Na noite anterior Salvador mal conseguira dormir, a todo momento lhe vinha a cabeça Dilany. Sem conhecer-lhe o rosto, havia se encantado pelo fato de uma jovem moça com tamanha destreza e bravura, ter se atirado nas águas de cristais para resgata-lo.
O sol nem nascera quando Bertha fazia o desjejum para Dilan. A moça que se passa por um rapaz, sai todos os dias bem cedo para trabalhar em prol do palácio Arbória, conforme exigido no decreto de anos atrás feito pelo tataravô do falecido rei Conrado.
O príncipe ouviu que Dilan iria sair naquele momento, levantou-se da cama rapidamente para falar com a campônia. Ele abre as cortinas feita de fios de madeira tintilintando um som plural, chamando atenção de Dilan e Bertha pelo barulho.
"Senhorita Dilany, por favor me dê um minuto." Ele pede a moça fazendo Bertha arregalar os olhos.
"Santo Cristo! Vossa majestade sabe da nossa mentira." A mulher se apavora.
"Tudo bem senhora! Entendo perfeitamente o fato que os levou a montar tal artimanha. Não se envergonhe, eu Salvador Francisco Arbória III é quem lhe ofereço minhas humildes desculpas em nome de toda Arbória."
Dilan só observava, Bertha sua mãe ficou nitidamente emocionada com a humildade do príncipe. Com os olhos marejados o afaga com palavras. "Não sei o que lhe aconteceu rapaz. Nem faço ideia porque não queres ver sua família. Só tenho certeza de um fato. Vossa majestade era quem deveria ser o Rei."
"Justamente é sobre isso que quero conversar com a senhora, vosso esposo e a senhorita Dilany."
"Dilan majestade!" A campônia o corrige "A sua gente matou Dilany ao nascer. infelizmente não poderei ficar para prosa. Hoje tem festa da realeza e muito trabalho para um rapaz humilde como eu cumprir."
Salvador engoliu em seco o aditamento de Dilan, não estava acostumado a ser contrariado, contudo sabia que deveria ser resiliente até conquistar a confiança de todos ali. "Só quero dizer que aguardarei seu regresso, para contar-lhes a todos, o que aconteceu por trás dos grandes muros do palácio Arbória."
Dilan o olha de soslaio e assente fazendo uma reverência. "Com licença majestade"
Na porta da casa, Raia esperava impaciente. Ao ver Dilan deu um de seus relinchos " Está bem Raia sei que demorei. Bom dia para você!" Ela esfrega a crina do animal e o monta, partindo para lida, com a longa capa preta de capuz e o enorme chapéu de palha.
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Deu para que ouvissem quando Dilan chegou junto a Raia, os sons dos passos curtos, anunciaram a aproximação da moça.
"Boa noite! Com sua benção pai, com sua benção mãe."
"Boa noite e Deus lhe abençoe " Responde Cícero seu pai, enquanto Bertha apenas sorrir para a filha com ternura.
"Majestade!" Dilan cumprimenta Salvador fazendo reverência.
" Vai banhar-se agora filha?"
" Não mãe. Apenas irei lavar meu rosto e tirar um pouco desta sujeira e já volto."
Além de sua capa e do enorme chapéu de palha que usava para que sua face feminina não ficasse tão evidente, Dilan deixava uma aparência desasseada, com unhas e face pretas de terra. Era também uma forma de se camuflar.
Apesar de ter passado toda sua jovem vida assim, Dilan não se conformava em sempre ter de ser outra pessoa.
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Após lavar-se e degustar uma maçã, A jovem juntou-se aos demais, sobre os olhos ardentes e curiosos de Salvador. Dilan sentou na esteira de palha ao lado de sua mãe. Salvador estava sentado a cadeira de Cícero. Já o pai de Dilan estava em pé aguardando o príncipe a desatar os nós que estavam em sua mente.
Salvador levanta da cadeira se reportando a Cícero "Senhor sente-se " O príncipe aponta para o assento de balanço, oferecendo-a para o pai de Dilan.
