrir essa caixa.— Vamos, eu quero ver.Lara abriu o modesto baú e encontrou ali os seus tão preciosos objetos estelares: a pulseira e o colar. Guardiãs de primeira grandeza possuíam sempre os dois artefatos.A guardiã tirou a pulseira com a mão direita e na mão de Lara, a estrela cintilou, o que deixou Julião maravilhado.— O que é isso, mamãe?— A Estrela de Thuman, meu filho. A mamãe já foi guardiã um dia, e uma vez guardiã eternamente guardiã. Sabe aquela estrela, que fica na praça?— Sei, é muito bonita.— Então, a mamãe tinha a função de purificar aquela água que escorre do monumento. — E, por que você parou?— Porque seu pai pediu. Ele não gosta que eu o deixe sozinho.— O que essa estrela faz?— Oferece-nos a energia necessária para vivermos em paz, harmonia e amor e nos traz abrigo, alimentos e tecnologia.Lara retirou também o colar e a estrela brilhou ainda mais. Os dois estavam tão compenetrados pela beleza da luz, que emanava da estrel
— A passagem foi aberta! — Murmurou Liá, com os olhos marejados. — Preciso avisar a Padiah o quanto antes.— Liá, corra. Não só avise através da tecnologia. Fuja. Sua missão, aqui na Cidade Central, por enquanto se acabou. Vá para a caverna — a estrela a chamava e Liá, sem pensar duas vezes, correu para cumprir mais essa missão.Em minutos, Liá chegou ao seu diminuto aposento, que consistia em apenas quarto e cozinha. Sentou-se na cama e tentou se transportar. No entanto, nesse momento a estrela não brilhou, uma vez que para usufruir desse poder, precisava de seu parceiro. Há tempos ele fora assassinado pelas mãos dos soldados cruéis do Comandante Maior. Diante desse empecilho, a guardiã não precisou pensar muito, e foi obedecer ao comando anterior. Rápida e eficiente, ela arrumou sua mochila, apenas com o essencial. Para disfarçar, espalhou roupas e deixou comida na geladeira, pois assim não desconfiariam de que fora embora. Com a mochila nas costas, pegou o mapa que, antes da gran
Talvez seja por isso que, não cremos nas histórias que nos contavam.— Desculpe se os ofendi, levo uma vida de temor e vigília. Tome, olhem o mapa. Tomara que possam me ajudar. Se andam muito com essa carroça, talvez consigam me falar pelo menos o rumo, o qual tenho que tomar.No mesmo instante em que Abra abria o mapa, e o decifrava, Julião na Cidade Central, chegava nas cercanias do Palácio para despertar o Comandante. A estrela o atrasou, para que Liá consegui encontrar o casal de jovens e pudesse chegar até Padiah. O soldado, enquanto corria, tropeçou várias vezes, em corpos espalhados no chão, que mal se moviam de tanta droga, espalhada pelo corpo. Além de ter sido importunado, por um colega de trabalho que voltava de seu turno.— Julião, como vai? Já está indo para o Palácio? — Estou e preciso correr.— Mas você não deixou seu turno, hoje pela manhã? Esqueceu alguma coisa.Julião, não podia ser grosseiro. Esse soldado possuía uma patente maior do que a sua, pelo menos. Por enqu
— Dona Liá, idosa, eu não diria, mas ansiosa, isso sim! — respondeu-lhe Abra, sorrindo — Demorei a verificar, porque essa não é a rota que costumamos fazer, mas é para o mesmo lado que vamos, pelo menos até parte do trajeto. Quando chegarmos em nossa casa, nosso mentor, que conhece o deserto e a região como ninguém, a ajudará e, quem sabe, a acompanhe, até o vosso destino. — Nós temos que partir logo — advertiu Tutti — pois teremos uma longa jornada pela frente. Chegaremos a nossa casa somente ao fim do dia. Eu e senhora vamos no interior da carroça, dona Liá.Liá não tinha palavras para agradecer-lhes, e os abraçou enternecida. — Obrigada, nem sei o que dizer. E não precisam me chamar de Dona, por favor. Sinto-me mais velha, ainda, do que sou.O deserto fazia-se como pintura, uma paisagem mística, porém também muito perigoso, que pregava peças em viajantes descuidados. Liá sentiu-se abençoada por ter encontrado os jovens, já que não tinha certeza se teria sobrevivido sozinha. Agora
— Não se sinta triste, minha amiga. Pressenti a morte de Martin desde essa época, embora não tivesse a confirmação. Agora tudo faz sentido e o sonho que tive com ele, foi um aviso. Nele, Martin perecia defendendo nosso rei e a rainha. — Expôs o cunhado com a voz embargada. — Mas não falemos de morte, falemos de vida! O que a traz aqui após de tanto tempo. Estou sentindo algo diferente, uma áurea boa, vindo de você.Liá, sem conter a emoção, envolveu Marcus, de novo, em um abraço apertado e chorou. Passara muito tempo solitária, sem parentes ou amigos, e agora tinha a chance de estar com eles novamente. Ainda abraçados, Marcus a conduziu pelos corredores e levou-a para uma pequena sala de refeições.— Traga uma bebida para minha amiga, de preferência, algo bem forte!Liá sorriu.— Você continua o mesmo!— Precisamos brindar esse reencontro, que sabemos não ser nenhuma coincidência, não é mesmo. — Com certeza não. A estrela me levou até aqueles jovens e até aqui.— Conte-me, minha irm
— Rainha — os dois guardiões a referenciaram.— Padiah, leve Ané com você para a biblioteca. Não deixe que ele venha atrás de Ali, por favor. — Sim, minha rainha.Padiah saiu e as deixou sozinhas. — Ali, agora sou eu e você. Nossos guardiões, precisam de nós. Pare com esse medo do que Ané possa pensar. Se ele não entender seus poderes, deixe-o brigar, ficar triste, mas agora, nesse momento, o que precisamos é que você use todos os seus poderes.— Minha rainha, acho que tenho mais medo da reação dele, em relação a minha ligação com Carliah, que sabemos ser o Comandante Maior.— Relação essa que já se extinguiu. Você errou lá atrás ao pensar que ele era seu companheiro. Ele se tornou o que é, por vontade própria. Temos que reagir, vencer essa batalha e trazer nosso planeta de volta a vida. Lembre-se, nossos guardiões precisam de nós, e não é só para a batalha final, é para o agora.— Sinto, rainha, que a primeira coisa que preciso fazer, é voltar ao passado. — Lembrar do dia em que c
Ali voltou do transe e respirou profundo. As mãos começaram a se transformarem, mas pararam, quando escutaram vozes, ainda ao longe, mas suficiente para assustá-la. Ainda não era hora.— Você está bem, Ali.— Sim, minha rainha. Já era a índole dele. Por que me esqueci disso?— Porque você, em algum momento, se apaixonou e se decepcionou.— Preciso meditar, meus poderes estão ficando a cada momento mais fortes.— Que a grande guardiã volte as suas origens.— Obrigada rainha. Primeiro pelo puxão de orelha. Segundo por sempre acreditar em mim.— Sinto que precisamos estar com Magdali. Vamos até ela.As duas deixaram o local e partiram para o quarto de Magdali que meditava.*****A guardiã, sentada em posição de lótus, encostada na parede, tremia e suava. — Magdali — Ali a chamou — Está me ouvindo?— Sim. Sinto uma energia. Alguém está tentando comunicar, mas não tem energia suficiente. É o que parece.— A estrela ainda não está ativa em sua totalidade. O que faremos — perguntou a rainha