POV DARIUS.A voz reverberou em minha mente, insistente:— Darius… — Dessa vez, a voz era inconfundível. Aquele tom forte e leal que eu conhecia bem. Era meu beta, Gabriel.Um sentimento inesperado de alívio e contentamento me invadiu. Minha conexão com a alcateia foi restabelecida, finalmente. Senti o peso da distância e da escuridão, que me acompanhavam desde que tomei aquela maldita poção que afetou todos os meus sentidos e bloqueou meu lobo.— Gabriel — respondi, firme. Houve um silêncio breve, então uma vibração de alegria ressoou em minha mente, como uma onda que só um lobo poderia sentir.— Alfa! — a voz de Gabriel se encheu de energia, quase uma explosão de euforia. — Você está vivo! Eu… estamos há tanto tempo esperando uma resposta… Onde você está? — Perguntou Gabriel, agitado por conseguir falar comigo.Suspirei. Onde estou… Como explicar que me encontrava em um celeiro, devido a uma poção que me manteve debilitado e preso neste lugar? Como dizer que havia encontrado minha c
POV ALICE.Assim que saí do celeiro, caminhei lentamente em direção à casa. Cheguei em casa e notei que minha mãe não estava lá. Apenas um bilhete, sobre a mesa, dizendo haver saído.— Dona Antônia, está fugindo de mim? — murmurei, rindo para mim mesma, mas o humor logo se desfez. Mamãe estava mesmo me evitando. Ela sabia que eu iria insistir para o lobo ficar.Suspirei e saí da casa. Fui em direção ao quintal para cuidar dos animais do sítio. Tínhamos galinhas inquietas, duas vaquinhas de olhar manso e uma cabra impaciente. Eram elas, as hortas e as árvores frutíferas, que garantiam nosso sustento. A aposentadoria da minha mãe e meu trabalho de meio período não eram suficientes para pagar as contas.Pela manhã, eu ajudava no sítio; à tarde, trabalhava. Mamãe não tinha mais idade para fazer tudo sozinha, mas era independente, sempre insistindo em cuidar de tudo, mesmo que depois ficasse sentindo dores. Entrei no galinheiro, sentindo o cheiro forte e característico, e recolhi os ovos,
POV ALICE.O rosnado que ouvi ecoar pela clínica parecia com o rosnado de lobinho. Meus pés se moveram antes que eu pudesse pensar; corri em direção à sala do doutor, o coração acelerado. Empurrei a porta com força, sem saber o que encontraria.E então vi a cena: o doutor Henrique estava em pé sobre a mesa de exame, com o semblante pálido e os olhos arregalados, enquanto Héctor, o grande pastor belga, estava com as costas arqueadas, o pelo eriçado, rosnando com dentes à mostra. Ele parecia um lobo selvagem, e o som que saía de sua garganta era ameaçador e intenso. Um arrepio me percorreu a espinha.— Alice! — gritou o doutor, num misto de alívio e desespero ao me ver. Ele estava tentando manter o equilíbrio, mas seus pés escorregavam sobre a mesa. — Esse cachorro está louco! — Disse desesperado. Respirei fundo e avancei devagar, mantendo o tom de voz baixo e calmo, do jeito que sabia que os animais respondem melhor.— Héctor… — murmurei, agachando-me devagar para ficar na mesma altura
POV DARIUS.Alice saiu, e Baltazar começou a me importunar para irmos atrás dela. Nosso instinto nos alertava de que nossa companheira não deveria andar sozinha por aí. Nós, lobos, somos possessivos e obcecados com nossas companheiras. Eu sentia uma certa posse sobre Alice, mas controlava esse sentimento.Mas Baltazar… ele estava desesperado com a ausência dela, mesmo que nem cinco minutos tivessem se passado desde que saiu daqui. Esse desespero só passaria depois que a marcássemos e a tornamos nossa. Mas a possessividade seria para sempre, enquanto vivêssemos.— Quero ficar lá fora com Alice. Quero proteger nossa companheira! — Disse Baltazar.— Não podemos sair daqui. A mãe de Alice já nos odeia e quer nos manter longe deste lugar. Quer piorar as coisas? — respondi mentalmente.— Desde quando aceitamos ordens de uma humana intrometida? Desde quando nos escondemos? Não estou lhe reconhecendo, Darius. Amoleceu, foi? Ficou sentimental agora? — provocou ele.— Não me provoque, ou te blo
