CAPÍTULO NOVE: VOCÊ VOLTOU.

POV DARIUS.

A voz de Baltazar era uma brisa de alívio. Meu lobo estava de volta, e o vazio que ele deixou, parecia, finalmente, preenchido. Mas algo havia mudado profundamente dentro de mim. Uma angústia diferente me apertava o peito, uma mistura de medo e alívio. Como seria agora, depois de tudo?

— Baltazar… você finalmente voltou — falei, tentando controlar a felicidade que me transbordava. Eu, sem meu lobo, sou apenas uma casca, um humano inútil, perdido e incompleto. Senti uma onda de gratidão me percorrer, e parecia que Baltazar sentia o mesmo.

— Parece que você sentiu minha falta — ele respondeu com sua risada familiar, vibrando dentro da minha mente como uma melodia que eu jamais queria esquecer.

— Você não faz ideia do inferno que tenho passado sem você. Viver como humano é uma merda — contei, deixando minha voz trêmula revelar o que realmente sentia.

— Sei o que você passou, Darius. Nós não podíamos nos comunicar, e você não podia me sentir, mas vi, ouvi e senti tudo o que você passou, meu amigo. Sinto muito por isso. Quando encontrarmos aquela bruxa, vamos matá-la… bem devagar — disse Baltazar, e pude sentir a fúria fervendo nele. Mesmo sem poder nos conectar diretamente, meu lobo esteve presente o tempo todo, vendo cada fraqueza e sentindo cada dor.

— Então, você esteve presente o tempo todo? — perguntei, a surpresa aquecendo meu coração.

— Sempre, meu amigo. Aquela poção nos bloqueou, anulou nossos poderes. Tenho certeza de que havia acônito nela. Mas aquela bruxa não tem poder para me arrancar de você — explicou Baltazar, como quem garante a promessa de que nada nos separaria. A raiva subiu em minha garganta, como um rosnado preso.

— Estou com tanta raiva de mim mesmo por ser enganado por aquela bruxa — murmurei, deixando meu ódio escapar em palavras.

— Esqueça isso, Darius. O importante é que estamos juntos de novo. Temos que resolver a nossa situação atual. Como voltei, logo todos os nossos sentidos e forças estarão restabelecidos, e poderemos voltar à nossa forma humana e ir para casa — disse Baltazar, sua voz carregada de firmeza, mas também de um toque de esperança. Era estranho… agora que poderíamos ir embora, um aperto incômodo se formava em meu peito ao pensar na ideia de partir. O rosto dela invadiu minha mente. Baltazar percebeu, e sua risada ecoou em minha mente.

— Ah, então é isso, não é? — perguntou Baltazar, se referindo a Alice. Revirei os olhos.

— Não sei do que você está falando — respondi, tentando disfarçar. Ele riu mais forte.

— Não sabe mesmo? — perguntou, debochado.

— Cale a boca. Como eu dizia, quero que meu tormento acabe logo — falei, tentando convencer a mim mesmo.

— Tem certeza de que foi um tormento… ser cuidado por Alice? — ele perguntou com um tom debochado, um humor leve e provocador. Revirei os olhos, já me irritando.

— Não sei do que você está falando — respondi, irritado.

— Darius, nós somos um. Não pode esconder nada de mim. Percebi o jeito que olhou para ela. Senti o que você sentiu. Sinto e sei de tudo que acontece com você. Sei o que está acontecendo em relação a essa humana. Entendo que você estava vulnerável, ferido e sozinho. É natural se apegar a quem cuida de nós quando estamos assim. Mas não devemos nutrir sentimentos por essa humana doidinha. Gosto dela; ela é divertida, amorosa e gentil. Sinto uma gratidão imensa por ela, mas não devemos nos envolver com humanos, nós não pertencemos ao mesmo mundo. Humanos não são para nós — alertou Baltazar, sua voz misturando compreensão e seriedade. Senti o sangue ferver. 

— Você está louco. Eu não sinto nada por aquela humana faladeira — resmunguei.

— Sei… se você quer assim, tudo bem. Devo ter me enganado — Baltazar riu, e uma onda de raiva subiu em mim, misturada com uma pontada de incerteza.

— Vamos parar de conversar e descansar. Assim, amanhã estaremos restabelecidos e poderemos ir embora — falei, tentando encerrar a conversa.

— Você quer mesmo descansar, ou está ansioso para ver Alice? Tem certeza de que vai conseguir ir embora e deixá-la? — perguntou Baltazar, desta vez em tom sério. Eu bufei, querendo evitar o assunto.

— Cale a boca e vá dormir. Você fala demais. Igual à Alice — rebati, e então o bloqueei. Deitei-me de lado na cama de feno, incomodado. Eu, um rei, acostumado a dormir nas mais luxuosas e confortáveis camas, agora estava jogado ali, no feno, como um miserável.

Suspirei, cansado e exausto. Não sei como esses humanos suportam viver assim. Esta foi, sem dúvida, a pior experiência da minha vida: viver como um humano. Deixei o cansaço me envolver, e logo, já adormecia. Mal consegui descansar por algumas horas, quando uma voz agitada invadiu minha mente, despertando-me com uma energia desesperada.

— Darius, acorda! — gritava Baltazar em minha mente, e sua urgência me despertou num sobressalto.

— Você enlouqueceu? Que escândalo é esse? — perguntei, irritado. Detesto ser arrancado do meu sono.

— Você está sentindo esse cheiro? Esse aroma maravilhoso? — A voz de Baltazar soava quase embriagada, e foi então que senti. O aroma mais cativante e viciante que eu já havia experimentado: uma mistura de pinho fresco, alecrim e o cheiro úmido de terra molhada.

Meu coração começou a bater descompassado, cada sentido em alerta. Levantei-me rapidamente, sentindo uma onda de energia percorrer cada músculo. Minhas forças estavam completamente restauradas. Farejei o ar, seguindo aquele aroma delicioso que parecia cada vez mais intenso, como se quisesse me envolver. Passos se aproximavam da porta, e meu coração acelerou ainda mais.

— O que é isso? Quem é? — murmurei mentalmente, tentando manter a calma, mas Baltazar sabia. Ele estava tão agitado quanto eu.

— É ela, Darius. Você sabe que é ela — ele respondeu, sua voz carregada de uma emoção que não ouvira há tempos.

A porta foi aberta e ali estava ela, entrando no celeiro. Quando meus olhos encontraram a figura que entrou, eu e Baltazar falamos ao mesmo tempo, nossa alma unida em uma certeza antiga e irrevogável. Era mais do que palavras, era um grito da essência que compartilhávamos. Sem hesitação e em uníssono, e o reconhecimento queimando em nossas vozes.

— Companheira.

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