A festa da coroação entrava no segundo dia, após o almoço com os convidados nobres, os portões do palácio serão abertos a todos. Aonde o rei fará seu discurso e será oficialmente apresentado ao povo de Arbória.
Quase todos dormiam, o cansaço provocado pela comemoração correu madrugada a fora, dominava. De certo poucos acordariam para o desjejum. Provavelmente irão desjejuar junto com o almoço.
O príncipe Cristóvam era um dos poucos que estava de pé. Acordou cedo com intenção de galopar pelas redondezas, talvez quisesse ver algo ou alguém. Era a primeira hora da matina, a mesa do desjejum não estava posta. Nunca foi acomodado, resolveu ele mesmo ir até a cozinha degustar algo antes de sair para a montaria.
Os servos da cozinha real, ao ver o príncipe adentrar o local se espantam. Aquele que mais se incomoda é o cozinheiro Gusmão.
"O que faz aqui vossa alteza. Errastes o caminho?" Pergunta enquanto enquanto enxuga as mãos em uma toalha.
"Bom dia a todos!" Cristóvam cumprimenta, estupefatos ninguém responde. "Bom dia a todos. Não se dá bom dia em Arbória?"
"Bom dia!" E o som é plural.
"Se dá bom dia sim alteza, mas entre nós. Um príncipe vir até a cozinha e nos dar bom dia, é algo estranho por aqui." Disse uma serva simpática de meia idade.
"Pois saibam que em Mazog eu vou muito a cozinha e preparo meu próprio alimento."
"O QUÊ!!!" Se espanta o cozinheiro da barbicha parafinada. "Só falta dizer que sabe cozinhar."
"Não. Mas gostaria. Sei descascar laranjas e extrair o sumo delas e também sei fazer sanduíche de queijo." Todos continuam a olhar o príncipe como se fosse louco. "O papo está ótimo, só que vim até aqui para comer uma fruta, alguém poderia me servir uma maçã?"
"Claro." A senhora simpática pega dentro de um cesto e entrega o fruto a Cristóvam.
Pelos fundos da cozinha, alguém adentra com caixotes cheios de hortaliças que cobriam seu rosto e as põe no chão. Ao ver quem era o entregador de verduras, Cris sorrir. O júbilo em forma de sorriso, faz Dilan sentir-se encabulada, por sua vez a moça se contém, aprendeu bem a camuflar as emoções.
Sob os olhos assustado de todos, o príncipe ajuda a Dilan descarregar as demais caixas.
"Não precisa amigo." Dilan dar tapas nas costas de Cris. "Estou acostumado a fazer esse trabalho todos os dias."
"Quatro mãos trabalham bem melhor que duas." O princípe argumenta e continua a descarregar os caixotes de hortaliças.
"Isso é verdade." Eles se dirigem até o carro ao lado de fora e curiosa Dilan pergunta. "Porque está vestido igual a um janota?"
"Me visto assim. No dia em que me conheceu vinha de viagem por dois dias sem me assear no lombo do cavalo. Estava coberto de andrajos"
"Parecia esfarrapado." Eles riram.
"Poderíamos cavalgar e conversar um pouco?" Cristóvam pede aos sussurros.
"Não seria uma boa ideia." Ela olha os arredores e observa se tem olhos e ouvidos em cima deles. "Além do mais, me deram a função de cuidar da estrebaria essa semana."
"Então lhe ajudo." Se põe solicito.
"Vai deixar de fazer o seu trabalho e fazer o meu?" A jovem se espanta.
Cristóvam sorrir diante do questionamento de Dilan, e responde a moça. "Só aceito trabalhos livres."
Dilan saiu rumo a estrebaria, seguida por Cris. A estrebaria era enorme com mais de cem animais. Ficava a lateral do lago Santo a frente da capela do palácio.
A capela tratava-se de um templo pequeno, pintado de branco com portas e janelas de madeira pintadas em azul celeste e no alto uma grande Cruz.
"Sempre quis entrar nessa capela. É bem humilde e pequena comparada a igreja cheia de riquezas do vilarejo, mas a vejo com mais personalidade do que os grandes templos religiosos."
"E porquê não entras?" Cris tentar encorajar Dilan.
"Porque não tenho autorização." Responde o que para ela é o óbvio.
"A igreja é para todos. Concordas?" Fala estudando Dilan.
