Quando Lucie olhou naquela direção, observou que eram muitos e surgiam de todos os lados: seres alados e enormes, homens e mulheres fortes e belos, com cabelos longos e coloridos, alguns amarrados, outros soltos. Alguns homens possuíam cabelos raspados nas laterais e tatuagens, eram altos e musculosos como verdadeiros soldados de elite. As mulheres também tinham uma beleza fora do comum, mas, quando olhavam em sua direção, podia-se ver a maldade estampada em suas íris brilhantes, pois seus olhos cintilavam de ódio.
Suas aparências podiam mudar de humanas para animais de forma mágica, e, com um simples estalar de dedos, transformavam-se diante dos olhos de todos. Podiam se tornar leopardos, lobos, aves de rapina e dragões. Apesar da bravura da maioria daquelas mulheres, aqueles seres lhes causavam medo. No entanto, mesmo com medo, nenhuma delas parava de lutar. "Mas, afinal, quem são eles? E droga, onde estou? Como vim parar aqui?" — perguntou-se mentalmente Lucie. Eenquanto pensava ela se abaixou para evitar um golpe de espada que um deles desferiu. Percebeu que não tinha como revidar, pois não possuía armas em mãos. Sem saber o que fazer, correu, tentando se defender dos ataques daqueles seres. Enquanto corria, subiu uma espécie de morro, não muito íngreme, mas bastante distante de onde estava. Escondeu-se atrás das árvores, colocou as mãos nos joelhos e parou um pouco para descansar. Então, escondida, pôde observar ao longe tudo o que acontecia, totalmente estarrecida com aquilo que parecia ser uma enorme batalha. Ao encostar as mãos no tronco de uma árvore, notou que sangrava. Porém, percebeu que não era seu sangue. Também observou que não eram apenas as mãos que estavam sujas; na verdade, estava coberta de sangue. Podia sentir até mesmo o cheiro forte e metálico. Enquanto se distraía com essa observação, foi atingida por uma rajada de luz que a jogou no chão com toda a força. Então, uma moça que também lutava ao seu lado correu para ajudá-la. Apesar de estar suja de sangue dos pés à cabeça, assim como ela, Lucie notou o quanto a moça era bonita. Seus cabelos também eram platinados, como os dela. A garota se ajoelhou no chão e a ajudou a sentar, perguntando preocupada enquanto a examinava: — Alexandra, você está bem?! — Alexandra?! Ué, por que ela me chamou de Alexandra? — Lucie franziu a testa, sem entender. Então, encarou a moça e percebeu que o que chamava a atenção nela não eram apenas os cabelos platinados. Seus olhos eram coloridos, de um colorido intenso e brilhante. Meio zonza, Lucie falou: — Sim, estou. Mas por que você me chamou de Alexandra? — perguntou Lucie. A garota também franziu a testa. Porém, antes de responder, teve que protegê-la novamente de mais uma rajada daquela forte luz, criando uma espécie de escudo invisível. Foi então que Lucie notou que das costas dela saíam um tipo de asas iridescentes. Ela achou aquilo incrível. Porém, notou que também possuía asas semelhantes. A garota percebeu seu olhar atordoado e perguntou: — Tem certeza de que está bem? Embora Lucie não soubesse quem era a moça, incrivelmente respondeu como se já a conhecesse há anos: — Sim, Eleni, estou bem, não se preocupe! — respondeu Lucie sem muita convicção, enquanto se levantava do chão. — Não me parece que esteja muito bem. Acredito que a batida na cabeça foi bastante forte. Afinal, parece que esqueceu até do próprio nome — respondeu a garota, preocupada, enquanto a encarava com atenção. — Próprio nome? Como assim? — perguntou-se Lucie. Afinal, aquele não era seu nome de fato; era o nome de sua mãe! Mas, ao encarar a garota de cabelo platinado novamente, percebeu que ela ainda a olhava de testa franzida. Lucie, aborrecida, respondeu: — Droga, Eleni, estou bem! Não é qualquer um que vai me derrubar! A garota então sorriu, puxou uma espada da bainha e a jogou para ela, dizendo: — Sendo assim, maninha, pega! Acredito que perdeu a sua ainda no castelo. Não se preocupe, essa é tão boa quanto a sua. É bastante afiada, amolada e resistente à magia. Excelente para