Ainda estamos na mesa comendo o jantar e eu estou estática depois de ter ouvido o que ela falou, até achei que ela não tinha falado aquilo. Já não estou vendo mais interesse na comida, mas sim no que ela estava falando.
"D-devolver? Pela mesma moeda..." Estou chocada. O que ela está sugerindo? Que eu traia o Shankar também? Pelo incrível que pareça ela está mesmo acentindo respondendo a minha questão trémula.
"Seria uma boa lição." Acrescenta naturalmente, solto uma risada inacreditável.
"Não acredito que você esteja sugerindo isso, Hari." Eu sabia que minha amiga é louca da cabeça, mas não até esse ponto.
"Então o que você pretende fazer? Chorar até o último dia da sua vida? Viver se lamentando por tudo isso que Shankar fez com você? O que você perderia dando um troco se ele já tirou toda a sua dignidade? Ele te manchou toda, te ridicularizou. Nem pensou em como você se sentiria, esse homem não merece nenhum respeito seu." Ela fala, fito o chão, ela está certa, não tenho argumentos pra rebater contra ela. "Você é mais do que isso, Nayana. Veja só o jeito que aquele idiota apagou sua chama! Um casamento de quase três décadas pra você flagrar ele trepando com uma menina de dezasseis anos? Não vê que você merece mais?" Limpo as lágrimas que insistiam em cair, Hari se levanta da cadeira usando uma toalha pra limpar sua mão e vem me abraçar confortavelmente. "Nay, você sabe que eu te amo demais e nunca te prejudicaria." Ela fala enquanto alisa minhas costas com carinho. "Você ainda é linda, eu consigo enxergar. Você ainda tem muita vida pela frente, não está morta. Você precisa voltar a viver sua vida, para o seu próprio bem." Me deixo chorar mais um pouco nos braços dela. Estou tão envergonhada de mim, passei toda minha vida tentando agradar os outros, eu era mesmo uma pessoa sem personalidade alguma. Talvez Hari esteja certa e eu preciso mesmo mudar... Não sei como que farei isso sendo que não conheço outra verdade que não seja àquela que Shankar passou pra mim.
Passar os dias ali na casa da Hari estava sendo bom pra mim, começava a me descobrir, as coisas que deixava apagadas dentro de mim ou deixava de lado para priorizar mais os outros. Hari não tem muito tempo livre, ela está sempre ocupada com o trabalho dela, mas sempre nas noites eu e ela conversamos sobre tudo e sobre nada: sobre a nossa infância em Surat, sobre nossos tempos de escola, sobre um programa que estava passando na TV ou apenas sobre o tempo. Já tinham se passado três dias que eu estava em Singapura e hoje Hari me levaria pra fazer compras, estou animada pra tal, não posso negar. Acho que sair um pouco pra ver caras novas me faria bem. Nas compras minha amiga me mostrou um lindo vestido vermelho e ousado e sugeriu que eu vestisse o vestido para ir até uma boate que ela conhecia onde vários caras gatos frequentavam. Então eu fiquei brava com ela por ela estar me insentivando a ir pra cama com outros homens e nós acabamos tendo uma discussão, mas naquela noite mesmo ela me pediu desculpa e estava tudo bem.
Quando acordo no dia seguinte logo depois de Hari ter saído pra trabalhar, passo o dia todo de novo no apartamento apenas deitada sem nada demais pra fazer. Minha mente me leva a me imaginar nesse tal clube do qual Hari diz conhecer, não sei porquê eu penso nisso, afinal eu já tinha decidido nunca ir pra esse lugar, eu não ia devolver a traição do Shankar com a mesma moeda, mas mesmo assim me imagino lá no meio de todos na pista de dança mexendo o corpo ao som da música pop envolvente e com mãos másculas e grandes deslizando no meu corpo... Suspiro pesada, devo admitir que faz um tempo que homem nenhum não me toca... Sou tão patética .
Acabo me adiantando e vou pra cozinha ir fazer pipocas para a noite de seriado com minha amiga, pelo menos assim não estaria pensando besteira. Algum tempo depois meu celular toca, penso que talvez seja minha filha querendo falar comigo pois ela ligava com frequência pra mim, mas me surpreendo ao ver escrito na tela 'MARIDO'. Um gosto azedo começou a subir por minha boca, franzo os lábios.
Que droga, eu não tinha mudado o nome de como tinha salvo o contato dele no celular... Mas eu não pensaria naquilo, realmente não tinha me lembrado... Solto um xingamento. Por que diabos esse homem está ligando? Tá querendo saber quem vai tratar de lavar suas cuecas? Não atendo, estou nervosa demais pra tal, meu humor mudando por completo. Deixo o celular no balcão da cozinha e pouso as mãos na minha própria cintura encarando o celular chamar, eu não vou atender. O celular fica em silêncio e eu agradeço aos deuses, porém aquela porcaria volta a tocar, por Durga! Pego o aparelho e o atendo de uma vez.
"O que quer?" Minha voz estava bastante ríspida.
"Que você volte pra casa, imediatamente." Ele mandou compartilhando da mesma rispidez que a minha, até um tanto pior que a minha.
