Capítulo 3

Madame Irlanda era uma incógnita no reino Arbória, alguns a viam como feiticeira do bem, outros como bruxa maligna e há aqueles que simplesmente a veem como uma opção barata de atendimento médico. Já que o médico Bartolomeu e seus filhos da mesma profissão, tem a medicina somente com interesses venais, jamais facilitam ou atendem por caridade.

Nas mãos dessa mulher que a muito tempo vive na colinas do reino, mas que parecia nunca envelhecer, estava a vida do príncipe Salvador.

Madame Irlanda estava com ele em um cômodo da choupana da família Ziran, ao lado de fora todos sentiam um cheiro de erva forte sendo queimada. A mulher tinha um maço de algum tipo de planta nas mãos, que mergulhava na água fervente, depois salpicando em cima do corpo do príncipe, pronunciando algum tipo de reza em dialeto desconhecido.

Ao lado de fora, Dilan se dava conta do tamanho da responsabilidade que havia adquirido para si. O medo do príncipe de Arbória morrer nas mãos de sua família começara a lhe assombrar.

"Pai deveríamos levá-lo até o palácio." Dilan sussurra com Cícero.

"Concordo, mas devíamos ter feito na hora que o encontrou. Quem fez isso com o rapaz agora está bem longe e não deve ter deixado rastro, os nobres precisaram de alguém para culpar. Em quem achas que irão pôr a culpa?"

"Estou com medo da Irlanda não dá conta e ele morrer. Me arrisquei por essa gente que só sabe nos explorar. Ah se eu soubesse!"

"Irlanda lhe trouxe ao mundo, cuida da nossa saúde a anos, faz isso tudo por algumas leguminosas e hortaliças e sempre o fez muito bem."

"Curar um resfriado com limão e alho não é o mesmo que retirar balas de um corpo." Dilan contesta.

"A bala não está no corpo dele." Madame Irlanda sai do quarto surpreendendo a conversa. "Os tiros pegaram apenas de raspão. O rapaz ficará bom e dormirá por alguns dias. Dei-lhe uma dose cavalar de valeriana com lúpulo. Ele está nu, fiz uma fralda de algodão e folhas de parreira para conter a urina. Não tente alimentá-lo dormindo, mas lhe deem de beber bastante água de coco. Ao menos uma vez ao dia o vire de lado e como se fosse uma concha" Ela demonstra o movimento com as mãos. "Bata em todas as costas dele, principalmente na região do quadril para que os órgãos não deixem de funcionar e se caso ele tenha febre não o agasalhe, apenas lhe de um chá de cardo-santo."

"Não agasalhar!" Dilan estranha, já que sua mãe sempre disse ao contrário.

Com seu olhar azul engessado parecendo nunca piscar, a feiticeira afirma "Exato, agasalhar quando se tem febre faz a temperatura subir mais. Isso são práticas amadoras da medicina. Em um futuro longilíneo irão ver que sempre estiveram errados."

Dilan fez uma cara de pavor enquanto seu pai e sua mãe tratam de agradecer Irlanda com produtos do plantio. "Venha comigo Irlanda, escolher as hortaliças."

"Só um momento Bertha. Cícero e Dilan venham comigo, vou ensinar-lhes como fazer a fralda do rapaz caso tenha necessidade de trocá-lo"

"Dilan também não deve ir Irlanda." Cícero intervém.

"Ah..! É verdade! Perdoe-me o esquecimento, os senhores convencem até a mim."

Madame Irlanda volta até o cômodo aonde repousa Salvador e Cícero a segue.

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Faziam três dias que Salvador dormia profundamente. Todos sabiam da morte do rei Conrado, que segundo o mensageiro do reino, Vossa Majestade tivera um ataque do coração e morrera de forma repentina.

Bertha furou mais um coco, como fazia de três em três horas para alimentar Salvador, assim como indicou Madame Irlanda. Pôs o liquido transparente do fruto em uma garrafa de gargalo bastante estreito, que facilitava para o príncipe convalescente beber.

A mãe de Dilan colocou atrás das costas de Salvador vários travesseiros, fazendo que o homem fique quase sentado. Ao pegar a garrafa com a água de coco, Bertha grita ao sentir uma mão puxar-lhe. Salvador acordara. "Perdão senhora!" A voz fraca, sussurrada, saía compassada e vagarosa em meio a suspiros de dor. "Não tive a intenção de lhe assustar, somente quero pedir-lhe: Não me dê mais água de coco, não aguento mais."

Bertha sorriu da situação, enquanto Cícero entrara no cômodo assustado pelo grito da esposa. O camponês agradeceu a Deus pelo príncipe está se recuperando.

"É um milagre" Disse Bertha.

"Sim, Um milagre de Deus operado pelas mãos de madame Irlanda."

"Fique aí com ele Cícero, irei fazer um caldo de galinha com couve para majestade."

