Capítulo 7

O herdeiro do trono Mazog, adentrou o palácio Arbória, mas sua mente ficou do lado de fora dos muros do castelo. Nenhuma das garotas que conhecera em várias cidades do velho continente, lhe deixou tão intrigado. Mesmo pequena, não viu fragilidade em seus gestos. Controlou-se diante da situação adversa com bravura, além do mais, era a beleza mais natural que  havia visto.

Ao entrar no salão, o príncipe foi aplaudido, ofuscando Nuno que também acabara de fazer sua entrada a festa. A notícia do sumiço de Cristóvam, espalhou-se pelos convidados e todos aguardavam um desfecho positivo.

Com jeito expansivo, ele rodopia no salão sob os aplausos de todos e o olhar amargurado de Nuno. "Sei que todos me amam." Ele brinca. "Mas não serei eu a ser coroado rei. Aliás nem gostaria. Por isso caros senhores, aplausos para quem faria de tudo para deter tamanho poder." Puxa mais aplausos alfinetando e apontando para Nuno.

O rei Giron puxa o filho para o canto e o tira do centro das atenções. "As vezes me arrependo de ter lhe mandado estudar fora. Gostaria que tivesses a cabeça cheia de novas ideias para melhorias de Mazog, não que se tornasse um doidivanas."

"Doidivanas eu! O que fiz?"

Talvez uma pequena discussão começasse aquele momento, entretanto a rainha Helena veio esbaforida abraçar o filho. "Meu filho! Como estais mal cheiroso!" Discorre com a voz anasalada apertando nas narinas.

"Vou banhar-me e trocar-me minha mãe. Aonde estão minhas coisas?"

"No aposento 14, irei pedir um servo para lhe ajudar."

"Mãezinha querida, sabes bem que não gosto de pessoas me servindo a todo tempo. Tenho duas mãos, posso muito bem amarrar meus sapatos. Mesmo assim obrigado."

Cristóvam pede licença aos pais e vai rumo ao interior do palácio.

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Dilan sentia-se diferente, suspirava e um sopro lhe rodava o estômago, igualmente quando lia os romances que seu pai lhe presenteava em seu aniversário e os que madame Irlanda a emprestava. Voltava para casa depois de deixar o invasor no palácio, no caminho os olhos vibrantes do rapaz não saiam de sua mente.

No verão em Arbória, escurecia por volta das onze da noite. Eram nove horas, Bertha e Cícero estavam na plantação colhendo as hortaliças que Dilan levaria no outro dia para o palácio. Somente Salvador cochilava em um assento na casa, quando a moça regressou. Para não acorda-lo, ela entra na ponta dos pés.

"Estava preocupado." Salvador fala com os olhos bem abertos.

Dilan franze o cenho. "Preocupado com o quê! Comigo?" Aponta para si.

"Sim. A vi chegar mais cedo e depois sair com a Raia em disparada."

"Os meus pais também ficaram preocupados?" Pergunta afoita.

"Não, eles estavam na hora da sesta e nem lhe viram chegar e muito menos sair."

"Perdão vossa alteza. Não quero ser indelicado. Ou melhor, indelicada. Porém irei lhe fazer um pedido."

"Faça. O que estiver no meu alcance."

"Está totalmente ao seu alcance. Não me marque ou se preocupe comigo. Cheguei até aqui sem a vossa proteção. O dia que voltar para sua gente, se preocupe com todos de Arbória, não apenas com uma pessoa."

"Sou grato porque salvastes minha vida Dilany, nada mais."

"Deveria ser grato por toda Arbória que lhe manteve a vida que eu pude salvar."

"Então me ajude." Salvador pede em tom humilde.

"Ajudar a quê" Pergunta confusa.

"A salvar Arbória. A mudar esse regime que fui conivente e não quero mais ser."

"Não sei como uma campônia como eu possa lhe ajudar." Dilan se curva diante de Salvador "Com licença alteza, vou falar com meus pais."

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Cristóvam terminou o asseio e vestiu-se. Ao contrário dos demais homens que o cercavam, deixou de adotar o fio mais longo chegando a tocar os ombros, tão pouco usava perucas. Não se preocupava com modismo e nem pertencer a grupos, seu cabelo tinha corte militar, mesmo não fazendo parte do meio.

Arrumou os fios mais altos repartindo em linha reta na lateral jogando para o lado, trajava calça bege justa, blusa branca com aplicação de bordados na gola alta e paletó azul também justo, curto na frente e um pouco maior atrás. Para fechar sua vestimenta, cartola da cor do paletó, e mesmo sabendo que dentro do salão não havia sol e que ele estava por se pôr. Colocou na face seus óculos de lentes escuras, que tinham o tamanho e o formato de moedas de ouro.

Saiu do aposento que lhe cedera e antes de voltar ao salão, lembrara da última vez a seis anos atrás quando esteve no palácio Arbória. Tinha uma sala de artes belíssima naquele corredor. Puxou pela memória e abriu a porta a direita no final do corredor. Acertou, era ali que estavam os quadros preciosos que tanto gostara de admirar.

