Pratas, cristais e porcelanas para todos os lados. O novo rei não economizou nas festa de sua posse. Alguns nobres de reinos mais distantes, viajaram por cinco dias para chegar a Arbória.
A família real do reino Mazog foi uma das que demorou mais a chegar em Arbória, se perdera do príncipe Cristovam Giron. A festa estava prestes a dar início quando os Mazog chegaram sem o príncipe.
Catléya esposa de Nuno era quem recepcionava os convidados. A mulher belíssima, penteada de trança embutida lateral, com fitas de ouro traçados junto as fios, dando mais vitalidade ao cabelo loiro da jovem senhora.
Seu vestido era de camurça em um tom vinho, cravejados com berilos e acabamentos em rendas vermelhas, fazendo a cor vibrante, ser um contraste ao tom de sua pele alva.
Catléya esbanjando simpatia, abre o belo sorriso com a chegada da família Mazog. "Rainha Helena, seja bem vinda." Ela cumprimenta a mulher baixinha de olhar intrigante.
"Obrigada! Com sorte chegamos, mesmo que as estradas para cá não estejam em bom estado." Vai se evadindo pelo enorme salão do palácio, seguida por um pequeno príncipe rechonchudo, que ataca as bandejas de quitutes que lhe passam a frente .
"Helena, Pedro!" Sem sucesso o rei os chama entre os dentes "Não lhe dê atenção jovem rainha, ofereço minha desculpas em nome de Helena." Seu esposo o rei Giron fala encabulado.
"Não carece desculpar-se. A rainha não mentiu. No verão chove muito por aqui e as estradas ficam inviáveis realmente."
"Não é só isso. Helena está nervosa, porque nosso filho mais velho não quis vir no carro. Veio a galope e se perdeu da gente."
"Fique tranquilo, quando ele chegar a vila em Arbória o ensinam o caminho até aqui." Catléya conforta o rei.
"O problema é que Cristóvam há tempos não vive por esses lados mais rurais. Foi estudar fora, está acostumado com a vida mais urbana. Como fazem dois dias que ele saiu do nosso encalço, fico com medo de animais da grande mata, principalmente os felinos.
"Se quiseres posso m****r parte da cavalaria atrás do príncipe."
"Não é necessário. Metade da nossa comitiva já está o fazendo."
"Tudo bem!" Ela diz solicita."No que precisar estaremos aqui para ajudar."
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O pobre animal estava morrendo de sede, pelo caminho que chegou a Arbória não havia empório, mercado, taverna, estalagem... Ou qualquer coisa parecida. De longe além do barro seco, avistou ao chão um verde tão brilhante que tinha certeza ser de vegetação.
Sob o sol escaldante o príncipe Cristóvam se anima e acelera o galope, pois sabia que para aquela vegetação tinha que ter água abundante.
Levantando poeira, ele chega até a vegetação toda cercada por arame farpado. Viu apenas um casebre velho, muito distante da plantação de verduras, se entrasse ali e pegasse um pouco de água, nem notariam.
Com base nesse pensamento, amarrou seu cavalo em uma das ripas de sustentação da cerca, que tinha boa sombra cedida por um amoreiro.
Levantou um dos fios de arame e passou pela brecha invadindo a terra alheia. Sentiu-se sortudo ao ver um pequeno lago a direita da plantação e moringas armazenando águas pluviais. Um sistema inteligente ele pensou.
Pegou duas moringas cheia d'água e matou a sede do animal. Voltou a vegetação, colocou as moringas vazias no local e pegou mais duas cheias. Banhou o cavalo para refresca-lhe um pouco.
Agora voltaria lá para devolver a moringas e dá um rápido mergulho naquele lago. Pensou que aquela choupana era tão longe, que até alguém pega-lo em flagrante, daria tempo de sobra para correr.
Na plantação novamente, foi andando em direção ao lago. Ouviu passos e trote. Rapidamente se escondeu atrás de uma das muitas árvores que havia por ali.
"Droga!" Exclamou aos sussurros. "É bom o Tufão ficar quietinho, se não estamos em apuros."
