O herdeiro do trono Mazog, adentrou o palácio Arbória, mas sua mente ficou do lado de fora dos muros do castelo. Nenhuma das garotas que conhecera em várias cidades do velho continente, lhe deixou tão intrigado. Mesmo pequena, não viu fragilidade em seus gestos. Controlou-se diante da situação adversa com bravura, além do mais, era a beleza mais natural que havia visto.
Ao entrar no salão, o príncipe foi aplaudido, ofuscando Nuno que também acabara de fazer sua entrada a festa. A notícia do sumiço de Cristóvam, espalhou-se pelos convidados e todos aguardavam um desfecho positivo.
Com jeito expansivo, ele rodopia no salão sob os aplausos de todos e o olhar amargurado de Nuno. "Sei que todos me amam." Ele brinca. "Mas não serei eu a ser coroado rei. Aliás nem gostaria. Por isso caros senhores, aplausos para quem faria de tudo para deter tamanho poder." Puxa mais aplausos alfinetando e apontando para Nuno.
O rei Giron puxa o filho para o canto e o tira do centro das atenções. "As vezes me arrependo de ter lhe mandado estudar fora. Gostaria que tivesses a cabeça cheia de novas ideias para melhorias de Mazog, não que se tornasse um doidivanas."
"Doidivanas eu! O que fiz?"
Talvez uma pequena discussão começasse aquele momento, entretanto a rainha Helena veio esbaforida abraçar o filho. "Meu filho! Como estais mal cheiroso!" Discorre com a voz anasalada apertando nas narinas.
"Vou banhar-me e trocar-me minha mãe. Aonde estão minhas coisas?"
"No aposento 14, irei pedir um servo para lhe ajudar."
"Mãezinha querida, sabes bem que não gosto de pessoas me servindo a todo tempo. Tenho duas mãos, posso muito bem amarrar meus sapatos. Mesmo assim obrigado."
Cristóvam pede licença aos pais e vai rumo ao interior do palácio.
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No verão em Arbória, escurecia por volta das onze da noite. Eram nove horas, Bertha e Cícero estavam na plantação colhendo as hortaliças que Dilan levaria no outro dia para o palácio. Somente Salvador cochilava em um assento na casa, quando a moça regressou. Para não acorda-lo, ela entra na ponta dos pés.
"Estava preocupado." Salvador fala com os olhos bem abertos.
Dilan franze o cenho. "Preocupado com o quê! Comigo?" Aponta para si.
"Sim. A vi chegar mais cedo e depois sair com a Raia em disparada."
"Os meus pais também ficaram preocupados?" Pergunta afoita.
"Não, eles estavam na hora da sesta e nem lhe viram chegar e muito menos sair."
"Perdão vossa alteza. Não quero ser indelicado. Ou melhor, indelicada. Porém irei lhe fazer um pedido."
"Faça. O que estiver no meu alcance."
"Está totalmente ao seu alcance. Não me marque ou se preocupe comigo. Cheguei até aqui sem a vossa proteção. O dia que voltar para sua gente, se preocupe com todos de Arbória, não apenas com uma pessoa."
"Sou grato porque salvastes minha vida Dilany, nada mais."
"Deveria ser grato por toda Arbória que lhe manteve a vida que eu pude salvar."
"Então me ajude." Salvador pede em tom humilde.
"Ajudar a quê" Pergunta confusa.
"A salvar Arbória. A mudar esse regime que fui conivente e não quero mais ser."
"Não sei como uma campônia como eu possa lhe ajudar." Dilan se curva diante de Salvador "Com licença alteza, vou falar com meus pais."
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Cristóvam terminou o asseio e vestiu-se. Ao contrário dos demais homens que o cercavam, deixou de adotar o fio mais longo chegando a tocar os ombros, tão pouco usava perucas. Não se preocupava com modismo e nem pertencer a grupos, seu cabelo tinha corte militar, mesmo não fazendo parte do meio.
Arrumou os fios mais altos repartindo em linha reta na lateral jogando para o lado, trajava calça bege justa, blusa branca com aplicação de bordados na gola alta e paletó azul também justo, curto na frente e um pouco maior atrás. Para fechar sua vestimenta, cartola da cor do paletó, e mesmo sabendo que dentro do salão não havia sol e que ele estava por se pôr. Colocou na face seus óculos de lentes escuras, que tinham o tamanho e o formato de moedas de ouro.
