O apartamento da Hari fica num dos prédios sofisticados da cidade, só pela visão do prédio já dá pra ver que minha amiga está se dando muito bem em Singapura. Subimos até o andar onde o apartamento dela ficava, nunca estive num lugar tão moderno e sofisticado como aquele, a decoração era toda arrojada, tinha um sofá preto longo no meio da sala, uma TV gigantesca na parede da sala, a cozinha inglesa dava para sala. O lugar não era tão grande como a casa dos Suryavant, mas com certeza era tão cara quanto, até mais cara do que a casa deles, me atrevo a pensar.
"Wau! Sua casa é linda." Exclamo olhando surpresa para o lugar, então é desse jeito que Hari vive. Ela é uma mulher bem resolvida por completo, tenho orgulho da minha melhor amiga. Ela tinha passado por tanta coisa nessa vida que tudo isso ela está conseguindo alcançar é muito mais do que merecido para ela, queria eu ver a cara da família dela que um dia a desprezou por ela simplesmente ser mulher, queria ver como seria a cara deles agora que ela está lá no topo e eles ainda continuam na mesma miséria morando naquela cidadela indiana. Minha amiga está na melhor época da sua vida agora e eu estou orgulhosa de poder sentir o seu brilho. Ela me apresentou o lugar e ficamos de conversa a noite inteira.
Quando no dia seguinte Hari foi pro trabalho, eu fico ali sem muito o que fazer então decido ver um pouco de televisão, ligo a TV e vejo que a maioria dos canais estavam em mandarim ou em inglês, mas consigo achar alguns em hindu. Esse específico está passando uma novela em que os protagonistas estão se casando tradicionalmente, as vestes da noiva eram tão bonitas, estava tudo tão lindo. Minha mente me trai e me vejo lembrando do meu casamento, alguns vislumbres apenas porque tinha sido a muito tempo, mas não era por isso que eu não me lembrava da sensação nervosa que me cobria, a espectativa do que poderia acontecer depois, de estar casada e feliz ao lado do meu marido... Doce enganação, tudo aquilo foi um engano. Eu não fui feliz no meu casamento, aquilo só tinha servido pra apagar minha chama, e tudo pra nada, já que descobri recentemente que Shankar me traía impiedosamente. Se eu não tivesse me casado levaria uma vida similar a da Hari hoje, seria independente, bela e forte e quem sabe minha loja de especiarias, que fazia parte do meu sonho, não seria aclamada... Limpo as lágrimas que insistem em cair e desligo a TV, aquela novela não estava ajudando no meu estado psicológico. Decido ficar na cama dormindo mesmo, me deito ali me cobrindo toda numa posição fetal, aquele sentimento de querer muito me vingar de Shankar sempre lá. O que eu sou? Apenas uma boneca sem vida e sem personalidade? Meu celular toca, é minha filha me ligando. Me recomponho e a atendo.
"Mamadi... Liguei pro papa e ele me contou que você saiu de casa... Mãe, eu sinto muito por isso tudo." Ela parecia estar bem emotiva, sofro um pouco mais por ela também. Não quero que minha filha fique se preocupando com essas coisas, aquilo pode lhe tirar a concentração na faculdade.
"Tá tudo bem, djan. Eu só preciso de um tempo, ainda está muito recente." Explico também emotiva.
"Claro que sim, mãe. Você tem dinheiro pra se cuidar? Eu tenho trabalhado no tempo vago então tenho algum dinheiro guardado, se você quiser eu te mando algum." Ela oferece solidária e preocupada comigo.
"Não não, filha. Não se preocupe, estou aqui na casa da Hari em Singapura, ela parece ser rica, você acredita?" Rio para descontrair e passar segurança na minha filha. "Ela tem cuidado de mim." Explico e ouço ela suspirando de alívio.
