POV ALICE.
Meu primeiro instinto foi correr. O lobo era gigantesco, mais do que eu já tinha visto em qualquer documentário ou livro. Nunca havia ouvido falar de lobos nesta região, e sabia serem perigosos. Mas… algo em mim não permitiu que eu fugisse. Talvez fosse a minha paixão por animais. Ser veterinária sempre foi o meu sonho, e ali estava, diante de mim, uma oportunidade de ajudar. Mesmo que fosse imprudente.
Aproximei-me devagar. Peguei um galho ao meu lado, hesitante, e cutuquei o corpo inerte. Nenhuma reação. Ele não se mexeu. Meu coração acelerou, mas a tensão que sentia diminuiu um pouco. Me ajoelhei perto dele, sentindo o cheiro de terra e pinho preenchendo o ar ao meu redor.
— Você é enorme… — murmurei, enquanto minha mão tremia ao tocar de leve seu pelo. O calor de seu corpo me chocou. Ele estava vivo, mas tão machucado que eu mal conseguia entender como ainda respirava. Uma onda de pânico me percorreu.
— Você está vivo… — sussurrei, me afastando rapidamente, o coração disparado. Por que não fui embora? Era loucura, mas ali estava eu, pensando em como salvar um lobo selvagem.
Olhei para ele e senti um aperto no peito. A ideia de deixá-lo ali, sangrando e fraco, parecia cruel demais. Mas levar um lobo selvagem para casa? Isso era loucura. Por que não poderia ser um coelho? — pensei, já frustrada com a situação.
— Como vou te levar para casa? — falei em voz alta, desesperada, sem ter ideia do que fazer. Justo nesse momento, ouvi uma voz familiar ecoando entre as árvores.
— Alice! Finalmente te achei! Você anda rápido demais! — Era Luís, meu amigo fiel, surgindo do meio das árvores. Ele sempre insistia em me acompanhar até em casa quando podia. Corri até ele como se tivesse encontrado a solução dos meus problemas.
— Luís, preciso da sua ajuda! — falei, segurando firme no braço dele. Seus olhos se arregalaram.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, alarmado.
— Sim, mas não comigo. É com ele — apontei para o lobo. — Ele está ferido, muito machucado, e eu não posso deixá-lo aqui. Temos que levá-lo para casa. — Minhas palavras saíam rápido, e vi o rosto de Luís empalidecer.
— Um lobo? Você só pode estar brincando, Alice! Esse bicho pode te matar! — Ele deu um passo para trás, horrorizado.
— Vou amarrar a boca dele e as patas. Ele está fraco demais para reagir. Por favor, me ajude. Não consigo fazer isso sozinha. — Supliquei, com a voz baixa, tentando esconder o medo. Luís suspirou profundamente, massageando a têmpora como se estivesse lidando com uma criança teimosa.
— Você nunca perde essa mania de pegar animais feridos, né? Já tem um zoológico no seu quintal e nenhum deles quis ir embora. — Ele estava tentando resistir, mas a preocupação em meu rosto o venceu.
— Ele não vai nos machucar, eu prometo. — Sorri de leve, tentando aliviar a tensão. — Além disso, você prometeu que me ajudaria sempre. — O lembrei.
— Tudo bem, eu ajudo. Mas isso é uma loucura — respondeu, balançando a cabeça, visivelmente nervoso. Agradeci rápido e comecei a pensar em um plano.
— Luís, fica aqui com ele. Buscarei o carrinho de mão no celeiro e uma corda. — Falei, pronta para correr.
— O quê? Ficar sozinho com essa fera? Nem pensar! Eu buscarei! — Ele me lançou um olhar indignado.
Bufei, mas sabia que ele não ia ceder. Então, Luís saiu correndo em direção ao celeiro, enquanto fiquei ali, observando o lobo com atenção. Cada respiração dele era fraca e entrecortada, como se estivesse à beira da morte. Não demorou muito até que Luís voltasse, ofegante, empurrando o carrinho de mão. Mas assim que ele chegou perto do lobo, travou no lugar, os olhos arregalados.
