Natureza Mortal
Natureza Mortal
Por: Gioranheite
Prólogo

Galopou o quanto pôde. Com o tempo chuvoso, não ouvia mais o trote do animal robusto, apenas o barulho abafado de sua pata atolando na lama.

A estrada de barro enlamassada não era mais acessível ao seu destino. Não havia o que fazer, iria aparecer do mustang negro e amarrá-lo a árvore mais próxima.

A mulher elegante de meia idade, tinha em sua cara uma expressão do desespero. Seu cabelo de rainha, sempre muito bem arrumado com fios brilhosos que se entrelaçavam e rodeava a cabeça em um belo penteado, não era mais notório. Naquele momento o que se via, era um emaranhado de cabelo se desfazendo sob a tormenta em forma de dilúvio que lhe assolava.

Após amarrar o cavalo em uma árvore, a rainha Massara retirou suas anáguas e rasgou as barras do longo vestido de seda, lhe dando assim mais mobilidade para enfrentar a disparada a pé pela floresta.

A mata era densa, alta e fechada. Só lhe restara esse caminho para chegar ao penhasco, onde vossa alteza impediria uma justa, que poderia acabar com uma baita injustiça.

Conforme corria, pedaços de sua vestimenta ficavam pelo caminho. Os galhos cortantes não demoraria por ferir a sua delicada pele, que se encontrava ainda mais sensível e enrugada por conta da forte chuva a cair.

Em meio a corrida insensante, já conseguia ver a sua frente o velho penhasco, sua próxima missão seria subir as rochas molhadas sem escorregar. Seguindo em frente, obstinada, Massara escalou a primeira rocha, mais uma, mais outra, e mais outra... Até que chegou ao cume.

As gotículas que desciam do céu, caiam ao chão misturadas ao vermelho escarlate. A coloração avermelhada da água era sangue e escorria dos dois homens, proveniente de ferimentos que ambos se fizeram.

A rainha se afligiu ainda mais, ao ver seus dois filhos em estado deplorável. As armas de fogo estavam no chão. O duelo havia acontecido e ambos estavam muito feridos. Nuno por cima de Salvador, estrangulando o irmão mais novo que parecia está desfalecendo.

Massara não deixou que o cansaço a dominasse, não podia deixar que seus filhos se matassem, altiva ela ordena "Pare com isso Nuno! Pare já" Nuno parecia estar em transe, seus olhos emanavam sentimentos cruéis, vis. Não se importou ao ouvir o apelo de sua mãe. Continuava a apertar com muita ânsia e expressão furiosa o pescoço de Salvador.

Situações extremas, requerem atitudes extremas. Movida pelo desespero em ver um filho matar o outro, Massara pegou uma das armas  do chão e a pôs sob o queixo. Sua intenção era ter seus dois filhos a salvo,  exasperada estava disposta a tudo.

"Nuno largue o Salvador" a rainha grita em meio ao barulho da chuva forte. Decidida, implora mais uma vez, junto ao pedido a ameaça eminente. "Se não soltá-lo, contarei até três e apertarei o gatilho. Serás responsável não só pela morte de teu irmão, mas também de tua mãe."

Transtornado querendo se livrar daquele ser que para ele sempre lhe atrapalhou a vida, Nuno tenta não dar atenção a rainha Massara. Pensou consigo mesmo que de certo sua mãe blefava, ela não seria capaz de tamanha tolice.

Salvador revirava os olhos e Nuno já o sentia estremecer em suas mãos. "Um..." Gritou a rainha com a arma sob o queixo. Nuno apenas a olha de relance continuando a esganadura.

"Dois..." Mesmo cego de ódio, querendo exterminar aquela pedra do seu caminho, Nuno larga Salvador  para o contentamento de Massara.

Cansada da jornada que teve que enfrentar para chegar alí, cansada de ficar no meio desta guerra de irmãos, cansada do ódio mútuo entre eles. Ela se ajoelhou e chorou por um breve momento. Ao levantar a cabeça, Massara viu seu filho Salvador com a outra arma em suas mãos fracas e trêmulas pelo pleito com Nuno e iria atirar no irmão pelas costas.

Há momentos que as ações são recuperadas em fração de segundos, não dando espaço de tempo para uma tomada de decisão mais racional. Nuno não escaparia de Salvador. O grito de Massara veio junto ao disparo. Disparo esse que saiu da arma da rainha, atingindo na altura do peito de seu filho do meio.

Massara queria freia-lo, para-lo. Não atingir mortalmente seu filho, a mulher levanta para socorrer Salvador, porém sem sucesso. Alvejado pela própria mãe, Salvador cambaleia com a mão sobre o ferimento, lágrimas escorrem nos olhos do homem que cai do penhasco mais alto do reino Arbória.

Impedida por Nuno, Massara queria jogar-se atrás do filho. Como poderia viver com aquela dor? Não poderia viver. Nenhuma mãe poderia. Foi até o penhasco para impedir um fratricídio e acabou por cometer um filicídio.

Por outrora, Nuno inspirou-se extasiado, assim como seu falecido padrasto queria, ele seria o mais novo Rei de Arbória.

Oi gente! Vou pôr sempre umas palavrinhas aqui que soarem um pouco diferente.

JUSTA também pode ser chamada de duelo.

PLEITO o mesmo que briga.

MUSTANG não é o carro, é uma raça muito valiosa do cavalo.

FRATRICÍDIO nome dado quando se é morto pelo próprio irmão.

FILICÍDIO nome dado quando pai ou mãe mata o próprio filho.

Muito obrigada por passarem por aqui e deixar seu comentário e sua estrelinha.

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