Meu Maníaco
Meu Maníaco
Por: Meminger
Prólogo

Quando você deixa a vida viver você, você se torna apenas um receptáculo sem vida interior, sem chama, sem essência. Apenas vive a sua rotina massante todos os dias sem um futuro claro na sua frente, mas este não é meu caso, pelo menos não de todo. Ainda tem coisas que me fazem levantar da cama com um sorriso no rosto e viver cada hora do dia na espectativa de que estou fazendo um bom trabalho, embora que esse trabalho não me dê mérito algum. Ser uma boa mãe e ótima esposa não nos dá mérito algum, somos sempre largadas no canto e o foco é sempre a criança ou o homem, só se lembram de nós quando for pra julgar alguma imperfeição no que toca a família... Sim, esta é a minha vida.

Antigamente eu era uma garota com sonhos, não quer dizer que sempre fui vazia por dentro, quando eu tinha 10 anos, sonhava em abrir minha própria loja de bijuterias, sempre fui fascinada pelos metais brilhantes e pedras preciosas que as mulheres da minha região usavam em seus pescoços, braços, dedos, panturrilhas, cintura, rosto e cabeça, adorava ser uma mulher indiana e andar elegantemente ardonada por aí, eu ficava louca de animação quando ganhava um kit de acessórios, então a minha mente fértil me fez querer abrir um negócio próprio para assim, ganhar dinheiro com aquilo. Pobre garota inocente, aquele sonho era elevado e inalcançável demais pra mim, pois tinha nascido numa sociedade regrada e machista, as mulheres não tinham que ser ousadas até esse ponto de querer barganhar com homens, uma mulher descente devia casar-se com um bom homem e ser a luz dos olhos da sua família.

Naquela altura, segui o conselho dos meus pais, afinal, não tinha porquê contestar. Não quer dizer que eu nunca quis me casar e formar uma família, tinha ouvido e apreendido sobre aquilo desde que me conhecia como gente, por isso que segui a tradição da minha família me casando assim aos 15 anos. A idade podia ser pouca demais para outras sociedades, mas não na minha, a minha própria mãe tinha se casado aos 13 anos e eu, meio que cresci sabendo que me casaria com o filho da família Suryavant, uma importante família da classe social alta da minha aldeia. Eu não tinha porquê recusar, afinal, aquele casamento arranjado era o melhor que a minha família pôde arrumar e obviamente Shankar, o homem no qual me casei, crescia viril derretendo assim o coração de qualquer menina da nossa aldeia. Elas diziam que eu era uma garota de sorte por ser prometida ao belo Shankar, todas elas queriam estar no meu lugar. Por Deus, agora casada, eu diria que ele não era tudo aquilo que elas imaginavam ser.

Tudo bem, eu não podia reclamar, Shankar era realmente bonito e quando a gente se encontrava de vez enquando, ele me olhava com aquela malícia travessa como se dissesse "se prepare, Nayana, as nossas noites serão bastante fogosas" Aquilo me deixava medrosa, mas não podia negar que minhas pernas até tremiam com a ousadia do garoto. A família do Shankar também tinha bons antecedentes, as mulheres mais velhas se acotovelavam de ciúmes da minha mãe por não terem conseguido aquele feito para suas próprias filhas. Tudo bem que tudo estava a mil maravilhas, mas ninguém tinha ao menos me consultado se eu queria aquilo, se eu queria viver aquela vida para o resto dos meus dias, todos eles já tinham preparado um futuro pra mim, então eu via minha banca de especiarias se esvaiar cinzenta da minha imaginação.

Pra falar a verdade eu não lembro muito bem do meu casamento, só me aparecem imagens desconexas e embassadas de muitos tecidos de várias cores, muita gente adulta, o mestre de cerimônias entoando repetidamente o ritual matrimonial vezes sem conta até me deixar tonta, lembro também de mesmo na frente de todos, Shankar metendo sorrateiramente a mão por dentro das minhas saias vermelhas de tecido caro e agarrando forte a minha coxa. Lembro daquele gesto dele me deixar desconfortável e meu coração palpitar rápido dentro de mim, queria muito levar a mão até o braço dele e afastar a mão dele de mim, mas o que as pessoas pensariam? Não podia decepcionar minha mãe que estava atenta a tudo com uma ruga de preocupação no rosto.