Cícero nega veemente a sentar-se "Estou bem em pé. Além do mais, Vossa alteza não tem outro lugar para se acomodar."
"O soberano desse lar é o senhor. Eu aqui, sou apenas um hóspede" Fala convicto. "Posso muito bem sentar-me na esteira."
Cícero assentiu e o príncipe sentou-se ao chão. Bertha cada vez mais sentia admiração por alguém, que antes lhe causava medo e até desprezo, pelo simples fato de ser um nobre de Arbória. Já Dilan observava. Observar era sua auto defesa, desde cedo aprendeu a se camuflar por conta do medo de ser descoberta. Talvez dela o príncipe terá mais trabalho em obter confiança.
Sob o breu da noite, iluminado pela luz da vela, Salvador pigarreia limpando a garganta e começa a discorrer o que acontecera antes de ser encontrado nas pedras da cachoeira de cristais "Meu pai havia deixado em decreto que ao morrer, o filho que tivesse família constituída primeiro, iria herdar a coroa. Se nenhum de nós estivéssemos casados, o filho de sangue no caso eu herdaria o trono. Nuno tratou rapidamente em aceitar o primeiro matrimônio que lhe arranjaram. Assim garantiria a coroa"
"Nuno não é filho do falecido rei Conrado?" Bertha tem um ar de surpresa em sua expressão.
Antes que Salvador pudesse responder, Cícero se antecipou-se. "De sangue não querida, quando a rainha Massara casou com o rei Conrado, Nuno já tinha quatro anos de idade. Fruto do primeiro casamento da rainha com o falecido duque Antonioni."
"Exatamente isso." Confirma Salvador. "Somente minha irmã Sanya e eu somos filhos legítimos do rei Conrado. Contudo meu pai era um bom homem e nunca fez a menor diferença entre nós três." O lufar intenso emitido por Dilan fez o príncipe perceber que a moça discordava. "Algo lhe incomoda Dilan?"
"Incomodar não seria a palavra certa."
"Então qual seria?" Salvador questiona. Dilan iria responder, mas Cícero a intercepta antes de começar.
"Nada vossa alteza." O pai responde pela moça. "Dilan foi criada de forma diferente e as vezes a menina tem pensamentos estranhos."
"Obrigado Cícero! Porém melhor deixá-la responder, quero saber o que Dilan pensa." O pai assente o pedido do príncipe e se vira para Dilan. "Fale Dilan, o que eu disse que lhe chateou."
Dilan fica parada um tempo, talvez tenha se arrependido do que iria falar, mas Salvador insistia que a jovem se expressasse, e foi o que fez. "Você me disse que seu pai era um bom homem."
"Sim ele era." Afirma Salvador.
"Só se para vocês, os nobres. Para Arbória nunca foi." A jovem discorre sobre os olhos temerosos de seus pais. "Continuou o legado de exploração que todos os outros reis deixaram. E segundo meu pai, prometera que pararia com o ato infame de violar as jovens desse reino. Parou pôr um tempo e depois voltou mais agressivo e voraz que seus ancestrais. A caso de meninas voltarem a suas casas multiladas, faltando-lhes o pedaço do seio. Desculpe-me a franqueza vossa Alteza, mas esses atos asquerosos nem de longe são de um bom homem."
O príncipe respira fundo e solta uma lufada como se o ato fosse o aliviar algo preso em seu ser. "Entendo sua dor jovem. De certa parte ela também é minha. Mas está odiando o homem errado."
"Como assim o homem errado! Tudo neste lugar acontece com consentimento do rei." Ela o retruca.
"O rei por mais que ele quisesse, não é uma figura onipresente como um Deus. Abusar das jovens de Arbória, foi o motivo no qual meu pai tentou mudar o decreto sobre seu sucessor e foi assassinado pôr Nuno antes de o fazer. O rei Conrado descobriu que Nuno, o filho que ele criou como legítimo, estava fazendo atrocidades em nome da realeza."
