Capítulo Três — Theo Casali

O que ela estava fazendo comigo?

Passei a noite inteira em claro, pensando nela. O que já não era nenhuma novidade, já era rotina a quase um mês, desde que a conheci. Os primeiros raios de sol entravam pelas persianas ligeiramente fechadas e resolvi levantar antes do despertador.

— Preciso queimar tudo isso de alguma forma. — Fui direto para o banheiro e tomei uma ducha rápida, vestindo a primeira roupa que eu achei.

Tomei uma caneca de café e escovei os dentes, descendo para a academia do condomínio.

Nunca treinei tão intensamente como hoje. Voltei pingando para o apartamento e sentindo o corpo até mais leve. Meus pensamentos não estavam mais enevoados como antes e conseguia pensar com mais clareza.

— Ela não pode se envolver comigo. — Repetia para mim mesmo enquanto preparava meu café da manhã. — Ela namora e é totalmente diferente de mim. Em tantos quesitos...

A lembrança do seu sorriso me veio à mente. A forma como ela mordia o interior da bochecha quando estava excitada, ou o rubor intenso que sua pele ficava sempre que a deixava com vergonha, o som da sua risada... E que risada maravilhosa.

Passei o dia todo ontem provocando, só para ouvi-la rindo. A cada vez que isso acontecia era como se sua risada vibrasse dentro de mim, era como sentir meu corpo vibrar com o som.

— Tá queimando! — A voz do Arthur me despertou de meus devaneios.

— Puta merda! — Tirei a frigideira do fogão e liguei a coifa do fogão.

A cozinha estava cheia de fumaça, devido aos ovos queimados.

— Tá no mundo da lua, cara? — Arthur brincou enquanto pegava uma maçã de cima da fruteira e mordia.

Arthur era meu colega de quarto e meu melhor amigo. Morávamos juntos a alguns meses. Ele estava no terceiro semestre de Direito, estudava na mesma faculdade que a minha, só que à noite e estagiava num escritório de advocacia de manhã.

Éramos quase irmãos. Crescemos juntos, estudamos na mesma escola e sempre tivemos o sonho de dividir apartamento. E cá estávamos nós.

— Só não dormi muito bem essa noite. — Dei de ombros, enquanto jogava os ovos no lixo e lavava a frigideira. — Vai querer ovos? — Perguntei, abrindo a geladeira para pegar mais.

— Se você não for tentar me matar intoxicado com eles, sim. — Mostrei o dedo do meio para ele e ele riu. Foi até a pia e jogou o resto da maçã no lixo. — Tem certeza que você está bem? — Seu tom era preocupado.

— Já falei que to, cacete! — Revirei os olhos. — Só estou cansado. — Quebrei 4 ovos na frigideira e tentei ao máximo me concentrar ali para não estragar nosso café da manhã novamente.

— Falta na aula hoje. — Ele sugeriu. — Está no começo do semestre ainda, não tem tanta matéria importante assim.

— Não vai ser necessário. — Me virei para pegar o sal na bancada, onde meu melhor amigo estava sentado. — E já fiquei virado vários dias quando estudávamos. — Ele riu ao se lembrar da época do ensino médio.

— Bons tempos aquele. — Seus lábios subiram num sorriso amplo. — Já aprontamos demais na época do colégio. — Lembra de quando pulávamos a janela das gêmeas para não sermos pegos pelos pais dela?

— E pelo namorado da Sam. — Nós dois rimos.

Samantha era irmã gêmea da Bianca e ela namorava a pouco mais de 2 anos. Mas isso nunca foi empecilho para o Arthur.

Desconfio até hoje que ele era completamente apaixonado por ela. Mas ele nega até a morte, diz que era somente sexo.

— Você já me colocou em cada enrascada... — Balancei a cabeça em reprovação, o fazendo rir ainda mais.

— Aham! Como se você fosse um santo Théo. — Ele brincou.

— E quem disse que eu não sou? — Falei ironicamente.

— Todas as meninas com quem você já transou?! — Ele rebateu, ainda rindo enquanto pegava os pratos no armário.

— Já te mandei a merda hoje? — Joguei o pano de prato na cara dele. — Não era pra você estar no estágio já? — Perguntei, servindo um pouco de ovo para mim.

