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Capítulo Dois — Cecília Prado

— Então quer dizer que os dois fazem o mesmo curso? — Isis brinca, falando com o Theo.

— Ceci vai ter que me aturar por 4 anos — Ele pisca para mim, batendo o ombro no meu, rindo.

Nunca achei meu apelido sexy. Até aquele momento...

A forma como ele pronunciava aquelas pequenas 4 letras, fazia uma onda elétrica percorrer meu corpo e parar num lugar abaixo do umbigo. Um lugar que a muito tempo não vibrava daquela forma.

Nesse momento, percebo quão monótono está o meu relacionamento. Davi era maravilhoso, mas depois de 4 anos de relacionamento, não sinto mais as borboletas no estômago, ou aquele calor que nos invade sempre que estamos perto de quem desejamos.

Nosso namoro foi do fervente ao gélido, com uma rapidez enorme. Noto isso agora, com a falta das sensações rondando meu corpo.

— Ceci? — A voz preocupada da Isis me desperta de meus pensamentos depressivos.

— Hã? — Levanto os olhos do meu prato e dou de cara com dois pares de olhos preocupados. — Oi, Isis. — Percebo que estou remexendo meu almoço de um lado para o outro, sem colocar uma única garfada na boca.

— Você tá bem? — Minha amiga coloca a mão sob a minha, olhando-me preocupada.

Não preciso falar em voz alta o motivo do meu desânimo. Isis me conhece a vida inteira, somos o que chamam de amigas de berço e às vezes agradeço por isso; por não precisar verbalizar a angústia, que se instalava em meu peito.

— Estou... — Afirmo com a cabeça. — Só perdi o apetite. — Dou de ombros, empurrando o pedaço de pizza para longe.

— Opa! Mais comida! — Theo brinca, puxando o prato para si e quase acabando com a pizza numa única mordida.

— Menino! — Isis se assusta, rindo em seguida.

— Pra onde vai tudo isso de comida? — brinco, tentando me animar.

Mas nada teria me preparado para aquela cena.

— Aqui!

Com a maior inocência — ou safadeza, ainda não sei ao certo qual das duas — Theo levanta a camisa, mostrando o belo tanquinho escondido ali. Os gomos dos músculos são tão definidos, que posso contar cada um sem problema algum.

— Misericórdia! — Isis engasga com a água, que acabou de colocar na boca.

Mordo a bochecha internamente, numa tentativa falha, de evitar deixar explícito o desconforto que a cena me causou. Mas ao notar o olhar dele em mim, diria que falhei miseravelmente.

Theo me olha profundamente, como se fosse possível ver dentro de mim, é nítido o divertimento em seus olhos. Suas irises ficam mais escuras, como se isso fosse humanamente possível. Ele abaixa a camiseta, morde a ponta do lábio inferior e ri, balançando a cabeça.

Olho para as minhas mãos, rindo e sentindo as bochechas queimarem.

— Qual é sua próxima aula? — Isis pergunta, diminuindo a tensão entre nós.

Por isso que eu amava aquela mulher!

— Antropologia da comunicação — Theo responde rapidamente, terminando de comer o restante da pizza de frango com catupiry.

O modo como seu pomo de adão se move lentamente de cima para baixo, deixa-me hipnotizada.

Meu Deus! Eu realmente precisava transar logo!

Não com ele! Mas com o Davi...

Preciso manter o controle das minhas emoções, tudo isso não é normal, deve ser a falta de sexo.

É isso mesmo, muito hormônio acumulado dentro de mim.

— Preciso transar... — Theo solta, sem mais e nem menos.

Agora foi a minha vez de engasgar com a água.

— Meu Deus, Ceci! — Isis começa a me abanar e mesmo que tentasse, não conseguia parar de rir. — Pelo amor de Deus, morre não.

— Eu... Tô... — Tento falar entre uma tossida e outra. — Tô bem! — Respiro fundo, conseguindo finalmente voltar ao meu estado “meio” normal. — E você solta isso assim Theo? — Viro-me para ele e o pego rindo.

— E o que quê tem? — Ele dá de ombros. — Sexo pra mim nunca foi tabu, pelo contrário. — Ele se inclina na mesa, aproximando-se de mim. — Pra você é? Posso te ensinar a abrir a... — Ele baixa os olhos até minha boca e só então percebo que estou mordendo o interior da bochecha. — Mente! — Pela forma sensual que fala, sei que não é isso que ele quer abrir — E você sabe que dá pra notar que você morde o interior da bochecha, né? — Ele volta a se sentar, com um sorriso travesso estampado no rosto.

— Você não presta Theo! — Balanço a cabeça, rindo.

— Prestar não tem graça — Ele pisca, sorrindo enquanto me olha por cima da latinha de refrigerante ao terminar de beber.