— Alice… Esse bicho é enorme! Como você quer que a gente mova ele? — Sua voz estava carregada de medo.
— Vamos amarrá-lo antes que você desista de vez — falei, mantendo a calma por fora, mas por dentro sentia meu coração a mil.
Ajoelhei-me ao lado do lobo, minhas mãos trêmulas enquanto passava a corda em torno de sua boca. Assim que apertei o nó, ele soltou um rosnado baixo e ameaçador, fazendo minha espinha gelar. Luís deu um pulo para trás, soltando um grito que ecoou pela floresta, assustando até a mim.
— Calma! Foi apenas um espasmo ou reflexo. Precisamos colocá-lo no carrinho antes que eu também desista. — Minha voz tremia um pouco, mas tentei soar firme.
Depois de uma luta que pareceu durar uma eternidade, finalmente conseguimos colocar o lobo no carrinho. Estávamos exaustos. Meus braços doíam, e eu sentia o suor escorrendo pela testa.
— O que você tem comido, lobinho? — murmurei, rindo de nervoso, tentando aliviar a tensão.
Empurramos o carrinho pela trilha com dificuldade. As rodas chiavam, a terra solta nos fazia tropeçar, e o céu começava a escurecer. Quando finalmente chegamos ao celeiro, o cansaço me dominava. Levamos o lobo para dentro e o colocamos sobre a palha macia. Ele ainda estava inconsciente, o corpo mal se movia, e isso só me deixava mais preocupada.
— Você é louca, Alice. Quando a tia Antônia ver isso, vai te matar. — Luís esfregou o rosto, cansado.
— Eu sei, mas não posso abandoná-lo assim. Se eu não cuidar, ele morrerá. — Meu tom era sério, determinado. Luís suspirou, resignado.
— Boa sorte com isso. Vou embora antes que a tia apareça e me coloque nessa confusão também, tenho ainda uma entrega para fazer. — Ele me deu um beijo rápido na testa e saiu às pressas.
— Obrigada, Luís! — gritei, enquanto ele desaparecia apressado.
Voltei-me para o lobo. Agora que estávamos sozinhos, a responsabilidade pesava ainda mais. Caminhei até o armário de medicamentos e curativos que montei no celeiro, pegando tudo o que precisava. Ajoelhei-me ao lado dele, minhas mãos ainda trêmulas, e comecei a tratar seus ferimentos com o máximo de cuidado.
Cada movimento meu era cuidadoso, tentando aliviar a dor que ele parecia sentir, mesmo inconsciente. Limpei um dos cortes mais profundos e apliquei o medicamento, torcendo para ser suficiente. Foi então que senti algo estranho. A respiração dele estava irregular. Seus batimentos, que antes pareciam fracos, começaram a desacelerar ainda mais. Meu coração disparou.
— Droga… — murmurei, com uma mistura de pânico e preocupação. Algo não estava certo.
