O Silêncio seguiu Lucie, que naquele momento prendia o ar.Os dedos apertaram a carta até amassá-la. O mundo girava. — Ela... está viva! — A voz saiu rouca, quebrada. — Minha avó também. Elas... mentiram! Leon tentou tocá-la, mas ela ergueu-se de um salto, o rosto manchado de lágrimas. — Toda a minha vida... Toda a minha dor... foi uma mentira?! O vento rugiu dentro do quarto. Os objetos tremeram. As asas quase irromperam de suas costas novamente. Leon agarrou seus ombros. — Lucie, respira. Lucie balançou a cabeça em negativo apertou a carta entre os dedos, o papel amassando-se ainda mais. Seus olhos, ainda úmidos, incendiaram-se de raiva e confusão. — "Palácio"? "Reino"? "Ninfa"? — Ela soltou uma risada amarga, jogando o colar na cama como se queimasse. — Que história maluca é essa, Leon?Seus passos ecoaram pelo quarto, nervosos, enquanto o vento lá fora começava a uivar, respondendo à sua agitação. — Eu chorei por elas todos os dias. Meu pai quase morreu de desgosto
Quando Lucie olhou naquela direção, observou que eram muitos e surgiam de todos os lados: seres alados e enormes, homens e mulheres fortes e belos, com cabelos longos e coloridos, alguns amarrados, outros soltos. Alguns homens possuíam cabelos raspados nas laterais e tatuagens, eram altos e musculosos como verdadeiros soldados de elite. As mulheres também tinham uma beleza fora do comum, mas, quando olhavam em sua direção, podia-se ver a maldade estampada em suas íris brilhantes, pois seus olhos cintilavam de ódio. Suas aparências podiam mudar de humanas para animais de forma mágica, e, com um simples estalar de dedos, transformavam-se diante dos olhos de todos. Podiam se tornar leopardos, lobos, aves de rapina e dragões. Apesar da bravura da maioria daquelas mulheres, aqueles seres lhes causavam medo. No entanto, mesmo com medo, nenhuma delas parava de lutar. "Mas, afinal, quem são eles? E droga, onde estou? Como vim parar aqui?" — perguntou-se mentalmente Lucie. Eenquanto pensava
Ao olhar para Kassiani e ver seu olhar caído de tristeza, Lucie lembrou-se do motivo pelo qual ela estava tão abatida. Por isso, respondeu: — Você tem razão, Kassiani. Eu estava realmente sonhando com minha mãe. Acredito que ontem chorei e desejei tanto a orientação dela que acabei tendo um sonho com ela. — E o que você sonhou com sua mãe? — perguntou Kassiani, enquanto abria a janela do quarto para que o sol e o ar fresco da manhã pudessem entrar. Afinal, ela sabia melhor do que ninguém o quanto Lucie precisava daquilo para começar bem o dia. Era como se todo o seu ser estivesse conectado com a natureza. Kassiani a encarou pensativa, e Lucie respondeu: — O sonho foi um pouco louco. Eu não sonhei com minha mãe; na verdade, sonhei que eu era ela. — Como assim, meu anjo? — perguntou Kassiani, intrigada. — É... bem, é muito complicado de explicar. Depois eu te conto com mais calma, pois agora preciso me arrumar e ir para a universidade. — Lucie desconversou, pois realmente não se sen
Lucie ainda lembrava o que seu pai contou que, naquele momento, nenhum dos homens ali no cassino estava mais interessado nele. Porém, quando ele mostrou a todos a foto dela, o apetite luxurioso deles foi imediatamente despertado. Sim, para aqueles homens pervertidos, ela se tornou uma excelente aposta. E, sem ao menos saber, foi disputada como um troféu por eles. No entanto, dentre os dez jogadores, um por um foi perdendo a partida, até que restaram apenas o pai dela e Maxime. Agora, ela teria que se casar com o filho dele. A mente de Lucie trabalhava a mil quando pensava nisso: — Que raios de aposta é essa?! — Ela não sabia o que pensar. Também não conseguia dizer o que seria pior: virar a escrava sexual desse homem ou casar-se com seu filho. Afinal, para Lucie, a ideia de dividir a cama com um completo desconhecido lhe causava uma incrível repulsa. Lucie era virgem, mas pensou em escrever um acordo e pedir que ele a livrasse desse casamento. Em troca, entregar-se-ia a ele sem res
