Capítulo 2: Consequências

Quando o dia amanheceu, Claire abriu os olhos e suspirou, mexendo-se na cama com preguiça. Ainda estava no quarto do Eclipse, e quando voltou a si e se lembrou da loucura que fez na noite anterior, se sentou na cama de súbito e passou as mãos nos cabelos.

“Deus, o que eu fiz?!”, a voz de Claire era quase um sussurro, incrédula diante de suas próprias ações.

Os flashes da noite anterior ainda estavam vivos em sua mente. Alexander a levou ao ápice do prazer tantas vezes que ela até perdeu a conta, e ela se entregou pela primeira vez a um homem sem que ele soubesse que ela era virgem.

Claire não se deu ao trabalho de contar, na verdade, não falaria mesmo se fosse em outra situação, tinha muita vergonha de, aos 23, ainda ser virgem.

Ela olhou ao redor e se levantou, ainda estava nua e seu vestido estava jogado no chão ao lado da cama. Tudo estava silencioso e, em cima da mesa de cabeceira, havia um bilhete.

“Precisei sair bem cedo. Se quiser falar comigo ou sair de novo, me mande uma mensagem”, embaixo do bilhete havia o número de telefone de Alexander.

Um sorriso bobo surgiu nos lábios de Claire, mas antes que ela pensasse qualquer bobagem romântica, sentiu um raio de sol batendo em seu rosto e arregalou os olhos.

“Meu Deus, que horas são?”, ela havia dormido fora, pela primeira vez em 23 anos.

“Meus pais vão me matar!”

***

“Onde você estava?!”, Moly, a mãe de Claire, gritou assim que viu a filha abrir a porta.

Moly era uma mulher alta, corpulenta, tinha uma pele clara e cabelos curtos, seus olhos eram azuis e sua expressão era furiosa enquanto apontava um dedo em riste para a filha.

“Fui a uma festa, mãe… A trabalho”, Claire respondeu, mordendo o lábio e baixando os olhos, sentindo a cabeça doer.

“Uma festa? A trabalho?”, Moly rebateu com desdém. “Com uma roupa de puta dessas?”

“O quê? Eu não estou vestida como uma…”, mas antes que Claire pudesse falar qualquer coisa, um tapa estalou em sua bochecha.

O rosto dela virou para o lado com a força do tapa e seus olhos se encheram de lágrimas.

“Você me dá vergonha!”, sua mãe continuou gritando, furiosa. “Saindo a noite as escondidas, vestida como uma vagabunda e voltando apenas no dia seguinte…”

Enquanto falava, Moly puxou com força o vestido de Claire, fazendo as alças quase se rasgarem.

“Não vai falar com aquela vadia que chama de amiga nunca mais! Seu pai vai chegar a noite e vamos dar um jeito, a partir de hoje você vai dá m*****a faculdade para casa, e de casa para a faculdade! Não criei uma filha para ser uma vadia!”

“Mas, mãe, eu não fiz nad…”, Claire tentou falar, mas Moly não a deixou terminar, dando um outro tapa em seu rosto.

“Cale a boca e vá para seu quarto!”, gritou, empurrando a filha em direção as escadas, mas não sem antes arrancar o celular de Claire de dentro da bolsa, tomando o aparelho.

E Claire não fez nada, não poderia fazer nada além de subir. Ela correu para seu quarto, fechando a porta que sequer tinha uma tranca. Mesmo aos 23 anos, seus pais a tratavam como se ela fosse uma adolescente, não podia sair, não podia ter namorados, sequer estar perto de garotos.

Seu pai nunca a deixou ir à escola comum, foi educada em casa a vida inteira e foi muito difícil convencê-lo a deixá-la ir a faculdade. Ela se lembrava das milhares de vezes que, durante a adolescência e até alguns meses atrás, seus pais a levavam ao médico para fazer exames para garantir que ela ainda era virgem.

Se sentia presa, desde sua infância, desde que era apenas uma menina. E agora, sendo uma mulher adulta, as coisas continuavam iguais.

“Eu só queria que eles não fossem assim…”, sussurrou, chorosa, se jogando na cama e abraçando o travesseiro.

As lembranças da noite anterior eram boas, doces, mas ainda pareciam muito pequenas diante de toda a dor que causaram.

***

Quando a noite chegou, Claire já estava usando um de seus vestidos dados de presente por sua mãe. Era como a maioria de suas roupas, iam até abaixo dos joelhos, no meio das canelas, tinham mangas longas e a gola alta, deixando seu busto completamente coberto.

Era assim que seus pais exigiam que ela se vestisse, isso era para ser uma moça de respeito, como eles diziam.

Às sete, ela desceu as escadas finalmente, com a cabeça baixa, se sentando à mesa e sentindo o olhar furioso de sua mãe sobre si.

Seu pai, Arthur, também estava lá, um homem alto, já com cabelos grisalhos, mas ainda bastante forte, sempre trabalhou de forma braçal, por isso tinha um físico bem em forma, mesmo com sua idade.