POV ALICE.Toquei seu focinho frio e observei atentamente. Seus olhos continuavam fechados, sem qualquer sinal de movimento. A respiração, antes pesada, agora era quase imperceptível. Entrei em pânico.— Não, não, por favor, aguente firme! — implorei em voz baixa, tentando manter a calma. Mas o medo crescia dentro de mim. Então, percebi.— Droga, acho que ele entrou em coma… — minha voz falhou, uma mistura de desespero e impotência tomou conta de mim.Olhei para o lobo, sentindo meu coração apertar. O que eu faria agora? Ele estava à beira da morte, e eu não tinha tempo a perder. Precisava agir, mas não sabia se conseguiria salvá-lo. Apenas uma coisa era certa: eu não poderia desistir dele agora.O lobo continuava imóvel, seu peito mal se movendo. Eu podia sentir o peso da urgência esmagando meu peito. Precisava fazer algo. Mas o quê? Sou apenas uma ajudante de veterinário.Olhei em volta, tentando pensar em uma solução.O único som era minha própria respiração acelerada. Peguei o est
POV ALICE.Eu e mamãe corremos desesperadas em direção à porta do celeiro. Saímos às pressas, ofegantes e tomadas pelo pavor do rosnado que ouvimos.— Eu te disse que esse lobo ia acordar e nos atacar! O que faremos agora com um lobo selvagem dentro do nosso celeiro? — disparou minha mãe, nervosa, a voz trêmula de medo.— Calma, mamãe, eu vou resolver — falei, tentando manter a compostura, enquanto espiava pela fresta de madeira. O celeiro estava quieto, silencioso. Lá dentro, o lobo permanecia deitado, imóvel, no mesmo lugar. Senti um alívio imediato.— Ele continua parado. Acho que rosnou enquanto dormia. Vou entrar para verificar — falei, tentando soar confiante. Minha mãe agarrou meu braço, a preocupação nítida em seus olhos.— Você está louca? E se ele estiver acordado e te atacar? — murmurou, a voz baixa, temendo até mesmo o som de suas palavras.— Vou ter cuidado, prometo — comentei, acariciando a mão dela antes de entrar no celeiro. Aproximando-me do lobo, peguei um pedaço de
POV DARIUS.Eu estava me perdendo, sentindo meu corpo afundar num vazio profundo. Baltazar estava em silêncio, eu estava sozinho, desprotegido. Era como se uma sombra densa me envolvesse, me puxando para o abismo. Minha mente gritava por força, mas meu corpo estava exausto demais para continuar lutando. A dor era sufocante. Eu já havia aceitado o fim, até que… ouvi uma voz.Ela era doce, quase como um sussurro, mas cheia de medo, implorando para que eu não a deixasse. Essa voz… trazia algo mais, uma força que eu já não sabia que possuía. “Lute”, dizia ela, e por mais que parecesse impossível, algo dentro de mim reagiu. Ela me dava ânimo, esperança e, com o pouco que me restava, agarrei-me àquele som angelical e comecei a lutar.Senti, de repente, um toque suave, como o calor de um raio de sol após dias de tempestade. Era acolhedor, reconfortante. Lentamente, algo dentro de mim se reacendia. A dor ainda estava presente, mas agora eu tinha uma centelha de força. Lutei contra o peso nas
POV DARIUS.Olhei na direção da porta e uma senhora de feições gentis me encarava. Seus olhos brilhavam com uma mistura de medo e indignação ao ver essa humana tão próxima de mim, tocando-me como se eu fosse um simples animal inofensivo. Ela tinha um ar de determinação e desagrado que ficou claro. Então essa insolente se chama Alice?A idosa me olhava como se eu fosse uma ameaça iminente, pronta para atacar. Se soubesse quem eu realmente era, teria fugido apavorada. Alice, por outro lado, permaneceu imóvel. Seus olhos voltaram-se para mim antes de responder com tranquilidade:— Mãe, está tudo bem. Ele não vai me machucar — disse Alice, olhando com firmeza para a idosa. Sua voz era suave, mas segura. Então ela é mãe dessa insolente. Observei atentamente, tentando entender de onde vinha essa confiança. Eu poderia dilacerá-la em segundos, mas ela parecia não ter medo.— Não vai te machucar? — A mãe de Alice deu um passo à frente, os olhos cheios de preocupação. — Ele é uma fera selvagem,
