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2. SEGUNDA ENTREVISTA (Hannah)

O motorista me deixou a cinco enormes quarteirões da segunda entrevista, então tive que correr na chuva. 

— Bom dia – lá estava eu, eu uma recepção pra lá de chique, toda molhada e atrasada. — Tenho uma entrevista, aliás, tinha uma entrevista às 10:00  com Sebastian Cole, sobre a vaga de assistente administrativa. 

— Bom dia, o Sr. Cole está atrasado, deve ser o trânsito, então você está com sorte – a moça me deu um sorriso e uma piscadinha de olho, aquilo me confortou profundamente. — Então relaxa, e vai até o banheiro se secar um pouco, lá tem toalhas. 

— Uau!! Você é um amor, muito obrigada… – fiquei procurando o nome dela no crachá. 

— Tabita, e imagina, eu sei como é estar procurando trabalho, estou aqui há pouco mais de um mês. – Ela deu mais um sorriso e indicou o banheiro. 

Quando entrei no local, percebi que a empresa era realmente muito elegante, digamos assim. Tudo de mármore preto e branco, e as toalhas de que ela falou eram de tecido, fiquei chocada. A senhora que cuidava do local me ofereceu à vontade, pude me secar um pouco, mas ainda parecia um pintinho molhado.

— Prontinho, Tabita, e agora?

— Agora você pega esse crachá de visitante, eu já fiz seu cadastro – tinha deixado meu documento com ela. – E sobe até o décimo andar. Lá tem outra recepção, não tem erro, o andar é só dela.

— Dela? – Perguntei, pela forma como ela arregalou os olhos.

— Verônica Solto, a rainha do mel – ela até fez um biquinho pra falar, na verdade, Tabita era muito legal. Depois eu pesquisei esse nome no G****e. — A vaga de assistente é para a secretária dela.

— Hummm! Tomara que eu seja essa abelhinha que ela procura. – Dei uma risada malévola e peguei o crachá.

O elevador era incrível, marrom e dourado; por dentro, tinha retratos de pinturas desses caras muito famosos, que eu não reconheço por não entender de arte, mas o teto era daquele homem de cara de bebê pelado tentando tocar o dedo de Deus.

Enfim, cada botão era decorado, como uma moeda de ouro antiga. E tocava uma música clássica, era "Lago dos Cisnes", dessa eu me lembro, meu pai amava.

— Bom dia, sou Hannah Furtado, tenho uma…

— Pode pegar uma ficha e preencher, sente-se naquela poltrona. Quando acabar, me entregue. – A mulher não tinha expressão alguma, nem o som da sua voz se alterava quando ela falava; era meio sinistro.

Me afundei no sofá, que delícia, da cor carmim. Comecei a ler o questionário, o de sempre. Aliás, tem tanta coisa que já tem nos currículos, e que também perguntam nas entrevistas, por que esses questionários enormes?

O elevador fez o barulho de sua chegada ao andar, e vocês não vão acreditar no que eu vi, aliás, quem eu vi. Era ele… Apolo, em carne e osso, mais músculos do que ossos, na verdade.

Estava lindo, de terno, todo alinhado, cabelos devidamente penteados para trás, sem nenhum fio fora do lugar. Ele olhou para direita, esquerda, pra todo lado como se procurasse algo. Depois levantou um pouco o punho do paletó e disse:

— Tudo limpo, pode subir com a abelha rainha. – Foi então que ele me viu.

Meu olhar encontrou o dele, meu coração disparou, foi tudo tão … decepcionante?!

O que foi isso? Ele pareceu tão frio, e pior, eu percebi que me reconheceu.

— Bom dia, Sra. Solto, já está tudo pronto em sua sala para a reunião com Paris… – a mulher mal saiu do elevador e a secretária ia vomitando a agenda em cima dela.

Que mulher linda, devia estar na casa dos quarenta, muito bem conservada. Quando a vi de camisa social de mangas compridas, estilo sino e um short de linho, risca de giz, acompanhados daqueles lindos scarpins vermelhos, meu queixo quase caiu no chão, mas me segurei.

— Aqui, terminei de preencher – entreguei a ficha e a mulher apenas apontou para o sofá novamente. Ela atendeu o telefone ao mesmo tempo que me atendia.

