— Boa noite, Sr. Inácio.
— Boa noite, Sta. Hannah. Como o senhor está hoje? – O motorista que me leva para a faculdade quase todos os dias.
— Bem, graças a Deus, e você?
— Eu preciso de um milagre para ir bem na prova.
— Vou orar por você, mocinha, mas Deus só ajuda a lembrar o que você se esforçou para estudar.
— Por isso que eu preciso de um milagre, Sr. Inácio. – Passei a roleta depois de ouvir a gargalhada e depois do olhar de desaprovação do meu amigo motorista. Era uma risada gostosa, solta e despreocupada. Me ajudava a seguir adiante; aquele senhor de idade avançada já me contou várias vitórias e sempre terminava com aquela gargalhada, isso me marcou.
Quando cheguei no corredor, antes de entrar na sala, vi o casal se esfregando perto do bebedouro, que nojo! Letícia e Cícero, meu ex, sei lá o que era aquilo.
— Boa noite, Hannah – ele falou com a mão ainda na bunda dela. — Como você está hoje? Não precisa responder, pela aparência, ainda na auto-piedade sem fim, pobre coitada.
— Cícero, quando eu precisar da sua opinião… – aí eu parei e coloquei a mão na testa. — Ah! Na verdade, isso nunca vai acontecer, então cuida da sua vida, ok?!
— Hummmm! Ela tá azeda hoje, não está sendo amada, tadinha. – Letícia era mesmo uma vaca, de todas as meninas, ele sabia que ela ia ser a que ia mais me irritar.
— Letícia, diga com quem andas… – então eu parei e olhei em volta, todos estavam olhando. — Esquece, todos já sabem quem você é.
Ela ia responder, e até veio pra cima de mim, o que me deu um certo medo, eu era boa de arrumar briga, mas não sabia nada de brigar, mas Cícero a deteve. O rosto dele de satisfação de ver nós duas discutindo, parecia que ganhou um prêmio.
Ainda bem que a primeira aula era de matemática, você deve achar que eu sou maluca, mas eu amo essa matéria, é tudo lógico e controlável, certo e perfeito. E ainda de bônus tinha ele…
— Boa noite, turma. – Hoje ele veio com colete cinza-claro, marcava todo o abdômen sarado do homem. Sério mesmo, já assistiram Velozes e Furiosos? É a mistura do rosto de Sung Kang, no primeiro filme, com o corpo do Matthew Daddario, e a elegância desse homem não tem limites.
— Pessoal, eu quero que formem equipes e vai ser por sorteio.
— Ahhhhhhhhhhhhh, não. – Todos protestaram, eu nem liguei, pra mim tanto faz, não consegui fazer amigos na classe, parece que eles já vieram de outras escolas todos em panelinhas. Meus últimos trabalhos foram com Cícero, Letícia e sua amiga Valquíria, foi onde tive o desprazer no começo do ano de conhecer o crápula e namorar ele por longos três meses.
— Vamos ao próximo grupo, atenção: Pâmela, Carla, Cícero e Hannah. – não, não deixei minha cabeça cair na carteira, aquilo não podia estar acontecendo.
— O tema de vocês será “Polinômios e equações algébricas”.
— Professor… – levantei a mão.
— Não podem trocar de grupo. O próximo grupo, é…
Era isso mesmo que ia perguntar, olhei para Cícero, ele estava sorrindo de canto de boca, mordendo uma lapiseira. Letícia, de braços cruzados com um bico maior que o Maracanã.
E assim fizemos o grupo no W******p:
— Aqui, meninas, meu número – peguei o celular delas e digitei, agora era só adicionar novamente o número do cafajeste. — Já criei o grupo “Mat.ClassOne”. Cícero, pode passar seu número, por favor?
— Como assim, girl, você já tem. – Aquele olhar era a morte pra mim, e pensar que eu me derretia quando ele fazia aquilo.
— Eu apaguei – olhei com desdém para ele.
— Acontece – ele mordeu os lábios, aqueles lábios carnudos.
— De propósito, aliás. – Levantei a sobrancelha.
— Ei!!! Nós vamos ter algum problema aqui? – Pâmela fez um círculo com as duas mãos na nossa frente e jogou o quadril de lado. Ela era a segunda melhor aluna na escola e a primeira da sala. — Não vou aceitar imaturidade e casinhos entre colegas atrapalhar meu desempenho acadêmico. Ficou claro?
— Como a neve. – Respondi.