POV DARIUS.Ali, no exato momento em que estávamos espiando pela porta do celeiro, eu vi o absurdo acontecer. Aquele infeliz, o intruso que já parecia estar gostando demais da minha companheira, se aproximou dela, abriu os braços e... abraçou Alice. Não só isso! Como se não bastasse, ele ainda teve a ousadia de inclinar-se e deixar um beijo na testa dela. O rosto de Alice, iluminado por um sorriso suave, só piorou tudo para mim. Senti uma corrente de fúria percorrer meu corpo, e Baltazar praticamente explodiu na minha mente.— Vou arrancar a cabeça desse maldito. — Disse, Baltazar. — Ele está tocando nela! Beijou-a! Darius, deixa eu sair, AGORA! Acabaremos com ele. É nossa companheira, não dele! — rugiu Baltazar, cada palavra vibrando na minha cabeça como um trovão.— Se acalme, Baltazar. Não vamos agir feito loucos. — respondi, tentando segurar o desespero que ele me transmitia. E a minha raiva crescente.— ACALMAR? Você quer que eu me acalme após ver isso? Aquele maldito está tocand
POV DARIUS.Não acredito que esse infeliz veio até aqui, atrás de Alice. Que audácia. No instante em que rosnei, o tal Luís deu um grito exagerado; eu podia ouvir seu coração disparado. Alice olhou para ele, surpresa com sua reação exagerada, e percebi que ela estava tentando entender o que se passava.— Alice, ele… ele vai atacar! Sai de perto dele! — balbuciou Luís, tremendo.— Que macho covarde — comentei mentalmente, revirando os olhos. Baltazar, por sua vez, já estava furioso.— E morto! Como ele ousa invadir meu território? Esse sujeito quer morrer, vindo aqui após deixar seu cheiro na minha companheira? — rosnou ele, claramente irritado. Luís continuava de olhos arregalados, paralisado, encarando-me como se eu fosse um monstro saído de seus piores pesadelos.— Meu Deus, Alice! Afaste-se dessa… dessa fera! Ele vai nos atacar! — gritou Luís, a voz trêmula, recuando um passo enquanto agarrava o braço de Alice.Não gostei nada dele tocando na minha companheira. Só planejo atacar vo
POV ALICE.Eu ainda estava sentada no chão do celeiro, acariciando a cabeça do lobinho que se deitara ao meu lado, com a cabeça no meu colo. Por um instante, me esqueci de tudo, de Luís, da confusão, do olhar contrariado que ele lançou ao sair. O lobinho me transmitia uma sensação estranha de conforto e cumplicidade. Ainda assim, era impossível ignorar como ele reagira à presença de Luís. Devo confessar que tive medo dele atacar meu amigo Luís.— Você não gostou nada dele, não é? — murmurei, deslizando os dedos pelo seu pelo macio. O lobo apenas fechou os olhos, parecendo relaxar sob o toque, mas percebi que ele respirava fundo, como se ainda estivesse irritado. — Mas não precisava ter assustado ele assim… Luís é meu melhor amigo, ele e Abigail. Ele nunca me faria mal. — Falei para o lobo, que permanecia de olhos fechados, mas bufou como se estivesse insatisfeito com meu comentário.Depois de um longo silêncio, decidi que era hora de voltar para casa. O lobinho permaneceu deitado, ape
POV DARIUS.Alice ficou me acariciando por um bom tempo. Eu não queria estar ali, deitado com a cabeça em seu colo, como um simples animal de estimação. Mas, por mais que meu orgulho gritasse contra, havia algo em seu toque que me prendia. Cada movimento suave de sua mão em meu pelo, cada deslizar de seus dedos pela minha cabeça, trazia uma paz há muito esquecida.Era como se, por um momento, todo o peso que carrego desaparecesse. Eu odiava admitir, mas gostava de sentir seu carinho. Havia muito tempo desde que me permiti esse tipo de afeto, desde que matei minha primeira companheira. Desde então, me afastei de tudo e de todos, criando muros altos, punindo a mim mesmo pelo crime que cometi.Não permito que ninguém se aproxime, e também não ofereço carinho. É a única maneira que encontrei para expiar minha culpa. Ainda assim, me pergunto por que a deusa me daria outra chance? Por que me presentearia com uma nova companheira?Alice continuava falando, cada palavra dela um pequeno tormen