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Capítulo 03 - Adeus, luxo

Minhas malas estavam prontas, espalhadas no meio do meu apartamento, enquanto meus pais olhavam horrorizados para elas. Pareciam duas estátuas de sal, paralisadas diante do caos que se instaurou na sala de estar.

Vocês vão ficar aí parados, ou vão me ajudar a levar isso pro carro? pergunto, sorrindo.

Meus pais eram diplomatas, nascidos e criados em berço de ouro, assim como eu. Então não os julgo por estarem malucos com a ideia de eu me mudar sozinha para o interior. Afinal, qual filha de embaixador, sã, trocaria um apartamento de luxo em São Paulo por uma casa no meio do mato?

Ela ficou maluca de vez, Carlos  mamãe fala para meu pai, com a voz embargada Primeiro compra uma casa caindo aos pedaços, depois me pede para carregar malas usando um salto!

Entendo, Diana, também estou preocupado. Será que ela bateu a cabeça?  papai responde, com um olhar preocupado.

Bufo, irritada. Sério que eles achavam que eu tinha enlouquecido? Eu estava apenas buscando a felicidade, e eles estavam agindo como se eu estivesse cometendo um crime.

Eu estou perfeitamente sã, obrigada digo, com um tom de voz sarcástico. E não, eu não bati a cabeça. Apenas decidi que quero mudar de vida. Que quero fazer algo diferente. Que quero ser feliz.

Mamãe suspira, pegando uma das malas com cuidado, como se fosse um artefato raro. 

Mas, querida, você já tem tudo! Dinheiro, conforto, segurança... Por que jogar tudo isso fora?

Porque isso não me faz feliz!  respondo, com veemência Eu quero mais do que isso. Quero ter um propósito, quero me sentir útil, quero fazer a diferença no mundo.

Papai se aproxima, colocando a mão no meu ombro. 

Filha, nós só queremos o seu bem. Não queremos que você se machuque. A vida no campo é difícil, solitária... Você não vai se arrepender?

Eu não sei, pai respondo, com sinceridadeMas preciso tentar. Preciso descobrir o que me faz feliz. E se eu me arrepender, sempre posso voltar.

Pego outra mala e sigo em direção à porta. 

Agora, por favor, me ajudem a levar essas coisas para o carro. 

Meus pais me seguem em silêncio, carregando as malas com dificuldade. No fundo, eu sabia que eles estavam preocupados comigo. Mas também sabia que precisava seguir meu próprio caminho. Mesmo que esse caminho me levasse para o meio do mato, longe do conforto e da segurança do meu mundo de luxo.

Neném, você sabe que lá não tem shopping, né?  mamãe insiste, enquanto entramos no elevador.

Tem um mini shopping com várias lojinhas locais, eu pesquisei  respondo, revirando os olhos.

E salão de beleza? Como você vai cuidar disso?  ela continua, claramente preocupada com a minha sanidade.

Me olho no espelho do elevador. Os fios loiros caem em cascata pelos meus ombros, olhos azuis contornados por um delineado de gatinho, o rosto coberto por sardas. Sim, eu era uma pessoa muito vaidosa. Sentiria falta das minhas idas regulares ao melhor salão de São Paulo.

Vou sobreviver, mamãe  digo, com um sorriso forçado.

A verdade é que eu não fazia ideia de como ia lidar com a falta de salão de beleza. Talvez aprendesse a hidratar o cabelo sozinha, ou quem sabe encontrasse uma cabeleireira talentosa na cidadezinha. De qualquer forma, não ia deixar que a falta de glamour me impedisse de seguir em frente com a minha aventura.

As cidades do interior oferecem mais tranquilidade e um estilo de vida mais calmo, longe da agitação das grandes cidades. A vida no interior pode proporcionar mais tempo com a família e oportunidades para praticar hobbies. Apesar de algumas pessoas considerarem que o interior tem menos opções de lazer e comércio, é possível explorar a criatividade e encontrar novidades, valorizando o que é típico da cidade.

E os seus amigos? Você vai ficar longe de todo mundo  meu pai pergunta, com um tom de voz melancólico.

Eu vou fazer novos amigos, pai respondo, tentando soar otimista. E vocês podem me visitar sempre que quiserem. Quem sabe vocês não se apaixonam pela vida no campo também?

Meus pais trocam um olhar cético, mas não dizem nada. Sabia que seria difícil convencê-los de que estava tomando a decisão certa. Mas, no fundo, eu acreditava que estava fazendo o que era melhor para mim.

As portas do elevador se abrem e saímos para o estacionamento do prédio. Marta já está me esperando ao lado do carro cheio de malas. Dou um último abraço apertado nos meus pais e em Marta, prometendo ligar assim que chegar em Minas Gerais.

Enquanto o carro se afasta, vejo meus pais acenando no espelho retrovisor. Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto. Ia sentir falta deles, da minha casa, da minha vida antiga. Mas também sentia uma alegria imensa por estar prestes a começar uma nova história. Uma história que seria escrita por mim, com meus próprios erros e acertos. E, no final das contas, era isso que importava.

A forma como eu espero me adaptar à vida no interior? Bem, eu estou buscando um propósito, sabe? Algo que me faça sentir útil, que me mostre que estou contribuindo para o mundo de alguma forma, em vez de só comprar sapatos de grife e ir ao salão. Preciso mergulhar no mundo real e estou disposta a aprender o que for preciso. Se isso significa pegar em uma furadeira e aprender a reformar a casa, que seja! Quero me desafiar, encontrar um lugar onde eu me encaixe e que me faça feliz.

Para mim, essa mudança toda é uma chance de recomeçar, de achar aquela felicidade que tanto falam que existe. Quero transformar essa minha vida sem graça em algo... extraordinário!

Sei que vai ser um choque no começo. Lidar com mosquitos, acordar com o canto do galo, aprender a lidar com a vida no campo... Mas estou aberta a tudo isso. E, claro, tenho a Martinha comigo, mesmo que de longe. Saber que tenho o apoio dela me dá forças para seguir em frente.

No fundo, sinto que preciso tomar as rédeas do meu destino. Cansei de viver em uma redoma de cristal, onde todos me dizem o que fazer, como agir, o que vestir. Preciso questionar, usar a minha cabeça, descobrir o que realmente me faz feliz. E é por isso que estou fazendo isso, para me libertar das correntes e buscar a minha verdade.

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