Apolo saiu da sala da abelha rainha e voltou para a recepção, ele falou alguma coisa baixinho no rádio dele e ficou na porta da sala dela. Eu me sentei bem de frente para ele dessa vez.

Percebi que ele colocava a mão no ouvido para ajustar o fone que usava. Ele procurava evitar me olhar, eu notei isso. Nós estudamos até a sétima série, no último ano da escola, ele e a família desapareceram da cidade. Ninguém soube o motivo, cada um contava uma história diferente, mas acredito eu, que seja tudo especulações.

— Sta. Hannah.

— Sim? – Eu me levantei olhando para ele, para ver qual a sua reação, quando a secretária chamou meu nome. Ele deu uma leve olhada.

Fui até a mesa dela.

— Pois não? – Dei um leve sorriso, mas estava animada por ele ter olhado.

— Sra. Solto desmarcou as entrevistas. Entraremos em contato quando ela puder.

— Mas você sabe me dizer…

— Obrigada, é só isso.

Eu não via motivo em insistir depois dessa frase, então peguei minha dignidade e fui para o elevador. Para minha surpresa, uma mão forte apertou o botão junto comigo.

— Ahhh, desculpa. – Só agora, ao lado dele, percebi o quanto ele tinha crescido, o rechonchudo Apolo, estava grande e forte. — Apertamos juntos.

Que frase idiota, mas foi o que saiu. Fora a cara de eu estava, com um sorriso bobo, nem queiram saber o que era aquilo. Graças a Deus o elevador chegou rápido e eu me enfiei lá no fundo.

— Hannah, banana – ele falou, enquanto apertava o botão para o térreo. — Há quanto tempo.

— Então, já faz um tempinho, não é? – E isso foi o que saiu da minha boca. — E aí Apolo, meu herói, quer dizer, herói da galera, da escola em geral, não meu… – Alguém me afoga numa xícara de café. Dei uma risadinha e fiquei séria pra terminar a conversa, antes que me embananasse mais.

— Então está tentando uma vaga aqui na empresa? – Ele tinha uma voz muito bonita, combinava com seu porte.

— Sim, vaga de assistente. Mas pelo jeito não … – o elevador parou e entraram mais pessoas. Foi ótimo, porque ele ficou mais perto, e deu pra sentir seu perfume delicioso. — … foi dessa vez.

— Não pense assim, a Sra. Solto é realmente muito ocupada, ela vai remarcar. – Enquanto ele falava eu só consegui comparar ele com o menino da escola, e ver o quanto ele ficou mais lindo. — Tem alguma coisa na minha camisa?

Foi então que ele começou a limpar algo que não existia, passando a mão no peitoral. Claro, porque eu estava babando na cara dura!

— Não, não, desculpa. É que percebi que você é … – olhei de baixo a cima e me vieram muitos adjetivos. — Segurança, agora.

— Sim, montei minha… – o elevador chegou no térreo. E descemos e continuamos conversando até o lobby. — Empresa há um ano e meio.

— Poxa, que legal, você é um empresário de sucesso, parabéns! – Eu espontaneamente coloquei a mão no ombro dele, odeio essa minha mania de tocar as pessoas, preciso corrigir isso, mas aqueles músculos…

— Obrigado, espero que você consiga a vaga de assistente, aí podemos conversar mais – aí ele fez um gesto com as mãos meio desajeitado, como se trocássemos socos em um ringue. – Ou você me dá seu telefone e combinamos algo, um café, um suco, refri.

Aí ficou sério de novo.

— Claro, me empresta seu celular que eu vou digitar pra você – o problema era eu pegar o objeto sem ficar tremendo, o que não aconteceu, estava visivelmente nervosa. Mas digitei mesmo assim. — Prontinho, coloquei meu nome já, Hannan sem o banana.

Agora sim, alguém deveria me afogar, antes da risada sem noção que eu dei.

— Já vou, Apolo, até mais. – Eu estendi a mão e ele veio como se fosse me dar um beijo, mas voltou. Então eu que fui dar um beijo, e fiquei no vácuo, e ele estendeu a mão. Enfim, acenei com uma continência. Isso mesmo, uma continência de exército ou marinha, o que preferirem, e saí dali antes que eu mesma me matasse!

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