Cícero apreensivo, sussurrava com Dilan dentro de um cômodo da choupana. "Estais louca minha filha! Podes ir para forca por desafiar a soberania com tamanha empáfia."
"Se ele concorda com as atitudes do reinado Arbória, a forca nos espera de qualquer maneira. Vocês mentiram e eu também."
"Sim. Por isso temos que tratar muito bem desse homem que está lá fora, Para que seja benévolo conosco." Cícero segura a mão da filha. "Entendo sua raiva, mas sua mãe e eu lhe protegemos e vamos continuar a fazer."
"Não senhor meu pai. Fazer eu ser quem não sou, nem de longe é proteção. É só adiar um problema e gerar outro." Com a voz embargada, uma lágrima isolada escorre pelo rosto franzino de Dilan,
Cícero limpa a gotícula com carinho do rosto da jovem. "Desculpa se não soube fazer as coisas da maneira certa minha filha."
"Não pai, me desculpa o senhor por esse lapso de ingratidão que me ocorreu. Você e a mãe fizeram o melhor que puderam."
Dilan abraça Cícero que corresponde o gesto. A jovem se afasta e termina de enxugar as lágrimas. "Melhor limpar bem meu rosto, porque dizem por aí que homem não chora." Fala em tom de brincadeira, voltando com Cícero para os fundos da choupana.
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"Sempre fui o rebelde, aquele que fala o que pensa, que largava os estudos tediosos aplicados pelo professor Bartô para ir cavalgar, o que exagerava no álcool."
Salvador mira seu olhar para Dilan "Sempre fui aquele a dizer que só casaria por amor." Constrangida a jovem abaixa os olhos.
"Nuno era o que obedecia. Dissimulado, hipócrita, bajulador... Meus pais acreditavam em toda suas boas intenções. Somente eu achava que o conhecia. Achava porque ele é capaz de fazer coisas bem piores do que pensava. Percebi realmente com quem estava lhe dando, na noite que ele envenenou meu pai."
O príncipe toma fôlego e cria a forca necessária para falar." Sanya, minha adorada irmã de 14 anos, não sorria já fazia um tempo, vivia reclusa na solidão do quarto e chorando nos braços de minha mãe. Ninguém conseguia descobrir o que se passava com ela, nem nós da família, nem o padre Olinto e muito menos os médicos. Até o dia no qual cheguei da taverna de Sal, era a noite do carteado e estava bêbado de vinho. Contudo vi claríssimo como água, Nuno entrar no quarto de Sanya e trancar a porta pelo lado de dentro."
O príncipe tinha uma caneca de chá nas mãos, que bebericava enquanto contava sua história. Se caso o objeto não fosse de metal, teria o quebrado pela força que fazia ao falar o que parecia lhe doer a alma.
"Bati na porta desesperadamente, até que acordei todos do corredor e finalmente Sanya abriu a porta aos prantos. Entrei no quarto procurando Nuno, ele não estava lá. Nitidamente apavorada, minha irmã disse que Nuno não esteve no quarto dela. Só que eu vi. A cortina batia com o vento da janela aberta, sinal que o infame a pulou. Sob olhos incrédulos de minha mãe e do meu pai, Nuno sai do quarto com sua esposa Catléya e ambos me desmentem. Mas eu vi."
"Então ele estava fazendo mal a própria irmã!" Bertha exclama incrédula.
"Estava não. Está. Meu pai era um homem sábio. Mandou todos se recolher e foi ter uma conversa com Sanya a sós. No outro dia amanheceu morto na biblioteca, com a pena na mão e a folha borrada de tinta sobre a escrivaninha de madeira, iria mudar o decreto e me fazer rei. Todos diziam ser infarte, mas desconfiei desde o princípio. Revirei o quarto de Nuno até que achei um frasco com selo escrito estricnina."
"Esse homem é um monstro!" Cícero fala indignado.
