-- Por que tem que ser uma delas? – Yukio questionou.
-- Além de nós, youkai, elas são as únicas aqui detentoras de alguma magia, e a delas é mais compatível por virem de pérolas celestiais. A pérola de Mikoto pode aceitar as suas sem vê-las como invasoras ou ameaças, como faria se Yasha ou algum youkai tentasse.
As duas primas se entreolharam, divididas entre o desejo de ajudar Mikoto a qualquer custo e a desconfiança que o nekomata despertava. Ikari percebeu o conflito das duas e argumentou:
-- Acatar minha última orientação ou não é escolha de vocês, mas sugiro que tomem uma decisão rápido. Deixei Yasha presa num poço, mas ela não vai demorar a voltar.
-- Vamos fazer isso. Pelo menos tentar – Sayuri falou baixinho. Takako assentiu.
-- Está bem, mas como?
-- Eu tenho uma ideia.<
O brilho da hitodama se refletia nas paredes de água da fenda, dando ao ambiente uma luminosidade azulada que seria bonita se não fosse tão sobrenatural. E num momento o céu desapareceu, criando a sensação claustrofóbica de uma caverna subaquática.-- Você não é Mikoto, não é? Quem é você? – Takako falou para se distrair. Naturalmente, a hitodama não disse nada, mas a jovem ouviu vozes aparentemente vindas de cima, sussurros tão baixos que precisava se esforçar para captar algumas palavras soltas:-- Decepção.-- Armas vivas.-- Reprogramados e melhorados.A hitodama parou atrás da jovem miko, como que esperando à distância para não se envolver. Agora logo acima da cabeça de Takako, só iluminava um pequeno trecho adiante, depois havia só um breu impen
A ideia de Ikari de montar uma barricada com os móveis do laboratório era boa, mas se provou eficiente apenas nos primeiros minutos. Depois que a primeira leva de youkai só conseguiu escalá-la para ser alvejada de surpresa por Yukio, um mujina do tamanho de um tanque de guerra e a partiu ao meio com um só golpe.-- Haku? – Yukio olhou nervoso por cima do ombro, e o menino balançou negativamente a cabeça. As três garotas ainda não tinham acordado.Com o caminho aberto pelo mujina, os outros youkai avençaram contra Yukio, Ame e Ikari. O gato lançou bolas de fogo contra os primeiros tanukis a atacar e depois passou a usar as garras para retalhá-los. Yukio descarregou suas pistolas e lançou mão do cassetete, enquanto Ame golpeava o que estivesse ao alcance de seus punhos.Os guaxinins, gatos e doninhas não demoraram a cair, o maior problema foi quando o texu
Só o olhar selvagem de Akumi era o bastante para fazer qualquer um recuar, mas sua expressão dizia claramente que ela faria muito mais do que isso.Antes que ela se movesse, no entanto, Yasha a atacou por trás, armada com um punhal. Akumi se transformou em raposa e pulou para longe antes que a mulher a esfaqueasse. Com o movimento de uma cauda, Akumi derrubou Yasha e voltou-se zangada para ela, os dentes afiados à mostra.-- Você sempre foi um estorvo para nós – ela sibilou – Logo que percebi o que você era, soube que só nos traria problemas. Devia ter me livrado de você no começo, e quando Mikoto nascesse, tudo teria corrido como planejado.Ainda no chão, Yasha sacou uma pistola e atirou. Akumi ganiu de dor, pega de raspão no ombro, o ferimento já sangrando e tingindo seu pelo alaranjado de vermelho. Yasha sorriu triunfante.-- O que achou disso, Akumi? Te
Ame supunha que Akumi tivesse voltado para a sala das máquinas, pois era lá que ela sempre podia ser encontrada, era provável que escolhesse o lugar para se reorganizar.Chegando à sala, a teoria de Ame provou-se correta. Akumi, em forma humana, aparentava estar completamente recuperada de qualquer ferimento, contemplava a incubadora à frente, até perceber a chegada do grupo e lançar um olhar de completo desprezo por cima do ombro. Ela começou a falar:-- Humanos e youkai compartilhavam o mundo, tal qual presas e predadores. As presas nos expulsaram para esta dimensão vazia e tomaram o mundo inteiro para si, criando desequilíbrio e caos na ordem natural. Sua missão era apenas assegurar o retorno dela, então por que a negou, Mikoto?-- Você não quer ordem natural de nada, só deseja voltar a caçar humanos – Takako respondeu com igual desprezo, e jog
