POV DARIUS.Alice ainda estava deitada no chão, respirando fundo para se recuperar da queda. Seu rosto mostrava sinais de cansaço, mas os olhos mantinham um brilho determinado e um leve sorriso, como se quisesse esconder qualquer fraqueza. Eu permanecia ao seu lado, atento a cada movimento dela, e mesmo em um momento de vulnerabilidade, Alice parecia determinada a se mostrar forte.No entanto, nossa aproximação foi bruscamente interrompida pela chegada de sua mãe, escandalosa e de olhos arregalados de pavor. Ao me ver ao lado da filha, o pânico dela se transformou em uma fúria descontrolada. A voz, embargada pelo desespero, pegou um pedaço de madeira, que estava encostado na parede, empunhando-o como uma arma e me ameaçando sem hesitar. Senti um rosnado profundo formar-se em meu peito; uma resposta automática à ameaça que ela representava. Baltazar revoltou-se imediatamente.— O que ela pensa que vai fazer com aquele pedacinho de madeira? Essa humana ousa nos desafiar! Precisa aprende
POV ALICE.Minha mãe se aproximou e me ajudou a levantar. Seu olhar permanecia determinado. Senti o lobo encostar em mim. Acariciei seu pelo, ele estava ao meu lado. Eu sentia a tensão em cada fibra de meu corpo. Eu sabia que sua presença aqui incomodava minha mãe, mas eu não queria que ele fosse embora.— Mãe, por favor, me escute — falei, minha voz carregada de urgência. — Ele ainda não está totalmente curado. Se o mandarmos embora agora, ele não sobreviverá lá fora. Está machucado demais para se defender de qualquer perigo. — Falei exagerando, eu sabia que ele estava bem, mas não o queria longe de mim.Minha mãe cruzou seus braços, o rosto inexpressivo, embora eu pudesse ver a preocupação escondida em seus olhos. Ela suspirou, impaciente, e olhou para o lobo com uma expressão de desconfiança.— Alice, você não entende. Esse é um lobo, um animal selvagem. Não é como os outros bichos que resgatou e depois acolheu. Ele já está aqui há tempo demais, e quanto mais tempo ele fica, mais e
POV DARIUS.A mãe de Alice já havia tomado sua decisão. Estava irredutível em me mandar embora, e nada parecia abalá-la. Alice até tentou dissuadi-la, mas a teimosia daquela humana era como aço, firme e inflexível. E, para piorar, ela nunca escondeu que não gostava de mim.— Essa velha está me irritando. Que vontade de lhe dar uma lição — disse Baltazar, furioso, em minha mente.— Eu também estou com raiva dela, Baltazar. Ela se intromete em nossa vida, se mete entre nós e nossa companheira, mas devemos ser racionais. Essa humana é a mãe de Alice, não podemos simplesmente… — pausei, exalando o que restava da minha paciência. — Não podemos matá-la. Precisamos que Alice nos aceite. Nós e à nossa alcateia precisamos dela, para quebrar essa maldição — falei.— Às vezes, do jeito que você fala, parece que quer Alice apenas para quebrar a maldição — Baltazar falou firme em minha mente, com seu tom sério, quase acusador.— Você sabe que minha prioridade é proteger a alcateia — rebati, inflex
POV DARIUS.A voz reverberou em minha mente, insistente:— Darius… — Dessa vez, a voz era inconfundível. Aquele tom forte e leal que eu conhecia bem. Era meu beta, Gabriel.Um sentimento inesperado de alívio e contentamento me invadiu. Minha conexão com a alcateia foi restabelecida, finalmente. Senti o peso da distância e da escuridão, que me acompanhavam desde que tomei aquela maldita poção que afetou todos os meus sentidos e bloqueou meu lobo.— Gabriel — respondi, firme. Houve um silêncio breve, então uma vibração de alegria ressoou em minha mente, como uma onda que só um lobo poderia sentir.— Alfa! — a voz de Gabriel se encheu de energia, quase uma explosão de euforia. — Você está vivo! Eu… estamos há tanto tempo esperando uma resposta… Onde você está? — Perguntou Gabriel, agitado por conseguir falar comigo.Suspirei. Onde estou… Como explicar que me encontrava em um celeiro, devido a uma poção que me manteve debilitado e preso neste lugar? Como dizer que havia encontrado minha c
