Ao olhar para Kassiani e ver seu olhar caído de tristeza, Lucie lembrou-se do motivo pelo qual ela estava tão abatida. Por isso, respondeu:
— Você tem razão, Kassiani. Eu estava realmente sonhando com minha mãe. Acredito que ontem chorei e desejei tanto a orientação dela que acabei tendo um sonho com ela. — E o que você sonhou com sua mãe? — perguntou Kassiani, enquanto abria a janela do quarto para que o sol e o ar fresco da manhã pudessem entrar. Afinal, ela sabia melhor do que ninguém o quanto Lucie precisava daquilo para começar bem o dia. Era como se todo o seu ser estivesse conectado com a natureza. Kassiani a encarou pensativa, e Lucie respondeu: — O sonho foi um pouco louco. Eu não sonhei com minha mãe; na verdade, sonhei que eu era ela. — Como assim, meu anjo? — perguntou Kassiani, intrigada. — É... bem, é muito complicado de explicar. Depois eu te conto com mais calma, pois agora preciso me arrumar e ir para a universidade. — Lucie desconversou, pois realmente não se sentia preparada para contar o sonho a ninguém. — Tem certeza de que precisa ir hoje, anjo? — perguntou Kassiani, preocupada. — Acredite, Kassiani, é melhor assim. Dessa forma, ficarei com a cabeça menos cheia até que chegue o dia do meu... do meu... bem, você sabe! — explicou Lucie, de forma apreensiva. Kassiani, nervosa, comentou enquanto sentava na cama e pegava as mãos de Lucie: — Sim, mas ainda acredito que dê tempo de você e seu pai fugirem do país, meu anjo! — *Par Dieu* (Por Deus), Kassiani! Você realmente acha que nunca cogitei essa possibilidade? Porém, você sabe melhor do que ninguém que, mesmo que eu tente fugir, jamais conseguirei! — respondeu Lucie, totalmente aflita. Kassiani, encarando-a, segurou as suas mãos com ainda mais firmeza, e falou: — Desculpe, *chérie*. Sei que você tem razão. Afinal, já percebi o quanto esse homem é perigoso. Ontem mesmo, ele colocou vários homens para vigiar nossa casa. Acredito que seja para ter certeza de que você não fugirá! — Pois é, Kassiani. Além disso, já dei minha palavra. E, embora ele seja um mafioso sem honra, eu não sou. Irei até o fim com minha palavra. — Kassiani baixou a cabeça e, chorando, falou: — O problema, querida, é saber até onde será esse fim! — Lucie então a abraçou, pois sabia o quanto Kassiani sofria por ela, como se fosse sua própria mãe. Por isso, lhe disse: — Não sei, querida, mas terei que descobrir por mim mesma. — Tenho tanto medo por você, minha querida. Eu... — Pss... Não vamos mais falar sobre isso agora, tá? Tente se acalmar, certo? — falou Lucie, de forma consoladora. Kassiani enxugou os olhos e, aborrecida, disse: — Droga, Lucie! Eu é quem deveria estar te consolando, e não o contrário. Mas, como sempre, você é quem está fazendo isso. Afinal, essa é a sua natureza: sempre a garota que ajuda a todos, que conserta tudo. Isso é sempre mais forte que você, não é? Lucie sorriu ao lembrar que Kassiani sempre falava aquilo. Ela a chamava de "anjo do conserto", pois, segundo ela, Lucie estava sempre querendo consertar tudo e todos. Kassiani continuou: — É maravilhosa essa sua natureza bondosa, meu anjo. Porém, é exatamente por isso que você está nessa terrível situação agora! E o pior é ter que ver você indo morar com esse homem, como se estivesse indo para a forca, e eu não poder fazer nada! Sinto-me tão impotente. E, me desculpe, *chérie*, mas você não faz ideia de quanto estou odiando seu pai por isso! — Kassiani, eu... — Não, querida, nem tente defender seu pai aqui. Por favor, esqueça. Comigo, isso não vai colar. Agora, tome seu banho e desça. Vou te fazer um café reforçado! — Ai, Kassiani! Hoje realmente não tenho ânimo para comer nada. — Nem pense que deixarei a senhorita sair daqui sem se alimentar! Você precisa comer, meu anjinho. Afinal, precisará estar forte para enfrentar essa situação de cabeça erguida! Lucie apenas acenou com a cabeça, pois sabia que Kassiani estava certa. Ela precisava ter forças para enfrentar seu