Mikoto é uma miko, uma sacerdotisa de uma pequena ilha, ou era, até um estranho sonho levá-la a de repente fugir de casa, e ir para o lar do maior clã do sacerdócio de todo o continente Yamato. Aparecendo como uma intrusa no meio de uma cerimônia, ela se vê como novo membro da missão das duas miko do clã. Missão essa que envolve youkai de verdade, e perigos que mostram um lado do mundo até então desconhecido, e considerado apenas fantasia. Capa por @R_F_Herondale
Ler maisQuando todos os youkai desapareceram em nuvens de cinzas, Mikoto caiu de joelhos, apoiada na naginata. Lutou contra os membros trêmulos para se reerguer, e começou a dançar para a despedida das almas dos mortos. Apenas quando terminava ela percebeu que o chão sob seus pés estalava e rachava cada vez mais.A menina correu para a escada no instante em que a torre começou a ceder, e não parou de saltar os degraus enquanto tudo desmoronava acima dela até se jogar para longe no chão, debaixo de uma chuva de poeira e pedaços da parede e o barulho ensurdecedor do desabamento.Ela ainda ofegava, assustada, quando os estrondos cessaram, dando lugar a um silêncio sepulcral. Agora dolorida e com todos os músculos do corpo tremendo, se levantar exigiu um pouco mais de tempo e esforço, mas não havia mais razão para ter pressa.-- Você fez o que eu acho que fez? &ndash
Todos, inclusive a própria Akumi, olharam paralisados a lâmina que penetrava o torso peludo, mais especificamente para o ofuda colado a ela.-- Você usou o kami da morte – Takako verbalizou o pensamento de todos, e a insatisfeita incredulidade que sentiam.Mikoto puxou a naginata e Akumi desabou, respirando com dificuldade. O ferimento começava a escurecer e os pelos ao redor se pulverizavam, cinzentos.-- Os youkai que morreram em Shiro viraram cinzas na hora. Por que ela não? – Haku pensou alto. Akumi bufou.-- Não me compare a aqueles peões selvagens. Não vou cair tão facilmente quanto eles.Mas era claro que ela não resistiria por muito mais tempo, agora quase todo o seu tronco estava como que queimado, e suas patas e caudas escureciam também.Yasha ficou de pé desajeitadamente, uma das mãos pressionando a ferida de dentes no pescoç
Ame supunha que Akumi tivesse voltado para a sala das máquinas, pois era lá que ela sempre podia ser encontrada, era provável que escolhesse o lugar para se reorganizar.Chegando à sala, a teoria de Ame provou-se correta. Akumi, em forma humana, aparentava estar completamente recuperada de qualquer ferimento, contemplava a incubadora à frente, até perceber a chegada do grupo e lançar um olhar de completo desprezo por cima do ombro. Ela começou a falar:-- Humanos e youkai compartilhavam o mundo, tal qual presas e predadores. As presas nos expulsaram para esta dimensão vazia e tomaram o mundo inteiro para si, criando desequilíbrio e caos na ordem natural. Sua missão era apenas assegurar o retorno dela, então por que a negou, Mikoto?-- Você não quer ordem natural de nada, só deseja voltar a caçar humanos – Takako respondeu com igual desprezo, e jog
Só o olhar selvagem de Akumi era o bastante para fazer qualquer um recuar, mas sua expressão dizia claramente que ela faria muito mais do que isso.Antes que ela se movesse, no entanto, Yasha a atacou por trás, armada com um punhal. Akumi se transformou em raposa e pulou para longe antes que a mulher a esfaqueasse. Com o movimento de uma cauda, Akumi derrubou Yasha e voltou-se zangada para ela, os dentes afiados à mostra.-- Você sempre foi um estorvo para nós – ela sibilou – Logo que percebi o que você era, soube que só nos traria problemas. Devia ter me livrado de você no começo, e quando Mikoto nascesse, tudo teria corrido como planejado.Ainda no chão, Yasha sacou uma pistola e atirou. Akumi ganiu de dor, pega de raspão no ombro, o ferimento já sangrando e tingindo seu pelo alaranjado de vermelho. Yasha sorriu triunfante.-- O que achou disso, Akumi? Te