Detrás da árvore, o príncipe avistou um rapaz mion, que mesmo no calor insuportável, trajava uma longa capa preta. Com ele trazia uma égua marrom e bem cuidada, parecia um animal de pouco valor, mesmo assim era bastante vistoso.
O rapaz começou a banhar o animal. Cristóvam sabendo que ele demoraria por ali, ficou apreensivo.
Algum tempo depois, o banho estava acabando. Para sorte do príncipe Tufão se comportou muito bem. Ficou em silêncio a todo tempo, era só o jovem ir embora e iriam seguir viagem até o palácio Arbória.
Mas assim como Cristóvam, o rapaz também decidiu dá um mergulho no lago. Tudo bem! Iria espera-lo entrar na água e sair dali em disparada.
O príncipe observava o rapaz retirar as galochas e as calças, notou que o jovem homem vestia calçolas até os joelhos com babados nas pontas.
"Que isso! Um Coração de Leão? O rapazola está vestindo calçolas femininas."
Curioso, ao invés de tomar rumo, continuou a observar. Ficou estupefato ao ver o rapaz tirar a capa e depois uma touca que prendia seu longo cabelo. Fazendo os fios negros cair sobre as costas. Ali se deu conta que se tratava de uma moça.
Sabia que era errado, mas ficou ali admirando a moça dando seus mergulhos. Havia saído do transe e iria embora, abusou o máximo da sorte que o abandonara no momento em que a égua da moça relincha e Tufão faz o mesmo em resposta.
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Seus pais sempre alertou Dilan para não banhar-se no lago a céu claro. Em tempos a moça o desobedecia. — Afinal sempre é um mergulho rápido e ninguém anda por aquela estrada deserta. — Pensara.
Agora estava ali e ouviu um relincho que não era de Raia. Tratou de sair da água e vesti-se rapidamente. Caminhou até a plantação pegando um pouco da terra preta adubada e passou no rosto. Ao olhar para os fundos viu o belo cavalo preso a madeira, próximo a um fio de cerca desalinhado.
Tinha certeza que alguém invadiu o terreno, iria montar na Raia e pedir ajuda, foi impedida quando uma mão tapou-lhe a boca por trás.
"Não irei fazer mal a senhorita. Apenas queria um pouco de água para o cavalo. Posso lhe soltar? Não vais a gritar?" Dilan assente e Cristóvam a solta.
"Saia já da minha casa." Dilan fala entre os dentes.
O príncipe levanta as mãos em rendimento. "Calma moça! Estou saindo."
"Moça! Não estás vendo que sou um homem!"
Com sorriso debochado no rosto ele a contesta. "Se foras homem, depois do que vi no lago, facilmente eu viraria um Coração de Leão. Acalme-se!" insiste " Conhecendo a soberania Arbória, posso imaginar porque trocou de sexo. Seu segredo está a salvo comigo."
Dilan não compreendeu bem o que o rapaz sujo e esfarrapado quis dizer, mas percebeu claríssimo sua palavras libidinosas. "Atrevido. Saia logo ou vou gritar."
"Tudo bem! Só mais um favorzinho." Ele pede com as mãos juntas. "Como faço para chegar ao reino Arbória?"
Se acalmou e achou melhor por ajudar o tal homem, afinal de toda maneira ele havia a visto. Era tão pobre quanto ela, com sorte compartilham da mesma ojeriza pelas leis infames de Arbória. "Não vai contar a ninguém o que viu aqui?"
Cristóvam encara olhos negros de Dilan. "Senhorita, de normal não tenho costume de falar da vida alheia. Imagina da vida de uma jovem se rebelando perante a um sistema vil e escravocrata. O que puder ajudar-lhe estarei aqui."
Dilan viu verdades na fala do jovem rapaz e em seus olhos cor de mel encantadores. Decidiu que mais do que mostrar o caminho, o levaria até o palácio Arbória.
"Monte no animal e me siga pelo lado de fora, vou levar-te até o palácio." A camponesa montou em Raia saindo em disparada, seguida pelo príncipe que fez o mesmo pela adjacência da plantação.
Oi Gente!
Devem está se perguntando porque cargas d'águas. Cristóvam quando viu Dilan de roupa intima feminina, pensando que era homem o chamou de Coração de Leão.