Por um momento, ninguém disse nada, Claire se serviu, mas antes que ela pudesse comer, sua mãe puxou seu prato para longe dela.

“Sabe que o que fez foi terrível, não é, Claire?”, seu pai perguntou, sério. “Sua mãe me contou tudo. Acha que, porque já tem 23 anos, pode fazer o que quiser?"

“Não foi assim, pai…”, ela tentou se defender, mas o homem bateu com a mão na mesa com força o bastante para fazer os pratos tremerem.

“Está dizendo que sua mãe é mentirosa?”, Arthur gritou, fazendo a filha encolher os ombros.

“Não é isso, eu…”

“Você não vai mais para a faculdade”, decretou ele, como se desse o assunto por encerrado. “Está assim por causa daquelas más influências, então não irá mais para aquele lugar!”

“O quê? Pai, não! Eu já estou quase terminando o curso, vou me formar em breve e…”, Claire tentou argumentar, se levantando da cadeira.

Suas mãos tremiam e todo seu corpo parecia prestes a entrar em colapso. Aquele era seu sonho, não podia ser proibida de viver assim.

“Não importa! Você vai ficar em casa, aprender a ser uma mulher de respeito, vou encontrar um marido para você e só daí de debaixo do meu teto casada, entendeu?”, o grito a fez se silenciar, e Arthur não se importou nem um pouco com o choro da filha. “Não coloquei uma filha no mundo para ser uma vagabunda qualquer!’

“Eu odeio vocês!”, Claire gritou, perdendo toda a postura e o medo. “Odeio vocês!”

***

Infelizmente, quando seus pais tomavam uma decisão, não havia muito o que ela pudesse fazer sobre isso… Duas semanas haviam se passado desde o dia em que foi ao Eclipse, não tinha seu celular, não conseguiu mandar mensagem para Alexander, nem conseguia falar com Sarah.

Estava trancada em casa desde então, seus pais não a deixavam sair, tudo o que ela podia fazer era ajudar sua mãe nas tarefas e jantar na sala com seus pais a noite. Em outros momentos, era obrigada a ficar apenas em seu quarto, de janelas fechadas e em silêncio.

Segundo sua mãe, aquele era seu castigo e ela só iria sair sozinha novamente quando conquistasse a confiança deles, mas ela não sabia se queria isso, se queria conquistar a confiança de seus pais.

Na verdade, tudo o que ela queria era ir embora dali. No fim, Sarah estava certa, precisava viver sua vida. Mas como faria isso daquele jeito?

Não ir à faculdade estava acabando com ela, estava vendo seu sonho ficar cada vez mais distante, sua independência se tornando algo impossível. E se seu pai resolvesse casá-la com um homem qualquer?

“Eu não vou conseguir lidar com isso…”, Claire murmurou, limpando o rosto das lágrimas que haviam se tornado cada vez mais frequentes.

Já havia escurecido e, as sete, ouviu as batidas na porta do seu quarto e sua mãe abriu, sem sequer pedir licença ou esperar uma confirmação dela.

“Desça, já servi o jantar”, Moly falou, de forma rude, estava tratando Claire a meias palavras desde o que aconteceu.

A garota penteou os cabelos, deixando-os presos numa tranca, e calçou seus sapatos, só então desceu as escadas, se sentando a mesa e pegando seu prato, estava completamente sem fome.

Estava se sentindo cansada há dois dias, dormia o dia inteiro e não tinha muita energia para fazer qualquer coisa, mas sua mãe parecia não se importar, sempre colocando-a para fazer cada vez mais trabalhos em casa.

“Você parece pálida, filha”, Arthur disse, observando a filha se servir de pouca comida. “Bem, não importa, amanhã, coloque seu vestido mais bonito. Um amigo e seu filho virão nos fazer uma visita e irão jantar conosco.”

“O quê?”, ela perguntou, sentindo um pouco de tontura. “Eu não me sinto bem para…”

“Não importa o que sente, você precisa se casar logo, já está ficando muito velha para isso, sua mãe se casou aos 18”, Arthur interrompe, pouco se importando com as palavras da filha. “Se arrume bem para esse jantar amanhã.”

“Eu não estou…”, Claire continuou falando, mas a tontura ficava cada vez mais forte.

Seu estômago embrulhou e ela sentiu o corpo perder a força, o mundo ao seu redor girou e Claire tentou se levantar, mas foi a pior decisão que poderia ter tomado.

“Não me sinto bem…”, foi a última coisa que disse antes de vomitar no chão da sala.

“Claire!”, Moly gritou, segurando a filha pelos ombros. “O que está acontecendo? Por que está vomitando?”

A pergunta era claramente furiosa, e Arthur se levantou, parando logo ao lado da esposa.

“Moly, leve sua filha ao médico amanhã, faça todos os exames de sempre! Espero que você não tenha feito nenhuma besteira, menina!”

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