"Isso é bom." Ficamos conversando por mais um tempo até que ela teve que ir porque teria uma aula importante, então quando ela desliga, o sentimento de vazio volta dentro de mim. Suspiro triste tentando não chorar mais. Decido fazer algo de útil pra espantar a tristeza, me levanto da cama e começo a organizar a casa da minha amiga, sou uma mulher tão caseira que as tarefas domésticas já estão servindo como terapia pra mim, afinal, passei a minha vida inteira seguindo uma rotina constante na casa dos Suryavant. Era preciso varrer aqui, limpar ali, lavar isto e aquilo e preparar aquele prato de comida... Era tanta coisa que a gente acaba se acostumando com aquela vida. E parece que estou certa porque ter passado toda tarde atarefada nesse apartamento fez bem pra mim, pelo menos me fez esquecer do meu dilema marital! Hari volta pra casa por volta das 6h da tarde, eu tinha resolvido me ocupar fazendo um jantar pra mim e pra ela.
"Oh, Nay. Desculpe, prometi levar você pra passear hoje mas fiquei atolada de trabalho. Eram muitas modelos para atender." Ela explica vindo até mim me dando um abraço confortável. Dou alguma risada com a preocupação dela por mim.
"Relaxa, tá tudo bem. Eu fiz o jantar pra gente." Aponto pra mesa toda arrumadinha. Ela puxa o ar toda surpresa encarando a mesa arrumada, o ar impregnado pelo aroma de vindaloo que preparei.
"Eba, comida!" Vai logo lavar as mãos, mas volta com uma garrafa de vinho. "Não há melhor coisa que acompanhar esse momento com um vinho." Fala se sentando com um sorriso bobo, eu tinha dado um jeito de cozinhar algo tradicional hindu usando a despensa dela mesmo, fiz um prato típico de tofu-vindaloo com a carne de porco que ela tinha no freezer aquela comida é bem popular na região onde nascemos, talvez por isso que ela está tão radiante, saudades de casa falando alto. Posso perceber.
"Você está certa!" Me sento também já que já tinha lavado as mãos e como tradicionalmente comemos a mão, não fizemos diferente. "Você sente saudades de casa, não é mesmo?" A pergunto numa dada altura do jantar.
"Bom, eu gosto da vida que levo aqui, mas sim. Não tem como não sentir saudades de Índia." Sorri, em seus olhos fagulhas de nolstagia dançando ali.
"Você deveria voltar pra lá uma vez, sabe. Pra ver sua família, seus sobrinhos. Você sabe que o seu pai não se encontra mais vivo." Ela suspira e bebe o seu vinho.
"Quem sabe um dia." Sorri pra descontrair. "E quanto a você? O que pretende fazer com relação a essa história toda do Shankar? Vai apenas deixar barato?" Abano levemente a cabeça triste.
"Eu não sei o que fazer..." Falo sendo sincera. Eu queria na verdade era recuperar o tempo que perdi estando do lado do Shankar, mas aquilo era impossível, então pensar naquilo me deixava com frustração e raiva. O que seria de mim daqui há dez anos? Eu não tinha mais nenhuma expectativa, Shankar tinha tirado tudo de mim, ele tirou de mim a minha vida.
"Bom, se você perguntar o que acho. Eu diria que você deve devolver pela mesma moeda." Hari fala assim como quem não quer nada enquanto comia seu vindaloo picante.