Assim como prometido, Shankar era fogoso. Só pra ter uma ideia, ainda na véspera do casamento, ele escalou a janela da pequena casa dos meus pais onde eu morava na aldeia de Surat e pediu para que eu o deixasse entrar no meu quarto, com medo e sem estar entendendo muita coisa, o deixei entrar. Assim que ele esteve dentro, rapidamente me arrebatou para um beijo bastante possessivo, chocada e surpresa por estar sentindo a língua de uma outra pessoa na minha boca pela primeira vez, ainda assustada, eu perguntei.

"O que está fazendo, Shankar..?"

"Não consigo esperar mais, vim possuí-la de uma vez."

E voltou a me beijar e me agarrar com pressa e até com brutalidade. Sem muito o que fazer porque Shankar era dez anos mais velho que eu, um homem feito, corpulento e com barba no rosto, e eu apenas uma garota de quinze anos pequena demais pra minha idade, minha mãe sempre reclamava que eu não estava desabrochando como devia ser, afinal, os meus seios mal estavam rebentando da região peitoral e tinha quadril pequeno. Eu até me considerava feia, mas a forma como Shankar estava me agarrando ali me fazia pensar na possibilidade de que talvez eu fosse um bocadinho atraente. Ou então me fazia pensar que eu fosse apenas uma presa que tinha caído nas mãos do predador ali.

"Mas o casamento é ainda amanhã, você não terá que esperar por muito mais tempo..." Tentei pedir para que ele parasse, eu realmente não queria me casar desvirgem, as pessoas falavam muito mal das moças que não eram mais puras e no entanto não estavam num casamento. Shankar só tinha me ignorado e dito.

"Ainda bem né, então isso quer dizer que não tem problema de você ser minha hoje se a partir de amanhã passará a ser minha pra sempre."

Okay, eu tinha perdido os argumentos, apenas suspirei e deixei que ele saciasse a sua fome de mim. Minha mãe e as anciãs de Surat enquanto me aconselharam o que eu deveria fazer para agradar o meu futuro marido, elas me disseram também de como seria o sexo, elas disseram com sorrisinhos safados que seria uma experiência agradável e que eu ia gostar muito, disseram que eu alcançaria prazeres inimagináveis na companhia do meu marido e também através daquilo, daria um monte de bebés para a família, e por isso eu deveria estar sempre pronta pra receber Shankar em meu leito. Eu não estava pronta naquela noite quando meu futuro marido veio 'me revendicar', mas eu decidi recebê-lo mesmo assim. E devo dizer que a experiência não foi uma das melhores da minha vida, bem longe disso. O membro viril do Shankar era grande demais e ele foi imprudente demais quando o usou em mim apressado e forte naquela primeira vez, então aquele foi o motivo de eu ter me sentido tão dolorida e doente na cerimônia do casamento no dia seguinte. Quando contei aquilo pra minha mãe em particular, ela apenas suspirou com seus ombros caídos e disse:

"Homens, eles às vezes se guiam muito pela cabeça de baixo..." E não disse mais nada, nunca mais disse.

