Acordei com o barulho dos passaros sobrevoando onde eu estava, por um momento esqueci que tinha fugido e imaginei que Sandra apareceria exigindo uma limpeza nos quartos e na boate, mas é claro isso não aconteceu.
Estava de volta a natureza da qual eu passei a maior parte da infância.O cheiro da mata ao redor me trouxe uma felicidade que há muito não sentia e agora o céu estava limpo sem nenhum vestígio de chuva vindo.Me levantei caminhando com o único objetivo de encontrar um riacho, beber água e um banho seria uma benção agora, eu sabia que tinha um riacho na direção ao norte daqui graças a Pedro um dos meninos que trabalhava na boate.Ele já havia entrado na floresta para caçar apesar das lendas amendrontarem a todos para Pedro ver suas irmãs com fome pareceu mais assustador, esperava que ninguém soubesse que ele havia me dado algumas referências de como sobreviver aqui, embora ninguém soubesse que ele já havia entrado aqui.Somente eu sabia.O riacho ficava para o norte, olhei para a posição do sol tentando localizar o norte, ao conseguir fui me guiando confiante que antes do meio dia conseguiria estar no riacho.Pensei no que faria ao conseguir sair daqui, não poderia ir na polícia, Sandra era só uma entre tantas nessa rede de escravidão sexual, havia alguém muito mais poderoso por trás de tudo aquilo e a polícia local estava na folha de pagamento.Então ir até a polícia era fora de cogitação. Caminhei o que pareceu horas até meu estômago protestar com fome, agora o calor me incomodava, o frio da noite anterior parecia uma dádiva agora nesse calor, meus pés estavam imundos e cortados por caminhar por tanto tempo descalça sobre pedras, gravetos e todas as coisas da mata.Desenbrulhei meu pão roubado da cozinha e comi metade dele, olhei para o sol e estava perto do meio dia.Resolvi parar por alguns momentos respirando, olhei ao redor e me surpreendi ao ver uma árvore frutífera.Não tinha visto nenhuma até agora.Era um pé de manga, a alguns metros de mim, o pão seco havia me deixado com mais sede ainda, uma manga era muito melhor naquele momento.Ontem no meio daquela chuva embora tenha bebido toda a água que eu pude não consegui nada para armazenar um pouco para hoje na caminhada, estava com calor e desitrada.As mangas estavam muito altas, procurei uma pedra no chão e sem pensar duas vezes lancei na esperança de derrubar uma fruta.Não fui bem sucedida.- O que você está fazendo aqui? Ninguém vem nessa mata!- uma voz masculina me fez congelar, me virei com cuidado sem acreditar que tinha alguém atrás de mim.
Eu nem se quer havia ouvido seus passos.A minha frente um jovem me encarava, era facilmente mais alto que eu, arriscava dizer que era o homem mais alto que já vi, sua pele morena combinava com seu rosto bem desenhado, seu cabelo curto era preto e seus olhos tinham um tom castanho avermelhado que brilhava ao sol.Vestia uma camisa de linho branco e conturnos pretos.Ele continuava me encarando esperando uma resposta que não conseguia dar, não conseguia nem processar se em uma corrida eu iria sair vencedora, mas sabia que em uma luta frente a frente com toda a certeza eu perderia, era nisso que eu pensava ao notar que aqueles olhos desceram do meu rosto para o meu corpo onde o vestido agora parecia uma camisola de tão rasgado e destruído que estava.Levei minhas mãos ao corpo em um gesto instintivo de me preservar aos seus olhos, embora eu tenha crescido perto da tribo Kai que não são famosos por usar tantas roupas minha mãe que não era indígena havia me ensinado a importância de roupas.O homem pareceu perceber que eu tentava me esconder dele e virou seu olhar para o chão, para seus próprios pés.- Você precisa ir embora daqui, rápido.- Advertiu seu olhar agora nos meus olhos.
Suas mãos apontavam para a mata para que eu corresse, mas eu não conseguia entender.Ele queria que eu fugisse? Com toda a certeza ele era um dos homens de Sandra e agora era só me levar para ela!Fiquei ali encarando-o boquiaberta esperando que mais homens surgissem atrás deles prontos para me baterem enquanto ele continuava fazendo sinais com as mãos.- Você não entende minha língua? É claro que não.- se lamentou ele e imaginei que minha aparência herdada do meu pai o fazia acreditar nisso, junto com minha recém descoberta incapacidade de proferir qualquer palavra se quer, agora ele devia acreditar que eu era uma Índia perdida na floresta, longe da minha tribo.
- Vá embora! - ordenou novamente fazendo sinais com as mãos de forma enérgica.
