LUCIE-TRILOGIA FILHAS DE SELENE
LUCIE-TRILOGIA FILHAS DE SELENE
Por: Delha Ribeiro
CAPÍTULO 1 — OS SONHOS

Quando Lucie olhou naquela direção, observou que eram muitos e surgiam de todos os lados: seres alados e enormes, homens e mulheres fortes e belos, com cabelos longos e coloridos, alguns amarrados, outros soltos. Alguns homens possuíam cabelos raspados nas laterais e tatuagens, eram altos e musculosos como verdadeiros soldados de elite. As mulheres também tinham uma beleza fora do comum, mas, quando olhavam em sua direção, podia-se ver a maldade estampada em suas íris brilhantes, pois seus olhos cintilavam de ódio.

Suas aparências podiam mudar de humanas para animais de forma mágica, e, com um simples estalar de dedos, transformavam-se diante dos olhos de todos. Podiam se tornar leopardos, lobos, aves de rapina e dragões. Apesar da bravura da maioria daquelas mulheres, aqueles seres lhes causavam medo. No entanto, mesmo com medo, nenhuma delas parava de lutar.

"Mas, afinal, quem são eles? E droga, onde estou? Como vim parar aqui?" — perguntou-se mentalmente Lucie.

Eenquanto pensava ela se abaixou para evitar um golpe de espada que um deles desferiu. Percebeu que não tinha como revidar, pois não possuía armas em mãos. Sem saber o que fazer, correu, tentando se defender dos ataques daqueles seres. Enquanto corria, subiu uma espécie de morro, não muito íngreme, mas bastante distante de onde estava. Escondeu-se atrás das árvores, colocou as mãos nos joelhos e parou um pouco para descansar. Então, escondida, pôde observar ao longe tudo o que acontecia, totalmente estarrecida com aquilo que parecia ser uma enorme batalha.

Ao encostar as mãos no tronco de uma árvore, notou que sangrava. Porém, percebeu que não era seu sangue. Também observou que não eram apenas as mãos que estavam sujas; na verdade, estava coberta de sangue. Podia sentir até mesmo o cheiro forte e metálico. Enquanto se distraía com essa observação, foi atingida por uma rajada de luz que a jogou no chão com toda a força. Então, uma moça que também lutava ao seu lado correu para ajudá-la.

Apesar de estar suja de sangue dos pés à cabeça, assim como ela, Lucie notou o quanto a moça era bonita. Seus cabelos também eram platinados, como os dela. A garota se ajoelhou no chão e a ajudou a sentar, perguntando preocupada enquanto a examinava:

— Alexandra, você está bem?!

— Alexandra?! Ué, por que ela me chamou de Alexandra? — Lucie franziu a testa, sem entender.

Então, encarou a moça e percebeu que o que chamava a atenção nela não eram apenas os cabelos platinados. Seus olhos eram coloridos, de um colorido intenso e brilhante. Meio zonza, Lucie falou:

— Sim, estou. Mas por que você me chamou de Alexandra? — perguntou Lucie.

A garota também franziu a testa. Porém, antes de responder, teve que protegê-la novamente de mais uma rajada daquela forte luz, criando uma espécie de escudo invisível. Foi então que Lucie notou que das costas dela saíam um tipo de asas iridescentes. Ela achou aquilo incrível. Porém, notou que também possuía asas semelhantes. A garota percebeu seu olhar atordoado e perguntou:

— Tem certeza de que está bem?

Embora Lucie não soubesse quem era a moça, incrivelmente respondeu como se já a conhecesse há anos:

— Sim, Eleni, estou bem, não se preocupe! — respondeu Lucie sem muita convicção, enquanto se levantava do chão.

— Não me parece que esteja muito bem. Acredito que a batida na cabeça foi bastante forte. Afinal, parece que esqueceu até do próprio nome — respondeu a garota, preocupada, enquanto a encarava com atenção.

— Próprio nome? Como assim? — perguntou-se Lucie. Afinal, aquele não era seu nome de fato; era o nome de sua mãe!

Mas, ao encarar a garota de cabelo platinado novamente, percebeu que ela ainda a olhava de testa franzida. Lucie, aborrecida, respondeu:

— Droga, Eleni, estou bem! Não é qualquer um que vai me derrubar!