cortar e decepar membros e para mandar alguns bruxos imbecis de volta para o inferno. Agora, rebola esse belo traseiro, irmãzinha, e vamos à luta! Vamos acabar com esses malditos bruxos de merda! Lucie, ainda sem entender nada, assustou-se quando um homem alto e loiro tentou atacá-la com uma espada carregada de mana (magia). Então, observou Eleni carregar sua própria espada de mana e acertar o braço do homem, decepando-o completamente. Enquanto ele gritava de dor, jorrando sangue, tentando atingi-la com raios que saíam de sua outra mão, Eleni foi muito mais rápida e o acertou no pescoço, decepando-o. Nesse momento, outro homem de aparência reptiliana atacou Lucie, que estava distraída. Ele jogou para longe a espada que ela tinha acabado de ganhar de Eleni. O homem sorriu e, enquanto jogava sua própria espada no chão, falou convicto: — Não precisarei de espadas para acabar com você. Acabarei com minhas próprias mãos! E, usando os próprios punhos carregados de magia, desferiu um golpe em seu rosto, jogando-a novamente no chão. Aproveitou a oportunidade, subiu sobre ela e já ia atingi-la com mais um golpe quando outra garota, de cabelos rosas e olhos verdes, o atingiu com uma flecha também carregada de mana. A flecha acertou em cheio seu peito, atingindo o coração e derrubando-o imediatamente. Porém, a garota notou que ele ainda não havia morrido. Por isso, chegou mais perto, pisou em seu peito e puxou uma espécie de cordão de seu pescoço. Depois, o destroçou, e, nesse momento, o corpo do homem começou a convulsionar, dissolver e ser puxado para dentro de algo que parecia ser um portal escuro. Ela ainda ouviu a garota sorrir e gritar em triunfo: — Volte para o seu mestre, maldito bruxo do inferno! Lucie observou que todas elas sempre faziam a mesma coisa que a garota de cabelo rosa fez. Quando derrubavam uma daquelas criaturas, puxavam e destroçavam seus cordões. Ao olhar para Lucie, a garota sorriu novamente e bateu continência. Lucie ficou fascinada com a cor dos olhos dela; era incrível. Aliás, para ela, tudo ali era incrível, incluindo aquela enorme guerra. A garota então correu dali e, enquanto dava pulos surreais, voltou a atingir outros com aquelas flechas. Lucie também observou que, assim como ela, todas as outras mulheres possuíam asas. Ainda deitada no chão, pôs as mãos na testa. Então, ouviu novamente Eleni chamando sua atenção: — Ei, irmãzinha, acorda! Estamos em uma guerra! Ainda acho que você não está bem. Vou chamar alguém para te levar até a tenda das curas e... — Já falei que estou bem, Eleni! Não vou repetir! — respondeu Lucie com rudeza. Eleni franziu a testa novamente e falou: — Se está realmente bem, então levanta, gatinha (γατάκι/gatáki)! Isso não é hora de ficar aí deitada na relva. Afinal, você é a nossa general. Precisamos do seu comando, precisamos de você. Portanto, acorda, Alexandra! — Acorda, Lucie! Querida, acorda! Nesse momento, Lucie acordou e percebeu Kassiani observando-a enquanto lhe sorria com um sorriso um pouco triste. Ela disse: — Bom dia, querida. Acredito que estava tendo um sonho ruim, pois parecia aflita e falava o nome de sua mãe sem parar. Kassiani, sua governanta, olhava-a preocupada. Quando Lucie despertou, sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao recordar o sonho vívido e assustador que tivera durante a noite. Parecia tão real... Seres mágicos lutando contra forças sombrias desconhecidas... Ela sabia instintivamente que tinha um papel importante nessa história sombria e complexa. Porém, não queria falar nada daquilo para sua governanta, pois ela não acreditaria. Kassiani era uma pessoa cética. Por isso, esforçou-se para sorrir e disse: — Bom dia, Kassiani. Já acordei, e não se preocupe, foi realmente só um sonho! Kassiani era uma mulher de quase sessenta anos. Um dia, fora a babá de Lucie. Porém, quando ela cresceu, recusou-se a abandoná-la e continuou trabalhando para seu pai como governanta, apesar de não ter um bom salário. Apegara-se a Lucie como se fosse uma mãe, e Lucie amava o carinho e