As últimas aulas vieram e foram com a mesma rapidez que as outras, quando dou por mim, a última aula acabou.

Sentei-me na frente do Theo em todas as aulas. Meu corpo queimava toda vez que seus dedos tocavam meus cabelos, ele ficou o tempo todo brincando com algumas mechas, desfazendo os cachos que havia feito de manhã.

Agradeço o fato dele estar atrás de mim e não poder ver minhas bochechas queimando com cada toque seu.

Não era possível me sentir atraída assim com alguém que acabei de conhecer.

Ou era?

Coloco-me de pé assim que a última aula acaba e me levanto com tanta rapidez, que quase tropeço na ponta da mesa.

— Calma aí, moranguinho — Theo me segura pelo cotovelo, enviando uma onda de arrepios por todo meu braço — Pra que a pressa? — Ele ri.

— Tenho compromisso agora — minto, falando a primeira coisa que veio à mente.

— Te vejo amanhã então — Ele sorri, dando de ombros.

Quando penso que posso enfim respirar aliviada longe dele, Theo se vira e beija minha bochecha, enfiando os dedos entre meus cabelos, puxando levemente os fios da raiz. Para quem via de fora, era somente dois amigos se despedindo, mas ambos sabíamos o quão íntimo era aquilo.

— Tchau, moranguinho — Ele sorri, deixando à mostra aquela m*****a covinha na bochecha esquerda.

Apenas assinto, não me atrevo a abrir a boca e mostrar o quão desestabilizada fiquei com aquilo.

****

— Eu tô tremendamente fodida! — resmungo, batendo a cabeça no encosto do sofá da Isis.

— E o motivo disso tem uma covinha na bochecha, um sorriso de arrancar qualquer calcinha e se chama Theo, acertei? — Isis brinca, bebendo um gole de vinho branco.

Havia ido direto para a casa dela, agradecida por termos privacidade ali, afinal, minha melhor amiga morava sozinha.

— Já mandei você se ferrar hoje? — Bufo, mostrando o dedo do meu para ela. — Merda! — Cubro o rosto com as mãos, choramingando.

— Para de drama, Cecilia — Mesmo me repreendendo, noto o humor em sua voz. — Você não fez nada de errado. O Theo é lindo e é difícil não desejar aquele pedaço de mal caminho. — Isis dá de ombros, como se fosse a coisa mais natural do mundo aquele assunto.

— Ainda... — Tiro as mãos do rosto e pego minha taça de vinho, bebendo tudo numa golada só. — Mas eu me conheço, vou acabar fazendo merda — sussurro, passando os dedos pela boca do copo e solto um longo suspiro. — Theo é o famoso fruto proibido e ele me trouxe sensações que pensei que não existiam mais em mim. — Sirvo-me de mais um pouco de vinho. — Tudo de uma vez só! — Bebo todo o líquido novamente , sentindo o gelado refrescar minha garganta. — É assim que percebo o quanto preciso transar logo. Essa falta de sexo está mexendo com o meu juízo e meu corpo está se comportando de forma estranha por isso.

— Seu namoro continua morno? — Isis pergunta baixo.

— Mais gelado que o Alasca... — resmungo. — Davi é maravilhoso, é carinhoso, engraçado, prestativo, mas...

— Não é o mesmo furacão que era no começo do namoro. — ela termina minha frase, obrigando-me a concordar.

— É... — Solto um longo suspiro. — Nosso sexo passou de quente, para rotineiro. Parece que é sempre a mesma coisa e do mesmo jeito sempre... — Elevo os ombros, me sentindo culpada por tudo isso — Por mais que eu tente inovar, fazer algo diferente, estou cansada de sempre estar no controle — Pego a garrafa de vinho e encho novamente meu copo — Quero ao menos uma vez me sentir dominada, submissa e surpreendida, sabe? — Bebo um gole do vinho — Quero voltar a ter aquele frio na barriga que antecede tudo...

— Você já sabe o que eu penso — Isis responde na lata.

— Que eu mereço mais do que um namoro morno... — repito a frase que ouvia sempre dela, a fazendo aquiescer. — Que por mais maravilhoso que o Davi seja, ele não é o par certo para mim. Ele é a calmaria no meio do furacão que eu sou.

— O Theo é a energia que você tanto procurou no Davi, é a tentação que seu corpo implora para sentir...

— Em um dia, ele me fez sentir mais desejada do que em quase 4 anos de namoro... — digo me sentindo derrotada e cansada com tudo aquilo. — Mas sei que é apenas um flerte inocente dele. Ele é confiante o bastante para saber o que causa no sexo oposto e usa isso a favor dele.

— Então... — Isis sussurra por cima da taça de vinho. — Você já tem todas as respostas para as suas perguntas.

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