A recepção da clínica onde a família de Claire se consultava estava cheia, mas Moly não se importou com isso, apenas passou na frente de todas as outras pessoas, arrastando Claire pelo braço e parou na frente da recepcionista.
“Quero um horário com a Doutora Gupy, agora mesmo”, disse Moly, não se importando em dar bom dia para a recepcionista. “Senhora, qual seu nome?”, perguntou a mulher, um pouco a contragosto. “Preciso ver se ela terá disponibilidade e…” “Moly Dawson”, a mulher disse, direta. Ao lado dela, Claire se mantinha de cabeça baixa e ombros encolhidos. Mal havia dormido, depois que passou mal, sua mãe a mandou para o quarto e ela não comeu nada, mas também não teve fome. Como teria? Ouviu seus pais brigando durante a madrugada, seu pai acusava sua mãe de ser a culpada, de não tê-la educado direito, e sua mãe se desculpava e dizia que estava fazendo seu melhor. E Claire apenas chorava em seu quarto, apavorada, sem saber o que estava acontecendo. Quando amanheceu, assim que o consultório abriu, sua mãe a arrastou de casa até ali. Não houve conversa, sem palavras, apenas a arrancou do quarto, mandou que Claire colocasse uma roupa e saíram. Agora, enquanto a recepcionista encaixava sua consulta no próximo horário, tudo o que Claire queria era fugir. “Prontinho, a doutora Gupy está esperando por vocês”, a recepcionista falou, indicando o corredor. “Vamos, menina”, Moly puxou Claire pelo braço e, juntas, entraram no consultório. “Bom dia, meninas, o de sempre?”, Gupy perguntou, já conhecia as duas mulheres, afinal, Moly trazia a filha para consultas com frequência. A médica era uma senhora de meia-idade, tinha cabelos grisalhos, usava óculos e um jaleco branco. “Bom dia, doutora. O de sempre, todos os exames, Claire andou aprontando ultimamente”, Moly falou, empurrando a filha na cadeira. “E ontem passou mal no jantar.” “Certo”, a doutora começou a anotar os pedidos dos exames. “Está sentindo alguma coisa, Claire?” “Ela tem estado muito calada e dormido bastante nas últimas duas semanas”, Moly respondeu pela filha. “Certo, aqui estão os pedidos para os exames, amanhã os resultados estarão prontos”, Gupy falou, sem mais perguntas. Sabia que Moly não deixaria Claire falar, então não adiantava fazer perguntas a menina, ela não iria responder. Moly pegou os papéis com grosseria, puxando a filha para cima novamente e saindo pela porta,decidida a fazer esses exames o mais rápido possível. “Espero não descobrir nada, garota!”, ameaçou, furiosa. “Não vai descobrir nada, mãe…”, Claire respondeu, chorosa. As duas foram para o consultório e Claire fez diversos exames, inclusive exames de sangue e até um teste de gravidez. O último exame foi uma consulta com um ginecologista, era um exame visual para saber se ela ainda era virgem. Por sorte, sua mãe não foi permitida a entrar na sala, mas Claire sabia que isso não a livraria do resultado. “Senhorita Claire, é isso, não é?”, perguntou o médico. “Isso mesmo”, Claire respondeu um pouco envergonhada, sem olhar para ele. “Veja, se for sincera, não precisamos fazer o exame”, o doutor disse. “Você ainda é virgem? Sua mãe solicitou o exame, minha colega me disse, mas imagino que seja muito constrangedor para uma moça de sua idade.” “É constrangedor sim…”, ela respondeu, ainda sem erguer os olhos. “Não sou… perdi há… bem… duas semanas atrás.” “Certo, obrigada pela sinceridade”, ele agradeceu, anotando em seus papéis. “Vou precisar informar isso a sua mãe, Gupy explicou a situação, as duas parecem ser conhecidas antigas. Mas se precisar de alguma instrução, pode vir até mim, certo?” “Sim, doutor”, Claire sussurrou. “Obrigada.” *** Do outro lado da cidade, no aeroporto, os passos firmes de Alexander escoavam pelo corredor pouco movimento. A entrada para a pista particular onde seu jatinho o esperava era restrita, utilizada apenas para aqueles que tinham dinheiro suficiente para pagar a partida e chegada de seus voos particulares ali. Apesar de sério como sempre, vestido em seu terno bem alinhado e com óculos escuros que ocultavam-lhe os olhos, quem o conhecesse bem notaria o quão distraído estava, não havia como não notar. Não prestava atenção em seu caminho, parecia completamente desinteressado em sua secretária, uma moça jovem e muito bem vestida que tagarelava sua agenda de reuniões para a próxima semana, e segurava com força algo em sua mão livre. “Quando chegarmos à minha casa, mande tudo o que disse por e-mail”, ele disse, sem rodeios, fazendo a mulher se silenciar no mesmo