5. Nayana

Ainda estamos na mesa comendo o jantar e eu estou estática depois de ter ouvido o que ela falou, até achei que ela não tinha falado aquilo. Já não estou vendo mais interesse na comida, mas sim no que ela estava falando.

"D-devolver? Pela mesma moeda..." Estou chocada. O que ela está sugerindo? Que eu traia o Shankar também? Pelo incrível que pareça ela está mesmo acentindo respondendo a minha questão trémula.

"Seria uma boa lição." Acrescenta naturalmente, solto uma risada inacreditável.

"Não acredito que você esteja sugerindo isso, Hari." Eu sabia que minha amiga é louca da cabeça, mas não até esse ponto.

"Então o que você pretende fazer? Chorar até o último dia da sua vida? Viver se lamentando por tudo isso que Shankar fez com você? O que você perderia dando um troco se ele já tirou toda a sua dignidade? Ele te manchou toda, te ridicularizou. Nem pensou em como você se sentiria, esse homem não merece nenhum respeito seu." Ela fala, fito o chão, ela está certa, não tenho argumentos pra rebater contra ela. "Você é mais do que isso, Nayana. Veja só o jeito que aquele idiota apagou sua chama! Um casamento de quase três décadas pra você flagrar ele trepando com uma menina de dezasseis anos? Não vê que você merece mais?" Limpo as lágrimas que insistiam em cair, Hari se levanta da cadeira usando uma toalha pra limpar sua mão e vem me abraçar confortavelmente. "Nay, você sabe que eu te amo demais e nunca te prejudicaria." Ela fala enquanto alisa minhas costas com carinho. "Você ainda é linda, eu consigo enxergar. Você ainda tem muita vida pela frente, não está morta. Você precisa voltar a viver sua vida, para o seu próprio bem." Me deixo chorar mais um pouco nos braços dela. Estou tão envergonhada de mim, passei toda minha vida tentando agradar os outros, eu era mesmo uma pessoa sem personalidade alguma. Talvez Hari esteja certa e eu preciso mesmo mudar... Não sei como que farei isso sendo que não conheço outra verdade que não seja àquela que Shankar passou pra mim.

Passar os dias ali na casa da Hari estava sendo bom pra mim, começava a me descobrir, as coisas que deixava apagadas dentro de mim ou deixava de lado para priorizar mais os outros. Hari não tem muito tempo livre, ela está sempre ocupada com o trabalho dela, mas sempre nas noites eu e ela conversamos sobre tudo e sobre nada: sobre a nossa infância em Surat, sobre nossos tempos de escola, sobre um programa que estava passando na TV ou apenas sobre o tempo. Já tinham se passado três dias que eu estava em Singapura e hoje Hari me levaria pra fazer compras, estou animada pra tal, não posso negar. Acho que sair um pouco pra ver caras novas me faria bem. Nas compras minha amiga me mostrou um lindo vestido vermelho e ousado e sugeriu que eu vestisse o vestido para ir até uma boate que ela conhecia onde vários caras gatos frequentavam. Então eu fiquei brava com ela por ela estar me insentivando a ir pra cama com outros homens e nós acabamos tendo uma discussão, mas naquela noite mesmo ela me pediu desculpa e estava tudo bem.

Quando acordo no dia seguinte logo depois de Hari ter saído pra trabalhar, passo o dia todo de novo no apartamento apenas deitada sem nada demais pra fazer. Minha mente me leva a me imaginar nesse tal clube do qual Hari diz conhecer, não sei porquê eu penso nisso, afinal eu já tinha decidido nunca ir pra esse lugar, eu não ia devolver a traição do Shankar com a mesma moeda, mas mesmo assim me imagino lá no meio de todos na pista de dança mexendo o corpo ao som da música pop envolvente e com mãos másculas e grandes deslizando no meu corpo... Suspiro pesada, devo admitir que faz um tempo que homem nenhum não me toca... Sou tão patética .

Acabo me adiantando e vou pra cozinha ir fazer pipocas para a noite de seriado com minha amiga, pelo menos assim não estaria pensando besteira. Algum tempo depois meu celular toca, penso que talvez seja minha filha querendo falar comigo pois ela ligava com frequência pra mim, mas me surpreendo ao ver escrito na tela 'MARIDO'. Um gosto azedo começou a subir por minha boca, franzo os lábios.

Que droga, eu não tinha mudado o nome de como tinha salvo o contato dele no celular... Mas eu não pensaria naquilo, realmente não tinha me lembrado... Solto um xingamento. Por que diabos esse homem está ligando? Tá querendo saber quem vai tratar de lavar suas cuecas? Não atendo, estou nervosa demais pra tal, meu humor mudando por completo. Deixo o celular no balcão da cozinha e pouso as mãos na minha própria cintura encarando o celular chamar, eu não vou atender. O celular fica em silêncio e eu agradeço aos deuses, porém aquela porcaria volta a tocar, por Durga! Pego o aparelho e o atendo de uma vez. 

"O que quer?" Minha voz estava bastante ríspida.

"Que você volte pra casa, imediatamente." Ele mandou compartilhando da mesma rispidez que a minha, até um tanto pior que a minha.

"Você acha mesmo que manda em mim, Shankar? Acha mesmo que tem um poder sobre mim?"

"Sempre tive desde o dia que nos casamos, ou você se esqueceu de que me pertence!?" Sinto meu corpo tremer de raiva.

"Apenas me deixa em paz!" Grito e desligo jogando o celular não sei em que canto. "Pelos deuses..." Já estou chorando horrores, aquele homem me faz tão mal, quero tanto que ele suma da minha vida, quero tanto que ele morra! Escorrego o corpo pelo balcão e abraço meus joelhos me encolhendo e chorando assim. Por que ele fez isso comigo..? Eu não era feliz do lado dele, mas também não era infeliz. Agora estou aqui sofrendo horrores... Como ele tem coragem de fazer isso comigo?

"Eu vou provar a você que eu não te pertenço, Shankar." Falo pra mim mesma, determinação emanando dos meus poros, me levanto limpando o rosto. "Acha mesmo que pode fazer comigo o que quiser, Shankar?" Fico sozinha ali o desafiando na minha mente, meu rosto afiado enquanto dou círculos pela cozinha, minha cabeça a mil muito concentrada em meus pensamentos agora. "Então quero ver o que você vai achar disso!" Vou pro meu quarto e tiro todas roupas novas que Hari comprou pra mim e começo a ver o que ia vestir. Sim, estou decidida em pagar a traição do meu marido com a mesma moeda, só me arrependo de ter deixado o vestido vermelho na loja de roupas. Quando Hari volta pra casa naquela tarde ela encontra que eu não tinha feito as pipocas nem nada, ela chama por mim, estou no quarto ainda tentando ver qual roupa vestir.

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