"Sanya se abriu com meu pai, mas com medo que Nuno matasse a Massara também, minha irmã se calou. Ninguém acreditava em mim. Era o bêbado rebelde da família. A vergonha da nobreza de Arbória. Exasperado desafiei Nuno para um duelo, só o matando conseguiria tirar o pulha de perto daqueles que amo. Marcamos no penhasco de cristais. Fomos até lá com os cavalos e dos soldados da realeza, por conta da tormenta que iria cair liberamos os soldados para que levassem os animais de volta. Enquanto eu vivia para me divertir, meu meio irmão fazia esgrima, treinava tiro. Sabia que era uma lutar desleal. Quando ficamos de costas e contamos os passos, me esquivei para a esquerda saindo da linha de tiro. Não tenho vergonha em falar que trapaceei. Facilmente Nuno ganharia aquele duelo, por isso o tiro que ele me deu pegou de raspão. Quando viu que sai da linha, ele ficou furioso e começamos a brigar no braço. Nuno iria me estrangular, porém minha mãe apareceu de surpresa e o impediu."
"E depois ele te jogou do penhasco." Dilan deduz.
"Não. De forma traiçoeira confesso, tentei mata-lo pelas costas. Tinha que livrar todos daquele ser execrável. Estava tonto pelo ar que me faltou aos pulmões quando Nuno me estrangulava, iria disparar. Fui surpreendido por outro tiro disparado pela minha própria mãe."
"A rainha tentou lhe matar!"
"Não senhora Bertha. Ela quis me parar como fez com o Nuno, não queria que o irmão matasse o outro. Não teve tempo de pensar direito e foi infeliz. A sorte que minha mãe não tinha boa mira. Estava convalescente, me desequilibrei e cai, no meio da queda tinha uma árvore que nasceu entre as frestas da rocha, a natureza me salvou. A mágoa que tenho de minha mãe, é que bastava ela ter olhado para me ajudar. Teria me visto pendurado ao galho dessa árvore, sem se importar virou as costas e me deixou lá. Alguns minutos depois, o galho se partiu com o impacto e o meu peso, fazendo com que eu caia e afunde na cachoeira de cristais. Segurando aquele pedaço de tronco como se fosse parte da minha vida, assim voltei a superfície. Não tinha mais força, deixei a correnteza me levar até as pedras aonde permaneci até que Dilany me encontrou."
"Corrigindo, não fui eu quem encontrou vossa alteza e sim Raia e um Mustang que deve pertencer a sua família."
"Apolo! Ele está aqui?" Pergunta com os olhos brilhantes.
"Sim, em uma baia isolada depois da plantação. Acho até um crime um animal atlético como ele preso a dias, mas não podíamos deixa-lo a vista." Se justifica Cícero.
"Quero vê-lo senhor."
"Só ver mesmo, com essa atadura no braço não podes montar." Bertha o alerta.
"Fique tranquila senhora, não serei inconsequente."
Dilan se levanta e vai buscar Apolo, alguns minutos se passam, ela volta puxando o animal. Apolo quando viu Salvador, se pôs a trotar nos fundos da casa como se fizesse a dança da alegria. Seu rabo perfeito e sua crina balançavam junto aos pequenos trotes que dava.
"Ei amigão! Quanta euforia. Também estou muito feliz em lhe ver. O príncipe se aninhou ao cavalo, que apoiou o longo pescoço no ombro de Salvador."
"Mais um que fala com os cavalos!" Bertha disse aos risos e foi andando para o interior da choupana.
Nada que o príncipe contou ou fez, abrandou o coração de Dilan. Ela desconfiava de todos da realeza. Mas o fato de ver que tinham um paixão em comum. O amor pelos cavalos, fez Dilan pela primeira vez sorrir para Salvador.