a atenção que recebia dela, visto que sempre necessitara disso, especialmente após a morte de sua mãe.Ao olhar para Kassiani e ver seu olhar caído de tristeza, Lucie lembrou-se do motivo pelo qual ela estava tão abatida. Por isso, respondeu: — Você tem razão, Kassiani. Eu estava realmente sonhando com minha mãe. Acredito que ontem chorei e desejei tanto a orientação dela que acabei tendo um sonho com ela. — E o que você sonhou com sua mãe? — perguntou Kassiani, enquanto abria a janela do quarto para que o sol e o ar fresco da manhã pudessem entrar. Afinal, ela sabia melhor do que ninguém o quanto Lucie precisava daquilo para começar bem o dia. Era como se todo o seu ser estivesse conectado com a natureza. Kassiani a encarou pensativa, e Lucie respondeu: — O sonho foi um pouco louco. Eu não sonhei com minha mãe; na verdade, sonhei que eu era ela. — Como assim, meu anjo? — perguntou Kassiani, intrigada. — É... bem, é muito complicado de explicar. Depois eu te conto com mais calma, pois agora preciso me arrumar e ir para a universidade. — Lucie desconversou, pois realmente não se sen
Lucie ainda lembrava o que seu pai contou que, naquele momento, nenhum dos homens ali no cassino estava mais interessado nele. Porém, quando ele mostrou a todos a foto dela, o apetite luxurioso deles foi imediatamente despertado. Sim, para aqueles homens pervertidos, ela se tornou uma excelente aposta. E, sem ao menos saber, foi disputada como um troféu por eles. No entanto, dentre os dez jogadores, um por um foi perdendo a partida, até que restaram apenas o pai dela e Maxime. Agora, ela teria que se casar com o filho dele. A mente de Lucie trabalhava a mil quando pensava nisso: — Que raios de aposta é essa?! — Ela não sabia o que pensar. Também não conseguia dizer o que seria pior: virar a escrava sexual desse homem ou casar-se com seu filho. Afinal, para Lucie, a ideia de dividir a cama com um completo desconhecido lhe causava uma incrível repulsa. Lucie era virgem, mas pensou em escrever um acordo e pedir que ele a livrasse desse casamento. Em troca, entregar-se-ia a ele sem res
Uma semana depois... Ao amanhecer, Lucie levantou, fez sua higiene pessoal e desceu para o pequeno jardim. Era uma bela manhã de sábado. Ao entrar no jardim, respirou fundo e deixou o ar fresco da manhã invadir seus pulmões. Tirou os sapatos para sentir a terra fresca sob seus pés, pois aquilo, de alguma forma, a revigorava. Adorava ouvir e sentir tudo ao seu redor: o zumbido das abelhas, o perfume das flores, a brisa suave da manhã envolvendo-a como o abraço de um amante afetuoso. Lucie sempre fazia aquilo quando se sentia triste, aflita ou precisava tomar uma decisão importante na vida. Ao olhar para a cozinha, viu Kassiani observando-a. Desde que era uma menininha, Kassiani sempre dizia que Lucie ficava ainda mais bonita quando estava próxima da natureza, embora nunca tivesse explicado o porquê. Lucie acenou e sorriu para ela. Kassiani retribuiu o gesto e voltou aos seus afazeres, deixando-a novamente sozinha em seu pequeno mundo. Sentou no banco do jardim e, com suavidade, toco
Quando ela e Kassiani chegaram ao endereço indicado no bilhete, foi de táxi. O "noivo" nem sequer mandara um carro para buscá-las em casa. Dentro do táxi, Lucie tentava se proteger com as mãos dos olhares luxuriosos do motorista, que, mesmo sem dizer uma palavra, olhava descaradamente pelo retrovisor para o seu decote. Sabia que isso aconteceria. Afinal, mesmo quando usava roupas discretas, chamava atenção. Às vezes, Lucie tinha a impressão de que havia algo nela — uma espécie de atração inexplicável que ela mesma não entendia. Não se achava tão bonita assim para justificar tanta atenção indesejada. Ao perceber seu desconforto, Kassiani chamou a atenção do motorista: — Por favor, senhor, preste atenção no trânsito! Pare de olhar para o que não é seu e faça seu trabalho! — falou ela, aborrecida. O homem, como se saísse de um transe, voltou a dirigir. No entanto, de vez em quando, ainda lançava olhares indiscretos em direção a Lucie. Ela agradeceu por a viagem não ter sido longa. Ao