Depois disso, nos cadastramos no grupo e fomos estudar. Cada um na sua mesa, pois o trabalho era para ser feito fora de classe. Meus pensamentos, enquanto o professor gato sarado falava, eram como administrar minhas últimas economias. Achei que quatro meses sem emprego fixo seria o máximo de tempo que eu ficaria, mas o mercado está apertadíssimo. Meus bicos davam para o aluguel e a luz, mas a comida estava me virando com os empréstimos da Lili e da minha mãe.
— Hannah, talvez você saiba esta, quer vir aqui tentar? – Este é aquele momento em que todos estão te olhando e você está olhando para a janela vendo o completo vazio.
— Cla...cla…ro vou sim. – Olhei para o quadro branco; era uma equação aparentemente fácil, só precisava de um pouco de raciocínio. Peguei o pincel atômico e comecei a resolver a primeira linha.
— Eu gostaria que você compartilhasse o raciocínio em voz alta conosco – ele estava de sacanagem comigo, né?! Quando pensei isso, fiz a cara exata disso também, com as mãos para cima e tudo mais. A sala inteira riu. — Algum problema?
— Não, professor. – Sim, professor, agora o senhor parece menos lindo, aliás, horroroso para mim. Foi aí que alguém levantou e disse que o horário da aula tinha acabado. Larguei o pincel e olhei para trás querendo dar um beijo no meu salvador, até ver quem era…
— Obrigada, senhor Cícero por me lembrar. Turma dispensada. – O professor não gostou muito da atitude do meu ex, mas eu não pude achar tão ruim assim.
Tínhamos que trocar de sala, por eu ter cursado a primeira faculdade de secretariado, acabei eliminando matérias e fiquei com alguns buracos na grade curricular. Usava esse tempo para ir à academia da faculdade, já que era gratuito mesmo.
— Boa noite, Hannah, tudo bem? – Sara era aluna da educação física e fazia estágio lá, uma gata e um amor de pessoa. Amava como ela tratava todos iguais, velhos e jovens, bolsistas ou não, acho que me entenderam.
— Olá, Sara, estou bem, sim, hoje quero pegar leve, estou deprê. – Às vezes eu contava, quando ainda estava com o Cícero eu desabafava com ela, depois ficamos falando mais sobre os estudos e família. — Já marcaram as provas?
— Sim, semana que vem nem apareço aqui mais, vejo minhas horas de estágio e vou só meter a cara nos livros. Paola está uma fera comigo. – Ela ligou a esteira e programou vinte minutos na caminhada. Paola era a namorada dela, estavam juntas há um tempão, viviam brigando.
— O que foi desta vez? – Eu conheci a Paola em um dia em que ela foi buscar Sara na escola. Ela tem uma dessas motos enormes de mil cilindradas, muito irada, eu gostei dela de início, super simpática, me mostrou as tatuagens, deu uma volta comigo, disse que até conhecia minha cidade natal e que um dia íamos todas lá passear. Mas depois da última briga delas, eu vi uns roxos no braço da Sara e não gostei do tipo de conversa que Paola teve em relação a deixar ela continuar estudando naquela faculdade.
— Ela apareceu no shopping, eu estava comprando lingeries com uma amiga do grupo de leitura, ela não conhece, eu mesma a conheci naquele dia em uma cafeteria e resolvemos esticar a tarde. Ela foi super grossa com a Raquel, e me puxou pelo braço…
— De novo, Sara… – eu a interrompi, mas continuei fazendo minha caminhada.
— Eu sei, eu sei. Mas depois ela me pede desculpa, e é tão carinhosa, até mandou mensagem para a menina com flores e tudo mais. – Sara balançou a cabeça, seus olhos estavam enevoados, eu via que estava esgotada. — Tudo acaba na cama e fica ótimo por uns dias.
— Sara, você mais do que ninguém sabe que eu estava entrando nessa com o Cícero. E quem foi a primeira a me alertar? – Ela era a que mais via ele me controlar, até mesmo me deixava na porta da academia e me buscava.
— É diferente, Hannah, eu devo tudo à Paola, ela me ajudou muito quando eu mais precisei. E ela está mudando, eu sinto. — Sara olhou para mim com esperança nos olhos, mas eu não podia deixar passar em branco.
— Se ela está mudando mesmo, ela precisa provar isso com ações concretas. E não só na cama. Vocês precisam de terapia de casal. Esse ciclo de brigas e desculpas não é saudável. Você merece mais, Sara.
— Lá vem você com essa história. Sim, claro que ela te ajudou pra caramba, mas o quanto você a retribuiu? Foi mútuo. E além do mais, ela sempre fez por amor, e algo se faz por amor, não é dívida pra ninguém. O amor é gratuito.