"Em parte sim."
"Então não se fala mais nisso. Quando acabarmos com parte do serviço da estrebaria, antes do almoço. Entraremos na capela."
"És meio louco." Afirma rindo. "E eu sou mais, porque gosto dessa sua liberdade. Gosto muito."
Um tanto atrevido, Cristóvam pega a mão de Dilan para beijar, que a puxa imediatamente e segue pára cumprir sua tarefa.
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O príncipe se aproximou de Dilan que terminava de escovar a crina de uma linda égua.
"Hora do almoço chegou bem rápido. Vamos almoçar?"
"Sim, mas irei comer por aqui mesmo. Você come aquela comida do palácio?" Pergunta curiosa..
"Sim. É bastante saborosa."
A campônia faz uma cara de nojo. "Saborosa! Eles dão para a gente comer o que sobra dos pratos da ceia dos nobres. Ou sopa de crista de galinha e legumes passados. Caso não tenha os dois primeiros, pão dormido quase mofando e água."
"Cruzes em credo!" O príncipe se espanta. "Como podem ser tão mesquinhos!"
"Tu és novo por aqui. Por isso ainda se espanta com as leis de Arbória." Dilan deduz.
"Talvez."
"Minha mãe sempre apronta minha comida, ela é bem farta. O que trouxe dar para nós dois comer. Aceitas?"
"Só se comermos na capela." Impõe sua condição.
Dilan o olha esboçando um sorriso. "Gostas mesmo de desafiar."
"Olha quem fala, a linda senhorita que se faz passar por um rapazote. Desafiando os costumes escabrosos de um reino."
"O que faço é mais me esconder do que desafiar." Discorda do rapaz a sua frente.
"Depende do ponto de vista. Pode se esconder do reino. Entretanto desafia a história feminina do mundo."
"Como assim?" Pergunta confusa.
"A mulher é tachada previamente como algo quebrável, fraco e com objetividade limitada ao que é imposta. Você é uma jovem miúda que faz trabalho braçal tão bem quanto qualquer homem possa fazer. E com objetividade própria. Posso andar milhões de léguas, que não encontrarei outra igual perdida por aí."
Dilan ouviu Cristóvam com seu coração palpitando "Nos conhecemos a dois dias e não sabemos nossos nomes."
"Verdade. Me chamo Cris." Se curva pedindo a mão de Dilan.
"Me chamo Dilany Ziran."
Cristóvam pega a mão de Dilan e beija a parte superior com acalento. A jovem puxa a mão rapidamente.
"O que houve! Não lhe cumprimentam beijando-lhe a mão?"
"A verdade é que não. Sou um cavalheiro lembra? Além dos mais, minhas mãos estão sujas."
Cristóvam fica por alguns segundos admirando o olhar negro e penetrante daquela jovem, até propôr novamente. "Vamos almoçar na capela. Sim ou não? Confesso que estou faminto e doido para provar da boa comida que trás consigo."
Dilany assente dando um belo sorriso, a jovem pega o almoço dentro do baú do carro e segue com o príncipe rodeando o lago Santo rumo a igreja.
Ao ser aberta, a longa porta de madeira ecoou um forte ruído. Pelo estado interno da igrejinha. Os nobres de Arbória a muito tempo não a utilizam. Pó e teia de aranha tomavam a capela.
"Será difícil a gente comer aqui no meio dessa sujeirada" Alerta o príncipe.
Dilan com a sobrancelha arqueada o contesta. "Não sei quanto a você, mas eu já comi em lugares bem piores. Para mim aqui está ótimo."
"Se está para bela dama, está para mim também."
Os jovens sentaram-se a beira do pequeno altar e fizeram a repartição do alimento.
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"Perdoi-me. Me perdi em pensamentos."
"Seria por demais coscuvilheiro se por um acaso lhe perguntasse no que pensavas?"
"Um pouco coscuvilheiro talvez" Dilan sorri. "Pensava o que me faz está aqui sentada no altar, debaixo da imagem de Cristo, conversando e almoçando com alguém que mal conheço. Realmente é algo estranho para mim a minha atitude. Se caso não tivesse o que esconder já era perigoso, ainda mais tendo."