A ideia de Ikari de montar uma barricada com os móveis do laboratório era boa, mas se provou eficiente apenas nos primeiros minutos. Depois que a primeira leva de youkai só conseguiu escalá-la para ser alvejada de surpresa por Yukio, um mujina do tamanho de um tanque de guerra e a partiu ao meio com um só golpe.-- Haku? – Yukio olhou nervoso por cima do ombro, e o menino balançou negativamente a cabeça. As três garotas ainda não tinham acordado.Com o caminho aberto pelo mujina, os outros youkai avençaram contra Yukio, Ame e Ikari. O gato lançou bolas de fogo contra os primeiros tanukis a atacar e depois passou a usar as garras para retalhá-los. Yukio descarregou suas pistolas e lançou mão do cassetete, enquanto Ame golpeava o que estivesse ao alcance de seus punhos.Os guaxinins, gatos e doninhas não demoraram a cair, o maior problema foi quando o texu
O brilho da hitodama se refletia nas paredes de água da fenda, dando ao ambiente uma luminosidade azulada que seria bonita se não fosse tão sobrenatural. E num momento o céu desapareceu, criando a sensação claustrofóbica de uma caverna subaquática.-- Você não é Mikoto, não é? Quem é você? – Takako falou para se distrair. Naturalmente, a hitodama não disse nada, mas a jovem ouviu vozes aparentemente vindas de cima, sussurros tão baixos que precisava se esforçar para captar algumas palavras soltas:-- Decepção.-- Armas vivas.-- Reprogramados e melhorados.A hitodama parou atrás da jovem miko, como que esperando à distância para não se envolver. Agora logo acima da cabeça de Takako, só iluminava um pequeno trecho adiante, depois havia só um breu impen
-- Por que tem que ser uma delas? – Yukio questionou.-- Além de nós, youkai, elas são as únicas aqui detentoras de alguma magia, e a delas é mais compatível por virem de pérolas celestiais. A pérola de Mikoto pode aceitar as suas sem vê-las como invasoras ou ameaças, como faria se Yasha ou algum youkai tentasse.As duas primas se entreolharam, divididas entre o desejo de ajudar Mikoto a qualquer custo e a desconfiança que o nekomata despertava. Ikari percebeu o conflito das duas e argumentou:-- Acatar minha última orientação ou não é escolha de vocês, mas sugiro que tomem uma decisão rápido. Deixei Yasha presa num poço, mas ela não vai demorar a voltar.-- Vamos fazer isso. Pelo menos tentar – Sayuri falou baixinho. Takako assentiu.-- Está bem, mas como?-- Eu tenho uma ideia.<
Yasha não entendia o que dera errado, tivera certeza de mergulhar bem fundo no inconsciente de Mikoto e o remodelar para que não houvesse nada além do comando de obedecê-la. Como ela poderia ainda ter consciência para chorar e resistir a uma ordem sua?E por que a pérola ainda brilhava? Não fazia sentido, Mikoto não estava usando nenhum poder sagrado. Sequer podia tirar o colar dela porque a pedra e brilhava esquentava insuportavelmente à mera aproximação de seus dedos.De qualquer forma, a pérola não tem influência nenhuma no que me interessa agora.Novamente Yasha segurou a cabeça de Mikoto e fechou os olhos.Logo estava afundando dentro da parte mais oculta e íntima da psique da menina, e imediatamente percebeu que algo não estava certo.Ali dentro estava completamente vazio, como ela deixara há meia hora, mas havia
-- Mikoto? – Takako e Sayuri também se paralisaram com a visão dela ameaçando Haku. Yukio sussurrou apavorado:-- O que ela está fazendo?-- Ei, Mikoto, calma – Haku ergueu as mãos, mas ela não abaixou a naginata.Havia algo errado com ela. Seu rosto estava congelado numa expressão neutra, e seu corpo mantinha uma postura tão rígida que se não fosse pelos cabelos que caíam sobre seus ombros, seria fácil pensar que Mikoto era uma estátua. O mais estranho eram seus olhos, vazios como se a mente dela não estivesse ali.E apesar disso, sua pérola ainda brilhava fracamente.-- Haku, se afaste, ela não está normal – Takako apertou o suzu com mais força. Sentia alguma energia sobre a amiga, algo maligno.Haku recuou para longe do alcance da naginata, e Mikoto assumiu uma posição defensiva. Say