instante. “Sim senhor”, respondeu ela, apressando o passo para o acompanhar. Não levaram mais que alguns minutos para entrar no jatinho e, assim que o fizeram, Alexander tomou seu lugar rapidamente e, finalmente, parou para observar o que tinha nas mãos. Não entendia porque ela não havia ligado, se perguntava se não havia gostado como ele gostou, ou se, como ele mesmo naquela noite, procurava apenas uma aventura. Não… Aquela hipótese parecia impensável, afinal, uma mulher como ela não parecia em busca de aventuras. Na verdade, ela parecia deslocada no Eclipse, como uma rosa num jardim onde ela era a única flor. “Então por que não ligou”, as pergunta saiu de seus lábios enquanto observava o pequeno brinco em sua mão, havia levado consigo apenas um deles, como uma pequena lembrança de que a noite foi real. Por algum motivo, aquela mulher não saia de sua cabeça desde então e, agora, ele não tinha nada dela além daquela joia que Alexander lembrava bem combinar perfeitamente com seus belos olhos. “Ainda vou te encontrar de novo, garota…”A manhã veio e passou muito rápido, e quando o meio dia chegou Claire estava completamente sem fome. Se sentia enjoada, estava com sono, mas assim que seu pai chegou, sua mãe entrou em seu quarto. “Desça, seu pai chegou com o resultado dos exames”, Moly, mais uma vez, não fez questão de ser simpática com a filha. Estava tratando Claire como se ela não fosse nada além de uma inquilina em sua casa. A garota desceu do quarto com a cabeça baixa. Sabia que seus pais saberiam que ela não era mais virgem e que isso mudaria tudo, esperava uma reação péssima deles, já estava pronta para isso. Mas nada iria prepara-la para o que realmente aconteceria naquela tarde, e Claire sequer imaginava como sua vida mudaria a partir daquele dia. Quando chegou a sala, seus pais estavam sentados a mesa e os papéis ainda estavam fechados a frente deles. Arthur esperou ela sentar e ignorou quaisquer exames de sangue ou coisas assim, indo apenas para os dois exames que mais o interessavam. Abriu os envelo
O sono da manhã é sempre o mais gostoso, aqueles últimos minutos depois que o sol já nasceu e que o dia está prestes a começar. Normalmente, são nesses momentos em que somos acordados para iniciar um novo dia. “Mamãe…”, a vozinha manhosa e fofa chegou aos sonhos de Claire bem sutilmente, quase como um som de fundo que não chamava muita atenção. “Mamãe… Acorda!”, dessa vez, junto a voz, um pequeno empurrãozinho a fez resmungar. “Mamãe, é o primeiro dia na escolinha!”Então, ela se sentou de uma vez só na cama, abrindo os olhos de súbito e olhando ao redor sem conseguir assimilar muita coisa, como uma máquina que inicia de forma abruta, funcionando de forma meio defeituosa, sem assimilar de fato o que acontecia ao seu redor. “Mamãe, assim vamos chegar tarde!”, dessa vez, a voz fina e manhosa foi acompanhada pelo rostinho da criatura que ela mais amava no mundo. O garotinho de cabelos negros e olhos azuis pulou sobre a cama, engatinhando pelos lençóis até se aconchegar em seu colo, se
“Mamãe, o que é um mauricinho?” Theo perguntou enquanto Sarah caminhava até ele, o pegando nos braços e dando um cheirinho em seus cabelos. “Tia não pode bagunçar, se não os amiguinhos da escola não vão gostar de Theo.”“Mauricinhos são menininhos muito bonitos e fofos”, Claire respondeu para o filho, aproveitando que o menino estava de costas e mostrando o dedo do meio para amiga, que apenas gargalhou. “Vamos, mocinho, você precisa tomar café e sua mãe precisa se arrumar”, Sarah falou, sentando Theo na cadeirinha dele, que era mais alta para que ele alcançasse a mesa com facilidade. “Claire, você precisa ser pontual hoje, deixei aquele projeto do cliente novo com você, o secretário vai lá marcar a reunião oficial hoje de manhã. Bota uma roupa bonitinha, menina.”“E eu por acaso sou você que vive malamanhada?”, o tom acusatório seguido do riso fazia parte da dinâmica das duas que se arrastava ao longo dos anos. Sempre provocavam uma à outra, mas se amavam na mesma intensidade em qu