OI GENTE!
Acho que não pus palavras estranhas.
Cícero apreensivo, sussurrava com Dilan dentro de um cômodo da choupana. "Estais louca minha filha! Podes ir para forca por desafiar a soberania com tamanha empáfia.""Se ele concorda com as atitudes do reinado Arbória, a forca nos espera de qualquer maneira. Vocês mentiram e eu também.""Sim. Por isso temos que tratar muito bem desse homem que está lá fora, Para que seja benévolo conosco." Cícero segura a mão da filha. "Entendo sua raiva, mas sua mãe e eu lhe protegemos e vamos continuar a fazer.""Não senhor meu pai. Fazer eu ser quem não sou, nem de longe é proteção. É só adiar um problema e gerar outro." Com a voz embargada, uma lágrima isolada escorre pelo rosto franzino de Dilan,Cícero limpa a gotícula com carinho do rosto da jovem. "Desculpa se não soube fazer as coisas da maneira certa minha filha.""Não pai, me desculpa o senhor por esse lapso de ingratidão que me ocorreu. Você e a mã
Pratas, cristais e porcelanas para todos os lados. O novo rei não economizou nas festa de sua posse. Alguns nobres de reinos mais distantes, viajaram por cinco dias para chegar a Arbória.A família real do reino Mazog foi uma das que demorou mais a chegar em Arbória, se perdera do príncipe Cristovam Giron. A festa estava prestes a dar início quando os Mazog chegaram sem o príncipe.Catléya esposa de Nuno era quem recepcionava os convidados. A mulher belíssima, penteada de trança embutida lateral, com fitas de ouro traçados junto as fios, dando mais vitalidade ao cabelo loiro da jovem senhora.Seu vestido era de camurça em um tom vinho, cravejados com berilos e acabamentos em rendas vermelhas, fazendo a cor vibrante, ser um contraste ao tom de sua pele alva.Catléya esbanjando simpatia, abre o belo sorriso com a chegada da família Mazog. "Rainha Helena, seja bem vinda." Ela cumprimenta a mulher baix
O herdeiro do trono Mazog, adentrou o palácio Arbória, mas sua mente ficou do lado de fora dos muros do castelo. Nenhuma das garotas que conhecera em várias cidades do velho continente, lhe deixou tão intrigado. Mesmo pequena, não viu fragilidade em seus gestos. Controlou-se diante da situação adversa com bravura, além do mais, era a beleza mais natural que havia visto.Ao entrar no salão, o príncipe foi aplaudido, ofuscando Nuno que também acabara de fazer sua entrada a festa. A notícia do sumiço de Cristóvam, espalhou-se pelos convidados e todos aguardavam um desfecho positivo.Com jeito expansivo, ele rodopia no salão sob os aplausos de todos e o olhar amargurado de Nuno. "Sei que todos me amam." Ele brinca. "Mas não serei eu a ser coroado rei. Aliás nem gostaria. Por isso caros senhores, aplausos para quem faria de tudo para deter tamanho poder." Puxa mais aplausos alfinetando e apontando para Nuno.O rei Giron puxa
A festa da coroação entrava no segundo dia, após o almoço com os convidados nobres, os portões do palácio serão abertos a todos. Aonde o rei fará seu discurso e será oficialmente apresentado ao povo de Arbória.Quase todos dormiam, o cansaço provocado pela comemoração correu madrugada a fora, dominava. De certo poucos acordariam para o desjejum. Provavelmente irão desjejuar junto com o almoço.O príncipe Cristóvam era um dos poucos que estava de pé. Acordou cedo com intenção de galopar pelas redondezas, talvez quisesse ver algo ou alguém. Era a primeira hora da matina, a mesa do desjejum não estava posta. Nunca foi acomodado, resolveu ele mesmo ir até a cozinha degustar algo antes de sair para a montaria.Os servos da cozinha real, ao ver o príncipe adentrar o local se espantam. Aquele que mais se incomoda é o cozinheiro Gusmão."O que faz aqui vossa alteza. Errastes o caminho?" Pergunta enquanto enquanto enxu
