Capítulo 5

Cícero apreensivo, sussurrava com Dilan dentro de um cômodo da choupana. "Estais louca minha filha! Podes ir para forca por desafiar a soberania com tamanha empáfia."

"Se ele concorda com as atitudes do reinado Arbória, a forca nos espera de qualquer maneira. Vocês mentiram e eu também."

"Sim. Por isso temos que tratar muito bem desse homem que está lá fora, Para que seja benévolo conosco." Cícero segura a mão da filha. "Entendo sua raiva, mas sua mãe e eu lhe protegemos e vamos continuar a fazer."

"Não senhor meu pai. Fazer eu ser quem não sou, nem de longe é proteção. É só adiar um problema e gerar outro." Com a voz embargada, uma lágrima isolada escorre pelo rosto franzino de Dilan,

Cícero limpa a gotícula com carinho do rosto da jovem. "Desculpa se não soube fazer as coisas da maneira certa minha filha."

"Não pai, me desculpa o senhor por esse lapso de ingratidão que me ocorreu. Você e a mãe fizeram o melhor que puderam."

Dilan abraça Cícero que corresponde o gesto. A jovem se afasta e termina de enxugar as lágrimas. "Melhor limpar bem meu rosto, porque dizem por aí que homem não chora." Fala em tom de brincadeira, voltando com Cícero para os fundos da choupana.

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"Sempre fui o rebelde, aquele que fala o que pensa, que largava os estudos tediosos aplicados pelo professor Bartô para ir cavalgar, o que exagerava no álcool."

Salvador mira seu olhar para Dilan "Sempre fui aquele a dizer que só casaria por amor." Constrangida  a jovem abaixa os olhos.

"Nuno era o que obedecia. Dissimulado, hipócrita, bajulador... Meus pais acreditavam em toda suas boas intenções. Somente eu achava que o conhecia. Achava porque ele é capaz de fazer coisas bem piores do que pensava. Percebi realmente com quem estava lhe dando, na noite que ele envenenou meu pai."

O príncipe toma fôlego e cria a forca necessária para falar." Sanya, minha adorada irmã de 14 anos, não sorria já fazia um tempo, vivia reclusa na solidão do quarto e chorando nos braços de minha mãe. Ninguém conseguia descobrir o que se passava com ela, nem nós da família, nem o padre Olinto e muito menos os médicos. Até o dia no qual cheguei da taverna de Sal, era a noite do carteado e estava bêbado de vinho. Contudo vi claríssimo como água, Nuno entrar no quarto de Sanya e trancar a porta pelo lado de dentro."

O príncipe tinha uma caneca de chá nas mãos, que bebericava enquanto contava sua história. Se caso o objeto não fosse de metal, teria o quebrado pela força que fazia ao falar o que parecia lhe doer a alma.

"Bati na porta desesperadamente, até que acordei todos do corredor e finalmente Sanya abriu a porta aos prantos. Entrei no quarto procurando Nuno, ele não estava lá. Nitidamente apavorada, minha irmã disse que Nuno não esteve no quarto dela. Só que eu vi. A cortina batia com o vento da janela aberta, sinal que o infame a pulou. Sob olhos incrédulos de minha mãe e do meu pai, Nuno sai do quarto com sua esposa Catléya e ambos me desmentem. Mas eu vi."

"Então ele estava fazendo mal a própria irmã!" Bertha exclama incrédula.

"Estava não. Está. Meu pai era um homem sábio. Mandou todos se recolher e foi ter uma conversa com Sanya a sós. No outro dia amanheceu morto na biblioteca, com a pena na mão e a folha borrada de tinta sobre a escrivaninha de madeira, iria mudar o decreto e me fazer rei. Todos diziam ser infarte, mas desconfiei desde o princípio. Revirei o quarto de Nuno até que achei um frasco com selo escrito estricnina."

"Esse homem é um monstro!" Cícero fala indignado.

"Sanya se abriu com meu pai, mas com medo que Nuno matasse a Massara também, minha irmã se calou. Ninguém acreditava em mim. Era o bêbado rebelde da família. A vergonha da nobreza de Arbória. Exasperado desafiei Nuno para um duelo, só o matando conseguiria tirar o pulha de perto daqueles que amo. Marcamos no penhasco de cristais. Fomos até lá com os cavalos e dos soldados da realeza, por conta da tormenta que iria cair liberamos os soldados para que levassem os animais de volta. Enquanto eu vivia para me divertir, meu meio irmão fazia esgrima, treinava tiro. Sabia que era uma lutar desleal. Quando ficamos de costas e contamos os passos, me esquivei para a esquerda saindo da linha de tiro. Não tenho vergonha em falar que trapaceei. Facilmente Nuno ganharia aquele duelo, por isso o tiro que ele me deu pegou de raspão. Quando viu que sai da linha, ele ficou furioso e começamos a brigar no braço. Nuno iria me estrangular, porém minha mãe apareceu de surpresa e o impediu."

"E depois ele te jogou do penhasco." Dilan deduz.

"Não. De forma traiçoeira confesso, tentei mata-lo pelas costas. Tinha que livrar todos daquele ser execrável. Estava tonto pelo ar que me faltou aos pulmões quando Nuno me estrangulava, iria disparar. Fui surpreendido por outro tiro disparado pela minha própria mãe."

"A rainha tentou lhe matar!"

"Não senhora Bertha. Ela quis me parar como fez com o Nuno, não queria que o irmão matasse o outro. Não teve tempo de pensar direito e foi infeliz. A sorte que minha mãe não tinha boa mira. Estava convalescente, me desequilibrei e cai, no meio da queda tinha uma árvore que nasceu entre as frestas da rocha, a natureza me salvou. A mágoa que tenho de minha mãe, é que bastava ela ter olhado para me ajudar. Teria me visto pendurado ao galho dessa árvore, sem se importar virou as costas e me deixou lá. Alguns minutos depois, o galho se partiu com o impacto e o meu peso, fazendo com que eu caia e afunde na cachoeira de cristais. Segurando aquele pedaço de tronco como se fosse parte da minha vida, assim voltei a superfície. Não tinha mais força, deixei a correnteza me levar até as pedras aonde permaneci até que Dilany me encontrou."

"Corrigindo, não fui eu quem encontrou vossa alteza e sim Raia e um Mustang que deve pertencer a sua família."

"Apolo! Ele está aqui?" Pergunta com os olhos brilhantes.

"Sim, em uma baia isolada depois da plantação. Acho até um crime um animal atlético como ele preso a dias, mas não podíamos deixa-lo a vista." Se justifica Cícero.

"Quero vê-lo senhor."

"Só ver mesmo, com essa atadura no braço não podes montar." Bertha o alerta.

"Fique tranquila senhora, não serei inconsequente."

Dilan se levanta e vai buscar Apolo, alguns minutos se passam, ela volta puxando o animal. Apolo quando viu Salvador, se pôs a trotar nos fundos da casa como se fizesse a dança da alegria. Seu rabo perfeito e sua crina balançavam junto aos pequenos trotes que dava.

"Ei amigão! Quanta euforia. Também estou muito feliz em lhe ver. O príncipe se aninhou ao cavalo, que apoiou o longo pescoço no ombro de Salvador."

"Mais um que fala com os cavalos!" Bertha disse aos risos e foi andando para o interior da choupana.

Nada que o príncipe contou ou fez, abrandou o coração de Dilan. Ela desconfiava de todos da realeza. Mas o fato de ver que tinham um paixão em comum. O amor pelos cavalos, fez Dilan pela primeira vez sorrir para Salvador.


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