Galopou o quanto pôde. Com o tempo chuvoso, não ouvia mais o trote do animal robusto, apenas o barulho abafado de sua pata atolando na lama.
A estrada de barro enlamassada não era mais acessível ao seu destino. Não havia o que fazer, iria aparecer do mustang negro e amarrá-lo a árvore mais próxima.
A mulher elegante de meia idade, tinha em sua cara uma expressão do desespero. Seu cabelo de rainha, sempre muito bem arrumado com fios brilhosos que se entrelaçavam e rodeava a cabeça em um belo penteado, não era mais notório. Naquele momento o que se via, era um emaranhado de cabelo se desfazendo sob a tormenta em forma de dilúvio que lhe assolava.
Após amarrar o cavalo em uma árvore, a rainha Massara retirou suas anáguas e rasgou as barras do longo vestido de seda, lhe dando assim mais mobilidade para enfrentar a disparada a pé pela floresta.
A mata era densa, alta e fechada. Só lhe restara esse caminho para chegar ao penhasco, onde vossa alteza impediria uma justa, que poderia acabar com uma baita injustiça.
Conforme corria, pedaços de sua vestimenta ficavam pelo caminho. Os galhos cortantes não demoraria por ferir a sua delicada pele, que se encontrava ainda mais sensível e enrugada por conta da forte chuva a cair.
Em meio a corrida insensante, já conseguia ver a sua frente o velho penhasco, sua próxima missão seria subir as rochas molhadas sem escorregar. Seguindo em frente, obstinada, Massara escalou a primeira rocha, mais uma, mais outra, e mais outra... Até que chegou ao cume.
As gotículas que desciam do céu, caiam ao chão misturadas ao vermelho escarlate. A coloração avermelhada da água era sangue e escorria dos dois homens, proveniente de ferimentos que ambos se fizeram.
A rainha se afligiu ainda mais, ao ver seus dois filhos em estado deplorável. As armas de fogo estavam no chão. O duelo havia acontecido e ambos estavam muito feridos. Nuno por cima de Salvador, estrangulando o irmão mais novo que parecia está desfalecendo.
Massara não deixou que o cansaço a dominasse, não podia deixar que seus filhos se matassem, altiva ela ordena "Pare com isso Nuno! Pare já" Nuno parecia estar em transe, seus olhos emanavam sentimentos cruéis, vis. Não se importou ao ouvir o apelo de sua mãe. Continuava a apertar com muita ânsia e expressão furiosa o pescoço de Salvador.
Situações extremas, requerem atitudes extremas. Movida pelo desespero em ver um filho matar o outro, Massara pegou uma das armas do chão e a pôs sob o queixo. Sua intenção era ter seus dois filhos a salvo, exasperada estava disposta a tudo.
"Nuno largue o Salvador" a rainha grita em meio ao barulho da chuva forte. Decidida, implora mais uma vez, junto ao pedido a ameaça eminente. "Se não soltá-lo, contarei até três e apertarei o gatilho. Serás responsável não só pela morte de teu irmão, mas também de tua mãe."
Transtornado querendo se livrar daquele ser que para ele sempre lhe atrapalhou a vida, Nuno tenta não dar atenção a rainha Massara. Pensou consigo mesmo que de certo sua mãe blefava, ela não seria capaz de tamanha tolice.
Salvador revirava os olhos e Nuno já o sentia estremecer em suas mãos. "Um..." Gritou a rainha com a arma sob o queixo. Nuno apenas a olha de relance continuando a esganadura.
"Dois..." Mesmo cego de ódio, querendo exterminar aquela pedra do seu caminho, Nuno larga Salvador para o contentamento de Massara.
Cansada da jornada que teve que enfrentar para chegar alí, cansada de ficar no meio desta guerra de irmãos, cansada do ódio mútuo entre eles. Ela se ajoelhou e chorou por um breve momento. Ao levantar a cabeça, Massara viu seu filho Salvador com a outra arma em suas mãos fracas e trêmulas pelo pleito com Nuno e iria atirar no irmão pelas costas.
Há momentos que as ações são recuperadas em fração de segundos, não dando espaço de tempo para uma tomada de decisão mais racional. Nuno não escaparia de Salvador. O grito de Massara veio junto ao disparo. Disparo esse que saiu da arma da rainha, atingindo na altura do peito de seu filho do meio.
