Na primeira vez que me apaixonei, eu tinha nove anos e estava na terceira série.
— Me dá essa maçã, garotinha. – Nico estava na quarta série e costumava pegar lanches dos mais novos.
— Deixa ela em paz, Nico. – Apolo estava na mesma sala que Nico, sendo seu opositor.
— De novo se metendo onde não deve, seu “medingo” arruaceiro. – Nico empurrou-o no ombro; ele era um pouco mais alto e gordo.
— De novo, Nico, se diz mendigo… – e ele devolveu o empurrão.
— BRIGA NO REFEITÓRIO!!! – Alguém gritou, e todos formaram um círculo.
Os meninos rolavam no chão, socando-se e esperneando como podiam.
Minha mente congelou minutos atrás, quando Apolo chegou e disse a primeira frase referindo-se a mim. Daquele momento até a chegada da supervisora, foram músicas românticas e nós passeando de mãos dadas pelos jardins da escola.
— Hannah!!! Hannah… – Uma voz lá no fundo me acordou do transe.
— Oi!!
— Vamos à diretoria – a supervisora estava visivelmente nervosa.
— Mas… mas… eu não fiz nada – minha garganta deu um nó, e meus olhos já estavam lacrimejando.
E lá estava eu na diretoria, sentada ao lado dos dois, que seriam os maiores e verdadeiros amores da minha vida.
Dez anos depois:
— Hein, motorista, era aquele ponto, não ouviu o sinal? – Estava atrasada para minha segunda entrevista do dia, e a primeira foi um desastre. Vou contar para vocês: Cheguei às 7:35 da manhã, a entrevista era às 8:00, mas eu queria me preparar, estava muito ansiosa.
— Bom dia, tenho uma entrevista às oito com… – O segurança da empresa nem me deixou terminar; dali mesmo, com a porta fechada, através do vidro,
Os meninos rolavam no chão, socando-se e esperneando como podiam.
Minha mente congelou minutos atrás, quando Apolo chegou e proferiu as primeiras palavras referindo-se a mim. Daquele momento até a chegada da supervisora, foram músicas românticas e nós passeando de mãos dadas pelos jardins da escola.
— Hannah!!! Hannah… – Uma voz lá no fundo me acordou do transe.
— Oi!!
— Vamos à diretoria – a supervisora estava visivelmente nervosa.
— Mas… mas… eu não fiz nada – minha garganta deu um nó, e meus olhos já estavam lacrimejando.
E lá estava eu na diretoria, sentada ao lado dos dois, que se tornariam os maiores e verdadeiros amores da minha vida.
— Sim, infelizmente, todos nós – ele fez uma cara de insatisfação. — Agora eles fazem isso, como se não tivéssemos outras entrevistas, temos que escolher a qual vir.
— Tem razão, porque se eu demorar aqui, não poderei ir na próxima às 10:00 da manhã. – Coloquei meus dedos entre minha franja e deslizei para trás, fechando meus olhos e bufando.
— Certamente não dará tempo mesmo, veja que cada um de nós levará meia hora de entrevista, se ele chegar no horário… – ele torceu a boca. — Qual a melhor vaga para você?
— As duas são muito promissoras – olhei para a fila novamente. Nesse momento, chegaram mais duas pessoas. — Bom dia.
Rodolfo instintivamente olhou para frente, como se quisesse se esconder.
— Seu canalha, então não conseguiu a vaga de ontem? – Uma moça muito nervosa tirava satisfação com ele. — Pois bem feito pra você, perdi a entrevista por sua causa, e minha amiga também.
— Saíram da fila porque quiseram; no mundo dos negócios, é cada um por si. – Rodolfo se defendeu.
— Ele estava querendo me convencer a sair também – comentei com ela, abismada. — Se bem que se ficarem os cinco, não daria tempo mesmo.
— Eles não estão na entrevista. São funcionários da empresa, aguardando abrir. Cada um tem um horário, qual é o seu? – Ela me explicou e perguntou.