A casa do Shankar era deveras grande, e moravam uma data de pessoas ali: tinha o bisavô do Shankar, um velho decrépito e desdentado que ficava o dia todo sentado numa poltrona no canto da sala, o velho falava coisas inaudíveis e sempre gritava quando via o filho dele que no caso era o avô do Shankar, os avós do meu recente marido me metiam medo, o homem que mantinha um bigode esbranquiçado entre a boca e os lábios nunca dirigia a palavra a mim e sempre falava de mim como se estivesse falando de mais uma animal de estimação da família, já a mulher dele sempre me jogava olhares afiados e me repreendia duramente sempre que tinha oportunidade. A mãe do meu marido até que era complacente, mas acabava descontando seus nervos nas quatro noras que possuía, e quanto ao marido dela, o pai do Shankar nunca ficava em casa, segundo ele, era muito ocupado com os negócios da família. Ao todo Shankar tinha seis irmãos e três mais velhos já eram casados formando assim comigo quatro noras na casa. Quanto os mais pequenos quando os conheci na primeira semana eu até tinha perdido a conta de quantos eram de tanto que eram, eram muitos sobrinhos pra contar. A vida de uma nora na casa dos Suryavant não era fácil, tampouco, mas eu já estava treinada pra tal e estava disposta a dar o meu melhor. Pouco tempo depois de casada descubri que estava grávida, a família do meu marido quase me pendurava num pedestal e me apresentava pra todos como o prêmio deles. Com que então eles tinham conseguido arranjar uma mulher fértil para o seu filho Shankar, Are!

Os deuses me deram uma menina saudável, o que não agradou muito a família porque uma menina na família significava que um dia eles teriam que pagar o dote para a família do noivo dela, e ninguém gostava de perder dinheiro, convenhamos. Ouvi até alguns comentários maldosos das outras noras zombando minha menininha, mas as ignorei, eu estava feliz por ter tido aquele bebê e mais feliz ainda porque se tratava de uma menina. Assim eu poderia ensinar ela a dançar Barhatanatyam (dança tradicional), costurar eu mesma os vestidos dela e presenteá-las com muitas especiarias. Então Indira cresceu forte e desde muito cedo começamos a notar o quanto ela era inteligente e perspicaz. Com o passar do tempo a família do Shankar foi se esvaindo: após a morte do bisavô do meu marido, morto por velhice, não demorou muito para que alguns membros da família começassem a se desentender, com o passar dos anos o avô seguiu seu pai também deixando a velha chata da sogra da minha sogra sozinha. O irmão mais velho anunciou que iria expandir os negócios da família se mudando para Calcutá, ele e sua família. O irmão depois dele também seguiu o mesmo caminho se mudando para Madras, o terceiro criou uma contenda grande que acabou sendo deserdado da família, então ele e sua família tiveram que ir embora, a gente ouvia rumores de que ele estava morando em Ahmedabad, mas nada era consistente. A casa começou a se tornar vazia aos poucos, só tinha sobrado dois irmãos mais novos do Shankar, meus sogros, a avó chata, eu, Shankar, minha filha, e os criados da casa. Eu vi tudo isso acontecendo na medida em que os anos passavam.

Shankar era um homem distante comigo, ele não me deixava passar fome ou necessidade e sempre me presentava com lindos vestidos, mas raramente ele trocava palavras de apresso comigo. Sempre quando chegava em casa e depois de eu lavar os pés dele, ele ia dormir alegando que estava cansado e que a loja de corantes (património da família dele) não estava deixando ele com muito tempo livre. Então eu fui me conformando ao passar dos anos, pelos menos eu tinha Indira do meu lado que era a minha alegria, eu ficava lá assistindo a minha filha crescer e se tornar uma linda moça. Com a modernização que estava se fundindo com a nossa tradição, insisti que Indira pudesse ir pra escola até terminar a sua graduação, e que também ela escolhece o homem no qual iria casar. Queria que minha filha tivesse alguma liberdade na sua vida, a liberdade que eu pouco tive... Então Indira começou a frequentar a escola e ela sempre me contava as coisas que aprendia lá, a minha filha já conseguia falar corretamente o inglês na adolescência. Ela era fascinada pelas estrelas e pela a imensidão do universo. dizia que queria se tornar uma astronauta um dia, eu estava ali para apoia-la seja o que ela quisesse ser. Minha filha conseguiu uma bolsa de estudos em Bombaim e ela tinha que ir fazer faculdade por lá, me doeu bastante ter que deixar ela ir pois ela era minha única filha, mas eu sabia que ao contrário de mim, eu teria que deixar ela traçar os passos dela sozinha e viver a vida dela como ela queria. Então a deixei partir.

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