— Peguei folga hoje, preciso ir na faculdade resolver umas coisas. — Arthur pegou o pote de queijo branco na geladeira e a torrada no armário — Falando nisso, me dê uma carona até lá?

— Aham. — Respondi, mordendo a torrada com ovo e queijo.

— Fechou.

Meia hora depois já estávamos na frente da faculdade.

— Caralho! Que menina linda! Ela estuda aqui? — Levantei os olhos do celular e olhei para onde ele estava olhando.

Era a Isis, estava parada perto de um Citroën C3 branco, como se esperasse alguém.

— É a Isis, aluna do curso de medicina. — Tirei a chave da ignição e guardei no bolso, junto com o celular.

— Caramba! Seria atendida por uma médica assim sem problema nenhum. — Arthur brincou, colocando a mão no peito. — Inclusive acho que ela está me causando um infarto com tanta beleza. — Ele fingiu estar passando mal.

— Meu Deus! — Revirei os olhos. — Vê se cresce, Arthur! — Zombei dele.

— Oi Théo! — Isis acenou, caminhando até nós. — Tudo bem?

— Oi Isis. — Acenei de volta, sorrindo. — Estou sim e você?

— Quem é seu amigo? — Ela perguntou, sem tirar os olhos do Arthur.

Apresentei os dois, que logo já engataram numa conversa animada.

Fiquei olhando para o carro, na esperança dela aparecer.

— A Ceci está lá dentro... — Ela apontou para o carro, me pegando no pulo olhando. — Vai lá e tenta arrancar ela lá de dentro por favor! Já estamos nos atrasando. — Ela sorriu para mim.

— Já volto. — Me afastei dos dois, ouvindo a risada da Isis logo atrás.

Enquanto caminhava até o carro, já conseguia vê-la no interior dele, estava falando com alguém no telefone e pela forma que gesticulava as mãos parecia bem irritada.

Bati no vidro, fazendo com ela desse um pulo no banco e se segurasse no volante.

Ceci abafou o celular com uma mão enquanto abaixava o vidro.

— Espera ai! — Ela gesticulou para mim e voltou para a chamada. — Vai a merda Davi! Sério! Não te devo explicações sobre isso, já falei o que ocorreu ontem e você acredita se quiser. Não vou ficar te provando nada! — Ela ficou quieta por alguns segundos, provavelmente ouvindo o que ele estava dizendo. — Mas que caralho! Você está se ouvindo? Sério! Não sei porque estou perdendo meu tempo com isso...

Ela parecia extremamente irritada, revirava os olhos a cada palavra que o tal do Davi falava e estava apertando o volante com tanta força que jurava que seria capaz de arrancá-lo.

— Vai se ferrar! É isso mesmo! — Ela gritou contra o telefone. — É acho melhor mesmo! — Ele gritou algo do outro lado da linha em resposta. — Não! Vou dormir na Isis hoje! É isso ai, de novo! Blá, blá, blá... — Ela gesticulava com a mão, o provocando. — Vai pra puta que pariu! — Dizendo isso ela desligou a ligação no meio de uma frase dele e jogou o celular no banco do passageiro.

Ceci esfregou as mãos no rosto, puta da vida e socou o volante.

Ela não estava bem.

Do outro lado do estacionamento Isis olhava para gente, dava para notar o olhar preocupado. Gesticulei para eles irem, que eu cuidava dela. Ela assentiu e saiu, Arthur foi logo atrás dela.

Dei a volta no carro e abri a porta do passageiro, me sentando ao seu lado. Joguei seu celular no banco de trás e fechei a porta, subindo os vidros.

— Ele é um babaca! Duvidou que eu estava na Isis na noite passada. — Ela esbravejou. — Quem ele pensa que eu sou?! Praticamente me chamou de puta na maior cara de pau! E pensa que está certo! — Sua voz estava falhando e sabia que estava a um passo de desmoronar. — Não aguento mais! Sinceramente nem sei porque ainda estou com ele... — Ela suspirou, apoiando a cabeça no volante. — Antes eu pensava que era porque o amasse, mas hoje já acho que é comodismo.

Ela finalmente se virou para mim e ao olhar em seu rosto, tive vontade de abraçá-la ali mesmo. Seus olhos estavam lacrimejando e os lábios estavam tremendo devido ao choro que ela estava segurando.