Pratas, cristais e porcelanas para todos os lados. O novo rei não economizou nas festa de sua posse. Alguns nobres de reinos mais distantes, viajaram por cinco dias para chegar a Arbória.A família real do reino Mazog foi uma das que demorou mais a chegar em Arbória, se perdera do príncipe Cristovam Giron. A festa estava prestes a dar início quando os Mazog chegaram sem o príncipe.Catléya esposa de Nuno era quem recepcionava os convidados. A mulher belíssima, penteada de trança embutida lateral, com fitas de ouro traçados junto as fios, dando mais vitalidade ao cabelo loiro da jovem senhora.Seu vestido era de camurça em um tom vinho, cravejados com berilos e acabamentos em rendas vermelhas, fazendo a cor vibrante, ser um contraste ao tom de sua pele alva.Catléya esbanjando simpatia, abre o belo sorriso com a chegada da família Mazog. "Rainha Helena, seja bem vinda." Ela cumprimenta a mulher baix
O herdeiro do trono Mazog, adentrou o palácio Arbória, mas sua mente ficou do lado de fora dos muros do castelo. Nenhuma das garotas que conhecera em várias cidades do velho continente, lhe deixou tão intrigado. Mesmo pequena, não viu fragilidade em seus gestos. Controlou-se diante da situação adversa com bravura, além do mais, era a beleza mais natural que havia visto.Ao entrar no salão, o príncipe foi aplaudido, ofuscando Nuno que também acabara de fazer sua entrada a festa. A notícia do sumiço de Cristóvam, espalhou-se pelos convidados e todos aguardavam um desfecho positivo.Com jeito expansivo, ele rodopia no salão sob os aplausos de todos e o olhar amargurado de Nuno. "Sei que todos me amam." Ele brinca. "Mas não serei eu a ser coroado rei. Aliás nem gostaria. Por isso caros senhores, aplausos para quem faria de tudo para deter tamanho poder." Puxa mais aplausos alfinetando e apontando para Nuno.O rei Giron puxa
A festa da coroação entrava no segundo dia, após o almoço com os convidados nobres, os portões do palácio serão abertos a todos. Aonde o rei fará seu discurso e será oficialmente apresentado ao povo de Arbória.Quase todos dormiam, o cansaço provocado pela comemoração correu madrugada a fora, dominava. De certo poucos acordariam para o desjejum. Provavelmente irão desjejuar junto com o almoço.O príncipe Cristóvam era um dos poucos que estava de pé. Acordou cedo com intenção de galopar pelas redondezas, talvez quisesse ver algo ou alguém. Era a primeira hora da matina, a mesa do desjejum não estava posta. Nunca foi acomodado, resolveu ele mesmo ir até a cozinha degustar algo antes de sair para a montaria.Os servos da cozinha real, ao ver o príncipe adentrar o local se espantam. Aquele que mais se incomoda é o cozinheiro Gusmão."O que faz aqui vossa alteza. Errastes o caminho?" Pergunta enquanto enquanto enxu
Com seu olhar engessado, madame Irlanda examinava as escoriações de Salvador."Estão secas." Diagnostica. "Calêndula e girassol uma combinação perfeita de cicatrizantes.""Posso vestir-me?" Pergunta Salvador."Claro que sim alteza." Salvador fica a espera que Irlanda saia do cômodo, para que possa ficar de pé e pôr a roupa. "Não fique acanhado, não há nada aí que não tenha visto, pense em mim como uma médica, ou quem sabe uma amiga, ou quem sabe conselheira.""O que queres dizer?" Pergunta afoito, talvez o príncipe não tenha gostado do tom de madame Irlanda."Sei de muitas coisas que podem lhe ajudar na grande batalha que tens pela frente.""Já ouviu falar em batalha de um só homem que tenha ganhado?""Estais só por que queres. Tens que entender que não és mais príncipe. Pare de gozar dos frutos do nome Arbória e faça parte da família Ziran. Conquistando essa fam
Sobre os olhos curiosos de Gusmão e os demais servos, Cristóvam fazia hora na cozinha. Passava das nove da manhã.Mais uma vez uma serva pergunta ao príncipe. "Vossa alteza tem certeza que não posso oferecer-lhe nada?"Cansado de esperar e quem ele almeja não chegar, decidiu falar com a serva. "Gostaria de chicória para o meu desjejum. A que horas vão trazer?"A mulher enquanto picava as cenouras sobre a tábua de madeira, se espanta com o pedido do príncipe. "Vossa alteza vai comer chicória de manhã?""Sim. Faz.. é.... Faz muito bem para a pele." Ruboriza ao mentir descaradamente."Tenho na dispensa vou lhe servir." A serva se vira ligeiro e é interrompida por Cristóvam. "Não." Eleva a voz, causando ainda mais estranheza na mulher. "É que tem de ser fresca, colhida no dia.""Ah! Então só poderei servi-lhe amanhã quando rapaz entregar.""Ele só vem amanhã?"