destino. Afinal, agora sabia que não tinha mais escolha. Aquele realmente seria seu destino: casar-se com alguém que não amava, ou melhor, que nem conhecia. Lucie jamais esperara passar por algo assim. Porém, precisava fazer aquilo para salvar a vida do pai. Ela levantou da cama e olhou para fora, lembrando como tudo aconteceu. Foi no domingo passado, enquanto ela estava olhando por essa mesma janela, preocupada com ele. Naquela noite, percebeu algo que a deixou bastante intrigada. O clima parecia refletir seus próprios sentimentos internos, pois era uma daquelas noites tenebrosas. Um forte vento soprava lá fora, nuvens carregadas cobriam o céu, e raios já podiam ser vistos cortando a escuridão. Naquele momento, tudo o que ela queria era ir atrás dele. Porém, dessa vez, ele conseguira fugir de sua vigilância. Ela não fazia ideia de onde ele estava, embora soubesse que provavelmente estava em algum cassino, bêbado e gastando o que já nem possuíam mais. Sim, pois, por conta de seus vícios, agora eles estavam totalmente falidos. Se ainda tinham algo para comer, era porque ela trabalhava como garçonete em uma cafeteria próxima de casa, chamada Las Delícias, onde os donos eram gentis e pagavam bem. Ela olhou para o relógio e viu que já passava das três da manhã. A chuva agora caía pesada lá fora. Tentou dormir, mas não conseguiu. Estava muito preocupada com o pai. Quando finalmente ele chegou, ela ouviu seus passos pesados no hall de entrada. Correu para lá e o encontrou totalmente molhado pela chuva. Ele a abraçou, chorando, e pediu desculpas: — Por favor, filha, me perdoe. Juro que não queria fazer isso. Eu juro! — Como assim, papai? Desculpa pelo quê? — O pai sempre se metia em situações complicadas por causa de seus vícios, mas o que ele fez agora deixou Lucie totalmente apreensiva. Por mais que estivesse aborrecida e magoada com ele, Lucie nunca o abandonaria à própria sorte. Amava o pai e jamais deixaria que alguém lhe fizesse mal. Além disso, não poderia culpá-lo totalmente pelo que fez. Ela ainda se lembrava de que, há algum tempo, Adrien Chevalier era a definição da palavra felicidade. Lucie poderia jurar que não existia na Terra homem mais feliz do que ele. Porém, depois que perdeu a mãe, ele enlouqueceu completamente. Foi como se jamais tivesse conseguido superar sua morte. Então, encontrou na bebida e nos jogos de azar uma espécie de válvula de escape para sua dor. Depositou seu luto e sua depressão nesses jogos, gastando não só sua fortuna, mas também o que a mãe lhe deixara. E, hoje, para salvá-lo, Lucie precisaria se casar com o filho do homem que ganhou sua liberdade em uma rodada de pôquer: o mafioso mais famoso de Paris, Maxime Durand. Ele foi avisado de que, se não cumprisse a promessa que fez, Maxime não teria problemas em eliminá-lo. E todos sabiam que, quando esse homem falava, cumpria. Afinal, para ele, não havia meio-termo. Maxime desconhecia totalmente o significado da palavra empatia. Fazer negócios com ele era o mesmo que fazer negócios com o próprio Diabo. E o que mais aborrecia Lucie era saber que o que chamou a atenção de todos naquela noite, durante a aposta do pai, foi sua m*****a aparência exótica, que ela odiava e que sempre chamava a atenção dos homens. Sim, sua aparência foi um grande chamariz quando o pai, bêbado e completamente falido, disse que ainda tinha algo a apostar naquela m*****a mesa de pôquer. Apesar de ser francesa, Lucie não tinha cabelos escuros, como costumam ser os de uma francesa. Na verdade, seus cabelos eram loiros platinados, quase brancos. Ela era *mignon*, de forma curvilínea, com olhos azul-violeta em formato amendoado e um belo nariz aristocrático, o que lhe dava uma aparência etérea. Seu pai e Kassiani costumavam dizer que ela parecia um anjo. Porém, Lucie sabia que não era como um anjo que os homens a olhavam. Às vezes, ela percebia seus olhares maliciosos e luxuriosos pesando sobre ela.Lucie ainda lembrava o que seu pai contou