CAPÍTULO DOIS: ARMADILHA.

POV DARIUS.

— O que tinha no chá, sua m*****a? — perguntei com raiva.

— Não se preocupe, querido, agora você é meu. — Disse Agnes, sorrindo vitoriosa.

Senti uma leve tontura e percebi o cheiro de lobos se aproximando. Rosnei de raiva e Agnes se assustou. Levantei-me, pronto para matar a todos. Agnes me olhou, com os seus olhos arregalados, e saiu correndo pela porta da cabana. Eu me levantei, ainda um pouco tonto, e saí da cabana logo atrás da bruxa, pronto para acabar com sua vida. Mas, quando cheguei na porta, só pude ver ela desaparecendo em meio à fumaça roxa e densa. Com dificuldade, fui me transformando em um lobo negro de olhos azuis, mas era tarde demais. Minha visão estava turva, e meus reflexos, lentos.

Havia algo naquele chá que me impedia de lutar com toda a minha força. M*****a hora em que confiei naquela bruxa e suas promessas. Pensei, enquanto minhas mandíbulas se fechavam em torno do pescoço de um lobo marrom, quebrando-o com um estalo surdo. O gosto metálico do sangue preencheu minha boca, mas não trouxe satisfação. Fui emboscado na floresta por dez lobos da alcateia Lua de Sangue, uma alcateia que me perseguia há tempos e queria meu trono.

Um rosnado profundo escapou de mim quando dentes afiados penetraram minha pata traseira direita. Outra garra rasgou minhas costas, e a dor aguda me fez vacilar. Contudo, não sou chamado de besta infernal à toa. Reunindo o que restava de minhas forças, girei o corpo, dilacerando o lobo que mordia minha pata, e avancei com ferocidade contra o que havia me ferido, arrancando-lhe a cabeça com um único golpe.

Antes que pudesse respirar, mais dois lobos saltaram de lados opostos, tentando me cercar. Um deles abocanhou meu ombro, enquanto o outro tentava morder minha perna traseira novamente. A dor explodiu, mas não havia espaço para fraqueza. Com um impulso poderoso, empurrei o que mordia meu ombro para longe, lançando-o contra uma árvore com tal força que o som de ossos quebrando ecoou pelo ar. No mesmo movimento, cravei minhas garras no que mordia minha perna, rasgando-lhe o flanco até ver suas entranhas escorrerem pelo chão.

O último lobo tentou fugir, percebendo que a derrota era certa. Mas não havia escapatória. Em um salto, alcancei-o, derrubando-o ao chão. Seus olhos arregalaram-se em desespero, mas eu não hesitei. Minhas mandíbulas fecharam-se em torno de sua cabeça, esmagando seu crânio com um estalo seco.

Olhei ao redor. Os corpos dos lobos da alcateia Lua de Sangue, estavam espalhados, todos mortos. Eu havia triunfado, mas não sem pagar o preço. O sangue escorria de várias feridas, e minha respiração estava pesada. Minhas patas tremiam.

— Baltazar? — chamei mentalmente, desesperado. Mas o silêncio foi ensurdecedor.

— Baltazar! — insisti, o pânico crescendo dentro de mim. Nada. O vazio que se seguiu me gelou a alma. Não havia resposta, nem o familiar rosnado de raiva, nem sua presença avassaladora. Apenas… silêncio. Tentei me concentrar, senti-lo, alcançá-lo em minha mente, mas algo estava errado. Ele havia sumido.

Cambaleando, sangrando e enfraquecido, me afastei da cena da batalha. Meu corpo estava cheio de ferimentos, meus músculos latejavam de dor. Eu precisava de um refúgio, de um lugar para me curar e pensar em como me vingar de Agnes. Mas, antes que pudesse ir longe, minhas forças se esgotaram. Perdi o equilíbrio e caí à beira do rio, minhas patas mergulhando na água fria. Senti as correntes violentas me arrastarem, enquanto a consciência lentamente se esvaía de mim.

O rio me carregava com uma força implacável, levando-me para longe. A dor excruciante dos ferimentos misturava-se ao frio penetrante das águas escuras, e minha mente oscilava entre delírios e momentos de semiconsciência. Por fim, após horas à deriva, fui jogado contra uma margem desconhecida. Meus ferimentos eram graves demais, e, antes que pudesse tentar me levantar, minha visão escureceu de vez.

POV ALICE.

Após passar o período da tarde trabalhando como ajudante na clínica veterinária da cidade, estou voltando para casa caminhando. Meu sonho é me tornar uma veterinária um dia, e estou juntando dinheiro para pagar a faculdade. Como sempre, decidi cortar caminho pela floresta para chegar mais rápido antes do anoitecer.

Cresci em um pequeno sítio com minha mãe, Antônia, uma mulher simples, mas de um coração imenso. Ela me encontrou quando eu tinha dez anos, sozinha, nua e sem memória, em um beco sujo da cidade. Ela me acolheu como filha, me deu um nome e um lar. Agora, sou Alice Miller, tenho trinta e três anos, vivo em Salem, Oregon. Nosso pequeno sítio fica na fronteira do parque estadual Silver Falls.

Mas o mistério sobre quem eu era antes daquele dia continua a me assombrar. Às vezes, acordo no meio da noite, tentando desesperadamente me lembrar de algo, qualquer coisa sobre meu passado. Já estava quase em casa e havia chegado ao rio que fica nos fundos da minha propriedade, mas algo chamou minha atenção. Entre a vegetação próxima ao rio, um vulto. Pelos escuros se misturavam com as sombras. Parei, franzindo o cenho. Como sou muito curiosa e não posso ver um animal ferido sem querer ajudar, pensei em me aproximar.

— O que será aquilo? — pensei, a curiosidade me dominando. Sabia que deveria seguir em frente, mas algo dentro de mim me forçava a investigar, aproximando-me devagar. Quando finalmente vi o que estava à minha frente, meu coração acelerou.

Era um lobo. Um lobo negro, gigante. Ele estava caído, imóvel. Nunca havia visto um animal tão grande, tão assustador. Seu corpo estendido, cheio de cicatrizes e marcas de sangue, contrastava com seus pelos negros brilhantes. Ele devia ter quase dois metros de comprimento.

— Será que está morto? — sussurrei para mim mesma, minhas mãos tremendo.

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