POV ALICE.Eu não podia acreditar que ele havia simplesmente partido, sem se despedir. Sentia um vazio dentro de mim, misturado com uma ansiedade sufocante. Uma parte tentava aceitar que ele era apenas um lobo, mas o medo de que tivesse sido atacado por outro animal e que estivesse morto ali perto fazia meu coração apertar. O lobinho ainda nem estava totalmente recuperado.— Como assim ele foi embora? — perguntou minha mãe, visivelmente apreensiva, seu olhar um misto de preocupação e apreensão.— Ele não está no celeiro, a porta estava aberta. Olhei pelo quintal e também não o vi — respondi, minha voz trêmula.— Meu Deus… Nossos animais! Será que ele atacou algum? — Mamãe praticamente gritou, apavorada, e saiu em disparada em direção ao curral, sem sequer olhar para mim.Corri atrás dela, meu coração pulsando mais forte. — Por favor, que ele não tenha machucado as vacas — rezava em silêncio. Ao chegarmos, suspirei aliviada ao ver as vaquinhas quietas num canto, cochilando, alheias ao
POV ALICEAquelas palavras ecoavam na minha cabeça enquanto eu corria para o consultório, o coração batendo forte contra o peito. “Um lobo atropelado…” Abigail mal havia terminado de falar, e eu já me apressava pelo corredor, a respiração acelerada pela preocupação e o medo. Um aperto forte no peito tomava conta de mim, e o pensamento insistente de que pudesse ser ele, meu lobinho, aumentava meu desespero.Ao chegar à sala de triagem, avistei o doutor Henrique e a equipe dos guardas florestais. Meu olhar ansioso passou por cada detalhe até que finalmente vi o lobo ferido, deitado na mesa, com o pelo marrom manchado de sangue. Não era ele! O alívio foi tão forte que por pouco não me fez desmoronar ali mesmo. Respirei fundo, me esforçando para deixar a tensão de lado e focar no trabalho. Eu sabia que aquele lobo precisava de mim agora.— Alice, preciso de sua ajuda para limpar o ferimento dele. Foi uma pancada forte na perna traseira e ele quebrou alguns ossos — disse o doutor Henrique,
POV DARIUS.Me estiquei na cama. Não consegui dormir o restante da madrugada. Aquela humana invadia meus pensamentos a toda hora, o vínculo de companheirismo tentando me dominar. Um impulso de ir atrás dela me dominava. Levantei-me todo nu; gosto de dormir assim, bem à vontade.— Alice, a essa hora, já acordou e descobriu que fomos embora. Ela deve estar muito triste com nossa partida. Não queria fazer nossa companheira sofrer por nossa causa — disse Baltazar, nervoso.— Alice é uma humana adulta e já passou por isso antes. Seus animais doentes, uma hora, se curam e vão embora. Ela se acostuma e logo nem vai lembrar de nós — falei, tentando não me abalar com o pensamento de Alice sofrendo por nós.— Como consegue não se importar com nossa companheira? — perguntou Baltazar, irritado. Bufei, já impaciente com esse assunto. Eu me importava com ela, mas não com tanta intensidade.— É claro que me importo com Alice. Ela é nossa companheira e vai nos livrar dessa maldição, então, ela é o se
POV DARIUS.Minha mão afrouxou, mas meu olhar permaneceu frio e cruel. Eu sabia que Josué não havia revelado tudo, ele ainda escondia informações, e o lobo dentro dele rosnava e se contorcia, submisso à dominância de Baltazar.— Você traiu seu rei, sua espécie e a própria honra, e sua alcateia que jurou proteger. Se deseja misericórdia, será em troca de tudo que você sabe e tenta esconder. Poupe-me o tempo e seu suor e me revele logo tudo. — Falei. Mas mesmo que me revele tudo, isso ainda não será suficiente para perdoar sua fraqueza e covardia. Dei a ele um último olhar de desprezo.Soltei-o, permitindo que ele caísse na pedra fria, humilhado e vencido. Ele arfava, sua expressão era uma mistura de pavor e alívio, como se tivesse escapado de algo muito pior. Mas eu estava longe de terminar.— Você acha que acabou, Josué? Você ousa pensar que pode sair daqui só com uma confissão? — Minha voz era contida e fria, preenchendo cada centímetro da sala sombria. — Me diga todos os nomes. Quem