Então, tudo foi resolvido; o meu era o primeiro às oito e o do canalha às 9:00 da manhã, o da moça que foi com a amiga, às 8:30. Ele ia mais cedo para dar o golpe.
— Pode se sentar, Sta. Hannah Furtado. – Quem me entrevistava era a secretária do empresário para quem eu queria a vaga. — Meu nome é Antonella, sou a primeira secretária do Sr. Nicolas, e a vaga é para a segunda secretária. Posso lhe fazer algumas perguntas?
— Claro, pode sim. – Abri meu melhor sorriso. Minha tia me dizia que sorrisos abrem portas, e que eu tinha uma bela arcada dentária.
— Você está cursando Artes Visuais, está em qual período e por que escolheu este curso? – Ela era muito bonita mesmo, e seu perfume tinha cheiro de dinheiro bem gasto.
Vou pular a parte chata; vocês vão saber ao longo da história porque eu não resisto e acabo contando mesmo. O problema é que estava indo bem, até…
— Srta. Antonella, pode por favor… – ele entrou no final da minha entrevista, eu estava levantando e me despedindo, andando de costas, claro, como uma desastrada faria.
— Ai meu Deus, me desculpe… – foi café para todo lado, e muito, muito quente. — Deixe eu ajudar o senhor, por favor.
— Não precisa, por favor, não faça isso… – ele se esgueirava de mim e se afastava, e eu ia pra cima do homem tentando passar a mão nele, ai que horror. Até ele sair correndo de mim, claro.
Olhei para trás e lá estava Antonella.
— Muito obrigada pela sua vinda aqui, nós entraremos em contato.
— Quem era ele? – Perguntei com os ombros grudados na cabeça e o olhar de cachorro molhado, torcendo pra ser alguém muito legal que adora levar banhos de café.
— Ele é o Sr. Nicolas Nicolai III, o dono da empresa, para quem vou encaminhar sua entrevista – não sei por que Antonella colocou um tom marcante na palavra "encaminhar", na verdade, eu sei sim.
Enfim, saí de lá e fui para o ponto de ônibus, onde começou uma chuva torrencial. Mas eu estava no horário certo para chegar na outra entrevista.
O ônibus estava um pouco atrasado, como sempre; parou bem à frente do ponto. Corri para chegar à porta e, adivinhem quem me empurrou para entrar primeiro? Acertou quem disse: Rodolfo, mais conhecido como o canalha da fila.
— Não tem educação? – Como se ele fosse admitir.
— Tenho, mas prefiro não desperdiçar com você – ele soltou uma risadinha malévola quando passava pela catraca.
O ônibus não estava tão cheio, pelo menos isso; avistei um assento no fundo, e quando passei pelo "canalha sem escrúpulos", mirei meu olhar mais devastador e violento possível, espero ter passado péssimas vibrações.
E estava ali, molhada, desanimada, insultada, mas ainda assim tinha uma boa sensação sobre aquela entrevista… ahhhh não!
— Então, você vai conseguir chegar a tempo? – Rodolfo sentou do meu lado, encostando sua perna na minha; isso me incomodou bastante. Ele era um sujeito muito desagradável.
— Espero que não, ainda tenho tempo – virei para olhar a rua, mas a janela estava embaçada pela diferença de temperatura. E foi aí que ele se inclinou por cima de mim para passar a mão no vidro. — Sai de cima de mim.
— Estou tentando melhorar sua visão, se bem que pra isso era só olhar pro meu lado – ele soltou uma risadinha cafajeste.
— Você é convencido – eu balancei minha cabeça em negativo. Que cara babaca. — Escuta aqui…
— Aquela vaga está no papo, gata, ainda mais depois que você deu um banho de café no “homem” – aí sim, a risada dele era debochada.
— Vai te lascar, Rodolfo! – Levantei e fiquei em pé perto da porta, bem no meio do ônibus.