A garota então sorriu, puxou uma espada da bainha e a jogou para ela, dizendo:

— Sendo assim, maninha, pega! Acredito que perdeu a sua ainda no castelo. Não se preocupe, essa é tão boa quanto a sua. É bastante afiada, amolada e resistente à magia. Excelente para cortar e decepar membros e para mandar alguns bruxos imbecis de volta para o inferno. Agora, rebola esse belo traseiro, irmãzinha, e vamos à luta! Vamos acabar com esses malditos bruxos de merda!

Lucie, ainda sem entender nada, assustou-se quando um homem alto e loiro tentou atacá-la com uma espada carregada de mana (magia). Então, observou Eleni carregar sua própria espada de mana e acertar o braço do homem, decepando-o completamente. Enquanto ele gritava de dor, jorrando sangue, tentando atingi-la com raios que saíam de sua outra mão, Eleni foi muito mais rápida e o acertou no pescoço, decepando-o.

Nesse momento, outro homem de aparência reptiliana atacou Lucie, que estava distraída. Ele jogou para longe a espada que ela tinha acabado de ganhar de Eleni. O homem sorriu e, enquanto jogava sua própria espada no chão, falou convicto:

— Não precisarei de espadas para acabar com você. Acabarei com minhas próprias mãos!

E, usando os próprios punhos carregados de magia, desferiu um golpe em seu rosto, jogando-a novamente no chão. Aproveitou a oportunidade, subiu sobre ela e já ia atingi-la com mais um golpe quando outra garota, de cabelos rosas e olhos verdes, o atingiu com uma flecha também carregada de mana.

A flecha acertou em cheio seu peito, atingindo o coração e derrubando-o imediatamente. Porém, a garota notou que ele ainda não havia morrido. Por isso, chegou mais perto, pisou em seu peito e puxou uma espécie de cordão de seu pescoço. Depois, o destroçou, e, nesse momento, o corpo do homem começou a convulsionar, dissolver e ser puxado para dentro de algo que parecia ser um portal escuro. Ela ainda ouviu a garota sorrir e gritar em triunfo:

— Volte para o seu mestre, maldito bruxo do inferno!

Lucie observou que todas elas sempre faziam a mesma coisa que a garota de cabelo rosa fez. Quando derrubavam uma daquelas criaturas, puxavam e destroçavam seus cordões. Ao olhar para Lucie, a garota sorriu novamente e bateu continência. Lucie ficou fascinada com a cor dos olhos dela; era incrível. Aliás, para ela, tudo ali era incrível, incluindo aquela enorme guerra.

A garota então correu dali e, enquanto dava pulos surreais, voltou a atingir outros com aquelas flechas. Lucie também observou que, assim como ela, todas as outras mulheres possuíam asas. Ainda deitada no chão, pôs as mãos na testa. Então, ouviu novamente Eleni chamando sua atenção:

— Ei, irmãzinha, acorda! Estamos em uma guerra! Ainda acho que você não está bem. Vou chamar alguém para te levar até a tenda das curas e...

— Já falei que estou bem, Eleni! Não vou repetir! — respondeu Lucie com rudeza.

Eleni franziu a testa novamente e falou:

— Se está realmente bem, então levanta, gatinha (γατάκι/gatáki)! Isso não é hora de ficar aí deitada na relva. Afinal, você é a nossa general. Precisamos do seu comando, precisamos de você. Portanto, acorda, Alexandra!

— Acorda, Lucie! Querida, acorda!

Nesse momento, Lucie acordou e percebeu Kassiani observando-a enquanto lhe sorria com um sorriso um pouco triste. Ela disse:

— Bom dia, querida. Acredito que estava tendo um sonho ruim, pois parecia aflita e falava o nome de sua mãe sem parar.

Kassiani, sua governanta, olhava-a preocupada. Quando Lucie despertou, sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao recordar o sonho vívido e assustador que tivera durante a noite. Parecia tão real... Seres mágicos lutando contra forças sombrias desconhecidas... Ela sabia instintivamente que tinha um papel importante nessa história sombria e complexa. Porém, não queria falar nada daquilo para sua governanta, pois ela não acreditaria. Kassiani era uma pessoa cética. Por isso, esforçou-se para sorrir e disse:

— Bom dia, Kassiani. Já acordei, e não se preocupe, foi realmente só um sonho!

Kassiani era uma mulher de quase sessenta anos. Um dia, fora a babá de Lucie. Porém, quando ela cresceu, recusou-se a abandoná-la e continuou trabalhando para seu pai como governanta, apesar de não ter um bom salário. Apegara-se a Lucie como se fosse uma mãe, e Lucie amava o carinho e a atenção que recebia dela, visto que sempre necessitara disso, especialmente após a morte de sua mãe.

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