Capítulo 4

Na noite anterior Salvador mal conseguira dormir, a todo momento lhe vinha a cabeça Dilany. Sem conhecer-lhe o rosto, havia se encantado pelo fato de uma jovem moça com tamanha destreza e bravura, ter se atirado nas águas de cristais para resgata-lo.

O sol nem nascera quando Bertha fazia o desjejum para Dilan. A moça que se passa por um rapaz, sai todos os dias bem cedo para trabalhar em prol do palácio Arbória, conforme exigido no decreto de anos atrás  feito pelo tataravô do falecido rei Conrado.

O príncipe ouviu que Dilan iria sair naquele momento, levantou-se da cama rapidamente para falar com a campônia. Ele abre as cortinas feita de fios de madeira tintilintando um som plural, chamando atenção de Dilan e Bertha pelo barulho.

"Senhorita Dilany, por favor me dê um minuto." Ele pede a moça fazendo Bertha arregalar os olhos.

"Santo Cristo! Vossa majestade sabe da nossa mentira." A mulher se apavora.

"Tudo bem senhora! Entendo perfeitamente o fato que os levou a montar tal artimanha. Não se envergonhe, eu Salvador Francisco Arbória III é quem lhe ofereço minhas humildes desculpas em nome de toda Arbória."

Dilan só observava, Bertha sua mãe ficou nitidamente emocionada com a humildade do príncipe. Com os olhos marejados o afaga com palavras. "Não sei o que lhe aconteceu rapaz. Nem faço ideia porque não queres ver sua família. Só tenho certeza de um fato. Vossa majestade era quem deveria ser o Rei."

"Justamente é sobre isso que quero conversar com a senhora, vosso esposo e a senhorita Dilany."

"Dilan majestade!" A campônia o corrige "A sua gente matou Dilany ao nascer. infelizmente não poderei ficar para prosa. Hoje tem festa da realeza e muito trabalho para um rapaz humilde como eu cumprir."

Salvador engoliu em seco o aditamento de Dilan, não estava acostumado a ser contrariado, contudo sabia que deveria ser resiliente até conquistar a confiança de todos ali. "Só quero dizer que aguardarei seu regresso, para contar-lhes a todos, o que aconteceu por trás dos grandes muros do palácio Arbória."

Dilan o olha de soslaio e assente fazendo uma reverência. "Com licença majestade"

Na porta da casa, Raia esperava impaciente. Ao ver Dilan deu um de seus relinchos " Está bem Raia sei que demorei. Bom dia para você!" Ela esfrega a crina do animal e o monta, partindo para lida, com a longa capa preta de capuz e o enorme chapéu de palha.

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O castiçal com cinco velas iluminava o breu nos fundos da choupana da família Ziran. Todos esperavam Dilan chegar da lida para que o príncipe possa finalmente contar o que lhe aconteceu.

Deu para que ouvissem quando Dilan chegou junto a Raia, os sons dos passos curtos, anunciaram a aproximação da moça.

"Boa noite! Com sua benção pai, com sua benção mãe."

"Boa noite e Deus lhe abençoe " Responde Cícero seu pai, enquanto Bertha apenas sorrir para a filha com ternura.

"Majestade!" Dilan cumprimenta Salvador fazendo reverência.

" Vai banhar-se agora filha?"

" Não mãe. Apenas irei lavar meu rosto e tirar um pouco desta sujeira e já volto."

Além de sua capa e do enorme chapéu de palha que usava para que sua face feminina não ficasse tão evidente, Dilan deixava uma aparência desasseada, com unhas e face pretas de terra. Era também uma forma de se camuflar.

Apesar de ter passado toda sua jovem vida assim, Dilan não se conformava em sempre ter de ser outra pessoa.

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Após lavar-se e degustar uma maçã, A jovem juntou-se aos demais, sobre os olhos ardentes e curiosos de Salvador. Dilan sentou na esteira de palha ao lado de sua mãe. Salvador estava sentado a cadeira de Cícero. Já o pai de Dilan estava em pé aguardando o príncipe a desatar os nós que estavam em sua mente.

