CAPÍTULO DEZ: ELA É MINHA.

POV DARIUS.

— Não acredito… temos uma companheira de segunda chance. — A voz de Baltazar ressoou em minha mente, cheia de um misto de admiração e empolgação.

Eu não conseguia desviar o olhar. Ali estava ela, minha companheira, movendo-se com uma graça que prendia minha atenção em cada pequeno gesto, cada sorriso. Quando Alice me deu bom dia, com aquele brilho no olhar e um sorriso despreocupado, senti uma onda de felicidade que há muito não sentia. Era uma sensação estranha, mas agora eu entendia. Aquele turbilhão de emoções confusas que vinha me atormentando ultimamente… tudo fazia sentido. Minha alma reconhecia Alice como minha.

— Acha que ela sente algo? — perguntei a Baltazar, não em dúvida, mas buscando entender o que ele via.

— É claro que sim, — respondeu Baltazar, com uma certeza fria e orgulhosa, quase arrogante. — Ela pertence a nós. Mesmo sem saber, o corpo dela responderá… ao nosso toque, ao nosso olhar. — Disse.

Alice se aproximou e seus dedos delicados começaram a deslizar pelo meu pelo, tocando e examinando minhas cicatrizes. O calor de seu toque espalhou-se por todo o meu corpo, um calor bom, arrebatador. Era o primeiro contato físico entre nós, e, sem ela saber, estava dando início ao processo de ligação, o começo de algo que selaria nosso destino para sempre.

— Darius… ela é nossa! — exclamou Baltazar, sua voz embargada de emoção. Eu podia sentir nosso rabo abanando de alegria.

— Sim… e não há mais volta. — Minha mente estava em paz com essa certeza. Ela era minha. Mas eu precisava voltar à minha forma humana, só que não aqui, não na frente dela. Alice se assustaria. Humanos se impressionam facilmente e ficam horrorizados com o que não entendem.

Alice continuava a me observar, passando seus dedos por meu pelo com um cuidado inesperado, sem nem mesmo um traço de medo. Era uma mistura de curiosidade e carinho que eu jamais havia visto. Ela abaixou o rosto e suspirou enquanto me examinava.

— Ah, quem diria… um lobinho tão imponente, mas com um olhar tão… suave — murmurou ela, rindo para si mesma. A suavidade de sua voz tocou algo dentro de mim, uma necessidade de protegê-la.

— Nossa companheira é linda e incrível, Darius — disse Baltazar, sua voz emocionada.

Abanamos o rabo novamente, deixando escapar um leve rosnado, mas um rosnado afetuoso. Passamos a língua pelo focinho, enquanto Alice nos observava, e eu podia sentir a felicidade transbordar entre mim e Baltazar. Estávamos completos por encontrá-la, por sentir seu toque em nossa pele.

— Ora, o que foi isso? — Alice sorriu, arqueando uma sobrancelha. — Está tentando me impressionar, lobinho? — Perguntou alegre por nos ver abanando o rabo e sendo brincalhão.

Ela deixou o estetoscópio cair ao chão e abaixou-se para pegá-lo. Mas, ao se levantar, vi seus olhos se fecharem por um segundo, e seu corpo perdeu o equilíbrio. Foi como assistir a uma cena em câmera lenta. Ela vacilou e caiu para o lado. O desespero tomou conta de mim, um medo avassalador que nunca havia sentido antes.

— Alice! — Baltazar e eu gritamos em uníssono em pensamento, temendo pelo que poderia estar acontecendo com ela.

POV ALICE.

— Droga… — murmurei, tentando recobrar o controle do meu corpo, mas a tontura persistia, tornando cada movimento um esforço.

Fechei os olhos, respirando fundo. Por um momento, minha mente flutuou entre a consciência e o torpor, cada segundo se alongando como uma eternidade. Tentei abrir os olhos, mas meu corpo parecia pesado, imóvel. 

Logo senti a presença do lobo ao meu lado. Olhei em sua direção, ele se aproximou, cauteloso e preocupado, seus olhos brilhando com uma inquietação quase humana. Era como se ele pudesse sentir que algo estava errado comigo. Tentei sorrir para tranquilizá-lo, mas minha cabeça girava e tudo que consegui foi um sorriso fraco.

— Acho que estou tão cansada quanto você, lobinho — falei, forçando um tom de brincadeira, tentando aliviar o momento. Eu queria levantar, mas meu corpo parecia preso ao chão. O lobo observava cada movimento meu, suas orelhas inclinadas em alerta. Então, desisti de tentar me levantar e decidi que ficar um pouco no chão não era tão ruim assim.

Ele começou a choramingar e, para minha surpresa, lambeu meu rosto e minhas mãos. Estranhei o comportamento. Já tinha visto cães agirem assim com seus tutores, mas lobos? Nunca ouvi falar de tal comportamento vindo de um animal selvagem. Porém, ele não era um lobo qualquer.

— Ei, garoto, eu estou bem. Só estou um pouco tonta, só isso. — Forcei um sorriso para tranquilizá-lo, mas a verdade é que as lambidas dele era reconfortante. Passei a mão pelo seu pelo grosso e quente, e ele se acomodou ao meu lado, colocando a cabeça em cima do meu peito. Aquele gesto quase me fez esquecer minha tontura. 

— Não tenho dormido muito nos últimos dias, mas não é por sua causa, lobinho. — Sussurrei, sentindo uma mistura de alívio e surpresa. Ele permaneceu ali, seus olhos fixos em mim, transmitindo uma preocupação que eu jamais imaginaria ver em um lobo. Eu sentia sua respiração ofegante e quente contra minha pele.

Fechei os olhos por um instante, deixando-me envolver por sua presença. Ele parecia me entender, mais do que qualquer outra pessoa. Ele roçou o focinho suavemente contra meu rosto, como se dissesse: estou aqui. De repente, ouvi passos rápidos e apressados virem na nossa direção. Antes que eu pudesse me levantar, ouvi a voz aflita da minha mãe ecoando pelo celeiro.

— Alice!  Saia de perto dela! Maldito, solte minha filha!

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