POV ALICE.O primeiro raio de sol invadiu meu quarto através das cortinas entreabertas, aquecendo levemente meu rosto. Abri os olhos devagar, sentindo o conforto da minha cama macia. Meu quarto, embora simples, tinha tudo o que eu precisava. As paredes eram de um tom creme suave, decoradas com fotos antigas da família e quadros pintados à mão. A mobília era antiga, mas muito bem conservada, cheia de memórias. Havia uma prateleira de madeira no canto, abarrotada de livros de veterinária e algumas plantas que minha mãe insistia em cuidar para mim.Me sentei na cama e olhei em volta. Aquele lugar era mais do que um simples cômodo; era um refúgio de tranquilidade. Meu quarto refletia a simplicidade da nossa casa: aconchegante, cheio de amor, um lugar onde o tempo parecia passar mais devagar. Estiquei os braços, sentindo a leve dor nos músculos de tantas noites mal dormidas. Eu precisava descansar mais, mas não podia deixar aquele lobo sozinho.Com um suspiro, levantei e me arrumei rapidam
POV DARIUS.A voz de Baltazar era uma brisa de alívio. Meu lobo estava de volta, e o vazio que ele deixou, parecia, finalmente, preenchido. Mas algo havia mudado profundamente dentro de mim. Uma angústia diferente me apertava o peito, uma mistura de medo e alívio. Como seria agora, depois de tudo?— Baltazar… você finalmente voltou — falei, tentando controlar a felicidade que me transbordava. Eu, sem meu lobo, sou apenas uma casca, um humano inútil, perdido e incompleto. Senti uma onda de gratidão me percorrer, e parecia que Baltazar sentia o mesmo.— Parece que você sentiu minha falta — ele respondeu com sua risada familiar, vibrando dentro da minha mente como uma melodia que eu jamais queria esquecer.— Você não faz ideia do inferno que tenho passado sem você. Viver como humano é uma merda — contei, deixando minha voz trêmula revelar o que realmente sentia.— Sei o que você passou, Darius. Nós não podíamos nos comunicar, e você não podia me sentir, mas vi, ouvi e senti tudo o que vo
POV DARIUS.— Não acredito… temos uma companheira de segunda chance. — A voz de Baltazar ressoou em minha mente, cheia de um misto de admiração e empolgação.Eu não conseguia desviar o olhar. Ali estava ela, minha companheira, movendo-se com uma graça que prendia minha atenção em cada pequeno gesto, cada sorriso. Quando Alice me deu bom dia, com aquele brilho no olhar e um sorriso despreocupado, senti uma onda de felicidade que há muito não sentia. Era uma sensação estranha, mas agora eu entendia. Aquele turbilhão de emoções confusas que vinha me atormentando ultimamente… tudo fazia sentido. Minha alma reconhecia Alice como minha.— Acha que ela sente algo? — perguntei a Baltazar, não em dúvida, mas buscando entender o que ele via.— É claro que sim, — respondeu Baltazar, com uma certeza fria e orgulhosa, quase arrogante. — Ela pertence a nós. Mesmo sem saber, o corpo dela responderá… ao nosso toque, ao nosso olhar. — Disse.Alice se aproximou e seus dedos delicados começaram a desliz
POV DARIUS.Alice ainda estava deitada no chão, respirando fundo para se recuperar da queda. Seu rosto mostrava sinais de cansaço, mas os olhos mantinham um brilho determinado e um leve sorriso, como se quisesse esconder qualquer fraqueza. Eu permanecia ao seu lado, atento a cada movimento dela, e mesmo em um momento de vulnerabilidade, Alice parecia determinada a se mostrar forte.No entanto, nossa aproximação foi bruscamente interrompida pela chegada de sua mãe, escandalosa e de olhos arregalados de pavor. Ao me ver ao lado da filha, o pânico dela se transformou em uma fúria descontrolada. A voz, embargada pelo desespero, pegou um pedaço de madeira, que estava encostado na parede, empunhando-o como uma arma e me ameaçando sem hesitar. Senti um rosnado profundo formar-se em meu peito; uma resposta automática à ameaça que ela representava. Baltazar revoltou-se imediatamente.— O que ela pensa que vai fazer com aquele pedacinho de madeira? Essa humana ousa nos desafiar! Precisa aprende