Hannah e Dois Corações
Hannah e Dois Corações
Por: Ita Toledo
1.ENTREVISTAS (Hannah)

Na primeira vez que me apaixonei, eu tinha nove anos e estava na terceira série.

— Me dá essa maçã, garotinha. – Nico estava na quarta série e costumava pegar lanches dos mais novos.

— Deixa ela em paz, Nico. – Apolo estava na mesma sala que Nico, sendo seu opositor.

— De novo se metendo onde não deve, seu “medingo” arruaceiro. – Nico empurrou-o no ombro; ele era um pouco mais alto e gordo.

— De novo, Nico, se diz mendigo… – e ele devolveu o empurrão.

— BRIGA NO REFEITÓRIO!!! – Alguém gritou, e todos formaram um círculo.

Os meninos rolavam no chão, socando-se e esperneando como podiam.

Minha mente congelou minutos atrás, quando Apolo chegou e disse a primeira frase referindo-se a mim. Daquele momento até a chegada da supervisora, foram músicas românticas e nós passeando de mãos dadas pelos jardins da escola.

— Hannah!!! Hannah… – Uma voz lá no fundo me acordou do transe.

— Oi!!

— Vamos à diretoria – a supervisora estava visivelmente nervosa.

— Mas… mas… eu não fiz nada – minha garganta deu um nó, e meus olhos já estavam lacrimejando.

E lá estava eu na diretoria, sentada ao lado dos dois, que seriam os maiores e verdadeiros amores da minha vida.

Dez anos depois:

— Hein, motorista, era aquele ponto, não ouviu o sinal? – Estava atrasada para minha segunda entrevista do dia, e a primeira foi um desastre. Vou contar para vocês: Cheguei às 7:35 da manhã, a entrevista era às 8:00, mas eu queria me preparar, estava muito ansiosa.

— Bom dia, tenho uma entrevista às oito com… – O segurança da empresa nem me deixou terminar; dali mesmo, com a porta fechada, através do vidro,

Os meninos rolavam no chão, socando-se e esperneando como podiam.

Minha mente congelou minutos atrás, quando Apolo chegou e proferiu as primeiras palavras referindo-se a mim. Daquele momento até a chegada da supervisora, foram músicas românticas e nós passeando de mãos dadas pelos jardins da escola.

— Hannah!!! Hannah… – Uma voz lá no fundo me acordou do transe.

— Oi!!

— Vamos à diretoria – a supervisora estava visivelmente nervosa.

— Mas… mas… eu não fiz nada – minha garganta deu um nó, e meus olhos já estavam lacrimejando.

E lá estava eu na diretoria, sentada ao lado dos dois, que se tornariam os maiores e verdadeiros amores da minha vida.

— Sim, infelizmente, todos nós – ele fez uma cara de insatisfação. — Agora eles fazem isso, como se não tivéssemos outras entrevistas, temos que escolher a qual vir.

— Tem razão, porque se eu demorar aqui, não poderei ir na próxima às 10:00 da manhã. – Coloquei meus dedos entre minha franja e deslizei para trás, fechando meus olhos e bufando.

— Certamente não dará tempo mesmo, veja que cada um de nós levará meia hora de entrevista, se ele chegar no horário… – ele torceu a boca. — Qual a melhor vaga para você?

— As duas são muito promissoras – olhei para a fila novamente. Nesse momento, chegaram mais duas pessoas. — Bom dia.

Rodolfo instintivamente olhou para frente, como se quisesse se esconder.

— Seu canalha, então não conseguiu a vaga de ontem? – Uma moça muito nervosa tirava satisfação com ele. — Pois bem feito pra você, perdi a entrevista por sua causa, e minha amiga também.

— Saíram da fila porque quiseram; no mundo dos negócios, é cada um por si. – Rodolfo se defendeu.

— Ele estava querendo me convencer a sair também – comentei com ela, abismada. — Se bem que se ficarem os cinco, não daria tempo mesmo.