Com seu olhar engessado, madame Irlanda examinava as escoriações de Salvador."Estão secas." Diagnostica. "Calêndula e girassol uma combinação perfeita de cicatrizantes.""Posso vestir-me?" Pergunta Salvador."Claro que sim alteza." Salvador fica a espera que Irlanda saia do cômodo, para que possa ficar de pé e pôr a roupa. "Não fique acanhado, não há nada aí que não tenha visto, pense em mim como uma médica, ou quem sabe uma amiga, ou quem sabe conselheira.""O que queres dizer?" Pergunta afoito, talvez o príncipe não tenha gostado do tom de madame Irlanda."Sei de muitas coisas que podem lhe ajudar na grande batalha que tens pela frente.""Já ouviu falar em batalha de um só homem que tenha ganhado?""Estais só por que queres. Tens que entender que não és mais príncipe. Pare de gozar dos frutos do nome Arbória e faça parte da família Ziran. Conquistando essa fam
Sobre os olhos curiosos de Gusmão e os demais servos, Cristóvam fazia hora na cozinha. Passava das nove da manhã.Mais uma vez uma serva pergunta ao príncipe. "Vossa alteza tem certeza que não posso oferecer-lhe nada?"Cansado de esperar e quem ele almeja não chegar, decidiu falar com a serva. "Gostaria de chicória para o meu desjejum. A que horas vão trazer?"A mulher enquanto picava as cenouras sobre a tábua de madeira, se espanta com o pedido do príncipe. "Vossa alteza vai comer chicória de manhã?""Sim. Faz.. é.... Faz muito bem para a pele." Ruboriza ao mentir descaradamente."Tenho na dispensa vou lhe servir." A serva se vira ligeiro e é interrompida por Cristóvam. "Não." Eleva a voz, causando ainda mais estranheza na mulher. "É que tem de ser fresca, colhida no dia.""Ah! Então só poderei servi-lhe amanhã quando rapaz entregar.""Ele só vem amanhã?"
Dilan andara meio cabisbaixa. Somente a Raia, a moça confessara que o motivo de seu desalento era a mentira de Cristóvam e o medo que ele conte seu segredo e acabe levando seus pais a forca.Chegou em casa com sua amada égua e viu sua mãe andar de um lado a outro na frente da casa. Assustada com os últimos acontecimentos pensou o pior.Pulou de Raia muito rápido e se dirigiu até a Bertha. "O que houve mãe?" Pergunta esbaforida."Vai acontecer uma desgraça nessa casa minha filha."As palavras de Bertha fizeram o estômago de Dilan fervilhar. Veio em sua cabeça que a descobriram. Pediria clemência ao menos pelos seus pais, eles não deveriam sofrer por protegê-la."Calma vou resolver isso." Ela conforta a mãe."Então você já sabe?""Sim.""Temos que tirá-lo de lá.""Prenderam meu pai?" Eleva as mãos na cabeça.
O fruto vermelho e aromático, coloria as macieiras das terras cuidadas pela família Lerin. Família essa formada pelo pai Antônio, um homem de meia idade que assim como Cícero Ziran tinha a função de agricultor. Pela mãe Lena, que costurava para o único empório do vilarejo de Arbória. E os três filhos, Silas o jardineiro a serviço do rei e as duas meninas Lili de apenas cinco anos e Ane que acabara de completar treze.Antônio saiu bem cedo para comprar suprimentos de cultivos para as maçãs. Lena ansiosa, a todo momento chegava a frente da pequena fazenda, aguardando que seu marido voltasse.A mulher tinha uma encomenda para entregar naquela tarde. Se caso não o fizesse, perderia a ajuda de custos que recebia sendo costureira. Não era muito, mas ajudava nas despesas de suas filha menores.Silas seu filho homem que trabalha conforme as leis de Arbória, só chegaria a noite e nada de seu marido Antônio voltar. Faltavam apenas meia