POV ALICE.O rosnado que ouvi ecoar pela clínica parecia com o rosnado de lobinho. Meus pés se moveram antes que eu pudesse pensar; corri em direção à sala do doutor, o coração acelerado. Empurrei a porta com força, sem saber o que encontraria.E então vi a cena: o doutor Henrique estava em pé sobre a mesa de exame, com o semblante pálido e os olhos arregalados, enquanto Héctor, o grande pastor belga, estava com as costas arqueadas, o pelo eriçado, rosnando com dentes à mostra. Ele parecia um lobo selvagem, e o som que saía de sua garganta era ameaçador e intenso. Um arrepio me percorreu a espinha.— Alice! — gritou o doutor, num misto de alívio e desespero ao me ver. Ele estava tentando manter o equilíbrio, mas seus pés escorregavam sobre a mesa. — Esse cachorro está louco! — Disse desesperado. Respirei fundo e avancei devagar, mantendo o tom de voz baixo e calmo, do jeito que sabia que os animais respondem melhor.— Héctor… — murmurei, agachando-me devagar para ficar na mesma altura
POV DARIUS.Alice saiu, e Baltazar começou a me importunar para irmos atrás dela. Nosso instinto nos alertava de que nossa companheira não deveria andar sozinha por aí. Nós, lobos, somos possessivos e obcecados com nossas companheiras. Eu sentia uma certa posse sobre Alice, mas controlava esse sentimento.Mas Baltazar… ele estava desesperado com a ausência dela, mesmo que nem cinco minutos tivessem se passado desde que saiu daqui. Esse desespero só passaria depois que a marcássemos e a tornamos nossa. Mas a possessividade seria para sempre, enquanto vivêssemos.— Quero ficar lá fora com Alice. Quero proteger nossa companheira! — Disse Baltazar.— Não podemos sair daqui. A mãe de Alice já nos odeia e quer nos manter longe deste lugar. Quer piorar as coisas? — respondi mentalmente.— Desde quando aceitamos ordens de uma humana intrometida? Desde quando nos escondemos? Não estou lhe reconhecendo, Darius. Amoleceu, foi? Ficou sentimental agora? — provocou ele.— Não me provoque, ou te blo
POV DARIUS.Ali, no exato momento em que estávamos espiando pela porta do celeiro, eu vi o absurdo acontecer. Aquele infeliz, o intruso que já parecia estar gostando demais da minha companheira, se aproximou dela, abriu os braços e... abraçou Alice. Não só isso! Como se não bastasse, ele ainda teve a ousadia de inclinar-se e deixar um beijo na testa dela. O rosto de Alice, iluminado por um sorriso suave, só piorou tudo para mim. Senti uma corrente de fúria percorrer meu corpo, e Baltazar praticamente explodiu na minha mente.— Vou arrancar a cabeça desse maldito. — Disse, Baltazar. — Ele está tocando nela! Beijou-a! Darius, deixa eu sair, AGORA! Acabaremos com ele. É nossa companheira, não dele! — rugiu Baltazar, cada palavra vibrando na minha cabeça como um trovão.— Se acalme, Baltazar. Não vamos agir feito loucos. — respondi, tentando segurar o desespero que ele me transmitia. E a minha raiva crescente.— ACALMAR? Você quer que eu me acalme após ver isso? Aquele maldito está tocand
POV DARIUS.Não acredito que esse infeliz veio até aqui, atrás de Alice. Que audácia. No instante em que rosnei, o tal Luís deu um grito exagerado; eu podia ouvir seu coração disparado. Alice olhou para ele, surpresa com sua reação exagerada, e percebi que ela estava tentando entender o que se passava.— Alice, ele… ele vai atacar! Sai de perto dele! — balbuciou Luís, tremendo.— Que macho covarde — comentei mentalmente, revirando os olhos. Baltazar, por sua vez, já estava furioso.— E morto! Como ele ousa invadir meu território? Esse sujeito quer morrer, vindo aqui após deixar seu cheiro na minha companheira? — rosnou ele, claramente irritado. Luís continuava de olhos arregalados, paralisado, encarando-me como se eu fosse um monstro saído de seus piores pesadelos.— Meu Deus, Alice! Afaste-se dessa… dessa fera! Ele vai nos atacar! — gritou Luís, a voz trêmula, recuando um passo enquanto agarrava o braço de Alice.Não gostei nada dele tocando na minha companheira. Só planejo atacar vo