— Me acostumei com a presença dele e acho que não sei ficar mais sozinha. — Ela abaixou a cabeça, olhando para as mãos enquanto falava. — Joguei minha carência em cima dele e agora não sei mais como sair disso. — Ela suspirou alto, fazendo seus ombros subirem devagar. — Desculpa por estar te enchendo com isso. Você não tem nada a ver com essa história.

Balancei a cabeça, pegando seu queixo entre os dedos e levantando seu rosto para que olhasse para mim enquanto falava.

— Não precisa se desculpar. — Ela fungou, se esforçando para controlar as lagrimas. — Por mais que nos conhecemos a pouco tempo, sempre que precisar eu estarei aqui. — Ela sorriu, me fazendo sorrir também. — Subi a mão até sua bochecha e acariciei delicadamente sua pele.

Ceci fechou os olhos e abriu a boca, deixando um pequeno gemido escapar. O som reverberou por todo meu corpo, parando entre as pernas e tive que me ajeitar no banco para conter a ereção.

— Acho que vou pra casa. — Ele falou, quebrando o silêncio e se afastou do meu toque, se virando para frente.

— Tem certeza, moranguinho? — Usei o apelido que dei a ele no dia anterior. Suas bochechas ruborizaram ainda mais, me fazendo soltar uma risada contida. — O que foi?

— Nada! — Ela balançou a cabeça rapidamente. — É só que... — Ela mordeu a ponta do lábio inferior, refletindo se deveria falar o que estava pensando.

— Você pensa demais, esse é o seu problema. — Virei de lado, ficando de frente para ela e apoiei o cotovelo no painel do carro, apoiando a bochecha na mão. — Não pense tanto, só... — Dei de ombros. — Fale!

— Pra você é fácil falar. — Ela se virou para mim e quase sofri uma sincope ao ver a camisa de seda branca que estava usando. — Me cobro demais com tudo e pra mim é difícil abrir mão disso.

Seu peito subia e descia enquanto ela falava, fazendo seus seios pressionarem o tecido fino da camisa, dava para ver os detalhes da renda que estava usando por baixo dela. Era branco e o sutiã deixava seus seios empinados. Minha mente divagou, pensando em como seria passar os dedos por ali.

Olhei para o teto do carro, numa tentativa falha de tirar esses pensamentos da minha cabeça.

— Theo? — Ela me chamou baixo. — Está tudo bem?

Neguei com a cabeça.

— Você está me distraindo... — Sussurrei para ela. — Quero parecer concentrado, mas sua camisa e essa renda aparecendo, está tirando todo o meu foco. — Baixei o olhar para ela e meus olhos capturaram os seus. Ela soltou outro gemido, me fazendo imitá-la sem perceber. — Viu! Estou tentando prestar atenção no que você está falando, mas a vontade que eu estou é de te jogar pro banco de trás e fazer coisas com você que ninguém nunca ousou fazer.

Ela engoliu em seco, tentando se manter calma, mas o vermelho em suas bochechas a denunciaram. Ceci esfregou as mãos no tecido da calça jeans justa, provavelmente tentando conter o nervosismo.

— E... — Ela respirou fundo, tentando criar coragem para falar. — E o que te impede? — Seus olhos castanhos mel me hipnotizaram, me deixando quase sem ar e foi a minha vez de respirar fundo.

— Você! — Ela arqueou uma sobrancelha, não entendendo minha resposta. — Você vai se arrepender disso no exato momento em que acontecer. — Dei de ombros. — E sei que não vai saber lidar com a situação.

— Como você sabe disso? — Ela cruzou os braços, me desafiando.

Me aproximei mais dela e coloquei as mãos em sua cintura, apertando levemente, a fazendo arfar em resposta. Ela estava com a boca aberta e os olhos fixos nos meus. Umedeci meus próprios lábios, tentando manter o controle da situação, mas, o cheiro doce dela e a respiração arfando não estavam me ajudando.

— Você está me desafiando? — Provoquei, passando os lábios nos dela. — Não faz isso, moranguinho! — Puxei ela um pouco para mais perto de mim, provocando mais um delicioso gemido de seus lábios. — Vai ser um caminho sem volta . Está pronta pra isso?

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