O motorista me deixou a cinco enormes quarteirões da segunda entrevista, então tive que correr na chuva. — Bom dia – lá estava eu, eu uma recepção pra lá de chique, toda molhada e atrasada. — Tenho uma entrevista, aliás, tinha uma entrevista às 10:00 com Sebastian Cole, sobre a vaga de assistente administrativa. — Bom dia, o Sr. Cole está atrasado, deve ser o trânsito, então você está com sorte – a moça me deu um sorriso e uma piscadinha de olho, aquilo me confortou profundamente. — Então relaxa, e vai até o banheiro se secar um pouco, lá tem toalhas. — Uau!! Você é um amor, muito obrigada… – fiquei procurando o nome dela no crachá. — Tabita, e imagina, eu sei como é estar procurando trabalho, estou aqui há pouco mais de um mês. – Ela deu mais um sorriso e indicou o banheiro. Quando entrei no local, percebi que a empresa era realmente muito elegante, digamos assim. Tudo de mármore preto e branco, e as toalhas de que ela falou eram de tecido, fiquei chocada. A senhora que cuidava
— Fica mais um pouquinho, delícia.Detestava quando ela me tratava assim, mas fui eu que permiti essa intimidade, fazer o quê, não é?— Não posso, moça bonita, tenho que levantar cedo, se não minha patroa me come vivo… – era uma piada interna nossa. — Ahhh é! Ela é você, e você já me devora.Coloquei minha camisa e dei uma piscadinha cafajeste que elas gostam. Para falar a verdade, aquilo tudo já estava me cansando, mas eu só precisava aguentar mais alguns meses até o contrato acabar.Eu sei o que vocês estão pensando, misturar negócios com prazer, ou até mesmo que eu me vendi. Mas não julguem antes de saber que ela me contratou pelas minhas outras virtudes, meu negócio de segurança era muito recomendado, eu realmente era bom no que fazia e ralei muito para me tornar uns dos melhores na área.O prazer veio bem depois, afinal, aquela mulher não era de se jogar fora, e eu não deixo passar um bom partido.— Alô? Estou a caminho. – Era meu assistente, tinham invadido um dos escritórios qu
— Alô, mãe, acabei a segunda entrevista de hoje… – Minha mãe me ligava duas vezes em média por dia. Eu gostava disso, sentia que tinha uma amiga me apoiando em tudo que eu precisasse, pois era assim que ela agia. Ao contrário do meu pai, que só queria saber de me julgar e dizer como viver minha vida.— Não, mãe, acho que ainda não foi dessa vez, mas sabe quem eu encontrei?— Brad Pitt ou Wagner Moura? – Mamãe sonhava em encontrar um dos ídolos dela na rua e achava que eu ia achar isso o máximo para mim. Na verdade, só conheço esses nomes porque esses caras são realmente excelentes atores, mas fala sério, tô mais para Tom Holland ou Gabriel Elias.— Não, mãe, Apolo, o gatinho da escola.— O que sumiu depois dos boatos – ela ficou sabendo que algo muito grave aconteceu na casa do Apolo que fez a família se mudar. — Filha, como ele está? Vocês conversaram?Eu estava atravessando a rua, e havia muito barulho de trânsito e pessoas passando.— Não sobre isso, mas eu dei meu telefone – ela j
— Boa noite, Sr. Inácio.— Boa noite, Sta. Hannah. Como o senhor está hoje? – O motorista que me leva para a faculdade quase todos os dias.— Bem, graças a Deus, e você?— Eu preciso de um milagre para ir bem na prova.— Vou orar por você, mocinha, mas Deus só ajuda a lembrar o que você se esforçou para estudar.— Por isso que eu preciso de um milagre, Sr. Inácio. – Passei a roleta depois de ouvir a gargalhada e depois do olhar de desaprovação do meu amigo motorista. Era uma risada gostosa, solta e despreocupada. Me ajudava a seguir adiante; aquele senhor de idade avançada já me contou várias vitórias e sempre terminava com aquela gargalhada, isso me marcou.Quando cheguei no corredor, antes de entrar na sala, vi o casal se esfregando perto do bebedouro, que nojo! Letícia e Cícero, meu ex, sei lá o que era aquilo.— Boa noite, Hannah – ele falou com a mão ainda na bunda dela. — Como você está hoje? Não precisa responder, pela aparência, ainda na auto-piedade sem fim, pobre coitada.—
