CAPÍTULO DOZE: NÃO POSSO DEIXÁ-LO IR.

POV ALICE.

Minha mãe se aproximou e me ajudou a levantar. Seu olhar permanecia determinado. Senti o lobo encostar em mim. Acariciei seu pelo, ele estava ao meu lado. Eu sentia a tensão em cada fibra de meu corpo. Eu sabia que sua presença aqui incomodava minha mãe, mas eu não queria que ele fosse embora.

— Mãe, por favor, me escute — falei, minha voz carregada de urgência. — Ele ainda não está totalmente curado. Se o mandarmos embora agora, ele não sobreviverá lá fora. Está machucado demais para se defender de qualquer perigo. — Falei exagerando, eu sabia que ele estava bem, mas não o queria longe de mim.

Minha mãe cruzou seus braços, o rosto inexpressivo, embora eu pudesse ver a preocupação escondida em seus olhos. Ela suspirou, impaciente, e olhou para o lobo com uma expressão de desconfiança.

— Alice, você não entende. Esse é um lobo, um animal selvagem. Não é como os outros bichos que resgatou e depois acolheu. Ele já está aqui há tempo demais, e quanto mais tempo ele fica, mais ele se acostuma a essa vida. Não podemos criar um lobo como se fosse um… um cachorrinho de estimação — rebateu ela, o tom firme e decidido.

Senti meu coração apertar ao ouvir suas palavras. Entendia o ponto dela, mas olhar para ele e imaginar sua partida me parecia impossível. O lobo, ainda ao meu lado, inclinou a cabeça e seus olhos brilhavam, atentos a cada palavra. Ele rosnou baixo, como se entendesse a situação e estivesse se defendendo silenciosamente. Minha mãe se afastou temerosa. Acariciei seu pelo, tentando tranquilizá-lo, mas também buscando força para continuar.

— Mãe, eu sei que é arriscado, mas ele é diferente! Não é como os outros animais que tratei. Deixe-o aqui por mais um tempo, até que esteja forte o suficiente, por favor. — Argumentei, a voz falhando levemente. Ela soltou um riso incrédulo e balançou a cabeça.

— Alice, você está se apegando demais. Ele é um predador! E olha só o tamanho dele… como acha que vai controlá-lo? Se ele atacar alguém? E se te atacar? — Perguntou minha mãe.

— Ele nunca me atacaria! — rebati, elevando o tom mais do que pretendia. Os olhos da minha mãe se estreitaram e percebi precisar ser mais cuidadosa com minhas palavras. Respirei fundo, tentando manter a calma. — Ele só está me olhando agora, ele entende que estou tentando ajudá-lo. Não vê? Ele não é só um animal qualquer… — Falei tentando convencê-la. Minha mãe me olhou com uma mistura de frustração e cansaço, mas manteve-se firme.

— É isso que temo, Alice. Não quero que você se iluda achando que esse lobo tem sentimentos humanos, que ele entende as coisas como nós entendemos. Ele está aqui para se curar, mas chegou a hora de deixá-lo partir. Amanhã, ele precisa ir embora. Sinto muito, mas é o que precisa ser feito — disse ela, com um suspiro pesado.

Olhei para o lobo, que agora me encarava com um olhar penetrante, quase compreensivo. Como se soubesse que sua permanência estava sendo decidida naquele momento. Ele não rosnava, nem mostrava os dentes. Apenas me olhava, com uma calma estranha que me fez sentir ainda mais conectada a ele.

— Mãe… — Minha voz era um sussurro suplicante, e eu acariciava atrás da orelha do lobo, tentando transmitir a ele a calma que eu mesma já não sentia. — Me dê só mais alguns dias. Ele não ficará para sempre… só o tempo suficiente para se recuperar por completo. Não posso deixá-lo ir agora, sabendo que ele pode não sobreviver lá fora. Ela me olhou com uma expressão dura, mas havia uma leveza em seu olhar, uma pequena faísca de compreensão. Mesmo assim, ela balançou a cabeça.

— Alice, eu sei que esse lobo já está curado. Eu já vi esse filme antes. Quantos animais já resgatou? E quantos deles você tentou manter? Não é a primeira vez que isso acontece, mas precisamos deixar a natureza seguir seu curso. Esse lobo… ele precisa voltar para a floresta, precisa retomar seu lugar. Aqui não é o lar dele. — Disse mamãe duramente.

— Mas ele também não está pronto para isso! — insisti. — Se ele morrer, mãe… eu nunca vou me perdoar! — Apelei, sendo dramática.

Ela desviou o olhar por um momento, mordendo o lábio, como se aquela imagem fosse difícil para ela também. O lobo permaneceu ao meu lado, quieto, sua respiração compassada e seu olhar fixo em minha mãe, como se esperasse seu veredicto, o resultado da minha súplica.

— Alice, conheço seus truques, esse drama não funciona comigo. Você não entende. — A voz dela estava mais baixa, mais suave. — Sei que é difícil, mas não posso permitir que ele se torne um dependente, alguém que depende da sua proteção para sempre. Você está esquecendo quem ele é. Ele precisa se defender sozinho, precisa viver conforme a natureza dele. — Disse mamãe. 

Olhei para o lobo e meu coração doía ao pensar em vê-lo partir. Era como se ele fizesse parte de mim agora, como se estivesse destinado a ficar. Acariciei seu pelo mais uma vez, sentindo a força de sua presença e o calor de sua pele sob a minha mão.

— Mãe, me escuta só mais uma vez. Sei que parece absurdo, mas sinto que o salvei por uma razão, como se… como se ele estivesse destinado a cruzar meu caminho — comentei, tentando fazer minha voz soar firme, mas sabendo que soava desesperada. Ela balançou a cabeça novamente, seus olhos cheios de pena, mas também de uma determinação que eu sabia que seria difícil quebrar.

— Alice… amanhã. Amanhã ele vai embora, e será melhor para todos nós. Já está decidido. É hora dele voltar para onde pertence. — Disse mamãe, dando a conversa como encerrada e saindo do celeiro, me deixando sozinha com o lobo. Olhei para ele e seu olhar se cravou no meu, cheio de um entendimento silencioso e uma tristeza que parecia espelhar a minha.

— Não posso deixá-lo ir, meu lobinho. O que fazemos agora?

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