CORAÇÃO DE LEÃO, foi apelido do rei da Inglaterra no séc XII. Foi lhe dado por conta de sua coragem e determinação, não somente por sua bravuras em batalhas, como por assumir um relacionamento homossexual com outro rei da França. Só esclarecendo, Natureza Mortal não se passa no séc XII e sim entre o XVII e XVIII.
O herdeiro do trono Mazog, adentrou o palácio Arbória, mas sua mente ficou do lado de fora dos muros do castelo. Nenhuma das garotas que conhecera em várias cidades do velho continente, lhe deixou tão intrigado. Mesmo pequena, não viu fragilidade em seus gestos. Controlou-se diante da situação adversa com bravura, além do mais, era a beleza mais natural que havia visto.Ao entrar no salão, o príncipe foi aplaudido, ofuscando Nuno que também acabara de fazer sua entrada a festa. A notícia do sumiço de Cristóvam, espalhou-se pelos convidados e todos aguardavam um desfecho positivo.Com jeito expansivo, ele rodopia no salão sob os aplausos de todos e o olhar amargurado de Nuno. "Sei que todos me amam." Ele brinca. "Mas não serei eu a ser coroado rei. Aliás nem gostaria. Por isso caros senhores, aplausos para quem faria de tudo para deter tamanho poder." Puxa mais aplausos alfinetando e apontando para Nuno.O rei Giron puxa
A festa da coroação entrava no segundo dia, após o almoço com os convidados nobres, os portões do palácio serão abertos a todos. Aonde o rei fará seu discurso e será oficialmente apresentado ao povo de Arbória.Quase todos dormiam, o cansaço provocado pela comemoração correu madrugada a fora, dominava. De certo poucos acordariam para o desjejum. Provavelmente irão desjejuar junto com o almoço.O príncipe Cristóvam era um dos poucos que estava de pé. Acordou cedo com intenção de galopar pelas redondezas, talvez quisesse ver algo ou alguém. Era a primeira hora da matina, a mesa do desjejum não estava posta. Nunca foi acomodado, resolveu ele mesmo ir até a cozinha degustar algo antes de sair para a montaria.Os servos da cozinha real, ao ver o príncipe adentrar o local se espantam. Aquele que mais se incomoda é o cozinheiro Gusmão."O que faz aqui vossa alteza. Errastes o caminho?" Pergunta enquanto enquanto enxu
Com seu olhar engessado, madame Irlanda examinava as escoriações de Salvador."Estão secas." Diagnostica. "Calêndula e girassol uma combinação perfeita de cicatrizantes.""Posso vestir-me?" Pergunta Salvador."Claro que sim alteza." Salvador fica a espera que Irlanda saia do cômodo, para que possa ficar de pé e pôr a roupa. "Não fique acanhado, não há nada aí que não tenha visto, pense em mim como uma médica, ou quem sabe uma amiga, ou quem sabe conselheira.""O que queres dizer?" Pergunta afoito, talvez o príncipe não tenha gostado do tom de madame Irlanda."Sei de muitas coisas que podem lhe ajudar na grande batalha que tens pela frente.""Já ouviu falar em batalha de um só homem que tenha ganhado?""Estais só por que queres. Tens que entender que não és mais príncipe. Pare de gozar dos frutos do nome Arbória e faça parte da família Ziran. Conquistando essa fam
Sobre os olhos curiosos de Gusmão e os demais servos, Cristóvam fazia hora na cozinha. Passava das nove da manhã.Mais uma vez uma serva pergunta ao príncipe. "Vossa alteza tem certeza que não posso oferecer-lhe nada?"Cansado de esperar e quem ele almeja não chegar, decidiu falar com a serva. "Gostaria de chicória para o meu desjejum. A que horas vão trazer?"A mulher enquanto picava as cenouras sobre a tábua de madeira, se espanta com o pedido do príncipe. "Vossa alteza vai comer chicória de manhã?""Sim. Faz.. é.... Faz muito bem para a pele." Ruboriza ao mentir descaradamente."Tenho na dispensa vou lhe servir." A serva se vira ligeiro e é interrompida por Cristóvam. "Não." Eleva a voz, causando ainda mais estranheza na mulher. "É que tem de ser fresca, colhida no dia.""Ah! Então só poderei servi-lhe amanhã quando rapaz entregar.""Ele só vem amanhã?"
