Galopando com sua capa preta de capuz e um chapéu que tapava ainda mais o seu rosto, Dilan via os raios eletrizantes e seus clarões cortar o céu, que saia de um azul para ficar completamente cinzento, junto aos barulhos estridentes do trovão. A revolta de Dilan era quase palpável, havia avisado ao cozinheiro do Rei que aquele não seria um bom momento para buscar o gado e os porcos.
Desde criança já fazia esse trabalho com o pai. Ao longo dos anos, adquiriu experiência e mesmo com pouca idade, seus calos e joanetes lhe indicavam quando a tormenta cairia.
Em Arbória, só a realeza e o clero podem obter terras, poder e fortuna. Aqueles plebeus que querem usufruir de um pedaço de chão, além de cultiva-lo com algum suprimento para o reino, algum homem da família tem de trabalhar a serviço do rei.
Esse era o caso da família de Dilan, seu pai Cícero e sua mãe Bertha cultivam a maior plantação de verduras que abastece o reino. Cícero também era quem tocava o gado criado por outra família a serviço do reino para o consumo da nobreza. Entretanto após Cícero adoecer, Dilan a contragosto do pai tornou-se responsável.
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Apeou da égua Raia, sabia que o animal sensitivo e inteligente logo encontraria um lugar seco, aonde todos pudessem se abrigar até a tormenta dissipar-se. E Raia não decepcionou, alguns nômades que por ali passaram fizeram um abrigo bem coberto feito de folhas longas das palmeiras. A égua de esperteza ímpar, encontrou o lugar e conduziu todos até o local.
Tirando a Raia que era obediente e sagaz, Dilan prendeu os animais aos troncos das árvores que os nômades usaram como apoio do abrigo. Agachou-se ao pé da árvore mais robusta e pensou que poderia até tirar uma pestana de final de tarde. O problema é que Raia ficou agitada, e de supetão saiu em disparada.
Dilan achou estranho a égua sair daquele jeito debaixo da tempestade, porém confiava em Raia e saberia que logo o animal estaria de volta.
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Se espantou ao ver Raia chegar com companhia um Mustang puro sangue. O pobre equino estava de barro até o pescoço. Contudo, mesmo debaixo daquela sujeira, Dilan tinha certeza que aquele animal de peito robusto e crina brilhante, se tratava de um cavalo da realeza.
"Ei Raia! Aonde arrumaste este amiguinho?"
A égua relinchou como se quisesse responder, mas na verdade o animal ainda estava impaciente. Abaixou a cabeça com o longo pescoço junto ao chão, indicando que Dilan deveria montar-lhe.
Conhecendo seu animal, Dilan obedeceu o apelo de Raia subindo rapidamente na égua, saindo a galope sendo seguidos pelo muntang. "Calma Raia!" Dilan pedia fazendo carinho no animal, que trotava rápido e agoniado "De vagar Raia! senão iremos atolar"
Raia levou Dilan até a cachoeira de cristais que ficava abaixo do pico mais alto de Arbória. "Para quê me trouxe aqui Raia? Não entendo!" Questiona apeando do animal. A égua relincha a beira da cachoeira e levanta as patas dianteiras, o mustang faz o mesmo, como se tivesse a imitando.
Sem entender bem o que Raia e o outro animal queriam, Dilan resolveu olhar bem o local. Foi aí que avistou um corpo deitado de bruços em uma das pedras. Era um homem e dava para ver que estava ferido.
A correnteza estava forte por conta da chuva. Caso fosse até lá poderia se afogar, e aquele homem talvez já estivesse morto. Por outro lado, pensava que se o deixasse ali e estivesse com vida, de certo morreria pelo ferimento que possuía, ou afogado pela cachoeira no qual as águas não paravam de subir.
Seu pai não perdoaria uma atitude egoísta e com total falta de cristianismo. Dilan tirou o chapéu, a capa de capuz preta, as galochas e se tacou nas águas de cristais.