— Mas como faço pra deixar ela, minha vida toda está ligada a dela. – Nesse momento ela falou bem baixinho, e olhando dos lados, parecia até tremer.
— Sara, ninguém deveria ficar assim, ao falar sobre outra pessoa. Olha como você está?
— Porque tenho medo da sua reação. – Eu desliguei a esteira. Ela precisa mesmo de um plano.
— Tenho uma ideia, mas primeiro tenho que falar com uma amiga. Enquanto isso você tem que focar nas provas, ok?
— Ok. – o olhar dela não era nada ok, mas era o que tinha para o momento. — Vamos para os aparelhos, mocinha.
Meu celular me despertou, mas não era o toque do despertador, era umaligação de um número estranho.— Alô?— Por favor, Srta. Hannah Furtado. – Meu coração gelou, era voz dasecretária legal da primeira entrevista, mal podia acreditar… mas podia ser paradizer… não, não posso pensar assim. — Alô, tem alguém aí?— Oi, sou eu, desculpa, pode falar. – Que tonta, já comecei mal.— Você passou para a segunda fase da entrevista, gostaria de participar?— Sim, claro. O que devo fazer? – Levantei e corri para pegar um papel, masé claro que eu não tinha, porque na hora que se precisa, não achamos nada.Meu celular me despertou, mas não era o toque do despertador, era umaligação de um número
"Vou pedir para que desliguem seus celulares... – Aqui estou eu, e Antonellaestá impecável, como da última vez que a vi. Esse perfume dela é mesmo incrível;um dia vou perguntar... — Hannah Furtado, você pode me acompanhar? — Claro.– Eu tinha que ser a primeira, que droga. Mas tudo bem, eu vou conseguir; melhortirar o esparadrapo de uma vez. — Quantos candidatos passaram para a segundafase? — Para a vaga de secretária, só você. Os outros estão esperando outras vagas.— Yes!! – Ela parou... — Desculpe, não foi nada. – Credo, que olhar fuzilante;ela não vai com a minha cara, será?! Hummm, Nico deve ter comentado algo comela..."— Pode se sentar aqui, nesta tela; pode abrir o documento que está no Wordcomo "Teste para Vaga
Seu menino idiota, já não falei para você ajudar sua mãe… – que cheiro horrível de álcool, ele dessa vez nem consegue ficar em pé, babaca de merda — O que você está olhando, acha que essa porcaria de escola vai te ajudar a ser alguém na vida? — Se eu não for como você, já está ótimo. – Falei e saí correndo dali, tinha que ficar longe até ele desmaiar. O único problema é que, se ele não me pegasse, ele tinha que descontar em alguém. Depois de algumas horas, eu voltei para casa. O caderno estava todo rasgado, a professora era um saco, nem adiantava contar nada, ela não estava nem aí… aliás, ninguém estava. — Mãe, o que está fazendo aí no chão? – Ela colocou o dedo na boca, pedindo que eu me calasse. Seu olhar de pavor condiz com o tremor da sua mão. Tem muito sangue em suas pernas. — Mas, mãe… — Cala essa boca, moleque, o sangue não é meu. – Ela virou o rosto, e vi que estava muito machucada. — Esse desgraçado tentou me puxar enquanto se afogava no próprio sang
— Vou colocar o endereço no GPS. – Cara, nem acredito que Hannah está no meu carro, comigo… claro, né Zé mané. Vai estar no seu carro com quem?! — Você quer digitar aqui, por favor?— Claro, é bem fácil chegar lá, mas como nunca fui daqui, é melhor colocar mesmo. Deixe-me ver – enquanto ela digita, eu sinto o perfume amadeirado dela. Seu cabelo ainda tem a mesma cor, parece que nunca quis colorir, o jeito dela mesma, tão confiante e autêntica. — Prontinho.— Confeitaria Li Le Tá, nome bacana. Sua amiga vai estar lá nos esperando?— A confeitaria é dela, então… – ela torceu a boca, fica tão simpática quando faz isso. Eu liguei o carro e saímos. Ficamos um tempo em silêncio, até que os dois falamos ao mesmo tempo…— Queria pedir desc…— Eu queria pedir…Demos risada. O som do carro estava ligado baixinho, coincidência ou destino era uma música da nossa época."Love Me Like You Do" You're the light, you're the nightYou're the color of my bloodYou're the cure, you're the painYo