Massara queria freia-lo, para-lo. Não atingir mortalmente seu filho, a mulher levanta para socorrer Salvador, porém sem sucesso. Alvejado pela própria mãe, Salvador cambaleia com a mão sobre o ferimento, lágrimas escorrem nos olhos do homem que cai do penhasco mais alto do reino Arbória.
Impedida por Nuno, Massara queria jogar-se atrás do filho. Como poderia viver com aquela dor? Não poderia viver. Nenhuma mãe poderia. Foi até o penhasco para impedir um fratricídio e acabou por cometer um filicídio.
Por outrora, Nuno inspirou-se extasiado, assim como seu falecido padrasto queria, ele seria o mais novo Rei de Arbória.
Oi gente! Vou pôr sempre umas palavrinhas aqui que soarem um pouco diferente.
JUSTA também pode ser chamada de duelo.
PLEITO o mesmo que briga.
MUSTANG não é o carro, é uma raça muito valiosa do cavalo.
FRATRICÍDIO nome dado quando se é morto pelo próprio irmão.
FILICÍDIO nome dado quando pai ou mãe mata o próprio filho.
Muito obrigada por passarem por aqui e deixar seu comentário e sua estrelinha.
Galopando com sua capa preta de capuz e um chapéu que tapava ainda mais o seu rosto, Dilan via os raios eletrizantes e seus clarões cortar o céu, que saia de um azul para ficar completamente cinzento, junto aos barulhos estridentes do trovão. A revolta de Dilan era quase palpável, havia avisado ao cozinheiro do Rei que aquele não seria um bom momento para buscar o gado e os porcos.Desde criança já fazia esse trabalho com o pai. Ao longo dos anos, adquiriu experiência e mesmo com pouca idade, seus calos e joanetes lhe indicavam quando a tormenta cairia.Em Arbória, só a realeza e o clero podem obter terras, poder e fortuna. Aqueles plebeus que querem usufruir de um pedaço de chão, além de cultiva-lo com algum suprimento para o reino, algum homem da família tem de trabalhar a serviço do rei.Esse era o caso da família de Dilan, seu pai Cícero e sua mãe Bertha cultivam a maior plantação de verduras que abastece o reino. Cícero
Dor, desespero, e revolta consigo própria era o que a rainha sentia. Como pudera trocar um filho pelo outro? Se perguntava como foi capaz em atirar no próprio filho, questionava-se que espécie de mãe ela era. Massara implorava a Nuno que mandasse a guarda procurar Salvador, ao menos o corpo do filho queria enterrar com a nobreza que tinha direito."Salvador não entra mais no reino Arbória, nem vivo e nem morto." Sua fala era fria e implacável.Não concordando com a atitude de Nuno, Massara o enfrenta "Eu mesma falarei com Corvel para que procure meu filho, tão príncipe quanto você.""Não sou mais príncipe mãe, agora sou o rei, pois meu pai decidiu assim.""Meu filho Salvador seu irmão, será enterrado aqui. Neste reino." Ela afirma. "Aonde fora sua casa por trinta e dois anos."Massara dar as costas para Nuno e segue o longo corredor do palácio em destino a guarda real. Nuno não aceita a r
Madame Irlanda era uma incógnita no reino Arbória, alguns a viam como feiticeira do bem, outros como bruxa maligna e há aqueles que simplesmente a veem como uma opção barata de atendimento médico. Já que o médico Bartolomeu e seus filhos da mesma profissão, tem a medicina somente com interesses venais, jamais facilitam ou atendem por caridade.Nas mãos dessa mulher que a muito tempo vive na colinas do reino, mas que parecia nunca envelhecer, estava a vida do príncipe Salvador.Madame Irlanda estava com ele em um cômodo da choupana da família Ziran, ao lado de fora todos sentiam um cheiro de erva forte sendo queimada. A mulher tinha um maço de algum tipo de planta nas mãos, que mergulhava na água fervente, depois salpicando em cima do corpo do príncipe, pronunciando algum tipo de reza em dialeto desconhecido.Ao lado de fora, Dilan se dava conta do tamanho da responsabilidade que havia adquirido para si. O medo do príncipe de
Na noite anterior Salvador mal conseguira dormir, a todo momento lhe vinha a cabeça Dilany. Sem conhecer-lhe o rosto, havia se encantado pelo fato de uma jovem moça com tamanha destreza e bravura, ter se atirado nas águas de cristais para resgata-lo.O sol nem nascera quando Bertha fazia o desjejum para Dilan. A moça que se passa por um rapaz, sai todos os dias bem cedo para trabalhar em prol do palácio Arbória, conforme exigido no decreto de anos atrás feito pelo tataravô do falecido rei Conrado.O príncipe ouviu que Dilan iria sair naquele momento, levantou-se da cama rapidamente para falar com a campônia. Ele abre as cortinas feita de fios de madeira tintilintando um som plural, chamando atenção de Dilan e Bertha pelo barulho."Senhorita Dilany, por favor me dê um minuto." Ele pede a moça fazendo Bertha arregalar os olhos."Santo Cristo! Vossa majestade sabe da nossa mentira." A mulher se apavora.