Seu corpo pequeno e franzino, sentiu uma dificuldade em enfrentar a correnteza para chegar até o homem. Percebeu que fez a coisa certa quando viu que ele ainda tinha sinais vitais. O problema seria como chegar até a superfície com alguém com o dobro do seu tamanho.
O homem estava com o corpo de um lado ao o outro na pedra, tocando as mãos e os pés nas águas. Dilan reparou que ele segurava um enorme galho com as duas mãos, naquele momento passou por sua cabeça que aquele galho o ajudou a emergir.
"Amigo, vou apostar que você não soltará esse tronco. Essa é nossa única chance."
Dilan viu o homem abrir levemente os olhos por um breve momento. "Perdão senhor! Mas lhe jogarei na água, segure com força ao galho e tente voltar." Rezando que sua teoria estivesse certa, esforçou-se e atirou o homem nas águas frias. Soltou o ar preso dos pulmões, quando o viu voltar com o galho nas mãos. Aquele queria viver de verdade, sua missão na terra não havia acabado.
Puxando o galho, Dilan conseguiu chegar com o homem até a superfície da cachoeira. O pedaço de árvore serviu até para puxa-lo em terra firme. Tamanha era a vontade de viver que o ferido, não soltava o galho de jeito algum. Dilan teve que abrir dedo a dedo, era como se ele estivesse colado ao tronco.
Dilan vestia sobre a vestimenta encharcada sua capa preta, enquanto Raia e seu novo amigo, sorriam em meio aos relinchos pelo salvamento bem sucedido. A chuva já começara a diminuir, mas ainda faltava por o homem em cima do mustang.
Era um homem com mais de 1,80m de altura e de aproximadamente 90 kilos, enquanto Dilan tinha 1,60m e 55 kilos.
"Aí meu Deus! Aonde fui amarrar meu burro? Eu tinha que te dar ouvidos não é Raia!"
A égua que parece entender, levanta as patas dianteiras dando mais um de seus relinchos. Dilan tenta várias formas de levantar o homem, porém sem sucesso. Até que ele tem mais um momento de lucidez.
"Quem é você?" O ferido tem a voz em um fraco sussurro.
"Me chamo Dilan. Só quero lhe ajudar, me ajude a te levantar" Força era algo que naquele estado o homem não tinha, mas conseguiu ajudar Dilan a lhe pôr em cima da Raia, que esperta deitou ao chão para facilitar.
Dilan montou no mustang para fazer a entrega dos animais ao abatedouro real, enquanto Raia levou o ferido para casa de seus pais.
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Havia esquecido do estranho ferido que enviou pela Raia para casa. Mas a face emburrada de seus pais na porta lhe fez lembrar. Sabia que levaria uma carraspana de arder os tímpanos.
Seu pai ajuda apear do cavalo. "Graças a Deus!" Bertha mãe de Dilan exclama aliviada.
"Com sua bênção meus pais. O que houve mãe?"
"Você manda a Raia sozinha com um homem ferido por dois tiros, depois que a gente já estava morrendo de preocupação por conta da chuva, e pergunta o que houve!"
"A Raia não avisou que estou bem?"
Cícero olha para Dilan com as sobrancelhas eriçadas. "A Raia não fala."
"Fala sim pai, você e a mãe que não entendem ela." Dilan vai falando e tirando do corpo os apetrechos de trabalho " E o homem, está vivo?
"Está sim, Irlanda está cuidando dele. Você já avisou a família?" Dilan estava caminhando para o interior da choupana simples na qual morava, mas freou diante da pergunta de seu pai. Sua mãe continuou a entrar para lhe preparar um banho.
"Que família pai! Não sei quem é a família desse homem." Dilan põe a mão no queixo, enquanto seu pai também põe uma face estranha. "Você conhece esse homem pai?"
"Claro que conheço." Cícero responde com firmeza. " E pensei que você conhecesse também."
"Não conheço. Não faço ideia. Quem é ele pai"
"Salvador Francisco Arbória III. Filho do rei Conrado e vosso príncipe."
Oi gente!
APEAR descer do cavalo.
CARRASPANA é tipo um sermão. um esporro.