A direita dentro da sala de artes, uma menina desalinhada toda suja de tinta, sentada ao banco de madeira envelhecida, pintava um quadro. Mesmo de costas e se passado seis anos Cristóvam não teve dúvida, se tratava da menina doce e alegre Sanya Arbória.

Faria a brincadeira de tapar-lhe os olhos por trás e duvidava que Sanya adivinhasse que se tratava dele.

Foi dando passos vagarosos, ao aproximar-se bem, colocou uma mão em cada olho de Sanya. Que entrou em desespero e se pôs a gritar.

"Shiiiii!" Ponhara o indicador sobre a boca pedindo que a menina parasse de gritar. "Sanya se acalma, sou eu O Cris. Não lembras de mim, brincávamos quando ainda era mais menina. Você me chamava de irmão."

Sanya parou de gritar, no lugar dos gritos o pranto tomou-lhe conta. Cristóvam foi abraçar-lhe com intuito de confortar a menina. Não teve atenção de assusta-la, entretanto seus olhos esbugalhou com o abraço e ela o empurrou.

"Sanya sou eu o Cris. Não lembras de mim?"

A menina faz sinal de positivo com a cabeça. "Perdão senhor Cristóvam! Me assustei, não gosto que me toquem ainda mais da maneira que o fez."

"Senhor Cristóvam!" Ele abre os braços. "Só fiquei maior de idade Sanya, continuo sendo o mesmo brincalhão que corria esses campos contigo. No máximo passei de irmão mais velho a tio Cris." Ele percebe tristeza na menina que continua inexpressiva. "Desculpe-me Sanya! Não queria assustar-te. Já era para estar arrumada para festa." Ele observa.

"Não irei a essa festa, fazem 15 dias que meu pai morreu. Não estou para festas."

"Sim."Ele assente. "Tio rei Conrado e o Salvador." Cris observa os quadros ao fundo, era de uma arte bem feita, sangrenta e altamente melancólica. "Tu que pintastes todos esses quadros Sanya?"

A menina assente. Cris por um lado fica admirado com o talento de alguém tão jovem e por um outro sente-se angustiado. Os oito quadros pintados por Sanya, tinham oito formas diferentes de morte da mesma menina.

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Nuno não gostou de ver sua mãe trajar luto na festa de sua coroação. Sabia que ela poderia ao menos aquele dia pôr algo escuro, mas não totalmente negro, parecendo lhe agourar. Aproximou-se e beijou a mãos de Massara, entre sussurros declamou seu descontentamento. "Poderias ter usado um azul marinho, ou quem sabe verde musgo."

"Do que está falando?" Massara tem a umas de suas sobrancelhas arqueadas.

"Estou dizendo que ao menos hoje poderia ter abdicado do luto. Padre Olinto não a julgaria."

"Sou  uma mulher cristã filho. O compromisso é com a dor que sinto, não com o padre. Meu luto pode acabar amanhã ou daqui a dez anos, mas hoje ainda estou de luto e não vestiria outra cor para agradar suas supertições ou de quem quer que fosse."

"A senhora anda impossível, parece que fui eu quem matou Salvador."

"Não. Fui eu, mas com a ajuda dos dois. Tudo pôr poder."

"Não irei discutir com a senhora agora, sabes muito bem que o motivo de minhas rusgas com Salvador, não eram só poder."

"Não te atrevas a profanar o nome de teu irmão mesmo depois de morto. Os dois estão errados. Os dois." Massara afirma. "Não soube criar meus filhos."

A figura simpática de Cristóvam interrompe os ânimos aflorados. "Tia rainha Massara!"

"Cris! Ainda me chamando assim? Tire esse rainha. Primeiro porque a partir de hoje não serei mais e segundo porque fica estranho." Fala sorrindo.

"Me acostumei tia rainha Massara, meu pai me puxava as orelhas quando tratava a senhora só por tia."

"Já és um rapazote, seu pai não irá mais lhe puxar as orelhas. Além do mais estou lhe dando permissão."

Por um breve momento o príncipe de Mazog fica sério. "Tia a senhora poderia me dar um minuto?"

"Não precisam se afastar irei cumprimentar os convidados." Nuno fala e sai em seguida.

"Diga filho! O que lhe aflige?"

"Desculpa o atrevimento tia Massara, é sobre Sanya. O que aconteceu com ela? Eu a vi e sua aparência era de alguém doente."

A rainha que andara abatida, ficou ainda mais com a pergunta de Cristóvam. Ela prende o ar nos pulmões e responde ao rapaz. "Os médicos dizem que ela tem problemas mentais. Já o padre Olinto diz que é espiritual. Levantaram suspeita de abuso, mas o médico e o padre descartaram a possibilidade através de exame. E também ela me contaria com certeza."

"O médico deu alguma solução?"

"Bastos acha melhor interna-la em um manicômio. Mas não vejo necessidade. E o padre Olinto queria levá-la para o convento, também não deixei. Sanya está fazendo os dois tratamentos, cuidando do corpo e da alma. Há dias que ela fica bem. Há outros que parece piorar."

Oi Gente!

SESTA  é aquela dormidinha após o almoço.


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