CAPÍTULO SEIS: ONDE ESTOU?

POV DARIUS.

Eu estava me perdendo, sentindo meu corpo afundar num vazio profundo. Baltazar estava em silêncio, eu estava sozinho, desprotegido. Era como se uma sombra densa me envolvesse, me puxando para o abismo. Minha mente gritava por força, mas meu corpo estava exausto demais para continuar lutando. A dor era sufocante. Eu já havia aceitado o fim, até que… ouvi uma voz.

Ela era doce, quase como um sussurro, mas cheia de medo, implorando para que eu não a deixasse. Essa voz… trazia algo mais, uma força que eu já não sabia que possuía. “Lute”, dizia ela, e por mais que parecesse impossível, algo dentro de mim reagiu. Ela me dava ânimo, esperança e, com o pouco que me restava, agarrei-me àquele som angelical e comecei a lutar.

Senti, de repente, um toque suave, como o calor de um raio de sol após dias de tempestade. Era acolhedor, reconfortante. Lentamente, algo dentro de mim se reacendia. A dor ainda estava presente, mas agora eu tinha uma centelha de força. Lutei contra o peso nas minhas pálpebras e, finalmente, consegui abrir os olhos. Pisquei algumas vezes, tentando entender onde eu estava.

O ambiente era estranho. O ar tinha um cheiro diferente, e meu corpo todo latejava, como se cada músculo estivesse reclamando. Olhei ao redor, confuso. Não conseguia me mover, estava preso num corpo que parecia não me obedecer. Foi então que meus olhos pousaram nela. Uma mulher, uma humana, parada à minha frente. Seu olhar encontrou o meu, e pude ouvir o ritmo acelerado do coração dela, quando percebeu que eu estava acordado. 

— Você acordou. Graças a Deus. Isso é um ótimo sinal. Pensei que não conseguiria te salvar, mas você é um lobinho muito forte. Eu não vou te machucar. Por favor, não me morda. Não quero ter que te colocar uma focinheira — disse ela, com uma voz trêmula e, ao mesmo tempo, aliviada. Então, reconheci aquela voz. A voz que havia me puxado de volta à vida. A voz que me fez lutar.

Espere… Ela disse que me salvou? E que história era essa de lobinho? Que audácia dessa humana me chamar assim! Sou Darius, um rei alfa supremo, a besta infernal, e ela ousa me comparar a um cachorro? Se eu pudesse me mover agora, ela sentiria toda a extensão da minha fúria por tamanha desrespeito.

Ela pegou um estetoscópio e, com delicadeza, o colocou em mim, começando a me examinar como se eu fosse um simples animal. A raiva dentro de mim crescia, e, com o pouco de força que ainda restava, rosnei baixo. Ela se assustou, recuando, o que me trouxe uma sensação de satisfação momentânea, até que a dor me pegou de surpresa, fazendo-me soltar um gemido involuntário.

A fraqueza era humilhante, mas eu não permitiria que essa humana achasse que tinha qualquer controle sobre mim. Como ela ousa me tocar sem permissão? Ela me olhava com olhos arregalados, a mão sobre o peito, como se tentasse acalmar seu coração do susto que levou.

— Você me assustou, lobinho — murmurou, tentando manter a calma, mas eu podia sentir seu nervosismo. Um sorriso nervoso surgiu em seus lábios, e isso só aumentou minha raiva. Rosnei mais uma vez e vi seus olhos se arregalarem ainda mais.

— Olha, se continuar rosnando, terei que colocar a focinheira. Não posso correr o risco de você me morder e me transmitir raiva ou outra doença de lobo. Eu não sei nada sobre você, não fiz nenhum exame para saber se tem alguma doença — continuou ela, tentando soar firme, mas seu tom de voz tremia. Rosnei novamente, mais forte desta vez.

Doenças? Raiva? Ela estava insinuando que eu, um lobisomem, poderia estar contaminado? Não sou um humano fraco. A insolência dessa criatura parecia não ter fim. Mas agora não havia nada que eu pudesse fazer. Estava preso no meu próprio corpo, incapaz de me vingar.

— Pare de rosnar. Você está fraco, mal acabou de acordar de um coma. Eu quase te perdi, sabia? Então, se comporte. Não quero te amarrar e sedar — disse ela, sem qualquer noção de quem estava ameaçando. Minhas presas doíam de frustração, mas eu sabia que, no momento, não poderia fazer nada. Resmunguei, irritado com a minha impotência.

Ela se aproximou novamente, ignorando meus avisos, e continuou seu exame, inspecionando cada um dos meus ferimentos. Eu sentia o calor de suas mãos, e cada toque parecia acender algo dentro de mim que eu não queria reconhecer. Ela estava falando sem parar, o som da sua voz começava a me irritar.

— Não acredito! Suas feridas estão cicatrizando tão rápido. Isso é incrível, lobinho. Você é impressionante. Desse jeito, logo poderá voltar para a natureza — disse ela, com um brilho de fascinação nos olhos. Natureza? Ela realmente achava que eu, sou um animal qualquer? Essa humana era ainda mais tola do que eu imaginava.

— Você não vai poder ficar aqui no sítio, como os outros animais que resgatei e cuidei. Minha mãe não permitiria. Ela tem muito medo de você. Sabe? Ela nem se aproxima muito quando está aqui, me ajudando a cuidar de ti. Mas não posso culpá-la. Você é um lobo selvagem, perigoso e enorme — disse ela, rindo como se fosse alguma piada. 

Se ao menos soubesse o quão certa a mãe dela estava. E se Baltazar estivesse aqui, provavelmente me diria para ser grato, para reconhecer o ato dela de salvar minha vida. Talvez ele tivesse razão, mas naquele momento, tudo o que eu queria era me ver livre dessa situação humilhante.

Antes que eu pudesse processar mais sobre o que estava acontecendo, senti um toque suave atrás da minha orelha. Era reconfortante, e por mais que eu quisesse rejeitar, algo dentro de mim relaxou com o carinho. Era estranho… desde que matei minha companheira e nosso filhote, nunca deixei ninguém se aproximar de mim dessa forma. Mas agora, estava gostando do toque dessa humana.

— Você vai ficar bem logo. Sei que não está se movendo agora, é porque seu corpo estava muito ferido. Demorará um pouco para se recuperar totalmente, mas já é uma vitória estar acordado e rosnando. Você se envolveu numa briga muito violenta, lobinho — disse ela com uma ternura que eu não entendia. 

Minhas emoções estavam confusas. Eu deveria desprezar essa criatura insignificante. No entanto, algo em sua presença me acalmava. Eu estava começando a me perguntar se era algum tipo de feitiço… até que ouvi passos pesados e a porta foi aberta.

— Ele está acordado? Alice, afaste-se dessa fera, agora! — gritou uma voz nervosa, me trazendo de volta à realidade. Pronto. Outra louca para me tirar do sério. 

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