Saiu do aposento que lhe cedera e antes de voltar ao salão, lembrara da última vez a seis anos atrás quando esteve no palácio Arbória. Tinha uma sala de artes belíssima naquele corredor. Puxou pela memória e abriu a porta a direita no final do corredor. Acertou, era ali que estavam os quadros preciosos que tanto gostara de admirar.
A direita dentro da sala de artes, uma menina desalinhada toda suja de tinta, sentada ao banco de madeira envelhecida, pintava um quadro. Mesmo de costas e se passado seis anos Cristóvam não teve dúvida, se tratava da menina doce e alegre Sanya Arbória.
Faria a brincadeira de tapar-lhe os olhos por trás e duvidava que Sanya adivinhasse que se tratava dele.
Foi dando passos vagarosos, ao aproximar-se bem, colocou uma mão em cada olho de Sanya. Que entrou em desespero e se pôs a gritar.
"Shiiiii!" Ponhara o indicador sobre a boca pedindo que a menina parasse de gritar. "Sanya se acalma, sou eu O Cris. Não lembras de mim, brincávamos quando ainda era mais menina. Você me chamava de irmão."
Sanya parou de gritar, no lugar dos gritos o pranto tomou-lhe conta. Cristóvam foi abraçar-lhe com intuito de confortar a menina. Não teve atenção de assusta-la, entretanto seus olhos esbugalhou com o abraço e ela o empurrou.
"Sanya sou eu o Cris. Não lembras de mim?"
A menina faz sinal de positivo com a cabeça. "Perdão senhor Cristóvam! Me assustei, não gosto que me toquem ainda mais da maneira que o fez."
"Senhor Cristóvam!" Ele abre os braços. "Só fiquei maior de idade Sanya, continuo sendo o mesmo brincalhão que corria esses campos contigo. No máximo passei de irmão mais velho a tio Cris." Ele percebe tristeza na menina que continua inexpressiva. "Desculpe-me Sanya! Não queria assustar-te. Já era para estar arrumada para festa." Ele observa.
"Não irei a essa festa, fazem 15 dias que meu pai morreu. Não estou para festas."
"Sim."Ele assente. "Tio rei Conrado e o Salvador." Cris observa os quadros ao fundo, era de uma arte bem feita, sangrenta e altamente melancólica. "Tu que pintastes todos esses quadros Sanya?"
A menina assente. Cris por um lado fica admirado com o talento de alguém tão jovem e por um outro sente-se angustiado. Os oito quadros pintados por Sanya, tinham oito formas diferentes de morte da mesma menina.
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Nuno não gostou de ver sua mãe trajar luto na festa de sua coroação. Sabia que ela poderia ao menos aquele dia pôr algo escuro, mas não totalmente negro, parecendo lhe agourar. Aproximou-se e beijou a mãos de Massara, entre sussurros declamou seu descontentamento. "Poderias ter usado um azul marinho, ou quem sabe verde musgo."
"Do que está falando?" Massara tem a umas de suas sobrancelhas arqueadas.
"Estou dizendo que ao menos hoje poderia ter abdicado do luto. Padre Olinto não a julgaria."
"Sou uma mulher cristã filho. O compromisso é com a dor que sinto, não com o padre. Meu luto pode acabar amanhã ou daqui a dez anos, mas hoje ainda estou de luto e não vestiria outra cor para agradar suas supertições ou de quem quer que fosse."
"A senhora anda impossível, parece que fui eu quem matou Salvador."
"Não. Fui eu, mas com a ajuda dos dois. Tudo pôr poder."
"Não irei discutir com a senhora agora, sabes muito bem que o motivo de minhas rusgas com Salvador, não eram só poder."
"Não te atrevas a profanar o nome de teu irmão mesmo depois de morto. Os dois estão errados. Os dois." Massara afirma. "Não soube criar meus filhos."
A figura simpática de Cristóvam interrompe os ânimos aflorados. "Tia rainha Massara!"
"Cris! Ainda me chamando assim? Tire esse rainha. Primeiro porque a partir de hoje não serei mais e segundo porque fica estranho." Fala sorrindo.
"Me acostumei tia rainha Massara, meu pai me puxava as orelhas quando tratava a senhora só por tia."
"Já és um rapazote, seu pai não irá mais lhe puxar as orelhas. Além do mais estou lhe dando permissão."
Por um breve momento o príncipe de Mazog fica sério. "Tia a senhora poderia me dar um minuto?"