TINA é um grande recipiente de madeira utilizado como banheira.
CHOUPANA casa humilde, geralmente feitas de palhas e madeiras.
Dor, desespero, e revolta consigo própria era o que a rainha sentia. Como pudera trocar um filho pelo outro? Se perguntava como foi capaz em atirar no próprio filho, questionava-se que espécie de mãe ela era. Massara implorava a Nuno que mandasse a guarda procurar Salvador, ao menos o corpo do filho queria enterrar com a nobreza que tinha direito."Salvador não entra mais no reino Arbória, nem vivo e nem morto." Sua fala era fria e implacável.Não concordando com a atitude de Nuno, Massara o enfrenta "Eu mesma falarei com Corvel para que procure meu filho, tão príncipe quanto você.""Não sou mais príncipe mãe, agora sou o rei, pois meu pai decidiu assim.""Meu filho Salvador seu irmão, será enterrado aqui. Neste reino." Ela afirma. "Aonde fora sua casa por trinta e dois anos."Massara dar as costas para Nuno e segue o longo corredor do palácio em destino a guarda real. Nuno não aceita a r
Madame Irlanda era uma incógnita no reino Arbória, alguns a viam como feiticeira do bem, outros como bruxa maligna e há aqueles que simplesmente a veem como uma opção barata de atendimento médico. Já que o médico Bartolomeu e seus filhos da mesma profissão, tem a medicina somente com interesses venais, jamais facilitam ou atendem por caridade.Nas mãos dessa mulher que a muito tempo vive na colinas do reino, mas que parecia nunca envelhecer, estava a vida do príncipe Salvador.Madame Irlanda estava com ele em um cômodo da choupana da família Ziran, ao lado de fora todos sentiam um cheiro de erva forte sendo queimada. A mulher tinha um maço de algum tipo de planta nas mãos, que mergulhava na água fervente, depois salpicando em cima do corpo do príncipe, pronunciando algum tipo de reza em dialeto desconhecido.Ao lado de fora, Dilan se dava conta do tamanho da responsabilidade que havia adquirido para si. O medo do príncipe de
Na noite anterior Salvador mal conseguira dormir, a todo momento lhe vinha a cabeça Dilany. Sem conhecer-lhe o rosto, havia se encantado pelo fato de uma jovem moça com tamanha destreza e bravura, ter se atirado nas águas de cristais para resgata-lo.O sol nem nascera quando Bertha fazia o desjejum para Dilan. A moça que se passa por um rapaz, sai todos os dias bem cedo para trabalhar em prol do palácio Arbória, conforme exigido no decreto de anos atrás feito pelo tataravô do falecido rei Conrado.O príncipe ouviu que Dilan iria sair naquele momento, levantou-se da cama rapidamente para falar com a campônia. Ele abre as cortinas feita de fios de madeira tintilintando um som plural, chamando atenção de Dilan e Bertha pelo barulho."Senhorita Dilany, por favor me dê um minuto." Ele pede a moça fazendo Bertha arregalar os olhos."Santo Cristo! Vossa majestade sabe da nossa mentira." A mulher se apavora.