"Você acha mesmo que manda em mim, Shankar? Acha mesmo que tem um poder sobre mim?"
"Sempre tive desde o dia que nos casamos, ou você se esqueceu de que me pertence!?" Sinto meu corpo tremer de raiva.
"Apenas me deixa em paz!" Grito e desligo jogando o celular não sei em que canto. "Pelos deuses..." Já estou chorando horrores, aquele homem me faz tão mal, quero tanto que ele suma da minha vida, quero tanto que ele morra! Escorrego o corpo pelo balcão e abraço meus joelhos me encolhendo e chorando assim. Por que ele fez isso comigo..? Eu não era feliz do lado dele, mas também não era infeliz. Agora estou aqui sofrendo horrores... Como ele tem coragem de fazer isso comigo?
"Eu vou provar a você que eu não te pertenço, Shankar." Falo pra mim mesma, determinação emanando dos meus poros, me levanto limpando o rosto. "Acha mesmo que pode fazer comigo o que quiser, Shankar?" Fico sozinha ali o desafiando na minha mente, meu rosto afiado enquanto dou círculos pela cozinha, minha cabeça a mil muito concentrada em meus pensamentos agora. "Então quero ver o que você vai achar disso!" Vou pro meu quarto e tiro todas roupas novas que Hari comprou pra mim e começo a ver o que ia vestir. Sim, estou decidida em pagar a traição do meu marido com a mesma moeda, só me arrependo de ter deixado o vestido vermelho na loja de roupas. Quando Hari volta pra casa naquela tarde ela encontra que eu não tinha feito as pipocas nem nada, ela chama por mim, estou no quarto ainda tentando ver qual roupa vestir.
Quando saio do quarto toda arrumada e confiante, Hari até mexeu os ombros de tão radiante que estou, descemos logo e fomos pro carro dela, já é quase 10h da noite, a gente pretendia voltar tarde pra casa naquela noite. Ela ficou o caminho todo me dando dicas de como me portar quando um homem chamar minha atenção e eu quere-lo. Me sinto igual uma adolescente na primeira noitada que vai com uma amiga experiente, odiava a falta de experiência em mim, mas eu não tinha culpa, tinha me casado com 15 anos, tudo o que eu tenho de experiência aprendi com Shankar que não foi lá um bom professor. No sexo, ele não se importava se eu estava gostando ou não, desde que ele estivesse gostando e gozando, estava tudo bem pra ele... Quando chegamos no tal clube havia uma grande fila na entrada do lugar com muita gente querendo entrar, fico cabisbaixa."Ai, amiga. Acho que a gente não vai conseguir entrar aí não." Falo com um biquinho nos lábios, mas Hari ri de mim."Calma. Está comigo, está com Deus." E
"Você está bem, moça? É perigoso andar sozinha por essas ruas a noite." Ele fala em hindu ao se aproximar, pude perceber pelos traços que ele também é indiano, mas aquilo não quer dizer que eu confiaria nele só por ele ser do mesmo pais que o meu, o bom era que eu podia me comunicar facilmente com ele já que falamos o mesmo idioma. Fungo o nariz e respondo."Tá tudo bem, eu vou pegar um metrô e ir pra casa.""Eu estou de carro. Se você quiser te levo até sua casa, pra sua segurança." É cortez da parte dele, mas eu rio o ridicularizando."Eu não vou mostrar a um estranho onde moro, essa seria a coisa mais idiota a se fazer, Are baba!" Ele ri da minha expressão, mas concorda."Você tem razão, mas venha. Posso te levar até pelo menos no ponto do metrô, ainda fica há umas boas quadras daqui e seu sapato não está lá te ajudando." Olho pros meus saltos altos que Hari tinha insistido para que eu os usasse. "Você já tem estatura baixa, então tem que usar um salto mais alto pra dar uma equilib
Não tenho nenhum compromisso com esse homem, não o conheço e não tenho interesse em conhecê-lo. Dessa vez eu vou fazer tudo que Shankar nunca me permitiu fazer na cama, Shankar queria que eu fosse totalmente submissa, que ele estivesse encima de mim metendo enquanto eu apenas estou lá no silêncio esperando ele chegar no seu ápice. Era ele quem se satisfazia sempre, não eu. Mas dessa vez será diferente, a satisfação será minha, ainda mais com este homem que sabe me pegar bem. A forma como ele está me prendendo na parede do quarto do hotel enquanto me beija com vontade, me faz ficar toda molinha por ele, embora não me conhecendo, ele tem tempo pra me apreciar, apreciar meu corpo, apreciar meu rosto, ele tem tempo de dizer o quanto sou linda e atraente, o quanto está completamente rendido por mim. Gosto de quando ele dá atenção extra aos meus seios e admite que eu explore o corpo dele também, as nossas respirações são pesadas um respirando no outro, nossas roupas a muito jogadas em qualq
