— Alô, mãe, acabei a segunda entrevista de hoje… – Minha mãe me ligava duas vezes em média por dia. Eu gostava disso, sentia que tinha uma amiga me apoiando em tudo que eu precisasse, pois era assim que ela agia. Ao contrário do meu pai, que só queria saber de me julgar e dizer como viver minha vida.
— Não, mãe, acho que ainda não foi dessa vez, mas sabe quem eu encontrei?
— Brad Pitt ou Wagner Moura? – Mamãe sonhava em encontrar um dos ídolos dela na rua e achava que eu ia achar isso o máximo para mim. Na verdade, só conheço esses nomes porque esses caras são realmente excelentes atores, mas fala sério, tô mais para Tom Holland ou Gabriel Elias.
— Não, mãe, Apolo, o gatinho da escola.
— O que sumiu depois dos boatos – ela ficou sabendo que algo muito grave aconteceu na casa do Apolo que fez a família se mudar. — Filha, como ele está? Vocês conversaram?
Eu estava atravessando a rua, e havia muito barulho de trânsito e pessoas passando.
— Não sobre isso, mas eu dei meu telefone – ela já não conseguia me ouvir direito. — Alô, mãe?
Resolvi desligar e mandar mensagem:
Hannah diz: “Mamys, depois nós falamos, muito tumulto. Beijosssss.”
Mamys diz: “Ok, se achar o Will Smith manda beijos da Polly, ele vai saber, kkkk.”
Minha mãe e suas fantasias, que só porque estou em uma cidade grande, vou sair esbarrando com pessoas famosas.
Me mudei para cá há dois anos e meio, vim de uma cidade muito pequena. Fiz dois anos de faculdade online em um polo estudantil perto de casa, não muito perto, mas só precisava viajar nas provas semestrais. Quando terminei, vim pra cá morar com minha tia Catarina, super rígida e muito ranzinza. Aguentei por 6 longos meses.
Bom dia, amiga… – Cheguei na confeitaria da minha Best Friend Forever, Lili, que veio para cá há mais de quatro anos, para ser atriz. — Preciso de um café e um cupcake.
— Não foi bem nas entrevistas, xodó? – Ela sempre me chamava de xodó quando sabia que eu não estava bem. — Me conta tudo, espera um pouco.
Ela foi até a porta de vidro e virou a placa de ABERTO para FECHADO.
— Prontinho… vou servir você. – Ela era simplesmente a melhor. Quando minha mãe ficou doente há sete anos, ela não saiu de casa. Me ajudou em todas as matérias e foi em todas as quimioterapias conosco. — Aqui, xodó, pode falar.
— A primeira estava indo super bem, até eu dar uma de Hannah. – Eu bati a mão na testa enquanto socava um cupcake na boca. — Derra…mei!
— Come devagar, vou pegar um pouquinho de leite – ela olhou para a vitrine, tinha alguém batendo no vidro. — Não posso atender agora, docinho. É uma emergência de família. Volta depois. – E jogou um beijinho com as mãos e soprou. O que fez a cliente ruborizar, mas deu um sorriso.
— Então, continuando, eu derramei café justo no sujeito que ia me contratar. – Dei mais algumas mordidas no doce e tomei meu café com leite enquanto ela me consolava.
— Mas, Haninha, meu amor, essas coisas acontecem. O cara tem que ver que ele entrou na hora errada, metade da culpa era dele, oxi! – Ela tinha esse sotaque nordestino que eu amava. E o mais engraçado é que ela nasceu aqui no sul, como eu, ela só forçava porque achava lindo.
— Enfim, na segunda entrevista, a secretária, que era uma grossa, mandou eu preencher uma ficha e depois disse que a dona do negócio todo não ia poder atender. – Então eu me endireitei na cadeira para contar para ela do Apolo. — Eu encontrei um colega nosso de fundamental lá.
Que carinha é essa, xodó?! – Ela sabia que eu ia soltar alguma bomba. — Com certeza é um dos seus peguetes antigos, não vai me dizer que foi o Nico?
— Não… – fiz cara de nojo, afinal, o Nico só me irritava e, a única vez que ficamos, foi por causa de uma brincadeira idiota. — Credo, amiga, por que você sempre lembra dele?
— Porque você pode falar mil vezes, mas você nunca esqueceu aquela pegada. – Eu não aguentei e comecei a rir, afinal, ela tinha razão, o garoto sabia beijar.
— Não foi alguém que eu fiquei, mas que eu gostaria de ter ficado.
— APOLO!!! – É claro que ela ia acertar, eu babava no cara desde a quarta série.
— Isso, e ele está incrível! – Minha cara fez todo sentido, acho que meus olhos até brilharam. — Deixei meu telefone com ele. Agora ele é empresário, tem sua empresa de segurança particular.
— Amiga, que máximo, mas você podia pegar o telefone dele também.