"Sabia que as vezes lhe damos com pessoas por anos, mas sem conhece-las verdadeiramente?" Dilan ouve atenta. "Seres que passam por nossas vidas sem fazer a menor diferença. Por outro lado, há pessoas que invade nossa vida de forma displicente, mas com tamanha força, que parece que ela sempre fez parte." Dilan sente o ventre contrair com a voz aveludada do príncipe. Sem entender muito o que se passava com o corpo, assustou-se e levantou em um só pulo.
"Tenho que ir, vou lavar mais uns animais e depois ir buscar meus pais para coroação. Obrigado pela companhia Cris." Ela recolhe os potes e vai saindo a passos largos.
"Não fujas de mim Dilany. Minhas intenções com você são as melhores."
Dilan caminhava pelo tapete vermelho empoeirado da capela em direção a porta, mas parou e respondeu a Cristóvam, contradizendo os pensamentos do príncipe. "Não penso como você. Não deverias ter boas ou más intenções para comigo, já que acabara de conhecer-me.
Oi Gente!
JANOTA é como playboy hoje em dia.
Com seu olhar engessado, madame Irlanda examinava as escoriações de Salvador."Estão secas." Diagnostica. "Calêndula e girassol uma combinação perfeita de cicatrizantes.""Posso vestir-me?" Pergunta Salvador."Claro que sim alteza." Salvador fica a espera que Irlanda saia do cômodo, para que possa ficar de pé e pôr a roupa. "Não fique acanhado, não há nada aí que não tenha visto, pense em mim como uma médica, ou quem sabe uma amiga, ou quem sabe conselheira.""O que queres dizer?" Pergunta afoito, talvez o príncipe não tenha gostado do tom de madame Irlanda."Sei de muitas coisas que podem lhe ajudar na grande batalha que tens pela frente.""Já ouviu falar em batalha de um só homem que tenha ganhado?""Estais só por que queres. Tens que entender que não és mais príncipe. Pare de gozar dos frutos do nome Arbória e faça parte da família Ziran. Conquistando essa fam
Sobre os olhos curiosos de Gusmão e os demais servos, Cristóvam fazia hora na cozinha. Passava das nove da manhã.Mais uma vez uma serva pergunta ao príncipe. "Vossa alteza tem certeza que não posso oferecer-lhe nada?"Cansado de esperar e quem ele almeja não chegar, decidiu falar com a serva. "Gostaria de chicória para o meu desjejum. A que horas vão trazer?"A mulher enquanto picava as cenouras sobre a tábua de madeira, se espanta com o pedido do príncipe. "Vossa alteza vai comer chicória de manhã?""Sim. Faz.. é.... Faz muito bem para a pele." Ruboriza ao mentir descaradamente."Tenho na dispensa vou lhe servir." A serva se vira ligeiro e é interrompida por Cristóvam. "Não." Eleva a voz, causando ainda mais estranheza na mulher. "É que tem de ser fresca, colhida no dia.""Ah! Então só poderei servi-lhe amanhã quando rapaz entregar.""Ele só vem amanhã?"
Dilan andara meio cabisbaixa. Somente a Raia, a moça confessara que o motivo de seu desalento era a mentira de Cristóvam e o medo que ele conte seu segredo e acabe levando seus pais a forca.Chegou em casa com sua amada égua e viu sua mãe andar de um lado a outro na frente da casa. Assustada com os últimos acontecimentos pensou o pior.Pulou de Raia muito rápido e se dirigiu até a Bertha. "O que houve mãe?" Pergunta esbaforida."Vai acontecer uma desgraça nessa casa minha filha."As palavras de Bertha fizeram o estômago de Dilan fervilhar. Veio em sua cabeça que a descobriram. Pediria clemência ao menos pelos seus pais, eles não deveriam sofrer por protegê-la."Calma vou resolver isso." Ela conforta a mãe."Então você já sabe?""Sim.""Temos que tirá-lo de lá.""Prenderam meu pai?" Eleva as mãos na cabeça.