POV ALICE.Assim que saí do celeiro, caminhei lentamente em direção à casa. Cheguei em casa e notei que minha mãe não estava lá. Apenas um bilhete, sobre a mesa, dizendo haver saído.— Dona Antônia, está fugindo de mim? — murmurei, rindo para mim mesma, mas o humor logo se desfez. Mamãe estava mesmo me evitando. Ela sabia que eu iria insistir para o lobo ficar.Suspirei e saí da casa. Fui em direção ao quintal para cuidar dos animais do sítio. Tínhamos galinhas inquietas, duas vaquinhas de olhar manso e uma cabra impaciente. Eram elas, as hortas e as árvores frutíferas, que garantiam nosso sustento. A aposentadoria da minha mãe e meu trabalho de meio período não eram suficientes para pagar as contas.Pela manhã, eu ajudava no sítio; à tarde, trabalhava. Mamãe não tinha mais idade para fazer tudo sozinha, mas era independente, sempre insistindo em cuidar de tudo, mesmo que depois ficasse sentindo dores. Entrei no galinheiro, sentindo o cheiro forte e característico, e recolhi os ovos,
POV ALICE.O rosnado que ouvi ecoar pela clínica parecia com o rosnado de lobinho. Meus pés se moveram antes que eu pudesse pensar; corri em direção à sala do doutor, o coração acelerado. Empurrei a porta com força, sem saber o que encontraria.E então vi a cena: o doutor Henrique estava em pé sobre a mesa de exame, com o semblante pálido e os olhos arregalados, enquanto Héctor, o grande pastor belga, estava com as costas arqueadas, o pelo eriçado, rosnando com dentes à mostra. Ele parecia um lobo selvagem, e o som que saía de sua garganta era ameaçador e intenso. Um arrepio me percorreu a espinha.— Alice! — gritou o doutor, num misto de alívio e desespero ao me ver. Ele estava tentando manter o equilíbrio, mas seus pés escorregavam sobre a mesa. — Esse cachorro está louco! — Disse desesperado. Respirei fundo e avancei devagar, mantendo o tom de voz baixo e calmo, do jeito que sabia que os animais respondem melhor.— Héctor… — murmurei, agachando-me devagar para ficar na mesma altura
POV DARIUS.Alice saiu, e Baltazar começou a me importunar para irmos atrás dela. Nosso instinto nos alertava de que nossa companheira não deveria andar sozinha por aí. Nós, lobos, somos possessivos e obcecados com nossas companheiras. Eu sentia uma certa posse sobre Alice, mas controlava esse sentimento.Mas Baltazar… ele estava desesperado com a ausência dela, mesmo que nem cinco minutos tivessem se passado desde que saiu daqui. Esse desespero só passaria depois que a marcássemos e a tornamos nossa. Mas a possessividade seria para sempre, enquanto vivêssemos.— Quero ficar lá fora com Alice. Quero proteger nossa companheira! — Disse Baltazar.— Não podemos sair daqui. A mãe de Alice já nos odeia e quer nos manter longe deste lugar. Quer piorar as coisas? — respondi mentalmente.— Desde quando aceitamos ordens de uma humana intrometida? Desde quando nos escondemos? Não estou lhe reconhecendo, Darius. Amoleceu, foi? Ficou sentimental agora? — provocou ele.— Não me provoque, ou te blo
POV DARIUS.Ali, no exato momento em que estávamos espiando pela porta do celeiro, eu vi o absurdo acontecer. Aquele infeliz, o intruso que já parecia estar gostando demais da minha companheira, se aproximou dela, abriu os braços e... abraçou Alice. Não só isso! Como se não bastasse, ele ainda teve a ousadia de inclinar-se e deixar um beijo na testa dela. O rosto de Alice, iluminado por um sorriso suave, só piorou tudo para mim. Senti uma corrente de fúria percorrer meu corpo, e Baltazar praticamente explodiu na minha mente.— Vou arrancar a cabeça desse maldito. — Disse, Baltazar. — Ele está tocando nela! Beijou-a! Darius, deixa eu sair, AGORA! Acabaremos com ele. É nossa companheira, não dele! — rugiu Baltazar, cada palavra vibrando na minha cabeça como um trovão.— Se acalme, Baltazar. Não vamos agir feito loucos. — respondi, tentando segurar o desespero que ele me transmitia. E a minha raiva crescente.— ACALMAR? Você quer que eu me acalme após ver isso? Aquele maldito está tocand