— Por quê? Acha que ele não vai ligar? – Dei um pulo da cadeira, não tinha pensado nisso. Mas pensando melhor, era até bom. Sentei de novo. — Lili, melhor assim, eu tenho muita coisa pra resolver.
— Me conta de você, como vão os ensaios da peça? – Lili estava ensaiando com o grupo teatral Ecos Urbanos da Ponte, não eram famosos, fizeram alguns shows no ano passado e juntaram uma grana, agora mudaram de peça e ela entrou no lugar da substituta da atriz principal.
— Estou amando, a Bruna é mesmo incrível, mas tem um lado meu que quer que ela se dê mal, isso me faz ser a pior pessoa do mundo… – ela se jogou no meu colo e fez carinha de choro.
— Para com isso, amiga, você está lutando por um papel há muito tempo, isso torna você um ser humano, como todos nós. Mas ser substituto é assim mesmo, e prova que você é tão boa quanto ela, se não, não podia…
— Substituí-la… – ela saiu do meu colo resmungando. — Eu sei, toda hora eu repito para mim mesma, mas estou aprendo muito com o Christian.
Christian era o diretor dela, que, aliás, eu odiava.
— Não faz essa cara, Hannah, eu sei no que estou me metendo, eu também estou usando ele… – então ela mordeu os lábios. — E usando bem usado.
Nós gargalhamos.
Terminei meu lanchinho e me despedi, queria ir logo para casa me jogar na cama, até a hora do meu curso.
— Boa noite, Sr. Inácio.— Boa noite, Sta. Hannah. Como o senhor está hoje? – O motorista que me leva para a faculdade quase todos os dias.— Bem, graças a Deus, e você?— Eu preciso de um milagre para ir bem na prova.— Vou orar por você, mocinha, mas Deus só ajuda a lembrar o que você se esforçou para estudar.— Por isso que eu preciso de um milagre, Sr. Inácio. – Passei a roleta depois de ouvir a gargalhada e depois do olhar de desaprovação do meu amigo motorista. Era uma risada gostosa, solta e despreocupada. Me ajudava a seguir adiante; aquele senhor de idade avançada já me contou várias vitórias e sempre terminava com aquela gargalhada, isso me marcou.Quando cheguei no corredor, antes de entrar na sala, vi o casal se esfregando perto do bebedouro, que nojo! Letícia e Cícero, meu ex, sei lá o que era aquilo.— Boa noite, Hannah – ele falou com a mão ainda na bunda dela. — Como você está hoje? Não precisa responder, pela aparência, ainda na auto-piedade sem fim, pobre coitada.—
Meu celular me despertou, mas não era o toque do despertador, era umaligação de um número estranho.— Alô?— Por favor, Srta. Hannah Furtado. – Meu coração gelou, era voz dasecretária legal da primeira entrevista, mal podia acreditar… mas podia ser paradizer… não, não posso pensar assim. — Alô, tem alguém aí?— Oi, sou eu, desculpa, pode falar. – Que tonta, já comecei mal.— Você passou para a segunda fase da entrevista, gostaria de participar?— Sim, claro. O que devo fazer? – Levantei e corri para pegar um papel, masé claro que eu não tinha, porque na hora que se precisa, não achamos nada.Meu celular me despertou, mas não era o toque do despertador, era umaligação de um número
"Vou pedir para que desliguem seus celulares... – Aqui estou eu, e Antonellaestá impecável, como da última vez que a vi. Esse perfume dela é mesmo incrível;um dia vou perguntar... — Hannah Furtado, você pode me acompanhar? — Claro.– Eu tinha que ser a primeira, que droga. Mas tudo bem, eu vou conseguir; melhortirar o esparadrapo de uma vez. — Quantos candidatos passaram para a segundafase? — Para a vaga de secretária, só você. Os outros estão esperando outras vagas.— Yes!! – Ela parou... — Desculpe, não foi nada. – Credo, que olhar fuzilante;ela não vai com a minha cara, será?! Hummm, Nico deve ter comentado algo comela..."— Pode se sentar aqui, nesta tela; pode abrir o documento que está no Wordcomo "Teste para Vaga
Seu menino idiota, já não falei para você ajudar sua mãe… – que cheiro horrível de álcool, ele dessa vez nem consegue ficar em pé, babaca de merda — O que você está olhando, acha que essa porcaria de escola vai te ajudar a ser alguém na vida? — Se eu não for como você, já está ótimo. – Falei e saí correndo dali, tinha que ficar longe até ele desmaiar. O único problema é que, se ele não me pegasse, ele tinha que descontar em alguém. Depois de algumas horas, eu voltei para casa. O caderno estava todo rasgado, a professora era um saco, nem adiantava contar nada, ela não estava nem aí… aliás, ninguém estava. — Mãe, o que está fazendo aí no chão? – Ela colocou o dedo na boca, pedindo que eu me calasse. Seu olhar de pavor condiz com o tremor da sua mão. Tem muito sangue em suas pernas. — Mas, mãe… — Cala essa boca, moleque, o sangue não é meu. – Ela virou o rosto, e vi que estava muito machucada. — Esse desgraçado tentou me puxar enquanto se afogava no próprio sang