Eu estava paralisada olhando-o tentando entender de onde saiu aquele homem. Naquele momento meu estômago entrou em protestos novamente e acreditei que ele houvesse ouvido diante de sua expressão, mas não era possível já que estávamos em uma distância considerável um do outro.- É claro, você ia pegar mangas.- pronunciou parecendo entender tudo.
Se moveu de imediato e sem aviso em minha direção, é claro que eu recuei para o mais longe possível mas me mantendo alerta e o observando se aproximar da Mangueira que se estendia alta e imponente.Suas mãos tocaram a árvore, em seguida a golpeou com um forte soco preciso que fez cair diversas mangas uma delas caindo em sua mão estendida.
Ele estendeu uma manga para mim.
- Pode pegar.- ofereceu para mim, olhei para a manga que parecia saborosa.
Que tipo de armadilha era aquela? O que Sandra estava tramando afinal?Recuei devagar para trás e o homem permaneceu no mesmo lugar.
- Pode pegar a fruta.- ofereceu de novo com sua mão estendida.
Recuei mais um pouco e o homem jogou a manga, a seguro rapidamente sem tirar os olhos dele por mais de um segundo.- Agora vá embora, por favor o mais longe possível.- pediu seu olhar colado no meu.
Segurei a fruta contra meu coração e me virei correndo mata a dentro sem olhar para trás, o medo de ter sido um truque e ele está agora correndo atrás de mim ia se esvaindo a cada passo que dava para longe e percebia que ninguém me perseguia.Mas ainda sim continuei temendo aquele homem, por mais que ele não tivesse me feito mal algum eu o temia profundamente só pelo fato de que se ele o quisesse poderia ter me matado se assim desejasse.Eu já tinha experimentado a crueldade dos homens, de algumas mulheres também e era nisso que eu pensava enquanto corria pela floresta o mais rápido que conseguia.Havia andado o dia todo sem encontrar o riacho, minha boca estava seca e meu corpo desejando um gole que fosse de água, até do vinho da boate eu sentia falta agora, mas só do vinho.Agora a noite se aproximava e a idéia de fazer uma fogueira me parecia tão insensata, se aquele homem havia entrado aqui sem medo então deveria ter outros e eu precisava ser o mais discreta possivel, afinal pensando agora para onde eu iria?Se fosse na delegacia eles arrumariam um jeito de me pegar de volta ou me matar, e minha casa?Estariam me esperando agora lá sem dúvida.Será que meus pais ainda viviam perto da tribo Kai? Ou minha finalmente convenceu meu pai a se mudar para a cidade? Será que eles acham que morri? De certa forma eu morri.Estava sentada pensando nessas coisas quando notei uma figura saindo das sombras, uma muito alta.Me levantei do chão de sobressalto segurando uma pedra pronta para jogar quando um rosto familiar foi iluminado pela lua.
Ao acordar imaginei que estaria sozinha novamente, mas para a minha surpresa não estava.A minha frente estava acesa uma fogueira onde peixes estavam sendo assados, o aroma era maravilhoso, Ravi o manejava no fogo com cuidado.Olhei para a manta que me cobria, era azul marinho.- Bom dia Nina.- comprimentou Ravi, retirou um peixe do fogo e o estendeu para mim no espeto. Encarei-o sem entender porque ele ainda estava aqui.Afinal o que ele quer de mim?Começo a achar que ele não tem nada a ver com Sandra, se trabalhasse para ela já teria me levado.- Você é muito desconfiada.- pronunciou ele e retirou um pedaço do peixe provando-o na minha frente.Em seguida estendeu o restante do peixe, aceitei mais confiante ao menos envenenado não estava.Ele sorriu ao me ver comer o peixe, estava ótimo.- Você fala muito pouco para uma mulher sabia Nina.Não me dei ao tra
O sol estava alto, sorri para Avati parado a beira do rio, seus cabelos negros caiam sobre a testa molhada, ele tinha entrado no rio sem mim é claro. - Nina, você demora muito!- gritou ele nadando, Avati era um ótimo nadador.Sentei nas pedras do rio sorrindo para ele.Hoje era o dia que mamãe faria meu bolo. - Avati você vai a minha casa hoje não vai?- gritei a pergunta a ele enquanto nadava no rio. - Sua mãe vai fazer bolo olhos azuis?- perguntou ele.Era como praticamente todos da tribo Kai me chamavam, eu tinha traços de indígena, cor de indígena e cabelo também mas os olhos da minha mãe. - Então você só vai pelo bolo seu cabeça oca?!- questionei fingindo estar irritada.Avati saiu da água e se sentou ao meu lado. - Vou por você também olhos azuis.- sussurrou ao meu lado. - Tenho certeza disso Avati.- respondi.Ele se levantou de repente e andou até uma árvore, mexeu em umas folhas amontoadas ao pé dela, das folhagen