"Não precisam se afastar irei cumprimentar os convidados." Nuno fala e sai em seguida.
"Diga filho! O que lhe aflige?"
"Desculpa o atrevimento tia Massara, é sobre Sanya. O que aconteceu com ela? Eu a vi e sua aparência era de alguém doente."
A rainha que andara abatida, ficou ainda mais com a pergunta de Cristóvam. Ela prende o ar nos pulmões e responde ao rapaz. "Os médicos dizem que ela tem problemas mentais. Já o padre Olinto diz que é espiritual. Levantaram suspeita de abuso, mas o médico e o padre descartaram a possibilidade através de exame. E também ela me contaria com certeza."
"O médico deu alguma solução?"
"Bastos acha melhor interna-la em um manicômio. Mas não vejo necessidade. E o padre Olinto queria levá-la para o convento, também não deixei. Sanya está fazendo os dois tratamentos, cuidando do corpo e da alma. Há dias que ela fica bem. Há outros que parece piorar."
Oi Gente!
SESTA é aquela dormidinha após o almoço.
A festa da coroação entrava no segundo dia, após o almoço com os convidados nobres, os portões do palácio serão abertos a todos. Aonde o rei fará seu discurso e será oficialmente apresentado ao povo de Arbória.Quase todos dormiam, o cansaço provocado pela comemoração correu madrugada a fora, dominava. De certo poucos acordariam para o desjejum. Provavelmente irão desjejuar junto com o almoço.O príncipe Cristóvam era um dos poucos que estava de pé. Acordou cedo com intenção de galopar pelas redondezas, talvez quisesse ver algo ou alguém. Era a primeira hora da matina, a mesa do desjejum não estava posta. Nunca foi acomodado, resolveu ele mesmo ir até a cozinha degustar algo antes de sair para a montaria.Os servos da cozinha real, ao ver o príncipe adentrar o local se espantam. Aquele que mais se incomoda é o cozinheiro Gusmão."O que faz aqui vossa alteza. Errastes o caminho?" Pergunta enquanto enquanto enxu
Com seu olhar engessado, madame Irlanda examinava as escoriações de Salvador."Estão secas." Diagnostica. "Calêndula e girassol uma combinação perfeita de cicatrizantes.""Posso vestir-me?" Pergunta Salvador."Claro que sim alteza." Salvador fica a espera que Irlanda saia do cômodo, para que possa ficar de pé e pôr a roupa. "Não fique acanhado, não há nada aí que não tenha visto, pense em mim como uma médica, ou quem sabe uma amiga, ou quem sabe conselheira.""O que queres dizer?" Pergunta afoito, talvez o príncipe não tenha gostado do tom de madame Irlanda."Sei de muitas coisas que podem lhe ajudar na grande batalha que tens pela frente.""Já ouviu falar em batalha de um só homem que tenha ganhado?""Estais só por que queres. Tens que entender que não és mais príncipe. Pare de gozar dos frutos do nome Arbória e faça parte da família Ziran. Conquistando essa fam
Sobre os olhos curiosos de Gusmão e os demais servos, Cristóvam fazia hora na cozinha. Passava das nove da manhã.Mais uma vez uma serva pergunta ao príncipe. "Vossa alteza tem certeza que não posso oferecer-lhe nada?"Cansado de esperar e quem ele almeja não chegar, decidiu falar com a serva. "Gostaria de chicória para o meu desjejum. A que horas vão trazer?"A mulher enquanto picava as cenouras sobre a tábua de madeira, se espanta com o pedido do príncipe. "Vossa alteza vai comer chicória de manhã?""Sim. Faz.. é.... Faz muito bem para a pele." Ruboriza ao mentir descaradamente."Tenho na dispensa vou lhe servir." A serva se vira ligeiro e é interrompida por Cristóvam. "Não." Eleva a voz, causando ainda mais estranheza na mulher. "É que tem de ser fresca, colhida no dia.""Ah! Então só poderei servi-lhe amanhã quando rapaz entregar.""Ele só vem amanhã?"