O fruto vermelho e aromático, coloria as macieiras das terras cuidadas pela família Lerin. Família essa formada pelo pai Antônio, um homem de meia idade que assim como Cícero Ziran tinha a função de agricultor. Pela mãe Lena, que costurava para o único empório do vilarejo de Arbória. E os três filhos, Silas o jardineiro a serviço do rei e as duas meninas Lili de apenas cinco anos e Ane que acabara de completar treze.Antônio saiu bem cedo para comprar suprimentos de cultivos para as maçãs. Lena ansiosa, a todo momento chegava a frente da pequena fazenda, aguardando que seu marido voltasse.A mulher tinha uma encomenda para entregar naquela tarde. Se caso não o fizesse, perderia a ajuda de custos que recebia sendo costureira. Não era muito, mas ajudava nas despesas de suas filha menores.Silas seu filho homem que trabalha conforme as leis de Arbória, só chegaria a noite e nada de seu marido Antônio voltar. Faltavam apenas meia
O ambiente pesava em tristeza e apreensão, a família Lerin estava no humilde casebre da família Ziran a espera de Dilan. Bertha fumegava um chá de camomila para servir a Antônio e Lena. Cícero fazia sala para os Lerin, todos estavam sentados a um velho estofado, somente a pequena Lili brincava no tapete de couro de vaca e Salvador se mantinha escondido dentro de um cômodo.Fazia muito tempo que Silas saiu de casa para falar com o rei e não havia voltado, deixaram um bilhete em casa avisando aonde estariam, caso o rapaz apareça.O trote de Raia, anunciava a chegada de Dilan. Ao apear do animal, a jovem ficou apreensiva ao ver tantos olhos voltados para si."Boa noite senhor Antônio, senhora Lena!""Boa noite rapaz.""Benção mãe, benção pai.""Que Deus lhe abençoe meu filho."Dilan ver os rostos aflitos da família Lerin, ela suspira fundo, pois não tem boas notícia
Desde a última conversa que tiveram, Cris e Dilan pouco se falaram. Nos últimos dias, o príncipe de Mazog estava recebendo o carregamento para a construção da linha férrea, quando voltava ao palácio, Dilan já havia ido embora.Cris era obstinado, uma de suas missões em Arbória era tirar Sanya do mundo sombrio e solitário em que estava. Depois do incidente com o Nuno, ele tentou algumas vezes tirar a.menina do quarto, mas sem sucesso. Ao menos ela conversava com ele na sala de artes.Era mais um dia desses de sol forte e calor incessante em Arbória. Cris saiu do quarto e foi direto para sala de artes procurar por Sanya. A menina não estava lá. Novamente o rapaz bateu a porta do quarto de sua amiga.Ao abrir a porta, depois de insistente batidas de Cris, Sanya revelou os olhos de pupilas dilatadas e vermelhas."Estais chorando!""Não." Responde com a voz embargada e fungando a coriza que lhe esco
A cavalaria aguardava o rei a frente do palácio, no total de 20 homens armados. Nuno descia a escada do castelo esbaforido. No meio do trajeto foi parado pela voz altiva de Massara."Nuno...""O que queres mãe?" Pergunta apressado.Com a firmeza costumeira, a duquesa fala palavras que seu filho não gostou de ouvir. "Escute bem Nuno. Se saíres, irei junto e mandarás tua mãe ao calabouço.""A senhora está ficando louca. Porque a mandaria ao calabouço?" Segue descendo rumo a saída.Massara eleva a voz "Estou farta dessa sua coerção em cima de Sanya. Se foras atrás dela e do Cris, irei lhe esbofetear a frente de quem quer que seja. Quem agride o rei é preso""Então a senhora sabe que Sanya largou o tratamento com o padre e está por aí com dois homens?""Não me interessa se ela está com homem ou mulher. O que me interessa é que minha filha está feliz. Não está trancad
Dormir não foi uma tarefa fácil para Dilan na última noite. Acordou tarde, somente conseguiu dormir na alta madrugada.Ao despertar, como todos os anos ao lado de sua cama, estava posto o desjejum de aniversário preparado por sua mãe. Frutas, queijos e broas, tudo preparado pelas mãos de Bertha.Sorriu ao perceber que a maior idade não tiraria seus mimos. A broa de milho fofinha, encaixava-se perfeitamente com o queijo branco cremoso. Uma combinação que grudava ao céu da boca.Dilany saboreava seu desjejum quando Bertha entra ao quarto tagarelando um cantiga de anos cumprindos."Ah mãe! Cheguei a maior idade e a senhora continua a me tratar como uma menina.""Isso lhe chateia?""Não. Claro que não. Me emociona e me sinto protegida."Bertha sorri e afaga os cabelos de Dilany "Sempre serás nossa menina. Aja o que houver?"A jovem envolve a mãe em um