7. Nayana

"Você está bem, moça? É perigoso andar sozinha por essas ruas a noite." Ele fala em hindu ao se aproximar, pude perceber pelos traços que ele também é indiano, mas aquilo não quer dizer que eu confiaria nele só por ele ser do mesmo pais que o meu, o bom era que eu podia me comunicar facilmente com ele já que falamos o mesmo idioma. Fungo o nariz e respondo.

"Tá tudo bem, eu vou pegar um metrô e ir pra casa."

"Eu estou de carro. Se você quiser te levo até sua casa, pra sua segurança." É cortez da parte dele, mas eu rio o ridicularizando.

"Eu não vou mostrar a um estranho onde moro, essa seria a coisa mais idiota a se fazer, Are baba!" Ele ri da minha expressão, mas concorda.

"Você tem razão, mas venha. Posso te levar até pelo menos no ponto do metrô, ainda fica há umas boas quadras daqui e seu sapato não está lá te ajudando." Olho pros meus saltos altos que Hari tinha insistido para que eu os usasse. "Você já tem estatura baixa, então tem que usar um salto mais alto pra dar uma equilibrada." Ela tinha dito me convencendo a usar os saltos, só que agora olhando pra eles eu sei que meus pés iam doer por andar uma grande distância... Pondero o convite do rapaz por um momento, bom ele tinha me ajudado com o estuprador no beco, mas será que eu devo confiar nele..? Suspiro, o que mais de errado pode acontecer comigo? Então aceito e vou com ele até o carro dele, ele é gentil quando abre a porta do carro dele pra mim e acabo notando que em seu rosto havia um machucado, provavelmente por causa da briga com o cara no beco do clube. Então me lembro que não tinha o agradecido. Ele deve estar achando que sou uma louca, toda vestida de vermelho estando quase pra ser estuprada num beco escuro e duvidoso. 'O que deu errado na vida dela afinal?' ele deve estar a pensar 'pra ter que estar nessas condições em que está hoje..'. Estou morrendo de vergonha de mim mesma, meu rosto deve estar sujo com o rímel. Será que ele acha que eu não tenho pra onde ir e que sou moradora de rua? Mordisquei os meus lábios de leve e me resignei, preciso agradecer a este homem por ter me salvo do perigo agora a pouco lá no beco.

"Obrigada por me ter ajudado..." Falo baixinho enquanto ele já guiava calmamente o carro dele, ele sorri.

"Não se preocupa, não foi nada."

"Mas você se machucou pra me defender..."

"Fiz o que precisava ser feito." Acinto quietinha, não sei como lidar com esse tipo de pessoas. Único homem que eu conheci em toda minha vida foi Shankar e ele não é lá um exemplo de cavalheirismo e proteção...

"Mas eu preciso retribui-lo de algum modo, senhor..." Chamá-lo de senhor foi arriscado porque ele aparenta ser bem jovem, na casa dos 20 talvez, mas eu não o conhecia e ele tinha sido tão cavalheiro comigo que está merecendo o meu respeito, ele deu uma risada.

"É Radesh, pode me chamar assim." Apresenta-se 'Totalmente indiano...' Penso comigo mesma. "Você pode me retribuir dizendo como se chama." Está sorrindo pra mim, por acaso ele tem um belo sorriso, devo reconhecer...

"Nayana, meu nome é Nayana." Falo embora minha voz ter saído entrecortada por minha respiração, não paro de olhar para as mãos dele que estão sob o volante.

"Nayana é um lindo nome." Ele elogia. "Que pertence a uma linda mulher também, por acaso." Nessa última ele estava olhando pra mim quando falou, sorrio um tanto constrangida. Não recebia muitos elogios e quando recebia os poucos ficava toda felizinha.

"Obrigada." Agradeço ao elogio.

"Você não está acostumada com Singapura, não é mesmo!?" Fala olhando a estrada, ele está tentando me fazer descontrair. "Nem eu, na verdade. Embora eu já tenha vindo mais vezes pra cá. Este lugar é como se fosse um segundo lar pra mim, mas não consigo me acostumar realmente"

"A cidade é vasta demais, leva um tempo pra conhecer toda ela."