— Eles não estão na entrevista. São funcionários da empresa, aguardando abrir. Cada um tem um horário, qual é o seu? – Ela me explicou e perguntou.

Então, tudo foi resolvido; o meu era o primeiro às oito e o do canalha às 9:00 da manhã, o da moça que foi com a amiga, às 8:30. Ele ia mais cedo para dar o golpe.

— Pode se sentar, Sta. Hannah Furtado. – Quem me entrevistava era a secretária do empresário para quem eu queria a vaga. — Meu nome é Antonella, sou a primeira secretária do Sr. Nicolas, e a vaga é para a segunda secretária. Posso lhe fazer algumas perguntas?

— Claro, pode sim. – Abri meu melhor sorriso. Minha tia me dizia que sorrisos abrem portas, e que eu tinha uma bela arcada dentária.

— Você está cursando Artes Visuais, está em qual período e por que escolheu este curso? – Ela era muito bonita mesmo, e seu perfume tinha cheiro de dinheiro bem gasto.

Vou pular a parte chata; vocês vão saber ao longo da história porque eu não resisto e acabo contando mesmo. O problema é que estava indo bem, até…

— Srta. Antonella, pode por favor… – ele entrou no final da minha entrevista, eu estava levantando e me despedindo, andando de costas, claro, como uma desastrada faria.

— Ai meu Deus, me desculpe… – foi café para todo lado, e muito, muito quente. — Deixe eu ajudar o senhor, por favor.

— Não precisa, por favor, não faça isso… – ele se esgueirava de mim e se afastava, e eu ia pra cima do homem tentando passar a mão nele, ai que horror. Até ele sair correndo de mim, claro.

Olhei para trás e lá estava Antonella.

— Muito obrigada pela sua vinda aqui, nós entraremos em contato.

— Quem era ele? – Perguntei com os ombros grudados na cabeça e o olhar de cachorro molhado, torcendo pra ser alguém muito legal que adora levar banhos de café.

— Ele é o Sr. Nicolas Nicolai III, o dono da empresa, para quem vou encaminhar sua entrevista – não sei por que Antonella colocou um tom marcante na palavra "encaminhar", na verdade, eu sei sim.

Enfim, saí de lá e fui para o ponto de ônibus, onde começou uma chuva torrencial. Mas eu estava no horário certo para chegar na outra entrevista.

O ônibus estava um pouco atrasado, como sempre; parou bem à frente do ponto. Corri para chegar à porta e, adivinhem quem me empurrou para entrar primeiro? Acertou quem disse: Rodolfo, mais conhecido como o canalha da fila.

— Não tem educação? – Como se ele fosse admitir.

— Tenho, mas prefiro não desperdiçar com você – ele soltou uma risadinha malévola quando passava pela catraca.

O ônibus não estava tão cheio, pelo menos isso; avistei um assento no fundo, e quando passei pelo "canalha sem escrúpulos", mirei meu olhar mais devastador e violento possível, espero ter passado péssimas vibrações.

E estava ali, molhada, desanimada, insultada, mas ainda assim tinha uma boa sensação sobre aquela entrevista… ahhhh não!

— Então, você vai conseguir chegar a tempo? – Rodolfo sentou do meu lado, encostando sua perna na minha; isso me incomodou bastante. Ele era um sujeito muito desagradável.

— Espero que não, ainda tenho tempo – virei para olhar a rua, mas a janela estava embaçada pela diferença de temperatura. E foi aí que ele se inclinou por cima de mim para passar a mão no vidro. — Sai de cima de mim.

— Estou tentando melhorar sua visão, se bem que pra isso era só olhar pro meu lado – ele soltou uma risadinha cafajeste.

— Você é convencido – eu balancei minha cabeça em negativo. Que cara babaca. — Escuta aqui…

— Aquela vaga está no papo, gata, ainda mais depois que você deu um banho de café no “homem” – aí sim, a risada dele era debochada.

— Vai te lascar, Rodolfo! – Levantei e fiquei em pé perto da porta, bem no meio do ônibus.

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