Capítulo 4

- Um mês após de entrar. – Suspirei fechando os olhos ao mexer no buraco que a entrada da bala causou. - Sai na minha primeira missão, o que durou quase um ano. Estava na base há uns seis meses quando atacaram a base, eu estava de vigia… - Olhei para ela pelo espelho, ela não percebeu o que tentava explicar - É um local mais alto, onde dá para ver o terreno até um determinado espaço, para protecção das pessoas que estão dentro da base, possam… bem sentir-se mais seguras, quando estava por volta de trocar de posto, iria descansar, mas atacaram sem dar-me tempo de fazer algo, e como estava longe e num lugar desprotegido foi apanhada…Daí as cicatrizes.

- Elas, todas, menina? – Perguntou tocando nas minhas costas, fazendo-me ficar tensa. – Desculpa. Mas vou trocar-te este curativo aqui atrás. – Avisou já o tirando, era um simples corte que foi feito na ultima missão, há um dia.

Não, depois de uns anos tive um problema e quando voltei a trabalhar e arranjei um informante…. – Notei que não percebeu o que lhe explicava…. - É uma pessoa local que nos ajuda em troca por vezes de comida, outras vezes porque acredita que estamos por lá para fazer o bem. Mas algo aconteceu e ele entregou a minha localização. Lutei o que mais pode, corri o mais rápido que minhas pernas deixavam, durante 15 dias andei vagueando por um pais que não conhecia e por onde não tinha nenhum rumo a seguir, quanto mais seguia mais perdia-me. …. - Continuei contando o que se passou enquanto retirava a bala de dentro de mim, e ela nem notava… - Mas eles apanharam-me na casa de um senhor que acolheu-me e pela primeira vez vi alguém morrer para salvar-me…. - Não notei as lágrimas a cair só quando ela delicadamente colocou a mão sobre meu rosto.

- Minha querida…. – Lágrimas deslizavam de seu rosto, também.

- Estive mais dez dias em cativeiro, onde torturavam e espancavam diariamente. Até minha equipa encontrar-me. – Completei e pela primeira vez falei com alguém sobre o que aconteceu.

- Onde aprendeu a suturar menina tão bem? – Perguntou curiosa.

- Arábia Saudita. Em uma missão, tivemos uns problemas e um casal ajudou a minha equipa. Eles eram médicos e como lá não gostam de deixar marcas, fazem um belo trabalho costurando. – Informei com um sorriso.

- Muito bem, és muito curiosa. Meu filho é assim também. – Falou com um sorriso no rosto.

- É. Uma bênção ou maldição. – Falei pensando nas vezes que tentava conversar com a minha família e eles detestavam.

- Uma bênção, menina. Uma bênção e um dia vais encontrar alguém que goste de falar de tantas coisas diferentes, com esse olhar aventureiro e livre e nunca vai sentir-se sozinha neste mundo.

- Eu não estou, nem sozinha, e não quero ninguém em minha vida, já tive desilusões suficientes para várias encarnações. – Conversei fazendo a senhora dar uma boa gargalhada.

- Ah! Teimosia algo acrescentar, em comum mais uma coisa. – Falou mais para si.

            Acabei de suturar a ferida, pedindo se podia tomar um duche, logo disse que sim e que iria arranjar-me algo para vestir. Mal a água quente entrou em contato com a pele, suspirei de alívio e de dor.

- Dona Rute, obrigada. – Respondi, quando saía do chuveiro com um roupão.

- De nada. Aqui está umas roupas do meu filho deixou aqui, devem ficar-te um pouco grandes e largas, só. Bem, vou até lá em baixo. … - Falou virando costas. Dando assim privacidade mesmo estando em sua casa. – Ah, já esquecia o teu primo foi embora logo que subimos pelo que Alex disse.

- Obrigada. Eu também irei embora. Só vou vestir estas roupas.

- Que nada, querida. Vais vesti-las e deitar-te ai. Não vais sair agora. E a tua mota já está dentro da propriedade, Sebastião foi buscá-la…. - Falou ordenando, observando.

- Ah? O quê? Obrigada…- Não sabia o que dizer.

- E ainda vais dizer-me como tens coragem de subires numa coisa como aquelas, aquele homem quase não podia move-la… - Falou sorrindo – Boa noite, descansa. Amanhã, é um novo dia… - Saiu dando uma gargalhada.

- Boa noite. – Falei para a porta fechada.

Quase não dormi, tive que procurar no armário por algum medicamento. Porém minha surpresa foi ao abrir gavetas encontrar coisas de homem. E não qualquer um devia ter pelo menos um 1,90 ou mais. Logo percebi que era o quarto do filho do casal e não de um hóspede onde pernoitava.

Acordei às nove horas. Foi em direção ao chuveiro meu penso estava ensanguentado, com sorte os pontos aguentaram. Ouvi um barulho fora do quarto, estava em frente ao espelho do quarto quando a porta abriu.

- Mas que merda é esta? – Uma voz masculina falou atrás de mim.

- Que diabos? Quem és tu? – Perguntei vestindo a mesma t-shirt branca com que tinha dormido.

- Eu? E tu gatinha molhada? – Questionou com um sorriso malicioso.

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