— Mãe, cheguei! – Todos os dias chego em casa por volta de seis da tarde e logo procuro meu filhote para dar um longo e saboroso abraço nele. — Onde está meu homenzinho aranha? — Pitchu!! Pitchu!! – Ele atira teias imaginárias em mim, estava fascinado pelos quadrinhos que comprei da última vez que passei na banca do senhor Cleison. — Você está presa na teia, mamãe. — Ohhhh, e agora, quem poderá me salvar? – Sempre misturo os personagens com Chapolin Colorado, que acompanhou minha infância na comunidade, onde minha mãe ligava no único canal que sintonizava. — Não, mamãe. Você é a malvada, ninguém vai te salvar. Eu salvo as pessoas de você.— Vem cá, seu moleque, depois que eu te pegar, alguém vai ter que te salvar dos meus beijos. – Ele saiu correndo depois de ver minhas garras apontadas para ele. Eu amo demais esse garotinho, pena que o pai seja quem ele é. — Vocês dois, parem de farra… – minha mãe sempre de mal humor, sinto por ela. Veio da cozinha com as contas nas mãos e gritan
— Claro, vá lá, eu devo ter milhões de recados de Antonella para ler – ele deu um sorriso murcho.Me afastei um pouco, antes de atender, respirei fundo. — Alô. – Ninguém disse nada, achei estranho e repeti um pouco mais alto. — Alô, aqui é Hannah. — Oi, Hannah, aqui é Apolo, da escola. Quer dizer, não mais da escola, da empresa de segurança, quer dizer da empresa que você… — Apolo, eu sei quem é você. – Mais uma vez, ficou mudo do outro lado. — Alô? — Oi, que bom que você sabe. Então, se estiver ocupada, posso ligar outra hora.— Claro, vá lá, eu devo ter milhões de recados de Antonella para ler – ele deu um sorriso murcho. Me afastei um pouco, antes de atender eu respirei fundo. — Alô. – Ninguém disse nada, achei estranho e repeti um pouco mais alto. — Alô, aqui é Hannah. — Oi, Hannah, aqui é Apolo, da escola. Quer dizer, não mais da escola, da empresa de segurança, quer dizer da empresa que você… — Apolo, eu sei quem é você. – Mais uma vez, ficou mudo do outro lado. — Alô?—
Grupo de Matemática no wattsapp:Pâmela diz: “Olá, pessoal, criei o grupo para tratar somente de assuntos do trabalho, então vamos focar.”Cícero diz: “Meninas, papaizão tá na área, calcule a satisfação!! (emoticon boca com língua de fora)Valquíria diz: “Oi, olha, podemos nos encontrar no sábado aqui em casa. Meus pais estarão viajando.”Pâmela diz: “Eu ia oferecer minha casa, mas estamos com reforma.”Hannah diz: “Sábado está ótimo se for à tarde. Olá pessoal!”Carla diz: “Oi, galera, de boa pra mim, só que até as 18h, depois tô fora.”Cícero diz: “Essa é das baladas.” (giff pessoas dançando)Carla diz: (figurinha dizendo: cuida da sua vida.) Pâmela diz: “Então ficou marcado para este sábado às 14h na casa da Val. Depois vc compartilha o endereço aqui no grupo conosco, okay?”Valquíria diz: “Pode deixar.”Levantei bem antes do horário de ir para o trabalho. Nossa, só de imaginar meu primeiro dia, me dá um frio na barriga. Tomei um banho e coloquei a roupa que já tinha separado, nad
Rodolfo diz: “Bruno, fui selecionado para aquela vaga na empresa do mel.”Bruno diz: “A vaga de secretário? Onde você está?”Rodolfo diz: “Sim, ela mesma. Estou em uma cafeteria, perto da via norte. Vem me encontrar?”Bruno diz: “Vem você pra cá, mando o Orion te buscar.”Rodolfo diz: “Já falei que não, estava falando sério. Como está a mamãe?”Bruno diz: “Ela se internou em um Spa, falou para o pai que está em greve de sexo, até ele te convencer a voltar.”Rodolfo diz: “Acho melhor ele achar uma nova esposa, seria mais fácil.”Bruno diz: “Não brinque com isso, Tato, ele é louco por ela, você sabe.”Rodolfo diz: “Pare de drama, fiz minhas escolhas e você prometeu me apoiar.”Bruno diz: “Claro, o que precisar. Já arrumou onde morar definitivamente?"Rodolfo diz: “Não, e a grana está acabando. Preciso passar nessa segunda entrevista. Aí será achar um apartamento, quem sabe alguém para dividir comigo.”Bruno diz: “kkkkkkk, você dividindo apê, quando a mamãe souber disso ela vai ter um su