É estranho morrer, achei que veria anjos ou demônios mas não vi nada disso, vi escuridão e vazio mas não fiquei tanto tempo assim.Mas é claro que eu não morri de verdade caso contrário não teria acordado.Quando acordei senti algo estranho.Para começar parecia que havia um buraco no meu peito, meu corpo que antes doía agora não doía nada.Abri os olhos e vi que estava no mesmo lugar, deitada na cama e ao meu redor cada um sentado em um banco estava Olívia e Ravi, seus olhos se alarmaram ao me verem se sentando na cama.Olívia foi a primeira a chegar perto se sentando na cama ao meu lado. - Vai ficar tudo bem.- sussurrou ela.Minha mente parecia um turbilhão, vozes sem sentido começaram a se tornar muito altas, um casal conversando sobre praias, crianças bricando de pega-pega, uma porta batendo, um chuveiro sendo ligado, um carro saindo, carros chegando, a tv ligada, várias tvs ligadas...aq
É claro que ao me ouvir gritar Ravi entrou no banheiro sem a menor dificuldade, com um único empurrão quebrou a fechadura e entrou. - Pare de gritar, você está em uma pousada, não queremos atrair atenção!- ralhou comigo ele. - Meus olhos!- gritei. Ele suspirou e se aproximou de mim.Segurou meu rosto entre suas mãos e pareceu analisar meus olhos com cuidado. - É normal isso acontecer, você só está com sede.- ao ouvir dizer isso me dei conta da sensação na garganta que me incomodava desde a hora que acordei, uma sensação dolorosa de sede.Liguei a torneira e me abaixei tentando engolir o máximo de água que consegui, pareceu aplacar um pouco o que eu sentia, mas no fundo a sede ainda continuava ali, dolorosa e contínua. - Se vista, precisamos conversar.- avisou ele e saiu encostando a porta que eu não tinha mais a opção de trancar.Aquilo era uma loucura, estavam me drogando com toda a certeza, tirei o vestido e procurei marcas de agulh
A porta não ficava trancada, eu fui verificar quando Ravi me deixou sozinha, olhei para o corredor e vi muitas portas, fiquei um tempo observando pessoas entrando e saindo dos seus quartos, parecia mesmo uma pousada.Mas não tentei fugir, estava muito confusa e sem saber o que fariam comigo caso eu fugisse.Voltei para o quarto e liguei a TV, na boate não tínhamos TV nos quartos, nada que nos informasse sobre o mundo fora daquele lugar, a última TV que tinha visto era na casa dos meus pais, minha mãe estava assistindo a um filme, lembro-me que ela me chamou para ver com ela, mas eu não quis, estava ocupada com coisas de criança brincando com minhas bonecas... Porque o gosto do sangue Não me causou enjoos? Porque não me pareceu repulsivo?Até mesmo agora que eu sabia exatamente o que havia tomado não sentia repulsa.O que estava acontecendo comigo afinal? Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.- Entre. O garotinho de
Era tudo uma loucura, eu realmente estava morta.Agora era uma vampira sugadora de sangue alheio.Tantos anos em cativeiro para morrer sendo arremessada contra uma árvore.A garota que eu tentei salvar? Morta também, mas não morta como eu que Ravi me transformou em vampira, ela estava morta mesmo sem nenhum sangue em suas veias.Ravi a enterrou na floresta.O homem que eu vi ter a cabeça arrancada era um vampiro. - Porque não tenho nenhuma marca de mordida? Foi você que me mordeu certo?- perguntei enquanto voltávamos para meu quarto. Ele me olhou. - Para alguém que não via muita TV você tem uma visão muito hollywoodiana dos vampiros.- respondeu ele e só consegui me deter em ele saber que eu não assistia muita tv, como sabia? - Como sabe que eu não tinha acesso a TV?- questionei quando paramos em frente a porta do quarto. - Eu vejo lembranças e desejos quando toco em
Eu sabia que ela escondia algo difícil, aqui parado na porta eu conseguia ouvi-la chorar baixo, de forma que não quisesse ser descoberta e sua expressão assustada ao entender que eu teria acesso a quaisquer memórias esquecidas, perdidas definitivamente ela tinha um segredo que planejava a todo custo proteger.Mas todos tínhamos no final das contas, a deixaria em paz com o seu.Me afastei da porta e andei pelo longo corredor, ao descer as escadas pensei na reunião que iria hoje, o que seria decidido dessa reunião? - Irmão!- Odara surgiu a minha frente.- Estou com pressa Odara.- me apressei a dizer, não queria ouvir suas mesmas reclamações que me eram muito cansativas, depois de tantos anos vivendo em sua condição já deveria ter se conformado.- O que acha da indiazinha? Bonita não é? Foi uma boa idéia nos estabelecermos aqui.- perguntou maliciosamente enquanto me seguia desc