4. LILITH (Hannah)

— Alô, mãe, acabei a segunda entrevista de hoje… – Minha mãe me ligava duas vezes em média por dia. Eu gostava disso, sentia que tinha uma amiga me apoiando em tudo que eu precisasse, pois era assim que ela agia. Ao contrário do meu pai, que só queria saber de me julgar e dizer como viver minha vida.

— Não, mãe, acho que ainda não foi dessa vez, mas sabe quem eu encontrei?

— Brad Pitt ou Wagner Moura? – Mamãe sonhava em encontrar um dos ídolos dela na rua e achava que eu ia achar isso o máximo para mim. Na verdade, só conheço esses nomes porque esses caras são realmente excelentes atores, mas fala sério, tô mais para Tom Holland ou Gabriel Elias.

— Não, mãe, Apolo, o gatinho da escola.

— O que sumiu depois dos boatos – ela ficou sabendo que algo muito grave aconteceu na casa do Apolo que fez a família se mudar. — Filha, como ele está? Vocês conversaram?

Eu estava atravessando a rua, e havia muito barulho de trânsito e pessoas passando.

— Não sobre isso, mas eu dei meu telefone – ela já não conseguia me ouvir direito. — Alô, mãe?

Resolvi desligar e mandar mensagem:

Hannah diz: “Mamys, depois nós falamos, muito tumulto. Beijosssss.”

Mamys diz: “Ok, se achar o Will Smith manda beijos da Polly, ele vai saber, kkkk.”

Minha mãe e suas fantasias, que só porque estou em uma cidade grande, vou sair esbarrando com pessoas famosas.

Me mudei para cá há dois anos e meio, vim de uma cidade muito pequena. Fiz dois anos de faculdade online em um polo estudantil perto de casa, não muito perto, mas só precisava viajar nas provas semestrais. Quando terminei, vim pra cá morar com minha tia Catarina, super rígida e muito ranzinza. Aguentei por 6 longos meses.

Bom dia, amiga… – Cheguei na confeitaria da minha Best Friend Forever, Lili, que veio para cá há mais de quatro anos, para ser atriz. — Preciso de um café e um cupcake.

— Não foi bem nas entrevistas, xodó? – Ela sempre me chamava de xodó quando sabia que eu não estava bem. — Me conta tudo, espera um pouco.

Ela foi até a porta de vidro e virou a placa de ABERTO para FECHADO.

— Prontinho… vou servir você. – Ela era simplesmente a melhor. Quando minha mãe ficou doente há sete anos, ela não saiu de casa. Me ajudou em todas as matérias e foi em todas as quimioterapias conosco. — Aqui, xodó, pode falar.

— A primeira estava indo super bem, até eu dar uma de Hannah. – Eu bati a mão na testa enquanto socava um cupcake na boca. — Derra…mei!

— Come devagar, vou pegar um pouquinho de leite – ela olhou para a vitrine, tinha alguém batendo no vidro. — Não posso atender agora, docinho. É uma emergência de família. Volta depois. – E jogou um beijinho com as mãos e soprou. O que fez a cliente ruborizar, mas deu um sorriso.

— Então, continuando, eu derramei café justo no sujeito que ia me contratar. – Dei mais algumas mordidas no doce e tomei meu café com leite enquanto ela me consolava.

— Mas, Haninha, meu amor, essas coisas acontecem. O cara tem que ver que ele entrou na hora errada, metade da culpa era dele, oxi! – Ela tinha esse sotaque nordestino que eu amava. E o mais engraçado é que ela nasceu aqui no sul, como eu, ela só forçava porque achava lindo.

— Enfim, na segunda entrevista, a secretária, que era uma grossa, mandou eu preencher uma ficha e depois disse que a dona do negócio todo não ia poder atender. – Então eu me endireitei na cadeira para contar para ela do Apolo. — Eu encontrei um colega nosso de fundamental lá.

Que carinha é essa, xodó?! – Ela sabia que eu ia soltar alguma bomba. — Com certeza é um dos seus peguetes antigos, não vai me dizer que foi o Nico?

— Não… – fiz cara de nojo, afinal, o Nico só me irritava e, a única vez que ficamos, foi por causa de uma brincadeira idiota. — Credo, amiga, por que você sempre lembra dele?

— Porque você pode falar mil vezes, mas você nunca esqueceu aquela pegada. – Eu não aguentei e comecei a rir, afinal, ela tinha razão, o garoto sabia beijar.

— Não foi alguém que eu fiquei, mas que eu gostaria de ter ficado.

— APOLO!!! – É claro que ela ia acertar, eu babava no cara desde a quarta série.

— Isso, e ele está incrível! – Minha cara fez todo sentido, acho que meus olhos até brilharam. — Deixei meu telefone com ele. Agora ele é empresário, tem sua empresa de segurança particular.

— Amiga, que máximo, mas você podia pegar o telefone dele também.

— Por quê? Acha que ele não vai ligar? – Dei um pulo da cadeira, não tinha pensado nisso. Mas pensando melhor, era até bom. Sentei de novo. — Lili, melhor assim, eu tenho muita coisa pra resolver.

— Me conta de você, como vão os ensaios da peça? – Lili estava ensaiando com o grupo teatral Ecos Urbanos da Ponte, não eram famosos, fizeram alguns shows no ano passado e juntaram uma grana, agora mudaram de peça e ela entrou no lugar da substituta da atriz principal.

— Estou amando, a Bruna é mesmo incrível, mas tem um lado meu que quer que ela se dê mal, isso me faz ser a pior pessoa do mundo… – ela se jogou no meu colo e fez carinha de choro.

— Para com isso, amiga, você está lutando por um papel há muito tempo, isso torna você um ser humano, como todos nós. Mas ser substituto é assim mesmo, e prova que você é tão boa quanto ela, se não, não podia…

— Substituí-la… – ela saiu do meu colo resmungando. — Eu sei, toda hora eu repito para mim mesma, mas estou aprendo muito com o Christian.

Christian era o diretor dela, que, aliás, eu odiava.

— Não faz essa cara, Hannah, eu sei no que estou me metendo, eu também estou usando ele… – então ela mordeu os lábios. — E usando bem usado.

Nós gargalhamos.

Terminei meu lanchinho e me despedi, queria ir logo para casa me jogar na cama, até a hora do meu curso.

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