Meu celular me despertou, mas não era o toque do despertador, era umaligação de um número estranho.— Alô?— Por favor, Srta. Hannah Furtado. – Meu coração gelou, era voz dasecretária legal da primeira entrevista, mal podia acreditar… mas podia ser paradizer… não, não posso pensar assim. — Alô, tem alguém aí?— Oi, sou eu, desculpa, pode falar. – Que tonta, já comecei mal.— Você passou para a segunda fase da entrevista, gostaria de participar?— Sim, claro. O que devo fazer? – Levantei e corri para pegar um papel, masé claro que eu não tinha, porque na hora que se precisa, não achamos nada.Meu celular me despertou, mas não era o toque do despertador, era umaligação de um número
"Vou pedir para que desliguem seus celulares... – Aqui estou eu, e Antonellaestá impecável, como da última vez que a vi. Esse perfume dela é mesmo incrível;um dia vou perguntar... — Hannah Furtado, você pode me acompanhar? — Claro.– Eu tinha que ser a primeira, que droga. Mas tudo bem, eu vou conseguir; melhortirar o esparadrapo de uma vez. — Quantos candidatos passaram para a segundafase? — Para a vaga de secretária, só você. Os outros estão esperando outras vagas.— Yes!! – Ela parou... — Desculpe, não foi nada. – Credo, que olhar fuzilante;ela não vai com a minha cara, será?! Hummm, Nico deve ter comentado algo comela..."— Pode se sentar aqui, nesta tela; pode abrir o documento que está no Wordcomo "Teste para Vaga
Seu menino idiota, já não falei para você ajudar sua mãe… – que cheiro horrível de álcool, ele dessa vez nem consegue ficar em pé, babaca de merda — O que você está olhando, acha que essa porcaria de escola vai te ajudar a ser alguém na vida? — Se eu não for como você, já está ótimo. – Falei e saí correndo dali, tinha que ficar longe até ele desmaiar. O único problema é que, se ele não me pegasse, ele tinha que descontar em alguém. Depois de algumas horas, eu voltei para casa. O caderno estava todo rasgado, a professora era um saco, nem adiantava contar nada, ela não estava nem aí… aliás, ninguém estava. — Mãe, o que está fazendo aí no chão? – Ela colocou o dedo na boca, pedindo que eu me calasse. Seu olhar de pavor condiz com o tremor da sua mão. Tem muito sangue em suas pernas. — Mas, mãe… — Cala essa boca, moleque, o sangue não é meu. – Ela virou o rosto, e vi que estava muito machucada. — Esse desgraçado tentou me puxar enquanto se afogava no próprio sang
— Vou colocar o endereço no GPS. – Cara, nem acredito que Hannah está no meu carro, comigo… claro, né Zé mané. Vai estar no seu carro com quem?! — Você quer digitar aqui, por favor?— Claro, é bem fácil chegar lá, mas como nunca fui daqui, é melhor colocar mesmo. Deixe-me ver – enquanto ela digita, eu sinto o perfume amadeirado dela. Seu cabelo ainda tem a mesma cor, parece que nunca quis colorir, o jeito dela mesma, tão confiante e autêntica. — Prontinho.— Confeitaria Li Le Tá, nome bacana. Sua amiga vai estar lá nos esperando?— A confeitaria é dela, então… – ela torceu a boca, fica tão simpática quando faz isso. Eu liguei o carro e saímos. Ficamos um tempo em silêncio, até que os dois falamos ao mesmo tempo…— Queria pedir desc…— Eu queria pedir…Demos risada. O som do carro estava ligado baixinho, coincidência ou destino era uma música da nossa época."Love Me Like You Do" You're the light, you're the nightYou're the color of my bloodYou're the cure, you're the painYo