Dilan andara meio cabisbaixa. Somente a Raia, a moça confessara que o motivo de seu desalento era a mentira de Cristóvam e o medo que ele conte seu segredo e acabe levando seus pais a forca.Chegou em casa com sua amada égua e viu sua mãe andar de um lado a outro na frente da casa. Assustada com os últimos acontecimentos pensou o pior.Pulou de Raia muito rápido e se dirigiu até a Bertha. "O que houve mãe?" Pergunta esbaforida."Vai acontecer uma desgraça nessa casa minha filha."As palavras de Bertha fizeram o estômago de Dilan fervilhar. Veio em sua cabeça que a descobriram. Pediria clemência ao menos pelos seus pais, eles não deveriam sofrer por protegê-la."Calma vou resolver isso." Ela conforta a mãe."Então você já sabe?""Sim.""Temos que tirá-lo de lá.""Prenderam meu pai?" Eleva as mãos na cabeça.
O fruto vermelho e aromático, coloria as macieiras das terras cuidadas pela família Lerin. Família essa formada pelo pai Antônio, um homem de meia idade que assim como Cícero Ziran tinha a função de agricultor. Pela mãe Lena, que costurava para o único empório do vilarejo de Arbória. E os três filhos, Silas o jardineiro a serviço do rei e as duas meninas Lili de apenas cinco anos e Ane que acabara de completar treze.Antônio saiu bem cedo para comprar suprimentos de cultivos para as maçãs. Lena ansiosa, a todo momento chegava a frente da pequena fazenda, aguardando que seu marido voltasse.A mulher tinha uma encomenda para entregar naquela tarde. Se caso não o fizesse, perderia a ajuda de custos que recebia sendo costureira. Não era muito, mas ajudava nas despesas de suas filha menores.Silas seu filho homem que trabalha conforme as leis de Arbória, só chegaria a noite e nada de seu marido Antônio voltar. Faltavam apenas meia
O ambiente pesava em tristeza e apreensão, a família Lerin estava no humilde casebre da família Ziran a espera de Dilan. Bertha fumegava um chá de camomila para servir a Antônio e Lena. Cícero fazia sala para os Lerin, todos estavam sentados a um velho estofado, somente a pequena Lili brincava no tapete de couro de vaca e Salvador se mantinha escondido dentro de um cômodo.Fazia muito tempo que Silas saiu de casa para falar com o rei e não havia voltado, deixaram um bilhete em casa avisando aonde estariam, caso o rapaz apareça.O trote de Raia, anunciava a chegada de Dilan. Ao apear do animal, a jovem ficou apreensiva ao ver tantos olhos voltados para si."Boa noite senhor Antônio, senhora Lena!""Boa noite rapaz.""Benção mãe, benção pai.""Que Deus lhe abençoe meu filho."Dilan ver os rostos aflitos da família Lerin, ela suspira fundo, pois não tem boas notícia