Salvador levanta da cadeira se reportando a Cícero "Senhor sente-se " O príncipe aponta para o assento de balanço, oferecendo-a para o pai de Dilan.

Cícero nega veemente a sentar-se  "Estou bem em pé. Além do mais, Vossa alteza não tem outro lugar para se acomodar."

"O soberano desse lar é o senhor. Eu aqui, sou apenas um hóspede" Fala convicto. "Posso muito bem sentar-me na esteira."

Cícero assentiu e o príncipe sentou-se ao chão. Bertha cada vez mais sentia admiração por alguém, que antes lhe causava medo e até desprezo, pelo simples fato de ser um nobre de Arbória. Já Dilan observava. Observar era sua auto defesa, desde cedo aprendeu a se camuflar por conta do medo de ser descoberta. Talvez dela o príncipe terá mais trabalho em obter confiança.

Sob o breu da noite, iluminado pela luz da vela, Salvador pigarreia limpando a garganta e começa a discorrer o que acontecera antes de ser encontrado nas pedras da cachoeira de cristais "Meu pai havia deixado em decreto que ao morrer, o filho que tivesse família constituída primeiro, iria herdar a coroa.  Se nenhum de nós estivéssemos casados, o filho de sangue no caso eu herdaria o trono. Nuno tratou rapidamente em aceitar o primeiro matrimônio que lhe arranjaram. Assim garantiria a coroa"

"Nuno não é filho do falecido rei Conrado?" Bertha tem um ar de surpresa em sua expressão.

Antes que Salvador pudesse responder, Cícero se antecipou-se. "De sangue não querida, quando a rainha Massara casou com o rei Conrado, Nuno já tinha quatro anos de idade. Fruto do primeiro casamento da rainha com o falecido duque Antonioni."

"Exatamente isso." Confirma Salvador. "Somente minha irmã Sanya e eu somos filhos legítimos do rei Conrado. Contudo meu pai era um bom homem e nunca fez a menor diferença entre nós três." O lufar intenso emitido por Dilan fez o príncipe perceber que a moça discordava. "Algo lhe incomoda Dilan?"

"Incomodar não seria a palavra certa."

"Então qual seria?" Salvador questiona. Dilan iria responder, mas Cícero a intercepta antes de começar.

"Nada vossa alteza." O pai responde pela moça. "Dilan foi criada de forma diferente e as vezes a menina tem pensamentos estranhos."

"Obrigado Cícero! Porém melhor deixá-la responder, quero saber o que Dilan pensa." O pai assente o pedido do príncipe e se vira para Dilan. "Fale Dilan, o que eu disse que lhe chateou."

Dilan fica parada um tempo, talvez tenha se arrependido do que iria falar, mas Salvador insistia que a jovem se expressasse, e foi o que fez. "Você me disse que seu pai era um bom homem."

"Sim ele era." Afirma Salvador.

"Só se para vocês, os nobres. Para Arbória nunca foi." A jovem discorre sobre os olhos temerosos de seus pais. "Continuou o legado de exploração que todos os outros reis deixaram. E segundo meu pai, prometera que pararia com o ato infame de violar as jovens desse reino. Parou pôr um tempo e depois voltou mais agressivo e voraz que seus ancestrais. A caso de meninas voltarem a suas casas multiladas, faltando-lhes o pedaço do seio. Desculpe-me a franqueza vossa Alteza, mas esses atos asquerosos nem de longe são de um bom homem."

O príncipe respira fundo e solta uma lufada como se o ato fosse o aliviar algo preso em seu ser. "Entendo sua dor jovem. De certa parte ela também é minha. Mas está odiando o homem errado."

"Como assim o homem errado! Tudo neste lugar acontece com consentimento do rei." Ela o retruca.

"O rei por mais que ele quisesse, não é uma figura onipresente como um Deus. Abusar das jovens de Arbória, foi o motivo no qual meu pai tentou mudar o decreto sobre seu sucessor e foi assassinado pôr Nuno antes de o fazer. O rei Conrado descobriu que Nuno, o filho que ele criou como legítimo, estava fazendo atrocidades em nome da realeza."

OI GENTE!

Acho que não pus palavras estranhas.


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