"Desculpe, não quis te assustar." Abano a cabeça num gesto que indicava que está tudo bem. Não acredito que ainda estou aqui parada arredando, era pra eu ter saído correndo desse maldito quarto, por Shiva! Mas ele tem uma expressão tão fofa quando acorda... Que saco... Ele se senta na cama e coça os olhos, o lençol caindo da sua barriga parando em seu baixo ventre, viro o rosto na hora me sentindo corada. Ele tinha um majestoso corpo, por Krishna..."Bom, eu realmente preciso ir... Já estava de saída!" Falo pegando minha bolsa tentando mascarar meu embaraço. Se não saio agora então nunca mais saio. Meu medo é eu ter um leve surto e ir sentar no colo dele bem manhosa pedindo por carinho e outras coisas... A culpa não é minha... Aquele corpinho dele e seu jeitinho me fazem acelerar de uma hora pra outra."Mas já? Você já vai? Sem tomar um café?" Ele questiona. Sério que ele está me oferecendo um café..? Oh, Deuses. Porquê esse sofrimento? Fecho os olhos por um momento tentando me recomp
NayanaMomentos depois, Radesh estaciona o carro dele por baixo do prédio onde fica o apartamento de Hari. Depois do café ele se ofereceu para me levar até minha casa, eu aceitei de bom grado, ele está sendo um completo cavalheiro comigo."É uma pena que já tenhamos chegado." Ele lamenta e eu dou risada daquilo, estranhamente também queria ficar mais tempo com ele."Eu preciso ir, minha amiga deve estar morrendo de preocução de mim porque eu praticamente sumi ontem de noite.""Entendo entendo. Mas você estava comigo, ela não devia se preocupar... Você vai contar sobre mim pra ela?""Provavelmente!" Outra risada, ele me acompanha e então depois se aproxima e me beija.Dessa vez não foi um selinho, foi um beijo gostoso e cheio de desejo que eu só podia retribuir, quase que fico sem ar, estou desestabilizada."Me diga que voltarei a ver você novamente, por favor..." Ele pede quase sussurrando, seu hálito fresco inundando o meu rosto. Quero tanto beija-lo..."Você vai sim me ver de novo..
Anushka Gosto de meditar nas primeiras horas da manhã assim que acordo, então hoje não está sendo diferente. Estou diante da escultura da Parvati, a deusa-mãe, a mãe de todos os deuses e estou recitando o mantra vezes sem conta, como sempre faço. Swayamvara Parvathi, Swayamvara Parvathi, Swayamvara Parvathi, Swayamvara Parvathi... Esse mantra é como o meu nome pra mim de tanto que o conheço e recito. E não é só hoje, já faz anos que adotei Parvati como minha deusa predileta e faço votos a ela desde então, porque ela representa todas as coisas boas que sempre almejei ter: paz, amar e ser amada, um bom casamento e filhos. A deusa tem me dado forças para eu aguentar as provações que tenho passado. Eu tenho me mantido firme apesar de tudo. Nascer e crescer na família Suryavant não é tão fácil, ainda mais quando você é apenas a filha dos criados e ouve sempre isso na medida que cresce e quando cresce, se torna um dos criados da casa, legado de família. As coisas que eu vi e ouvi de mim en
Mas então, quando tudo parecia estar resolvido, uma tia distante trouxe Deva e com um alto dote que a garota oferecia, o pai ganancioso do Kabir não pôde recusar aquela oferta e meu marido se viu obrigado a se casar com aquela garota. Óbvio que eu fiquei com raiva quando ele me contou. Tudo bem, eu entendia que ele não tinha escolha, afinal o pai havia lhe intimado a casar-se com Deva senão ele seria mandado embora de casa, mas mesmo assim nada me impedia de odiar tudo aquilo. Ainda mais quando Deva era tão petulante. Aquela garota era insuportável, sinceramente. Ela chegou já destilando seu veneno em todos, ela não queria ser contrariada, era exigente e gritava com os empregados. Quando Kabir veio me procurar depois de ter consumado o casamento com Deva, eu me virei de costas pra ele."O que veio fazer aqui? Já usufruiu bastante da sua nova mulherzinha?" Falei com grosseria, estava chateada. Tinha odiado, ninguém gostaria de estar no meu lugar, de ter o homem da gente tendo que assum
Três dias se passaram desde que Nayana tinha saído de casa e Kabir não voltou ainda para Surat, ele diz estar bastante ocupado com o carregamento de mercadorias para loja de especiarias da família e que só virá resolver essas contendas domésticas assim que puder, eu sei que na verdade ele está tentando evitar aquela situação desconfortável porque mesmo que isso irá ajudar o nosso romance a se concretizar, ainda é totalmente vergonhoso saber que o próprio irmão dele foi para cama com a mulher dele, eu entendia perfeitamente o Kabir. O resto da casa continua na mesmisse de sempre sem grandes contratempos: a vovó Mahara, a velha chata como Nayana gostava de lhe chamar, ainda continua sempre sentada em sua poltrona no canto da sala próxima a janela olhando o dia lá fora enquanto balança na cadeira fumando o seu tabaco tradicional, quando fui lavar os pés dela numa tarde em específica (porque esse trabalho era direcionado aos criados ou às noras), ela, pela primeira vez em mais anos que e