POV ALICE.Eu ainda estava sentada no chão do celeiro, acariciando a cabeça do lobinho que se deitara ao meu lado, com a cabeça no meu colo. Por um instante, me esqueci de tudo, de Luís, da confusão, do olhar contrariado que ele lançou ao sair. O lobinho me transmitia uma sensação estranha de conforto e cumplicidade. Ainda assim, era impossível ignorar como ele reagira à presença de Luís. Devo confessar que tive medo dele atacar meu amigo Luís.— Você não gostou nada dele, não é? — murmurei, deslizando os dedos pelo seu pelo macio. O lobo apenas fechou os olhos, parecendo relaxar sob o toque, mas percebi que ele respirava fundo, como se ainda estivesse irritado. — Mas não precisava ter assustado ele assim… Luís é meu melhor amigo, ele e Abigail. Ele nunca me faria mal. — Falei para o lobo, que permanecia de olhos fechados, mas bufou como se estivesse insatisfeito com meu comentário.Depois de um longo silêncio, decidi que era hora de voltar para casa. O lobinho permaneceu deitado, ape
POV DARIUS.Alice ficou me acariciando por um bom tempo. Eu não queria estar ali, deitado com a cabeça em seu colo, como um simples animal de estimação. Mas, por mais que meu orgulho gritasse contra, havia algo em seu toque que me prendia. Cada movimento suave de sua mão em meu pelo, cada deslizar de seus dedos pela minha cabeça, trazia uma paz há muito esquecida.Era como se, por um momento, todo o peso que carrego desaparecesse. Eu odiava admitir, mas gostava de sentir seu carinho. Havia muito tempo desde que me permiti esse tipo de afeto, desde que matei minha primeira companheira. Desde então, me afastei de tudo e de todos, criando muros altos, punindo a mim mesmo pelo crime que cometi.Não permito que ninguém se aproxime, e também não ofereço carinho. É a única maneira que encontrei para expiar minha culpa. Ainda assim, me pergunto por que a deusa me daria outra chance? Por que me presentearia com uma nova companheira?Alice continuava falando, cada palavra dela um pequeno tormen
POV DARIUS.Entrei na floresta ao lado da propriedade delas. Ao farejar o ar, percebi estar no parque estadual. Um sorriso escapou enquanto corria, sabendo que minha mansão ficava do outro lado. Na verdade, o parque era meu. Com o título de parque e reserva ambiental, os humanos eram mantidos longe e os guardas florestais que ali trabalhavam eram todos seres sobrenaturais. Nosso segredo estava bem protegido.— Nunca imaginei que nossa companheira de segunda chance estivesse tão perto de nós esse tempo todo! — Baltazar disse, empolgado, enquanto corríamos pela floresta, sua energia quase transbordando.— Pois é... Esse mundo é realmente pequeno. — Respondi, acelerando.— E coloca pequeno nisso! — Ele riu, mas logo ficou sério. — Mas o que faremos ao chegar em casa? Não esqueça que temos um traidor para lidar. Meu rosnado baixo foi audível além da nossa ligação mental.— Vamos interrogá-los, um por um. — Falei, com frieza. — Cada ancião será questionado, até que a verdade apareça. E, de
POV DARIUS.Assim que cheguei perto da escada, senti o cheiro e olhei para cima. Lá estava ela, me observando, com os olhos cheios de lágrimas. Pela primeira vez em anos, aquilo me incomodou. Ela desceu a escadaria correndo e, quando chegou até mim, me abraçou com força e chorou. Eu senti um aperto no peito pelo seu sofrimento.— Meu filho, tive tanto medo que estivesse morto. Darius, graças à deusa, você está vivo. Orei tanto para que ela o trouxesse de volta para mim — disse minha mãe, enquanto chorava, abraçada a mim. Antes, eu a teria afastado rapidamente. Mas agora, fiz algo que há anos não faço. A abracei de volta.Senti o cheiro de meu pai e olhei para cima. Ele estava descendo a escada apreensivo e ficou surpreso ao me ver abraçando minha mãe. Eu não permitia demonstrações de afeto, até isso essa maldição me tirou. Não sentia mais capacidade de amar e demonstrar carinho. Mas agora me sentia diferente.— É por causa dela, Darius. Nossa companheira — falou Baltazar, se metendo e