Uma semana depois... Ao amanhecer, Lucie levantou, fez sua higiene pessoal e desceu para o pequeno jardim. Era uma bela manhã de sábado. Ao entrar no jardim, respirou fundo e deixou o ar fresco da manhã invadir seus pulmões. Tirou os sapatos para sentir a terra fresca sob seus pés, pois aquilo, de alguma forma, a revigorava. Adorava ouvir e sentir tudo ao seu redor: o zumbido das abelhas, o perfume das flores, a brisa suave da manhã envolvendo-a como o abraço de um amante afetuoso. Lucie sempre fazia aquilo quando se sentia triste, aflita ou precisava tomar uma decisão importante na vida. Ao olhar para a cozinha, viu Kassiani observando-a. Desde que era uma menininha, Kassiani sempre dizia que Lucie ficava ainda mais bonita quando estava próxima da natureza, embora nunca tivesse explicado o porquê. Lucie acenou e sorriu para ela. Kassiani retribuiu o gesto e voltou aos seus afazeres, deixando-a novamente sozinha em seu pequeno mundo. Sentou no banco do jardim e, com suavidade, toco
Quando ela e Kassiani chegaram ao endereço indicado no bilhete, foi de táxi. O "noivo" nem sequer mandara um carro para buscá-las em casa. Dentro do táxi, Lucie tentava se proteger com as mãos dos olhares luxuriosos do motorista, que, mesmo sem dizer uma palavra, olhava descaradamente pelo retrovisor para o seu decote. Sabia que isso aconteceria. Afinal, mesmo quando usava roupas discretas, chamava atenção. Às vezes, Lucie tinha a impressão de que havia algo nela — uma espécie de atração inexplicável que ela mesma não entendia. Não se achava tão bonita assim para justificar tanta atenção indesejada. Ao perceber seu desconforto, Kassiani chamou a atenção do motorista: — Por favor, senhor, preste atenção no trânsito! Pare de olhar para o que não é seu e faça seu trabalho! — falou ela, aborrecida. O homem, como se saísse de um transe, voltou a dirigir. No entanto, de vez em quando, ainda lançava olhares indiscretos em direção a Lucie. Ela agradeceu por a viagem não ter sido longa. Ao
Com coragem e totalmente aborrecida, Lucie encarou Leon e disparou: — Está louco? Ou por acaso é bipolar? Se estou usando essa coisa ridícula, foi porque você me obrigou! Ou já esqueceu o seu "maravilhoso" bilhete, indicando que esse era o seu presente de casamento? — O quê? Eu lhe enviei essa coisa? — ele perguntou, franzindo a testa. — Sim, e posso provar! — respondeu ela, sem hesitar. Então, seguiu até onde Kassiani conversava com a mãe de Leon. Sussurrou algo ao ouvido da governanta e voltou até ele, entregando-lhe o bilhete que havia chegado com o vestido. Ao ler, Leon olhou para a porta de entrada do cassino, como se estivesse procurando alguém. Lucie acompanhou seu olhar, mas não havia ninguém lá. Ele franziu a testa, e seu olhar se encheu de ódio. Ela o ouviu murmurar entre dentes: — Maldito! Como ele ousa? Sempre querendo se divertir às minhas custas! — O quê? Do que está falando? — perguntou Lucie, intrigada com seu comportamento. — Nada, Lucie. Esqueça esse maldito bi
Quando desceram, o salão principal já estava organizado com cadeiras e o local onde o juiz celebraria o casamento. Apesar de simples, tudo foi preparado com bom gosto e sofisticação. Lucie notou que havia poucas pessoas presentes — talvez uma dúzia. Não sabia se eram amigos da família ou parentes, mas, naquele momento, não havia tempo para apresentações. O casamento começou, e o juiz proferiu as palavras. Ambos disseram os votos. Apesar de estarem se casando, Leon não a encarava nos olhos. Lucie acreditou que fosse pela forma como o havia desafiado minutos antes, com relação ao vestido. Aparentemente, aquele homem era terrivelmente sensível ao ser contrariado e ainda estava aborrecido com ela. "Não consigo entender Leon. Ele muda de opinião tão rápido assim? Meu Deus, e se esse homem tiver dupla personalidade?" — pensou Lucie, assustada. Enquanto refletia, passou a analisá-lo melhor. Notou que não havia se enganado: Leon era acostumado a ter tudo o que queria com um simples est