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Alguns dias se passaram desde que Salvador acordou, o príncipe pediu a família Ziran que não falasse a ninguém sobre seu paradeiro. Prometeu as pessoas que o salvaram, assim que tivera ânimo, contará tudo o que lhe aconteceu. De vez enquanto ouvia-se o príncipe chorar, mas ele não se metiam.

Dilan nunca entrava no cômodo aonde estava Salvador, seus pais acharam melhor assim. Quando chegava da lida de tocar o gado, Dilan tomava seu banho aromático, ceava, se apossava de um lampião e lia até que o sono chegasse.

Salvador Arbória cada vez estava mais forte, tomava sol da manhã e no final de tarde. Sempre nos fundos da choupana. Um certo dia Dilan chegou da lida mais cedo, colocou Raia em sua baia e foi para os fundos da choupana lavar-se antes de entrar em casa. O príncipe estava sentado na cadeira de balanço feita de palha que era de seu pai, Dilan tomou um pouco de susto ao vê-lo, mas agachou-se reverenciando ao nobre.

"Seu nome é Dilan não é isso?"

"Sim senhor." Responde de cabeça baixa sem tirar o chapéu, ou ao menos a capa preta.

"Você é tímido rapaz! Quantos anos tem?" Salvador pergunta.

"17. Farei 18 daqui a dois meses."

"Um rapazola ainda, mesmo assim ajudou a salvar minha vida e serei grato eternamente."

"Não foi nada senhor. Com sua licença majestade."

Dilan deu as costas mas foi impedido por Salvador. "Um minuto."

"Sim senhor, pode falar o que deseja."

"Quero só lhe fazer uma pergunta."

"A vontade majestade." Dilan demonstra solidariedade.

"No dia em que ajudaste a me salvar, uma moçoila foi quem me tirou da água. Quem era ela?"

Com a feição assustada, Dilan responde gaguejando. "M-moçoila! N-não. Eram s-somente eu e os cavalos... É... Eu que salvei o senhor"

"Sim, mas a moçoila me tirou da água, lembro claríssimo dos cabelos longos dela deslizando nas águas de cristais." Dilan regala os olhos. "Estás nervoso rapaz, fique calmo."

"Não estou nervoso. Só confuso, não..." Salvador interrompe Dilan.

"Acho que já lhe entendi rapaz. Vocês estavam de romance na cachoeira e ninguém pode saber, Fique tranquilo." O príncipe meneia a cabeça. "Seu segredo está a salvo comigo."

Dilan agradece, pede licença e vai para dentro de casa. Após esse dia Salvador nunca mais tocou no assunto, eles pouco conversavam. O príncipe estava quase totalmente recuperado, pediu auxílio a família Ziran e prometeu-lhes no outro dia contar o que acontecera para ele ficar naquele estado.

Dilan avisou aos pais que chegaria bastante tarde, iria buscar animais de todos os tipos a serem abatidos para a festa de posse do novo rei. Seu pai recolheu-se no horário de sempre, mas sua mãe Bertha lhe aguardava.

O esgotamento se via na face de Dilan e no galope de Raia, até ela estava muito cansada. Bertha ajudou Dilan a apear de Raia e a pôs na baia. "Deixei seu prato arrumado, e a tina pronta com pétalas de rosas como você gosta."

"Obrigado mãe! Só a Senhora mesmo. Vou para tina, só um banho para revigorar-me."

"Vou me recolher, já estão todos dormindo." Dilan da um beijo em sua mãe que entra para choupana.

A tina ficava em uma baia de madeira como as dos cavalos, Dilan tirou toda a roupa e entrou na água aromatizada. Quase dormiu com a refrescância da água em seu corpo, assustou-se ao abrir os olhos e ver Salvador com a cabeça para dentro da baia.

"Perdão senhorita! Eu não queria... pensei que era..." Desconcertado Salvador sai de frente da baia e vai embora.

Não entendo muito bem, Salvador aguarda a pessoa na porta da choupana. Ele escuta os passos e se põe robusto como se exigisse uma explicação. Ao invés de Dilan, aparece a moçoila com seus longos cabelos escuros e molhados, tão molhadas como no dia em que o salvara das águas fortes da cachoeira. O príncipe tinha certeza que era ela.

Sentiu uma queimação do peito ao estômago, ficou parado a encarando até que se pronunciou "Explique-me o que esta se passando aqui. Cadê o Dilan?" Ele pergunta com imponência latente em sua voz e postura.

A moçoila não se deixa temer e o enfrenta com empáfia a altura. "Dilan não existe." Afirma convicta. "Meu nome é Dilany Ziran. Dilan é só um personagem que meus pais inventaram para que sua gente não me violasse, como fazem com todas virgens de Arbória a partir dos 12 anos"

Olá gente!

VENAL ligado a vendas, mercenário.

VALERIANA E LÚPULO são plantas medicinais e altamente sedativas.

CARDO - SANTO é só um dos inúmeros nomes de uma erva que serve para baixar febre.

AGORA ME RESPONDAM: CONSEGUI ENGANAR VOCÊS COM O (A) DILAN?

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