— Vou colocar o endereço no GPS. – Cara, nem acredito que Hannah está no meu carro, comigo… claro, né Zé mané. Vai estar no seu carro com quem?! — Você quer digitar aqui, por favor?— Claro, é bem fácil chegar lá, mas como nunca fui daqui, é melhor colocar mesmo. Deixe-me ver – enquanto ela digita, eu sinto o perfume amadeirado dela. Seu cabelo ainda tem a mesma cor, parece que nunca quis colorir, o jeito dela mesma, tão confiante e autêntica. — Prontinho.— Confeitaria Li Le Tá, nome bacana. Sua amiga vai estar lá nos esperando?— A confeitaria é dela, então… – ela torceu a boca, fica tão simpática quando faz isso. Eu liguei o carro e saímos. Ficamos um tempo em silêncio, até que os dois falamos ao mesmo tempo…— Queria pedir desc…— Eu queria pedir…Demos risada. O som do carro estava ligado baixinho, coincidência ou destino era uma música da nossa época."Love Me Like You Do" You're the light, you're the nightYou're the color of my bloodYou're the cure, you're the painYo
— Mãe, cheguei! – Todos os dias chego em casa por volta de seis da tarde e logo procuro meu filhote para dar um longo e saboroso abraço nele. — Onde está meu homenzinho aranha? — Pitchu!! Pitchu!! – Ele atira teias imaginárias em mim, estava fascinado pelos quadrinhos que comprei da última vez que passei na banca do senhor Cleison. — Você está presa na teia, mamãe. — Ohhhh, e agora, quem poderá me salvar? – Sempre misturo os personagens com Chapolin Colorado, que acompanhou minha infância na comunidade, onde minha mãe ligava no único canal que sintonizava. — Não, mamãe. Você é a malvada, ninguém vai te salvar. Eu salvo as pessoas de você.— Vem cá, seu moleque, depois que eu te pegar, alguém vai ter que te salvar dos meus beijos. – Ele saiu correndo depois de ver minhas garras apontadas para ele. Eu amo demais esse garotinho, pena que o pai seja quem ele é. — Vocês dois, parem de farra… – minha mãe sempre de mal humor, sinto por ela. Veio da cozinha com as contas nas mãos e gritan
— Claro, vá lá, eu devo ter milhões de recados de Antonella para ler – ele deu um sorriso murcho.Me afastei um pouco, antes de atender, respirei fundo. — Alô. – Ninguém disse nada, achei estranho e repeti um pouco mais alto. — Alô, aqui é Hannah. — Oi, Hannah, aqui é Apolo, da escola. Quer dizer, não mais da escola, da empresa de segurança, quer dizer da empresa que você… — Apolo, eu sei quem é você. – Mais uma vez, ficou mudo do outro lado. — Alô? — Oi, que bom que você sabe. Então, se estiver ocupada, posso ligar outra hora.— Claro, vá lá, eu devo ter milhões de recados de Antonella para ler – ele deu um sorriso murcho. Me afastei um pouco, antes de atender eu respirei fundo. — Alô. – Ninguém disse nada, achei estranho e repeti um pouco mais alto. — Alô, aqui é Hannah. — Oi, Hannah, aqui é Apolo, da escola. Quer dizer, não mais da escola, da empresa de segurança, quer dizer da empresa que você… — Apolo, eu sei quem é você. – Mais uma vez, ficou mudo do outro lado. — Alô?—
Grupo de Matemática no wattsapp:Pâmela diz: “Olá, pessoal, criei o grupo para tratar somente de assuntos do trabalho, então vamos focar.”Cícero diz: “Meninas, papaizão tá na área, calcule a satisfação!! (emoticon boca com língua de fora)Valquíria diz: “Oi, olha, podemos nos encontrar no sábado aqui em casa. Meus pais estarão viajando.”Pâmela diz: “Eu ia oferecer minha casa, mas estamos com reforma.”Hannah diz: “Sábado está ótimo se for à tarde. Olá pessoal!”Carla diz: “Oi, galera, de boa pra mim, só que até as 18h, depois tô fora.”Cícero diz: “Essa é das baladas.” (giff pessoas dançando)Carla diz: (figurinha dizendo: cuida da sua vida.) Pâmela diz: “Então ficou marcado para este sábado às 14h na casa da Val. Depois vc compartilha o endereço aqui no grupo conosco, okay?”Valquíria diz: “Pode deixar.”Levantei bem antes do horário de ir para o trabalho. Nossa, só de imaginar meu primeiro dia, me dá um frio na barriga. Tomei um banho e coloquei a roupa que já tinha separado, nad