que, naquele momento, nenhum dos homens ali no cassino estava mais interessado nele. Porém, quando ele mostrou a todos a foto dela, o apetite luxurioso deles foi imediatamente despertado. Sim, para aqueles homens pervertidos, ela se tornou uma excelente aposta. E, sem ao menos saber, foi disputada como um troféu por eles. No entanto, dentre os dez jogadores, um por um foi perdendo a partida, até que restaram apenas o pai dela e Maxime. Agora, ela teria que se casar com o filho dele. A mente de Lucie trabalhava a mil quando pensava nisso: — Que raios de aposta é essa?! — Ela não sabia o que pensar. Também não conseguia dizer o que seria pior: virar a escrava sexual desse homem ou casar-se com seu filho. Afinal, para Lucie, a ideia de dividir a cama com um completo desconhecido lhe causava uma incrível repulsa. Lucie era virgem, mas pensou em escrever um acordo e pedir que ele a livrasse desse casamento. Em troca, entregar-se-ia a ele sem res
Uma semana depois... Ao amanhecer, Lucie levantou, fez sua higiene pessoal e desceu para o pequeno jardim. Era uma bela manhã de sábado. Ao entrar no jardim, respirou fundo e deixou o ar fresco da manhã invadir seus pulmões. Tirou os sapatos para sentir a terra fresca sob seus pés, pois aquilo, de alguma forma, a revigorava. Adorava ouvir e sentir tudo ao seu redor: o zumbido das abelhas, o perfume das flores, a brisa suave da manhã envolvendo-a como o abraço de um amante afetuoso. Lucie sempre fazia aquilo quando se sentia triste, aflita ou precisava tomar uma decisão importante na vida. Ao olhar para a cozinha, viu Kassiani observando-a. Desde que era uma menininha, Kassiani sempre dizia que Lucie ficava ainda mais bonita quando estava próxima da natureza, embora nunca tivesse explicado o porquê. Lucie acenou e sorriu para ela. Kassiani retribuiu o gesto e voltou aos seus afazeres, deixando-a novamente sozinha em seu pequeno mundo. Sentou no banco do jardim e, com suavidade, toco
Quando ela e Kassiani chegaram ao endereço indicado no bilhete, foi de táxi. O "noivo" nem sequer mandara um carro para buscá-las em casa. Dentro do táxi, Lucie tentava se proteger com as mãos dos olhares luxuriosos do motorista, que, mesmo sem dizer uma palavra, olhava descaradamente pelo retrovisor para o seu decote. Sabia que isso aconteceria. Afinal, mesmo quando usava roupas discretas, chamava atenção. Às vezes, Lucie tinha a impressão de que havia algo nela — uma espécie de atração inexplicável que ela mesma não entendia. Não se achava tão bonita assim para justificar tanta atenção indesejada. Ao perceber seu desconforto, Kassiani chamou a atenção do motorista: — Por favor, senhor, preste atenção no trânsito! Pare de olhar para o que não é seu e faça seu trabalho! — falou ela, aborrecida. O homem, como se saísse de um transe, voltou a dirigir. No entanto, de vez em quando, ainda lançava olhares indiscretos em direção a Lucie. Ela agradeceu por a viagem não ter sido longa. Ao
Com coragem e totalmente aborrecida, Lucie encarou Leon e disparou: — Está louco? Ou por acaso é bipolar? Se estou usando essa coisa ridícula, foi porque você me obrigou! Ou já esqueceu o seu "maravilhoso" bilhete, indicando que esse era o seu presente de casamento? — O quê? Eu lhe enviei essa coisa? — ele perguntou, franzindo a testa. — Sim, e posso provar! — respondeu ela, sem hesitar. Então, seguiu até onde Kassiani conversava com a mãe de Leon. Sussurrou algo ao ouvido da governanta e voltou até ele, entregando-lhe o bilhete que havia chegado com o vestido. Ao ler, Leon olhou para a porta de entrada do cassino, como se estivesse procurando alguém. Lucie acompanhou seu olhar, mas não havia ninguém lá. Ele franziu a testa, e seu olhar se encheu de ódio. Ela o ouviu murmurar entre dentes: — Maldito! Como ele ousa? Sempre querendo se divertir às minhas custas! — O quê? Do que está falando? — perguntou Lucie, intrigada com seu comportamento. — Nada, Lucie. Esqueça esse maldito bi