Cícero apreensivo, sussurrava com Dilan dentro de um cômodo da choupana. "Estais louca minha filha! Podes ir para forca por desafiar a soberania com tamanha empáfia.""Se ele concorda com as atitudes do reinado Arbória, a forca nos espera de qualquer maneira. Vocês mentiram e eu também.""Sim. Por isso temos que tratar muito bem desse homem que está lá fora, Para que seja benévolo conosco." Cícero segura a mão da filha. "Entendo sua raiva, mas sua mãe e eu lhe protegemos e vamos continuar a fazer.""Não senhor meu pai. Fazer eu ser quem não sou, nem de longe é proteção. É só adiar um problema e gerar outro." Com a voz embargada, uma lágrima isolada escorre pelo rosto franzino de Dilan,Cícero limpa a gotícula com carinho do rosto da jovem. "Desculpa se não soube fazer as coisas da maneira certa minha filha.""Não pai, me desculpa o senhor por esse lapso de ingratidão que me ocorreu. Você e a mã
Pratas, cristais e porcelanas para todos os lados. O novo rei não economizou nas festa de sua posse. Alguns nobres de reinos mais distantes, viajaram por cinco dias para chegar a Arbória.A família real do reino Mazog foi uma das que demorou mais a chegar em Arbória, se perdera do príncipe Cristovam Giron. A festa estava prestes a dar início quando os Mazog chegaram sem o príncipe.Catléya esposa de Nuno era quem recepcionava os convidados. A mulher belíssima, penteada de trança embutida lateral, com fitas de ouro traçados junto as fios, dando mais vitalidade ao cabelo loiro da jovem senhora.Seu vestido era de camurça em um tom vinho, cravejados com berilos e acabamentos em rendas vermelhas, fazendo a cor vibrante, ser um contraste ao tom de sua pele alva.Catléya esbanjando simpatia, abre o belo sorriso com a chegada da família Mazog. "Rainha Helena, seja bem vinda." Ela cumprimenta a mulher baix
O herdeiro do trono Mazog, adentrou o palácio Arbória, mas sua mente ficou do lado de fora dos muros do castelo. Nenhuma das garotas que conhecera em várias cidades do velho continente, lhe deixou tão intrigado. Mesmo pequena, não viu fragilidade em seus gestos. Controlou-se diante da situação adversa com bravura, além do mais, era a beleza mais natural que havia visto.Ao entrar no salão, o príncipe foi aplaudido, ofuscando Nuno que também acabara de fazer sua entrada a festa. A notícia do sumiço de Cristóvam, espalhou-se pelos convidados e todos aguardavam um desfecho positivo.Com jeito expansivo, ele rodopia no salão sob os aplausos de todos e o olhar amargurado de Nuno. "Sei que todos me amam." Ele brinca. "Mas não serei eu a ser coroado rei. Aliás nem gostaria. Por isso caros senhores, aplausos para quem faria de tudo para deter tamanho poder." Puxa mais aplausos alfinetando e apontando para Nuno.O rei Giron puxa
A festa da coroação entrava no segundo dia, após o almoço com os convidados nobres, os portões do palácio serão abertos a todos. Aonde o rei fará seu discurso e será oficialmente apresentado ao povo de Arbória.Quase todos dormiam, o cansaço provocado pela comemoração correu madrugada a fora, dominava. De certo poucos acordariam para o desjejum. Provavelmente irão desjejuar junto com o almoço.O príncipe Cristóvam era um dos poucos que estava de pé. Acordou cedo com intenção de galopar pelas redondezas, talvez quisesse ver algo ou alguém. Era a primeira hora da matina, a mesa do desjejum não estava posta. Nunca foi acomodado, resolveu ele mesmo ir até a cozinha degustar algo antes de sair para a montaria.Os servos da cozinha real, ao ver o príncipe adentrar o local se espantam. Aquele que mais se incomoda é o cozinheiro Gusmão."O que faz aqui vossa alteza. Errastes o caminho?" Pergunta enquanto enquanto enxu