POV DARIUS.Não acredito que esse infeliz veio até aqui, atrás de Alice. Que audácia. No instante em que rosnei, o tal Luís deu um grito exagerado; eu podia ouvir seu coração disparado. Alice olhou para ele, surpresa com sua reação exagerada, e percebi que ela estava tentando entender o que se passava.— Alice, ele… ele vai atacar! Sai de perto dele! — balbuciou Luís, tremendo.— Que macho covarde — comentei mentalmente, revirando os olhos. Baltazar, por sua vez, já estava furioso.— E morto! Como ele ousa invadir meu território? Esse sujeito quer morrer, vindo aqui após deixar seu cheiro na minha companheira? — rosnou ele, claramente irritado. Luís continuava de olhos arregalados, paralisado, encarando-me como se eu fosse um monstro saído de seus piores pesadelos.— Meu Deus, Alice! Afaste-se dessa… dessa fera! Ele vai nos atacar! — gritou Luís, a voz trêmula, recuando um passo enquanto agarrava o braço de Alice.Não gostei nada dele tocando na minha companheira. Só planejo atacar vo
POV ALICE.Eu ainda estava sentada no chão do celeiro, acariciando a cabeça do lobinho que se deitara ao meu lado, com a cabeça no meu colo. Por um instante, me esqueci de tudo, de Luís, da confusão, do olhar contrariado que ele lançou ao sair. O lobinho me transmitia uma sensação estranha de conforto e cumplicidade. Ainda assim, era impossível ignorar como ele reagira à presença de Luís. Devo confessar que tive medo dele atacar meu amigo Luís.— Você não gostou nada dele, não é? — murmurei, deslizando os dedos pelo seu pelo macio. O lobo apenas fechou os olhos, parecendo relaxar sob o toque, mas percebi que ele respirava fundo, como se ainda estivesse irritado. — Mas não precisava ter assustado ele assim… Luís é meu melhor amigo, ele e Abigail. Ele nunca me faria mal. — Falei para o lobo, que permanecia de olhos fechados, mas bufou como se estivesse insatisfeito com meu comentário.Depois de um longo silêncio, decidi que era hora de voltar para casa. O lobinho permaneceu deitado, ape
POV DARIUS.Alice ficou me acariciando por um bom tempo. Eu não queria estar ali, deitado com a cabeça em seu colo, como um simples animal de estimação. Mas, por mais que meu orgulho gritasse contra, havia algo em seu toque que me prendia. Cada movimento suave de sua mão em meu pelo, cada deslizar de seus dedos pela minha cabeça, trazia uma paz há muito esquecida.Era como se, por um momento, todo o peso que carrego desaparecesse. Eu odiava admitir, mas gostava de sentir seu carinho. Havia muito tempo desde que me permiti esse tipo de afeto, desde que matei minha primeira companheira. Desde então, me afastei de tudo e de todos, criando muros altos, punindo a mim mesmo pelo crime que cometi.Não permito que ninguém se aproxime, e também não ofereço carinho. É a única maneira que encontrei para expiar minha culpa. Ainda assim, me pergunto por que a deusa me daria outra chance? Por que me presentearia com uma nova companheira?Alice continuava falando, cada palavra dela um pequeno tormen
POV DARIUS.Entrei na floresta ao lado da propriedade delas. Ao farejar o ar, percebi estar no parque estadual. Um sorriso escapou enquanto corria, sabendo que minha mansão ficava do outro lado. Na verdade, o parque era meu. Com o título de parque e reserva ambiental, os humanos eram mantidos longe e os guardas florestais que ali trabalhavam eram todos seres sobrenaturais. Nosso segredo estava bem protegido.— Nunca imaginei que nossa companheira de segunda chance estivesse tão perto de nós esse tempo todo! — Baltazar disse, empolgado, enquanto corríamos pela floresta, sua energia quase transbordando.— Pois é... Esse mundo é realmente pequeno. — Respondi, acelerando.— E coloca pequeno nisso! — Ele riu, mas logo ficou sério. — Mas o que faremos ao chegar em casa? Não esqueça que temos um traidor para lidar. Meu rosnado baixo foi audível além da nossa ligação mental.— Vamos interrogá-los, um por um. — Falei, com frieza. — Cada ancião será questionado, até que a verdade apareça. E, de
