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Capítulo Seis — Cecília Prado

— Não acredito que fiz isso... — Estava andando de um lado para o outro dentro do banheiro feminino a quase meia hora.

— Para de andar tanto assim, vai acabar fazendo um buraco no chão desse jeito! — Isis me segurava pelo ombro, me forçando a ficar parada. — Ceci, foi só uma mensagem. Você está se comportando como se tivesse o convidado a fazer um pacto com o tio Lu. — Ela tentava não rir, mas os tremores de seus lábios a denunciava.

— Você fala isso porque não foi você que mandou a mensagem. — Revirei os olhos e voltei a caminhar de um lado para o outro.

— Não, eu falo isso porque não vejo nenhum problema nisso. — Ela deu de ombros. — Se fosse comigo iria assumir que mandei mesmo e que era isso. — Isis levantou novamente os ombros, sem se importar com aquilo enquanto olhava para as próprias unhas. — Você pensa demais em tudo e é por isso que não aproveita mais a vida.

No fundo, sabia que ela estava certa. Não gostava de assumir certos riscos e quando agia impulsivamente no final acabava sempre me arrependendo.

Estava fugindo do Theo desde o final do primeiro período de aula. Ele aparecia perto de mim e eu fugia igual diabo foge da cruz. No fundo ele sabia o motivo, mas ainda não estava pronta para admitir.

— Você não pode fugir dele para sempre, você sabe disso não sabe? — Isis me questionou.

— Eu sei... — Soltei um longo suspiro. — Mas preciso colocar minha cabeça no lugar. Não to pronta para encara-lo.

— Mas vai ter. — Dei um pulo de susto ao ouvir aquela voz.

— O que você está fazendo no banheiro feminino, Théo? — Ele estava parado no batente da porta.

Os braços cruzados, um pé sob o outro, uma sobrancelha arqueada e o olhar firme em mim, fazendo todo meu corpo se aquecer involuntariamente.

— Já que Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé. — Ele deu de ombros, ainda me encarando. — Você não vai conseguir me evitar pra sempre. — Ele caminhou devagar até mim, me encurralando na parede. — Estudamos o mesmo curso e vamos precisar conversar em algum momento, moranguinho.

Já havia me acostumado com aquele apelido ridículo, meu corpo se arrepiava sempre que sua boca o dizia.

— O que você está fazendo no banheiro feminino? — Uma aluna adentrou pela porta, repreendendo o Théo. — Anda moleque! Sai daqui! — Ela empurrava o Théo pela porta, o fazendo rir.

— Vamos conversar, moranguinho. — Ele falava enquanto era empurrado para fora. — Hoje a noite na sua casa, chego lá as 18h! — A loira conseguiu coloca-lo para fora, sob muita luta e empurrões. — Não se atrase! — Ele gritou no corredor.

Não consegui evitar o riso vendo toda aquela situação. Théo era uma comédia, tinha que admitir que era divertido ficar ao lado dele.

— Vai fazer o que? — Isis sussurrou, se aproximando de mim.

— Eu aceitaria. — A loira deu de ombros, sorrindo levemente. — Só pelo fato de ter entrado aqui sem nenhum receio, mostra que ele se importa com você. — Ela me deu uma piscadela. — E ainda por cima é um gatinho! — A loira deu de ombros, rindo.

Acabamos rindo também. E naquele momento percebi que aquela completa estranha estava realmente certa.

Não o vi mais pelo resto do dia, as quartas era o dia que menos tínhamos aulas juntos. A grade dele era diferente da minha e agradeci por isso, pois me daria tempo para pensar em tudo.

Comecei a pesar os prós e contras de aceitar seu convite, pensei tanto que me causou uma enxaqueca.

Uma coisa era fato; eu estava solteira e mesmo se optasse em me relacionar com ele não seria traição.

Mas por que ainda tinha a sensação contraria disso?

Do que tanto eu tinha medo?!

Mal havia visto que já eram quase 18h e que a qualquer momento ele poderia tocar a campainha. Já que já sabia meu endereço.

Me arrastei para fora do sofá e fui para o quarto, resolvi tomar uma ducha e colocar uma roupa confortável.

Assim que passei a ultima peça do moletom rosa pela cabeça, ouvi minha campainha tocar e já sabia que era ele. Havia deixado avisado na portaria que ele viria, mesmo sem entender realmente se era a opção correta naquele momento, mas, quando vi já havia feito.

Destranquei a porta e recostei no batente, aguardando-o entrar. Meu coração batia cada vez mais descompassado a cada segundo que passava. Sentia que poderia sofrer uma sincope e só piorou quando ouvi o barulho do elevador parando no meu andar.

Só notei que estava prendendo a respiração quando senti o pulmão e a garganta queimando, implorando por alguma fagulha de ar. Bufei mais alto do que esperava e isso causou uma risada no fim do corredor.

— Se eu soubesse que seria recebido com tanta alegria, teria me preparado melhor. — Ele brincou enquanto caminhava até mim. — Qual o motivo de tanto estresse, moranguinho? — Ele parou a alguns centímetros de mim, esticou a mão e pegou uma mecha de cabelo que havia soltado do rabo de cavalo, a colocando atras da minha orelha.

— Nada... — Menti.