Quando desceram, o salão principal já estava organizado com cadeiras e o local onde o juiz celebraria o casamento. Apesar de simples, tudo foi preparado com bom gosto e sofisticação. Lucie notou que havia poucas pessoas presentes — talvez uma dúzia. Não sabia se eram amigos da família ou parentes, mas, naquele momento, não havia tempo para apresentações. O casamento começou, e o juiz proferiu as palavras. Ambos disseram os votos. Apesar de estarem se casando, Leon não a encarava nos olhos. Lucie acreditou que fosse pela forma como o havia desafiado minutos antes, com relação ao vestido. Aparentemente, aquele homem era terrivelmente sensível ao ser contrariado e ainda estava aborrecido com ela. "Não consigo entender Leon. Ele muda de opinião tão rápido assim? Meu Deus, e se esse homem tiver dupla personalidade?" — pensou Lucie, assustada. Enquanto refletia, passou a analisá-lo melhor. Notou que não havia se enganado: Leon era acostumado a ter tudo o que queria com um simples est
Dona Laurent, que até então parecia prender o fôlego, aproximou-se de Lucie e disse: — Querida, eu jamais imaginei que essa mulher fosse aparecer e causar todo esse caos. Provavelmente, ela se aproveitou por ser cliente VIP do cassino e enganou os seguranças. Desculpe, meu anjo. Se ela soubesse o que Lucie realmente pensava naquele momento. Enquanto tomava um gole de champanhe e olhava para a porta por onde Charlotte havia saído, pensou: ”Maldição, por que ela não entrou antes? Dessa forma, teria impedido o casamento e me poupado desse destino sombrio!” No entanto, ao olhar novamente para Leon, que agora era seu marido, percebeu que nada nem ninguém teria conseguido impedir aquele casamento. Em seu semblante, havia uma resolução incrível. Algo que, ao mesmo tempo que a assustava, também a fascinava. E, como se lesse seus pensamentos, Leon se aproximou e disse: — Nunca ninguém impediria o nosso casamento, meu amor. Nem mesmo a louca da Charlotte. Você agora é minha, e ninguém vai t
Quando Lucie encarou Leon, ele estava parado de braços cruzados, observando-a com um olhar profundo e luxurioso. Ela não fazia ideia de quanto tempo ele estava ali. Com um olhar assustado, ela perguntou: — Par Dieu, Leon! O que você está fazendo aqui? Ele sorriu de forma extremamente sensual, como se fosse o próprio demônio em pessoa, e então pediu desculpas: — Pardon, chérie. Te assustei? Ela apenas sacudiu a cabeça, enquanto ele a encantava com aquele maldito sorriso. "Droga, por que Leon tem que ter esse sorriso avassalador?" pensou Lucie, irritada consigo mesma. — "Ele deve usar isso sempre que quer seduzir uma mulher. Quantas promessas ele terá feito àquela pobre moça que apareceu no casamento, chorando desesperada?" Enquanto refletia, Leon se aproximou lentamente, como um predador cercando sua presa. Lucie percebeu que, apesar do frio, ele estava sem camisa. "Que corpo perfeito..." — pensou ela, mas rapidamente desviou o olhar, envergonhada. Ao se aproximar, Leon v
Lucie gritou, sua voz ecoando pelo quarto como um trovão. A raiva fervia em suas veias, mas algo dentro dela lutava contra sua própria vontade. Seu corpo, traiçoeiro, respondia aos toques brutos de Leon de uma forma que a envergonhava e a aterrorizava. — O que está acontecendo comigo? — pensou, desesperada. — Estou gostando disso? Sou uma louca? Uma masoquista? Leon, no entanto, parecia alheio à sua luta interna. Seus lábios e mãos exploravam seu corpo com uma voracidade animal, sugando, lambendo e mordiscando os bicos de seus seios com uma intensidade que misturava dor e prazer. Lucie nunca havia feito sexo antes, nunca havia conhecido os limites do próprio corpo. Mas agora, sua sanidade mental estava à beira do colapso. Ela percebeu que não era apenas a sensualidade de Leon que a dominava. Havia algo mais profundo, algo dentro dela, como se seu próprio corpo estivesse sendo consumido por um desejo irracional, primitivo. Seu corpo queria se entregar, mas sua mente lutava ferozmente