POV DARIUS.Usando minha conexão mental, convoquei uma reunião com meus betas e meus pais. Saí das masmorras, que ficavam no subsolo, direto para a sala de estratégia, localizada na casa-sede da alcateia, onde meus betas, Gabriel e Giovanni, já me aguardavam, com olhos alerta e postura rígida.Meus pais, sentados ao fundo, observavam atentos, prontos para lutar ao meu lado. Assim que entrei, eles se levantaram, se curvando brevemente, seus olhares logo estavam fixos em mim. Havia determinação e ira em cada rosto presente. Fechei a porta com força, impondo o início da nossa reunião.— O verme que ousou me trair foi Josué. Mas descobri que aquele maldito não está sozinho nessa trama. Existem outros que ousaram tramar e tentar me matar — comecei, o tom frio e cruel suficiente para fazer Gabriel e Giovanni trocarem olhares tensos. — Esses vermes acreditam que podem conspirar sem consequências. Eles acham que têm a vantagem. Pois mostrarei a eles o que significa desafiar um rei alfa suprem
POV DARIUS.Uma dor horrível tomou conta de meu corpo, como se cada osso estivesse sendo quebrado e reconstituído erradamente. A besta estava acordando, e logo tomaria o controle de mim e de Baltazar. Algo monstruoso se agitava dentro de mim, esperando para se libertar e devastar tudo em seu caminho. Eu sentia cada parte do meu ser se contorcer, e a realidade começava a se dissolver enquanto a dor me consumia.Gabriel tentou se aproximar para me ajudar a chegar até o cofre, que ficava no subterrâneo, no quintal de trás da minha mansão. Gabriel não sabia, mas estava pedindo para morrer. Rosnei para ele, e minha voz saiu distorcida, mais animal do que humana. Ele recuou, e seus olhos estavam cheios de temor, mas ele sabia que não havia nada que pudesse fazer para me ajudar naquele momento.— Não me toque ou arranco sua cabeça. — Minha voz soou como um grunhido, e a risada que a acompanhou não foi minha. Não era a minha vontade que falava, mas a dela, a besta. Aquela parte de mim que semp
POV DARIUS.Após minha transformação em besta infernal, passaram-se dias intensos. Finalmente, consegui impor ordem em meu reino, esmagando rebeliões que ameaçavam minha autoridade, especialmente aquelas encabeçadas pelo alfa Estevão. Também fui ao auxílio de algumas alcateias leais a mim que estavam sob ataque. Mas, apesar das vitórias, a mente de Baltazar estava longe, centrada em Alice, e sua tensão começava a me afetar.Baltazar estava ainda mais inquieto desde que descobrimos que a besta infernal podia falar e... se interessou por Alice. Esse é um segredo que só eu e ele conhecemos. Nenhuma outra alma pode saber da verdade sobre a besta. Hoje, finalmente, voltaremos à casa dela para trazê-la para a alcateia. Assim, ela estará segura. Acordei cedo, mas Baltazar sequer me deixou dormir, movido por uma ansiedade incontrolável.— Anda, Darius! Preciso ver minha Alice. Será que ela sentiu minha falta? Será que vai te aceitar? — insistia Baltazar, a cada minuto, me perturbando com seu
POV ALICE.Perguntei no que podia ajudá-lo. Ele era lindo, imponente e tinha algo em sua presença que parecia dominar o ambiente. Mas, de repente, me senti desconfortável sob o peso de seu olhar. Era como se ele estivesse despindo minha alma, examinando cada parte de mim. Havia algo familiar e, ao mesmo tempo, inquietante.Ele transpirava poder e riqueza, e sua postura dizia estar acostumado a ser obedecido. Então, ele falou meu nome. Minha boca se entreabriu em surpresa. Como ele sabia? Meu estômago revirou-se e a inquietação me tomou por completo. — Sou Darius Moss. Não vai me convidar para entrar? — Sua voz era fria, autoritária, carregada de um tom que não deixava espaço para objeções.Por um momento, fiquei paralisada. Meu coração disparou, não de medo, mas de um misto de choque e revolta. Meu encanto evaporou na mesma rapidez com que havia surgido. Quem ele pensa que é? Respirei fundo. Minha mãe sempre dizia que a educação era o reflexo de uma alma nobre, e isso me obrigou a se