Dilan andara meio cabisbaixa. Somente a Raia, a moça confessara que o motivo de seu desalento era a mentira de Cristóvam e o medo que ele conte seu segredo e acabe levando seus pais a forca.Chegou em casa com sua amada égua e viu sua mãe andar de um lado a outro na frente da casa. Assustada com os últimos acontecimentos pensou o pior.Pulou de Raia muito rápido e se dirigiu até a Bertha. "O que houve mãe?" Pergunta esbaforida."Vai acontecer uma desgraça nessa casa minha filha."As palavras de Bertha fizeram o estômago de Dilan fervilhar. Veio em sua cabeça que a descobriram. Pediria clemência ao menos pelos seus pais, eles não deveriam sofrer por protegê-la."Calma vou resolver isso." Ela conforta a mãe."Então você já sabe?""Sim.""Temos que tirá-lo de lá.""Prenderam meu pai?" Eleva as mãos na cabeça.
O fruto vermelho e aromático, coloria as macieiras das terras cuidadas pela família Lerin. Família essa formada pelo pai Antônio, um homem de meia idade que assim como Cícero Ziran tinha a função de agricultor. Pela mãe Lena, que costurava para o único empório do vilarejo de Arbória. E os três filhos, Silas o jardineiro a serviço do rei e as duas meninas Lili de apenas cinco anos e Ane que acabara de completar treze.Antônio saiu bem cedo para comprar suprimentos de cultivos para as maçãs. Lena ansiosa, a todo momento chegava a frente da pequena fazenda, aguardando que seu marido voltasse.A mulher tinha uma encomenda para entregar naquela tarde. Se caso não o fizesse, perderia a ajuda de custos que recebia sendo costureira. Não era muito, mas ajudava nas despesas de suas filha menores.Silas seu filho homem que trabalha conforme as leis de Arbória, só chegaria a noite e nada de seu marido Antônio voltar. Faltavam apenas meia
O ambiente pesava em tristeza e apreensão, a família Lerin estava no humilde casebre da família Ziran a espera de Dilan. Bertha fumegava um chá de camomila para servir a Antônio e Lena. Cícero fazia sala para os Lerin, todos estavam sentados a um velho estofado, somente a pequena Lili brincava no tapete de couro de vaca e Salvador se mantinha escondido dentro de um cômodo.Fazia muito tempo que Silas saiu de casa para falar com o rei e não havia voltado, deixaram um bilhete em casa avisando aonde estariam, caso o rapaz apareça.O trote de Raia, anunciava a chegada de Dilan. Ao apear do animal, a jovem ficou apreensiva ao ver tantos olhos voltados para si."Boa noite senhor Antônio, senhora Lena!""Boa noite rapaz.""Benção mãe, benção pai.""Que Deus lhe abençoe meu filho."Dilan ver os rostos aflitos da família Lerin, ela suspira fundo, pois não tem boas notícia
Desde a última conversa que tiveram, Cris e Dilan pouco se falaram. Nos últimos dias, o príncipe de Mazog estava recebendo o carregamento para a construção da linha férrea, quando voltava ao palácio, Dilan já havia ido embora.Cris era obstinado, uma de suas missões em Arbória era tirar Sanya do mundo sombrio e solitário em que estava. Depois do incidente com o Nuno, ele tentou algumas vezes tirar a.menina do quarto, mas sem sucesso. Ao menos ela conversava com ele na sala de artes.Era mais um dia desses de sol forte e calor incessante em Arbória. Cris saiu do quarto e foi direto para sala de artes procurar por Sanya. A menina não estava lá. Novamente o rapaz bateu a porta do quarto de sua amiga.Ao abrir a porta, depois de insistente batidas de Cris, Sanya revelou os olhos de pupilas dilatadas e vermelhas."Estais chorando!""Não." Responde com a voz embargada e fungando a coriza que lhe esco
A cavalaria aguardava o rei a frente do palácio, no total de 20 homens armados. Nuno descia a escada do castelo esbaforido. No meio do trajeto foi parado pela voz altiva de Massara."Nuno...""O que queres mãe?" Pergunta apressado.Com a firmeza costumeira, a duquesa fala palavras que seu filho não gostou de ouvir. "Escute bem Nuno. Se saíres, irei junto e mandarás tua mãe ao calabouço.""A senhora está ficando louca. Porque a mandaria ao calabouço?" Segue descendo rumo a saída.Massara eleva a voz "Estou farta dessa sua coerção em cima de Sanya. Se foras atrás dela e do Cris, irei lhe esbofetear a frente de quem quer que seja. Quem agride o rei é preso""Então a senhora sabe que Sanya largou o tratamento com o padre e está por aí com dois homens?""Não me interessa se ela está com homem ou mulher. O que me interessa é que minha filha está feliz. Não está trancad