Dilan andara meio cabisbaixa. Somente a Raia, a moça confessara que o motivo de seu desalento era a mentira de Cristóvam e o medo que ele conte seu segredo e acabe levando seus pais a forca.Chegou em casa com sua amada égua e viu sua mãe andar de um lado a outro na frente da casa. Assustada com os últimos acontecimentos pensou o pior.Pulou de Raia muito rápido e se dirigiu até a Bertha. "O que houve mãe?" Pergunta esbaforida."Vai acontecer uma desgraça nessa casa minha filha."As palavras de Bertha fizeram o estômago de Dilan fervilhar. Veio em sua cabeça que a descobriram. Pediria clemência ao menos pelos seus pais, eles não deveriam sofrer por protegê-la."Calma vou resolver isso." Ela conforta a mãe."Então você já sabe?""Sim.""Temos que tirá-lo de lá.""Prenderam meu pai?" Eleva as mãos na cabeça.
O fruto vermelho e aromático, coloria as macieiras das terras cuidadas pela família Lerin. Família essa formada pelo pai Antônio, um homem de meia idade que assim como Cícero Ziran tinha a função de agricultor. Pela mãe Lena, que costurava para o único empório do vilarejo de Arbória. E os três filhos, Silas o jardineiro a serviço do rei e as duas meninas Lili de apenas cinco anos e Ane que acabara de completar treze.Antônio saiu bem cedo para comprar suprimentos de cultivos para as maçãs. Lena ansiosa, a todo momento chegava a frente da pequena fazenda, aguardando que seu marido voltasse.A mulher tinha uma encomenda para entregar naquela tarde. Se caso não o fizesse, perderia a ajuda de custos que recebia sendo costureira. Não era muito, mas ajudava nas despesas de suas filha menores.Silas seu filho homem que trabalha conforme as leis de Arbória, só chegaria a noite e nada de seu marido Antônio voltar. Faltavam apenas meia
O ambiente pesava em tristeza e apreensão, a família Lerin estava no humilde casebre da família Ziran a espera de Dilan. Bertha fumegava um chá de camomila para servir a Antônio e Lena. Cícero fazia sala para os Lerin, todos estavam sentados a um velho estofado, somente a pequena Lili brincava no tapete de couro de vaca e Salvador se mantinha escondido dentro de um cômodo.Fazia muito tempo que Silas saiu de casa para falar com o rei e não havia voltado, deixaram um bilhete em casa avisando aonde estariam, caso o rapaz apareça.O trote de Raia, anunciava a chegada de Dilan. Ao apear do animal, a jovem ficou apreensiva ao ver tantos olhos voltados para si."Boa noite senhor Antônio, senhora Lena!""Boa noite rapaz.""Benção mãe, benção pai.""Que Deus lhe abençoe meu filho."Dilan ver os rostos aflitos da família Lerin, ela suspira fundo, pois não tem boas notícia
Desde a última conversa que tiveram, Cris e Dilan pouco se falaram. Nos últimos dias, o príncipe de Mazog estava recebendo o carregamento para a construção da linha férrea, quando voltava ao palácio, Dilan já havia ido embora.Cris era obstinado, uma de suas missões em Arbória era tirar Sanya do mundo sombrio e solitário em que estava. Depois do incidente com o Nuno, ele tentou algumas vezes tirar a.menina do quarto, mas sem sucesso. Ao menos ela conversava com ele na sala de artes.Era mais um dia desses de sol forte e calor incessante em Arbória. Cris saiu do quarto e foi direto para sala de artes procurar por Sanya. A menina não estava lá. Novamente o rapaz bateu a porta do quarto de sua amiga.Ao abrir a porta, depois de insistente batidas de Cris, Sanya revelou os olhos de pupilas dilatadas e vermelhas."Estais chorando!""Não." Responde com a voz embargada e fungando a coriza que lhe esco