Ainda estamos na mesa comendo o jantar e eu estou estática depois de ter ouvido o que ela falou, até achei que ela não tinha falado aquilo. Já não estou vendo mais interesse na comida, mas sim no que ela estava falando."D-devolver? Pela mesma moeda..." Estou chocada. O que ela está sugerindo? Que eu traia o Shankar também? Pelo incrível que pareça ela está mesmo acentindo respondendo a minha questão trémula."Seria uma boa lição." Acrescenta naturalmente, solto uma risada inacreditável."Não acredito que você esteja sugerindo isso, Hari." Eu sabia que minha amiga é louca da cabeça, mas não até esse ponto."Então o que você pretende fazer? Chorar até o último dia da sua vida? Viver se lamentando por tudo isso que Shankar fez com você? O que você perderia dando um troco se ele já tirou toda a sua dignidade? Ele te manchou toda, te ridicularizou. Nem pensou em como você se sentiria, esse homem não merece nenhum respeito seu." Ela fala, fito o chão, ela está certa, não tenho argumentos p
Quando saio do quarto toda arrumada e confiante, Hari até mexeu os ombros de tão radiante que estou, descemos logo e fomos pro carro dela, já é quase 10h da noite, a gente pretendia voltar tarde pra casa naquela noite. Ela ficou o caminho todo me dando dicas de como me portar quando um homem chamar minha atenção e eu quere-lo. Me sinto igual uma adolescente na primeira noitada que vai com uma amiga experiente, odiava a falta de experiência em mim, mas eu não tinha culpa, tinha me casado com 15 anos, tudo o que eu tenho de experiência aprendi com Shankar que não foi lá um bom professor. No sexo, ele não se importava se eu estava gostando ou não, desde que ele estivesse gostando e gozando, estava tudo bem pra ele... Quando chegamos no tal clube havia uma grande fila na entrada do lugar com muita gente querendo entrar, fico cabisbaixa."Ai, amiga. Acho que a gente não vai conseguir entrar aí não." Falo com um biquinho nos lábios, mas Hari ri de mim."Calma. Está comigo, está com Deus." E
"Você está bem, moça? É perigoso andar sozinha por essas ruas a noite." Ele fala em hindu ao se aproximar, pude perceber pelos traços que ele também é indiano, mas aquilo não quer dizer que eu confiaria nele só por ele ser do mesmo pais que o meu, o bom era que eu podia me comunicar facilmente com ele já que falamos o mesmo idioma. Fungo o nariz e respondo."Tá tudo bem, eu vou pegar um metrô e ir pra casa.""Eu estou de carro. Se você quiser te levo até sua casa, pra sua segurança." É cortez da parte dele, mas eu rio o ridicularizando."Eu não vou mostrar a um estranho onde moro, essa seria a coisa mais idiota a se fazer, Are baba!" Ele ri da minha expressão, mas concorda."Você tem razão, mas venha. Posso te levar até pelo menos no ponto do metrô, ainda fica há umas boas quadras daqui e seu sapato não está lá te ajudando." Olho pros meus saltos altos que Hari tinha insistido para que eu os usasse. "Você já tem estatura baixa, então tem que usar um salto mais alto pra dar uma equilib
Não tenho nenhum compromisso com esse homem, não o conheço e não tenho interesse em conhecê-lo. Dessa vez eu vou fazer tudo que Shankar nunca me permitiu fazer na cama, Shankar queria que eu fosse totalmente submissa, que ele estivesse encima de mim metendo enquanto eu apenas estou lá no silêncio esperando ele chegar no seu ápice. Era ele quem se satisfazia sempre, não eu. Mas dessa vez será diferente, a satisfação será minha, ainda mais com este homem que sabe me pegar bem. A forma como ele está me prendendo na parede do quarto do hotel enquanto me beija com vontade, me faz ficar toda molinha por ele, embora não me conhecendo, ele tem tempo pra me apreciar, apreciar meu corpo, apreciar meu rosto, ele tem tempo de dizer o quanto sou linda e atraente, o quanto está completamente rendido por mim. Gosto de quando ele dá atenção extra aos meus seios e admite que eu explore o corpo dele também, as nossas respirações são pesadas um respirando no outro, nossas roupas a muito jogadas em qualq