Cícero apreensivo, sussurrava com Dilan dentro de um cômodo da choupana. "Estais louca minha filha! Podes ir para forca por desafiar a soberania com tamanha empáfia.""Se ele concorda com as atitudes do reinado Arbória, a forca nos espera de qualquer maneira. Vocês mentiram e eu também.""Sim. Por isso temos que tratar muito bem desse homem que está lá fora, Para que seja benévolo conosco." Cícero segura a mão da filha. "Entendo sua raiva, mas sua mãe e eu lhe protegemos e vamos continuar a fazer.""Não senhor meu pai. Fazer eu ser quem não sou, nem de longe é proteção. É só adiar um problema e gerar outro." Com a voz embargada, uma lágrima isolada escorre pelo rosto franzino de Dilan,Cícero limpa a gotícula com carinho do rosto da jovem. "Desculpa se não soube fazer as coisas da maneira certa minha filha.""Não pai, me desculpa o senhor por esse lapso de ingratidão que me ocorreu. Você e a mã
Pratas, cristais e porcelanas para todos os lados. O novo rei não economizou nas festa de sua posse. Alguns nobres de reinos mais distantes, viajaram por cinco dias para chegar a Arbória.A família real do reino Mazog foi uma das que demorou mais a chegar em Arbória, se perdera do príncipe Cristovam Giron. A festa estava prestes a dar início quando os Mazog chegaram sem o príncipe.Catléya esposa de Nuno era quem recepcionava os convidados. A mulher belíssima, penteada de trança embutida lateral, com fitas de ouro traçados junto as fios, dando mais vitalidade ao cabelo loiro da jovem senhora.Seu vestido era de camurça em um tom vinho, cravejados com berilos e acabamentos em rendas vermelhas, fazendo a cor vibrante, ser um contraste ao tom de sua pele alva.Catléya esbanjando simpatia, abre o belo sorriso com a chegada da família Mazog. "Rainha Helena, seja bem vinda." Ela cumprimenta a mulher baix
O herdeiro do trono Mazog, adentrou o palácio Arbória, mas sua mente ficou do lado de fora dos muros do castelo. Nenhuma das garotas que conhecera em várias cidades do velho continente, lhe deixou tão intrigado. Mesmo pequena, não viu fragilidade em seus gestos. Controlou-se diante da situação adversa com bravura, além do mais, era a beleza mais natural que havia visto.Ao entrar no salão, o príncipe foi aplaudido, ofuscando Nuno que também acabara de fazer sua entrada a festa. A notícia do sumiço de Cristóvam, espalhou-se pelos convidados e todos aguardavam um desfecho positivo.Com jeito expansivo, ele rodopia no salão sob os aplausos de todos e o olhar amargurado de Nuno. "Sei que todos me amam." Ele brinca. "Mas não serei eu a ser coroado rei. Aliás nem gostaria. Por isso caros senhores, aplausos para quem faria de tudo para deter tamanho poder." Puxa mais aplausos alfinetando e apontando para Nuno.O rei Giron puxa
A festa da coroação entrava no segundo dia, após o almoço com os convidados nobres, os portões do palácio serão abertos a todos. Aonde o rei fará seu discurso e será oficialmente apresentado ao povo de Arbória.Quase todos dormiam, o cansaço provocado pela comemoração correu madrugada a fora, dominava. De certo poucos acordariam para o desjejum. Provavelmente irão desjejuar junto com o almoço.O príncipe Cristóvam era um dos poucos que estava de pé. Acordou cedo com intenção de galopar pelas redondezas, talvez quisesse ver algo ou alguém. Era a primeira hora da matina, a mesa do desjejum não estava posta. Nunca foi acomodado, resolveu ele mesmo ir até a cozinha degustar algo antes de sair para a montaria.Os servos da cozinha real, ao ver o príncipe adentrar o local se espantam. Aquele que mais se incomoda é o cozinheiro Gusmão."O que faz aqui vossa alteza. Errastes o caminho?" Pergunta enquanto enquanto enxu
Com seu olhar engessado, madame Irlanda examinava as escoriações de Salvador."Estão secas." Diagnostica. "Calêndula e girassol uma combinação perfeita de cicatrizantes.""Posso vestir-me?" Pergunta Salvador."Claro que sim alteza." Salvador fica a espera que Irlanda saia do cômodo, para que possa ficar de pé e pôr a roupa. "Não fique acanhado, não há nada aí que não tenha visto, pense em mim como uma médica, ou quem sabe uma amiga, ou quem sabe conselheira.""O que queres dizer?" Pergunta afoito, talvez o príncipe não tenha gostado do tom de madame Irlanda."Sei de muitas coisas que podem lhe ajudar na grande batalha que tens pela frente.""Já ouviu falar em batalha de um só homem que tenha ganhado?""Estais só por que queres. Tens que entender que não és mais príncipe. Pare de gozar dos frutos do nome Arbória e faça parte da família Ziran. Conquistando essa fam