POV DARIUS.Assim que cheguei perto da escada, senti o cheiro e olhei para cima. Lá estava ela, me observando, com os olhos cheios de lágrimas. Pela primeira vez em anos, aquilo me incomodou. Ela desceu a escadaria correndo e, quando chegou até mim, me abraçou com força e chorou. Eu senti um aperto no peito pelo seu sofrimento.— Meu filho, tive tanto medo que estivesse morto. Darius, graças à deusa, você está vivo. Orei tanto para que ela o trouxesse de volta para mim — disse minha mãe, enquanto chorava, abraçada a mim. Antes, eu a teria afastado rapidamente. Mas agora, fiz algo que há anos não faço. A abracei de volta.Senti o cheiro de meu pai e olhei para cima. Ele estava descendo a escada apreensivo e ficou surpreso ao me ver abraçando minha mãe. Eu não permitia demonstrações de afeto, até isso essa maldição me tirou. Não sentia mais capacidade de amar e demonstrar carinho. Mas agora me sentia diferente.— É por causa dela, Darius. Nossa companheira — falou Baltazar, se metendo e
POV ALICE.Eu não podia acreditar que ele havia simplesmente partido, sem se despedir. Sentia um vazio dentro de mim, misturado com uma ansiedade sufocante. Uma parte tentava aceitar que ele era apenas um lobo, mas o medo de que tivesse sido atacado por outro animal e que estivesse morto ali perto fazia meu coração apertar. O lobinho ainda nem estava totalmente recuperado.— Como assim ele foi embora? — perguntou minha mãe, visivelmente apreensiva, seu olhar um misto de preocupação e apreensão.— Ele não está no celeiro, a porta estava aberta. Olhei pelo quintal e também não o vi — respondi, minha voz trêmula.— Meu Deus… Nossos animais! Será que ele atacou algum? — Mamãe praticamente gritou, apavorada, e saiu em disparada em direção ao curral, sem sequer olhar para mim.Corri atrás dela, meu coração pulsando mais forte. — Por favor, que ele não tenha machucado as vacas — rezava em silêncio. Ao chegarmos, suspirei aliviada ao ver as vaquinhas quietas num canto, cochilando, alheias ao
POV ALICEAquelas palavras ecoavam na minha cabeça enquanto eu corria para o consultório, o coração batendo forte contra o peito. “Um lobo atropelado…” Abigail mal havia terminado de falar, e eu já me apressava pelo corredor, a respiração acelerada pela preocupação e o medo. Um aperto forte no peito tomava conta de mim, e o pensamento insistente de que pudesse ser ele, meu lobinho, aumentava meu desespero.Ao chegar à sala de triagem, avistei o doutor Henrique e a equipe dos guardas florestais. Meu olhar ansioso passou por cada detalhe até que finalmente vi o lobo ferido, deitado na mesa, com o pelo marrom manchado de sangue. Não era ele! O alívio foi tão forte que por pouco não me fez desmoronar ali mesmo. Respirei fundo, me esforçando para deixar a tensão de lado e focar no trabalho. Eu sabia que aquele lobo precisava de mim agora.— Alice, preciso de sua ajuda para limpar o ferimento dele. Foi uma pancada forte na perna traseira e ele quebrou alguns ossos — disse o doutor Henrique,
POV DARIUS.Me estiquei na cama. Não consegui dormir o restante da madrugada. Aquela humana invadia meus pensamentos a toda hora, o vínculo de companheirismo tentando me dominar. Um impulso de ir atrás dela me dominava. Levantei-me todo nu; gosto de dormir assim, bem à vontade.— Alice, a essa hora, já acordou e descobriu que fomos embora. Ela deve estar muito triste com nossa partida. Não queria fazer nossa companheira sofrer por nossa causa — disse Baltazar, nervoso.— Alice é uma humana adulta e já passou por isso antes. Seus animais doentes, uma hora, se curam e vão embora. Ela se acostuma e logo nem vai lembrar de nós — falei, tentando não me abalar com o pensamento de Alice sofrendo por nós.— Como consegue não se importar com nossa companheira? — perguntou Baltazar, irritado. Bufei, já impaciente com esse assunto. Eu me importava com ela, mas não com tanta intensidade.— É claro que me importo com Alice. Ela é nossa companheira e vai nos livrar dessa maldição, então, ela é o se