"Verdade." Fico olhando pra estrada enquanto ele dirige, consigo perceber que pelo jeito como ele segura o volante do carro as mãos dele são fortes, por um segundo minha mente escorrega para o inevitável, imagino aquelas mãos segurando em minha cintura... Agradeço que é de noite assim o meu ajudador não pode ver o meu constrangimento. 

"Bom, chegamos." Ele fala estacionando o carro no canto da estrada. "Lá mais pra frente fica a estação de metrô" Ele aponta pra uma fila de táxis que se estende pela berma da estrada próximo ao lugar onde ele estacionou a viatura dele. "É só chegar e pegar um." Ele ainda está sorrindo gentilmente pra mim, aquilo está sinalizado o fim da minha noite. Quer dizer, vou pegar o metrô e ir pra casa dormir. Nada na minha vida teria mudado, só teria mais frustração, seria uma covarde... Fico um tanto desapontada comigo mesma, então a minha noite iria terminar assim? Um fracasso? E se eu tentar mais uma vez? Só que dessa vez com esse cavalheiro que está bem aqui do meu lado? Ele e bonito, atraente, um cavalheiro e não tem nem um anel de compromisso no dedo anelar ou um bindi no meio da testa para sinalizar que é comprometido, além do mais eu não tinha certeza se voltaria a ter coragem de ir pra cama com outro homem na minha vida e eu tinha ficado interessada nesse meu ajudador... Que mal poderia acontecer? Provavelmente eu nunca mais o veria na minha vida depois daquela noite, decidida e coberta de uma coragem que surgiu de dentro de mim inesperadamente, desprendo o cinto de segurança do carro que estava preso no meu corpo e impulsiono meu corpo até o dele e junto os meus lábios nos dele em um beijo. Não me permito pensar que nunca tinha sido tão ousada até aquele ponto, nunca tinha sido eu a começar o beijo, mas dessa vez está sendo diferente.

O meu ajudador está surpreso pelo meu ato repentino, mas eu não dou espaço pra dúvidas e passo os braços pelos seus ombros me aproximando mais no intuito de aprofundar o beijo, ele abre a boca para me retribuir e cobre suas mãos em minha cintura e sim, mãos fortes, posso sentir. O beijo foi um tanto desajeitado por causa da posição no carro, mas foi suficientemente profundo pra eu ter uma ideia de que ele beija bem, quando me afastei voltando a me sentar corretamente, eu disse.

"Quero que minha noite termine de uma forma especial..." Tem muita sugestão em minhas palavras para que ele pudesse perceber da maneira como eu quero que ele perceba, e ele entende do que eu estou falando, óbvio que entende. Está acentindo com um sorriso.

"Conheço um lugar." Então volta a ligar o carro dando partida, dou um meio sorriso pra mim mesma. Pelo menos aquilo valeria pra alguma coisa. Ele me leva pra um hotel chamado Marina Sands Bay Hotel que era de longe o melhor hotel de Singapura, dá pra perceber que além de cortez, o meu ajudador também é rico. Mas se torna difícil achar alguém pobre morando ali em Singapura, o país está muito a frente do seu tempo.

"Você mora aqui?" Pergunto depois dele estacionar o carro e me levar pro elevador. Ele tem um braço em volta da minha cintura apertando de leve, parece ansioso também assim como estou. Será que ele também não está acostumado com essa ousadia? Quer dizer, a gente nem se conhece e já está indo pra um quarto de hotel juntos e olha que eu nem estou bêbada para amanhã poder culpar a bebida. Ele dá um sorriso fraquinho e responde a minha questão, só que com outra questão por cima.

"Gostaria de morar num lugar como esse?" Não sei como, mas ele está conseguindo me seduzir apenas com a sua voz, seu rosto está perto do meu, seus lábios carnudos e rosados estão tentadoramente há poucos centímetros do meu. Seu hálito fresco e quente está soprando na pele do meu rosto. Quase beijo ele ele ali mesmo, mas me controlo. Afinal o país tem regras rígidas do que se deve ou não fazer em lugares públicos. Inclusive em elevadores. Então decidi me ater pois não quero ir presa e ainda por cima sair nos noticiários como a mulher infiel que foi presa por fazer sexo com homem no elevador de hotel.

"Todo dia seria uma aventura diferente..." Respondo misteriosamente também, decido aguardar a gente chegar no quarto para eu poder fazer tudo o que tenho vontade de fazer com ele.

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