Com coragem e totalmente aborrecida, Lucie encarou Leon e disparou: — Está louco? Ou por acaso é bipolar? Se estou usando essa coisa ridícula, foi porque você me obrigou! Ou já esqueceu o seu "maravilhoso" bilhete, indicando que esse era o seu presente de casamento? — O quê? Eu lhe enviei essa coisa? — ele perguntou, franzindo a testa. — Sim, e posso provar! — respondeu ela, sem hesitar. Então, seguiu até onde Kassiani conversava com a mãe de Leon. Sussurrou algo ao ouvido da governanta e voltou até ele, entregando-lhe o bilhete que havia chegado com o vestido. Ao ler, Leon olhou para a porta de entrada do cassino, como se estivesse procurando alguém. Lucie acompanhou seu olhar, mas não havia ninguém lá. Ele franziu a testa, e seu olhar se encheu de ódio. Ela o ouviu murmurar entre dentes: — Maldito! Como ele ousa? Sempre querendo se divertir às minhas custas! — O quê? Do que está falando? — perguntou Lucie, intrigada com seu comportamento. — Nada, Lucie. Esqueça esse maldito bi
Quando desceram, o salão principal já estava organizado com cadeiras e o local onde o juiz celebraria o casamento. Apesar de simples, tudo foi preparado com bom gosto e sofisticação. Lucie notou que havia poucas pessoas presentes — talvez uma dúzia. Não sabia se eram amigos da família ou parentes, mas, naquele momento, não havia tempo para apresentações. O casamento começou, e o juiz proferiu as palavras. Ambos disseram os votos. Apesar de estarem se casando, Leon não a encarava nos olhos. Lucie acreditou que fosse pela forma como o havia desafiado minutos antes, com relação ao vestido. Aparentemente, aquele homem era terrivelmente sensível ao ser contrariado e ainda estava aborrecido com ela. "Não consigo entender Leon. Ele muda de opinião tão rápido assim? Meu Deus, e se esse homem tiver dupla personalidade?" — pensou Lucie, assustada. Enquanto refletia, passou a analisá-lo melhor. Notou que não havia se enganado: Leon era acostumado a ter tudo o que queria com um simples est
Dona Laurent, que até então parecia prender o fôlego, aproximou-se de Lucie e disse: — Querida, eu jamais imaginei que essa mulher fosse aparecer e causar todo esse caos. Provavelmente, ela se aproveitou por ser cliente VIP do cassino e enganou os seguranças. Desculpe, meu anjo. Se ela soubesse o que Lucie realmente pensava naquele momento. Enquanto tomava um gole de champanhe e olhava para a porta por onde Charlotte havia saído, pensou: ”Maldição, por que ela não entrou antes? Dessa forma, teria impedido o casamento e me poupado desse destino sombrio!” No entanto, ao olhar novamente para Leon, que agora era seu marido, percebeu que nada nem ninguém teria conseguido impedir aquele casamento. Em seu semblante, havia uma resolução incrível. Algo que, ao mesmo tempo que a assustava, também a fascinava. E, como se lesse seus pensamentos, Leon se aproximou e disse: — Nunca ninguém impediria o nosso casamento, meu amor. Nem mesmo a louca da Charlotte. Você agora é minha, e ninguém vai t
Quando Lucie encarou Leon, ele estava parado de braços cruzados, observando-a com um olhar profundo e luxurioso. Ela não fazia ideia de quanto tempo ele estava ali. Com um olhar assustado, ela perguntou: — Par Dieu, Leon! O que você está fazendo aqui? Ele sorriu de forma extremamente sensual, como se fosse o próprio demônio em pessoa, e então pediu desculpas: — Pardon, chérie. Te assustei? Ela apenas sacudiu a cabeça, enquanto ele a encantava com aquele maldito sorriso. "Droga, por que Leon tem que ter esse sorriso avassalador?" pensou Lucie, irritada consigo mesma. — "Ele deve usar isso sempre que quer seduzir uma mulher. Quantas promessas ele terá feito àquela pobre moça que apareceu no casamento, chorando desesperada?" Enquanto refletia, Leon se aproximou lentamente, como um predador cercando sua presa. Lucie percebeu que, apesar do frio, ele estava sem camisa. "Que corpo perfeito..." — pensou ela, mas rapidamente desviou o olhar, envergonhada. Ao se aproximar, Leon v