Trabalho, muito trabalho. Era isso o que permeava a vida de Alexander pelos últimos meses, talvez até anos. Não estava em seus planos assumir tão cedo os negócios da família, mas a morte de seu pai o levou para aquele caminho e, mesmo que não fosse sua vontade, jamais deixaria o império de seu pai ser arruinado depois de sua morte, era o legado dele e era sua responsabilidade passar adiante. Claro, muito havia mudado, já não era um garoto, agora, aos 31 anos, não tinha muito tempo para fazer o que fazia antes, as festas e bebedeiras se tornaram bem menos frequentes e a mídia atualmente o perseguia em busca de envolvimentos amorosos que não existiam. Uma ficada aqui e ali, mulheres que não se interessavam em saber quem ele era e pelas quais ele não tinha nenhum interesse além do carnal. Assim era mais fácil, combinava com sua rotina. Seus passos eram rápidos pelos corredores do andar presidencial da Blake Enterprises, situado no bairro mais caro de Manhattan, aquele, sem dúvida, er
Alexander finalmente ergueu o rosto e os olhos dos dois se encontraram, o CEO uniu as sobrancelhas por um momento, por que ela o estava encarando daquele jeito? Tinha alguma coisa errada com ele? Será que se conheciam? Ela parecia familiar, mas nada além disso, certo?“Bem, vamos começar?”, falou ele, com os ombros erguidos e um olhar sério. “S…Sim, Claro!”, Claire respondeu. Mas, por dentro, se perguntava como daria seguimento a uma reunião estando de frente para o homem que era o pai de seu filho e que ela não via há cinco anos. ***Foram as duas horas mais longas da vida de Claire. Quem diria que fingir que estava tudo bem enquanto tudo estava um caos era tão difícil? Pelo menos ele parecia não tê-la reconhecido. Não o culpava, na verdade, agradecia ao tempo que deu a ela algumas mudanças. Já não parecia uma menininha inocente como antes, tinha um corpo mais voluptuoso, seus cabelos longos emoldurava um rosto jovem, mas, ao mesmo tempo, maduro. Quando finalmente acabou e Clair
Quando o dia de trabalho finalmente acabou, Alexander se viu sentado no banco de seu carro enquanto seu motorista o levava para casa. Enquanto resolvia os problemas da empresa sua mente estava ocupado, mas no momento em que seus pensamentos se silenciaram, ele se lembrou dos olhos verdes de Claire e de como ela ficou nervosa em sua presença. “Por que tão nervosa?”, era a pergunta que tomava seus pensamentos, mas não era a única, porque uma pergunta quase tão frequente quanto esta lhe dava um comichão em seu peito… Por que ele estava tão interessado?Não sabia explicar, mas se convenceu de que estava apenas buscando uma fuga para sua rotina tão cansativa e, atualmente, sem diversão alguma, apenas um conjunto de problemas para resolver dia após dia. “Não é nada de mais”, resmungou para si mesmo, assim que o carro estacionou na frente da enorme mansão dos Blake. O jardim estava iluminado e as janelas da mansão jogavam para fora as çluzes acesas por toda parte. Alexander suspirou, tinha
“Mamãe sabe o que é melhor para você, filhinho…”, ela insistiu, fazendo um bico e um pouco de drama. “Mas não vou insistir agora, vá descansar um pouco e depois falamos mais sobre isso.”Então, Cora o soltou, caminhando em direção as escadas com um sorriso largo de quem sabia que ia conseguir o que queria. Cedo ou tarde, seu filho cederia a ela. 0***Havia duas coisas que irritavam Alexander ao extremo, a primeira era mentira e a segunda era que se metessem em sua vida, e sua mãe fazia a segunda com frequência. Sequer teve paciência para comer seu jantar, na verdade, ele apenas subiu para seu quarto e tomou um banho bem demorado, em seguida, deitou para dormir. Mas, no lugar do sono, o que veio para ele foi a curiosidade, a estranha aflição de que havia algo para saber. Por isso, pegou seu celular e abriu seu I*******m. Mal usava o aplicativo, tinha uma equipe de marketing que cuidava de suas redes sociais para ele. Clicou na barra de pesquisa e, depois disso, digitou o nome “Claire”
“O CEO… O CEO da Blake Enterprises”, enquanto falava, Claire caminhava em direção ao sofá e se deixava cair no estofado passando as mãos no rosto e subindo para os cabelos, tentando controlar a vontade de chorar e surtar. “Fala logo, mulher!”, Sarah apressou, já quase tão nervosa quanto a amiga parecia estar. “É o Alexander… O CEO da empresa é o pai do Theo!”, cuspiu, olhando para o teto em completo desespero. “Sarah eu não posso ver aquele homem de novo, não posso! E se ele descobrir sobre o meu filho? E se ele tentar tirar o Theo de mim?”As palavras pareciam pular da boca de Claire no mesmo ritmo em que seu coração saltava do peito, furiosamente, milhares de hipóteses surgiam em sua mente, diversas realidades com os piores cenários possíveis, em todos eles ela perdia seu menino. “Q quê?!”, por muito pouco, Sarah não gritou, olhando para as escadas para se certificar que Theo não estava ali. “Você tem certeza que é ele? Ele sabe que você é… Você?”A outra balançou a cabeça algumas