Ele pareceu não acreditar muito, mas preferiu não postergar o assunto e eu fiquei feliz por isso. Theo ergueu uma sacola de mercado na minha direção.

— Trouxe vinho e alguns petiscos para nós. — Ele me entregou a sacola e eu abri espaço para ele entrar no apartamento. — O apê é a sua cara. — Disse enquanto olhava pela sala.

— Por que diz isso? — Questionei, fechando a porta atras de mim e caminhando até a cozinha estilo americano que havia no apartamento.

Theo recostou no parapeito entre a sala e a cozinha, apoiou os cotovelos nele e recostou o queixo entre as mãos, dando de ombros para a minha pergunta.

— Não sei. — Ele falava tranquilamente. — Só sei que não imaginava de outro jeito, moranguinho.

Senti o arrepio me percorrer pela espinha e o calor se alojar abaixo do meu ventre.

Tirei as coisas da sacola e coloquei em cima da mesa. Fui até o armário e peguei o abridor de garrafa dentro da gaveta, para abrir o vinho. Peguei a garrafa e entreguei ambos para ele.

— Sou um desastre abrindo vinho. — Falei sem jeito, causando uma risada baixa dele.

Toda vez que ele ria deixava sua covinha em protuberância. Aquela m*****a covinha!

Seus olhos estavam brilhando e o desejo brincava entre as irises, me causando mais um calor entre as pernas.

Voltei para a mesa, ficando de costa para ele, como uma desculpa para me recompor. Abri o amendoim, os colocando dentro de um recipiente, fiz o mesmo com o queijo e o salame, os colocando num prato.

Quando me virei para ele, o vinho já estava aberto e ele estava me olhando.

— Onde tem taça? — Ele sussurrou, dando a volta na bancada.

Apontei para as prateleiras a cima de mim, com as taças encaixadas.

Theo se colocou atras de mim e senti a garganta secar, fazendo meu coração martelar dentro do peito. Seu corpo estava tão próximo do meu que conseguia sentir o calor dele irradiando entre mim, quase conseguia sentir sua respiração.

— Do que você tem tanto medo, moranguinho? — Ele sussurrou, a boca tão próxima aos meus cabelos que me fez suspirar.

Não conseguia formular uma frase coerente, mal conseguia pensar em uma resposta racional, então preferi continuar calada.

Theo entendeu o meu silencio. Pegou duas taças e se afastou de mim, se acomodando no sofá. Depois de alguns minutos me recompondo, me juntei a ele, como se nada tivesse acabado de acontecer.

— Você tem notebook? — Ele perguntou, tranquilamente.

Confirmei com a cabeça e fui até meu quarto pegar. Me acomodei novamente no sofá, coloquei o notebook no meu colo e a taça de vinho em cima do porta copo do braço do sofá.

— O professor quer que façamos uma matéria fictícia, podendo ser de qualquer tema, só para ver como está nossa escrita formal... — Theo foi falando sobre o trabalho e me forcei a relaxar novamente.

Ficamos entretidos no trabalho por horas, mal percebi que já havíamos acabado com a garrafa toda de vinho.

— Quer mais vinho? — Ele perguntou, parecendo bem mais sóbrio do que eu.

Se bem que sempre fui fraca pra bebida.

— Acho que sim... — Dei uma enrolada para falar, o que fez ambos rirem. — Nossa! Faziam anos que não me sentia tão leve assim. — Recostei no sofá, mas não calculei o espaço exato e acabei derrubando a taça em cima de mim.

Theo foi rápido o bastante e puxou o notebook do meu colo, evitando que caísse em cima dele, mas só piorou pro meu lado, pois o resto do vinho caiu todo em cima da minha calça.

— Merda! — Xinguei.

Calculei o quão bêbada estava para me levantar, mas ao julgar pelo tanto que bebi decidi continuar sentada.

— Que bosta! — Theo se levantou. — Deixa eu te ajudar a limpar isso. — Ele caminhou até a cozinha e pegou os guardanapos em cima da mesa.

Quando voltou, se ajoelhou entre minhas pernas. Para ele foi um gesto inocente, mas para mim... Foi mais intimo que qualquer um que já tivemos. Acho que ele notou, pois parou de limpar minha calça na mesma hora.

De repente foi como se o clima entre nós pesasse, ficou tão denso que era quase possível tocar a tensão.

Ouvir uma respiração pesada e só notei que era a minha, quando os lábios dele subiram num sorriso travesso.

— Se você continuar respirando assim, não vou evitar fazer o que estou querendo fazer desde a hora em que sai do elevador. — Ele sussurrou, a voz tão rouca e sexual quanto jamais ouvi.

— O que? — Sussurrei de volta, sem ao menos pensar nos riscos.

— Ah moranguinho... — Ele se inclinou em minha direção, pressionando os dedos em minha cintura e me puxou para o seu colo.

Aquele simples gesto desencadeou tudo que estava mantendo preso a sete chaves dentro de mim e assim que senti seus lábios nos meus, era como presenciar a maior queima de fogos de artifícios da história, fazendo todo meu corpo tremer e minha barriga contrair de desejo.

Eu estava tremendamente fodida nas mãos dele.

E o pior? Eu pagaria pra sentir cada sensação.

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