Todos, inclusive a própria Akumi, olharam paralisados a lâmina que penetrava o torso peludo, mais especificamente para o ofuda colado a ela.-- Você usou o kami da morte – Takako verbalizou o pensamento de todos, e a insatisfeita incredulidade que sentiam.Mikoto puxou a naginata e Akumi desabou, respirando com dificuldade. O ferimento começava a escurecer e os pelos ao redor se pulverizavam, cinzentos.-- Os youkai que morreram em Shiro viraram cinzas na hora. Por que ela não? – Haku pensou alto. Akumi bufou.-- Não me compare a aqueles peões selvagens. Não vou cair tão facilmente quanto eles.Mas era claro que ela não resistiria por muito mais tempo, agora quase todo o seu tronco estava como que queimado, e suas patas e caudas escureciam também.Yasha ficou de pé desajeitadamente, uma das mãos pressionando a ferida de dentes no pescoç
Quando todos os youkai desapareceram em nuvens de cinzas, Mikoto caiu de joelhos, apoiada na naginata. Lutou contra os membros trêmulos para se reerguer, e começou a dançar para a despedida das almas dos mortos. Apenas quando terminava ela percebeu que o chão sob seus pés estalava e rachava cada vez mais.A menina correu para a escada no instante em que a torre começou a ceder, e não parou de saltar os degraus enquanto tudo desmoronava acima dela até se jogar para longe no chão, debaixo de uma chuva de poeira e pedaços da parede e o barulho ensurdecedor do desabamento.Ela ainda ofegava, assustada, quando os estrondos cessaram, dando lugar a um silêncio sepulcral. Agora dolorida e com todos os músculos do corpo tremendo, se levantar exigiu um pouco mais de tempo e esforço, mas não havia mais razão para ter pressa.-- Você fez o que eu acho que fez? &ndash
A capital sagrada de Yamato era dez vezes maior e mais movimentada do que Mikoto imaginara. Carros e motos passavam zunindo pelas ruas, as pessoas se espremiam nas calçadas apinhadas, e prédios mais altos do que montanhas se erguiam acima de tudo.Mikoto teria ficado impressionada se não estivesse tão perdida e confusa. Sua pequena ilha não era nem de longe tão caótica, barulhenta e cheia de gente como ali, e com certeza ela agora parecia uma simplória moça do campo perdida na cidade grande, o que não deixava de ser verdade.Com certeza ela se destacava na multidão, vestida com um quimono tradicional e botas surradas em meio a tantos ternos e calças jeans com tênis. Se não tivesse saído de casa numa corrida tão desenfreada, com certeza teria vestido algo menos chamativo e antiquado.Porém, ninguém lhe dava atenção.Tod
-- Você diz que veio de uma ilha Iruka. Onde fica? – a jovem mais alta, de olhar mais severo e cabelos que iam até a cintura, começou. Era impressionante como ela conseguia ser intimidadora, até sua pérola amarela dava-lhe um ar de superioridade inata. Mikoto tentou não gaguejar de novo.-- No sul. É a ilha mais ao sul que existe.-- Isso que você carrega é uma pérola celestial. Só existem duas no mundo, e ambas estão aqui, então onde você conseguiu essa? – a voz da alta-sacerdotisa foi o bastante para Mikoto se encolher.-- Eu não sei, ela apareceu perto de mim.-- O quê?-- Poderia nos contar o que a trouxe aqui? – a jovem mais baixa, de cabelos cortados na altura dos ombros, perguntou com mais gentileza. A mulher concordou.-- Sim. Por que está aqui?Mikoto não soube dizer o motivo porque ela m