"Desculpe, não quis te assustar." Abano a cabeça num gesto que indicava que está tudo bem. Não acredito que ainda estou aqui parada arredando, era pra eu ter saído correndo desse maldito quarto, por Shiva! Mas ele tem uma expressão tão fofa quando acorda... Que saco... Ele se senta na cama e coça os olhos, o lençol caindo da sua barriga parando em seu baixo ventre, viro o rosto na hora me sentindo corada. Ele tinha um majestoso corpo, por Krishna..."Bom, eu realmente preciso ir... Já estava de saída!" Falo pegando minha bolsa tentando mascarar meu embaraço. Se não saio agora então nunca mais saio. Meu medo é eu ter um leve surto e ir sentar no colo dele bem manhosa pedindo por carinho e outras coisas... A culpa não é minha... Aquele corpinho dele e seu jeitinho me fazem acelerar de uma hora pra outra."Mas já? Você já vai? Sem tomar um café?" Ele questiona. Sério que ele está me oferecendo um café..? Oh, Deuses. Porquê esse sofrimento? Fecho os olhos por um momento tentando me recomp
NayanaMomentos depois, Radesh estaciona o carro dele por baixo do prédio onde fica o apartamento de Hari. Depois do café ele se ofereceu para me levar até minha casa, eu aceitei de bom grado, ele está sendo um completo cavalheiro comigo."É uma pena que já tenhamos chegado." Ele lamenta e eu dou risada daquilo, estranhamente também queria ficar mais tempo com ele."Eu preciso ir, minha amiga deve estar morrendo de preocução de mim porque eu praticamente sumi ontem de noite.""Entendo entendo. Mas você estava comigo, ela não devia se preocupar... Você vai contar sobre mim pra ela?""Provavelmente!" Outra risada, ele me acompanha e então depois se aproxima e me beija.Dessa vez não foi um selinho, foi um beijo gostoso e cheio de desejo que eu só podia retribuir, quase que fico sem ar, estou desestabilizada."Me diga que voltarei a ver você novamente, por favor..." Ele pede quase sussurrando, seu hálito fresco inundando o meu rosto. Quero tanto beija-lo..."Você vai sim me ver de novo..
Anushka Gosto de meditar nas primeiras horas da manhã assim que acordo, então hoje não está sendo diferente. Estou diante da escultura da Parvati, a deusa-mãe, a mãe de todos os deuses e estou recitando o mantra vezes sem conta, como sempre faço. Swayamvara Parvathi, Swayamvara Parvathi, Swayamvara Parvathi, Swayamvara Parvathi... Esse mantra é como o meu nome pra mim de tanto que o conheço e recito. E não é só hoje, já faz anos que adotei Parvati como minha deusa predileta e faço votos a ela desde então, porque ela representa todas as coisas boas que sempre almejei ter: paz, amar e ser amada, um bom casamento e filhos. A deusa tem me dado forças para eu aguentar as provações que tenho passado. Eu tenho me mantido firme apesar de tudo. Nascer e crescer na família Suryavant não é tão fácil, ainda mais quando você é apenas a filha dos criados e ouve sempre isso na medida que cresce e quando cresce, se torna um dos criados da casa, legado de família. As coisas que eu vi e ouvi de mim en
Mas então, quando tudo parecia estar resolvido, uma tia distante trouxe Deva e com um alto dote que a garota oferecia, o pai ganancioso do Kabir não pôde recusar aquela oferta e meu marido se viu obrigado a se casar com aquela garota. Óbvio que eu fiquei com raiva quando ele me contou. Tudo bem, eu entendia que ele não tinha escolha, afinal o pai havia lhe intimado a casar-se com Deva senão ele seria mandado embora de casa, mas mesmo assim nada me impedia de odiar tudo aquilo. Ainda mais quando Deva era tão petulante. Aquela garota era insuportável, sinceramente. Ela chegou já destilando seu veneno em todos, ela não queria ser contrariada, era exigente e gritava com os empregados. Quando Kabir veio me procurar depois de ter consumado o casamento com Deva, eu me virei de costas pra ele."O que veio fazer aqui? Já usufruiu bastante da sua nova mulherzinha?" Falei com grosseria, estava chateada. Tinha odiado, ninguém gostaria de estar no meu lugar, de ter o homem da gente tendo que assum