CAPÍTULO QUATRO: NÃO POSSO PERDÊ-LO.

POV ALICE.

Toquei seu focinho frio e observei atentamente. Seus olhos continuavam fechados, sem qualquer sinal de movimento. A respiração, antes pesada, agora era quase imperceptível. Entrei em pânico.

— Não, não, por favor, aguente firme! — implorei em voz baixa, tentando manter a calma. Mas o medo crescia dentro de mim. Então, percebi.

— Droga, acho que ele entrou em coma… — minha voz falhou, uma mistura de desespero e impotência tomou conta de mim.

Olhei para o lobo, sentindo meu coração apertar. O que eu faria agora? Ele estava à beira da morte, e eu não tinha tempo a perder. Precisava agir, mas não sabia se conseguiria salvá-lo. Apenas uma coisa era certa: eu não poderia desistir dele agora.

O lobo continuava imóvel, seu peito mal se movendo. Eu podia sentir o peso da urgência esmagando meu peito. Precisava fazer algo. Mas o quê? Sou apenas uma ajudante de veterinário.

Olhei em volta, tentando pensar em uma solução.

O único som era minha própria respiração acelerada. Peguei o estetoscópio improvisado que mantinha no celeiro para examinar os animais feridos. Coloquei-o contra o corpo do lobo e tentei ouvir seus batimentos. Fracos, quase imperceptíveis. O pânico me dominou novamente.

— Não desista agora… lute, você consegue — falei, incentivando-o. Não podia perdê-lo.

Fui até o armário de primeiros socorros e procurei desesperadamente algo que pudesse ajudar. Soro fisiológico? Não, não tinha como administrá-lo. Bandagens? Não adiantariam. Um desfibrilador… claro, eu não tinha um. Senti o desespero crescer como um monstro faminto.

Preciso pensar, me obriguei, enquanto a adrenalina corria pelas minhas veias. Sabia que lobos são criaturas resilientes, mas o estado dele era grave demais para esperar que a natureza fizesse seu trabalho. Eu já havia tratado suas feridas e administrado antibiótico e anti-inflamatório. Talvez fosse suficiente.

Minhas mãos tremiam enquanto esfregava o rosto, tentando clarear a mente. Foi quando me ocorreu algo. Havia ouvido histórias de lobos que conseguiam curar-se mais rápido. Talvez, se eu o mantivesse aquecido, seu corpo pudesse reagir.

Com isso em mente, corri até o canto do celeiro, onde guardava alguns cobertores. Puxei dois, os mais grossos que consegui encontrar, e voltei correndo. Com cuidado, cobri o corpo enorme do lobo, na esperança de estabilizar sua temperatura.

— Você vai ficar bem… prometo — sussurrei, quase tentando me convencer.

Segurei sua enorme pata, sentindo seus pelos sob meus dedos. Ele parecia tão forte, tão imponente… e, ainda assim, ali estava, vulnerável e à beira da morte. A ideia de perder aquela criatura… doía.

Os minutos pareceram se arrastar como dias enquanto eu o vigiava. Não havia muito que eu pudesse fazer, a não ser esperar. O tempo parecia congelar, e a incerteza era sufocante. Minha mente continuava a pensar em todas as formas de ajudá-lo, mas eu me sentia impotente. Talvez fosse hora de aceitar que nem todos os animais que resgatava poderiam ser salvos.

No entanto, algo dentro de mim se recusava a desistir. Talvez fosse minha teimosia. O silêncio foi quebrado por um leve som, quase imperceptível. Meu coração saltou. A respiração dele… havia mudado.

Inclinei-me mais perto, esperando, com o coração quase na garganta. E então, de repente, um som rouco e profundo escapou de sua boca. Um gemido baixo, mas audível. Ele estava lutando. Meu corpo inteiro se arrepiou.

— Isso, garoto, você está lutando! — falei, com uma mistura de esperança e apreensão. Apertei sua pata levemente. Mas o alívio foi breve. Sua respiração voltou a ficar irregular. Senti meu coração afundar.

— Não agora… não agora… — sussurrei, desesperada. Levantei-me rapidamente e comecei a massagear seu peito, sem ter certeza se isso ajudaria, mas sem alternativa.

Meus movimentos eram frenéticos, meu coração martelando no peito. Eu não sabia o que estava fazendo, mas não podia ficar parada. Sentia o calor irradiando dele, mas o batimento continuava fraco. Foi então que ouvi o som distante de passos rápidos se aproximando. O rangido das tábuas velhas do celeiro denunciou a chegada de alguém. Meu coração disparou ao perceber quem era.

A porta se abriu com um estrondo, revelando a figura de minha mãe, Antônia, visivelmente preocupada. Seus olhos varreram o ambiente até pousarem sobre mim. Seu rosto refletia a preocupação pela minha demora.

— Alice? — exclamou, aflita. — O que… o que você está fazendo aqui? Por que demorou tanto para voltar para casa? Vi a luz acesa… — Ela parou ao ver o lobo ao meu lado e arregalou os olhos. Eu podia ver sua incredulidade se transformando em horror.

— O que é isso? — questionou, sua voz saindo em um sussurro tenso, como se mal acreditasse no que via. — Um lobo? Você trouxe um lobo para casa? — perguntou, incrédula.

— Mãe, calma, por favor! — Levantei-me rapidamente, as palavras saindo com urgência. — Ele está ferido, eu não podia deixá-lo lá fora. Ele precisa de ajuda! — expliquei.

Minha mãe deu um passo para trás, colocando a mão no peito, como se precisasse de apoio para processar o que estava vendo. O lobo, tão grande e imponente, estava agora vulnerável, mas para minha mãe, era uma criatura selvagem e perigosa.

— Alice, você está louca? — A voz dela estava carregada de pânico. — Isso é um animal selvagem! E se ele acordar? Se ele te atacar? Ele vai nos matar! Você perdeu o juízo! — falou, irritada.

— Ele não vai, mãe! — argumentei, minha voz embargada de emoção. — Ele está morrendo! Eu não podia deixá-lo… Por favor, me escute! Ele não sobreviverá se eu não fizer nada. — Comentei, aflita. Mamãe olhou de volta para o lobo, o corpo dele agora tremendo levemente sob os cobertores. Ela balançou a cabeça, ainda em choque, os olhos cheios de temor.

— Isso é perigoso, e muito irresponsável. Não sabemos de onde ele veio, o que pode acontecer se ele acordar. — Disse, preocupada.

— Mãe, eu não podia virar as costas para ele. — Mencionei.

Minha mãe me encarou por um longo momento, dividida entre o medo e o instinto protetor. Era como se ela não soubesse se deveria me puxar para longe ou me auxiliar a salvá-lo. Finalmente, ela respirou fundo, os ombros tensos.

— Isso vai acabar mal… — murmurou minha mãe, com voz de preocupação. Ela ainda falava, quando ouvimos um rosnado feroz e alto atrás de nós. Meu sangue chegou a gelar nas veias.

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