É estranho morrer, achei que veria anjos ou demônios mas não vi nada disso, vi escuridão e vazio mas não fiquei tanto tempo assim.
Mas é claro que eu não morri de verdade caso contrário não teria acordado.Quando acordei senti algo estranho.Para começar parecia que havia um buraco no meu peito, meu corpo que antes doía agora não doía nada.Abri os olhos e vi que estava no mesmo lugar, deitada na cama e ao meu redor cada um sentado em um banco estava Olívia e Ravi, seus olhos se alarmaram ao me verem se sentando na cama.Olívia foi a primeira a chegar perto se sentando na cama ao meu lado.- Vai ficar tudo bem.- sussurrou ela.
Minha mente parecia um turbilhão, vozes sem sentido começaram a se tornar muito altas, um casal conversando sobre praias, crianças bricando de pega-pega, uma porta batendo, um chuveiro sendo ligado, um carro saindo, carros chegando, a tv ligada, várias tvs ligadas...aquilo parecia o inferno.Apertei minhas mãos nos ouvidos e me encolhi na esperança de abafar todos aqueles sons terrivelmente altos.- Desligue a Tv Ravi, agora.- Ordenou ela.
Eu queria gritar para que todos parassem, ficassem quietos mas não consegui.Estava tudo tão alto, tão barulhento.- Estou ficando louca.- exclamei pressionando agora o travesseiro contra meus ouvidos.
- Não está, vai aprender a controlar isso, vai ficar tudo bem.- ela tentou segurar minhas mãos delicadamente mas o som de uma multidão falando ao mesmo tempo se tornou mais alto, me levantei em um salto com as mãos na cabeça e gritei.
- Preciso sair daqui AGORA ESTÁ TUDO MUITO BARULHENTO.- berrei e mal pude ouvir minha própria voz diante de tanto barulho.
Os dois me olhavam preocupados.Ravi se aproximou de mim e eu tentei recuar mas ele me segurou com força me empurrando para o banheiro.
- Me solte, me deixe ir EMBORA!- briguei com ele o empurrando, mas fui empurrada para dentro do box por ele, Olívia veio atrás chamando por ele.
- Ravi pare! Vá devagar com ela, ela acabou de acordar!- exclamou ela.
- Se ela continuar gritando e não se controlar vai atrair os humanos pra cá Olívia!- rebateu ele e se virou para mim.
- Vai arrancar minha cabeça como fez com aquele cara!- acusei.
- Feche a porta.- pediu ele e a mulher fechou.
Ele me empurrou mais para o canto do box e cai sentada no azulejo, se aproximou e eu tive a certeza de que iria me matar mas não fez isso.
A única coisa que ele fez foi abrir o chuveiro, a água corrente caiu toda em cima de mim.Água quente.- É só um banho Nina.- explicou ele sua voz ficando mais suave.
- Eu não me lembro de pedir sua ajuda nisso.- retruquei.
- Mas precisava, a água vai te ajudar a abafar um pouco o som ao redor, mas precisa se concentrar Nina, não pode sair gritando como uma louca ou vai atrair os humanos aqui, a polícia aqui.- revelou ele se aproximando de mim, a água caindo em cima de mim era reconfortante, os sons ainda estavam aqui altos, mas não estavam machucando tanto.
- Está tudo muito alto e ao mesmo tempo!- gemi com as mãos na cabeça.
- Ouça-os um por um, isole-os uns dos outros, preste atenção e depois abaixe a frequência.- explicou de modo suave.
- Eu não entendo o que você quer que eu faça, só faça-os parar de falar...- implorei.
- Você vai fazer parar, ouça agora comigo, um casal conversando...
"Você não pode trabalhar nas nossas férias Daniel, viemos aqui aproveitar!"
"Vai ser só uma única reunião Alice"
- Ouça agora as crianças brincando.
"Vou pegar você"
" Não vai! É muito lento!
- Isso ouça-os, agora quero que pense em algo bom, algo que te deixa feliz e tranquila.- ele estendeu as mãos para mim e eu as segurei, estavam quentes e macias.
- Pense Nina.- sussurrou ele.
E eu pensei, primeiro no rio onde tomava banho quase todos os dias da minha infância, então vi o rosto da minha mãe sorrido para mim, era meu aniversário, ela dizia que tinha feito o meu bolo, Avati já estava na sala, e estranhamente usava roupas, não só um short, mas calça, sapatos e uma camisa branca.Sorria para mim.- Demorou muito olhos azuis.- Avati disse da sala.
Sorri ao ver meu pai trazendo um lindo bolo para a mesa enfeitada na sala.- Essa é sua família? - uma voz perguntou ao meu lado.
Me virei e percebi que era Ravi parado junto comigo na minha casa, ele via a mesma cena que eu.O bolo foi colocado na mesa e minha mãe me chamou, acenando para mim com um sorriso estampado no rosto.- Venha filha, vamos soprar as velas, meu bebê está fazendo onze anos.- ela disse e acendeu as velas.
- Esse dia nunca chegou a acontecer.- Sussurrei para Ravi e fechei os olhos.
Quando os abri novamente estava de volta ao banheiro, a água caindo em cima de mim e suas mãos segurando as minhas.Ele me encarou.- Aquele dia nunca aconteceu.- contei.
- Então porque você pensou nisso quando pedi para que pensasse em uma coisa boa?- perguntou ele ainda segurando minhas mãos.
- Teria sido um dos melhores dias da minha vida se tivesse acontecido.- respondi.
Ele se levantou e desligou o chuveiro, ao desligar notei que eu não ouvia mais nada anormal, agora estava tudo normal.- Aqui.- ele me entregou uma roupa e se retirou do banheiro, andei até a porta e a tranquei rapidamente.
Eu não sabia como ele havia visto o que eu estava imaginando mas sabia que essa conversa de transição para vampira era uma mentira.O que eu não entendia era eu ter ouvido tão nitidamente as conversas das pessoas ao lado, seria uma nova droga sendo desenvolvida?Pelo jeito essa era a única explicação que eu podia pensar agora e esse lugar?Era uma pousada então?Mas a onde exatamente? E eu era uma prisioneira de novo? Depois de fugir da Sandra e de sua rede de escravidão sexual eu vim parar novamente cativa de outras pessoas? São uma seita de alguma coisa só pode.Eu desejava que eu não fosse a donzela para o sacrifício, ao menos eu não era mais donzela então as chances para tal ritual diminuíam consideravelmente.Caminhei até o espelho para ver meu reflexo, esperava ver meu rosto cansado, descuidado e com olheiras mas não havia nada disso no reflexo que vi.Meu rosto estava saudável, na verdade parecia um pouco melhor que isso.Sem nenhuma imperfeição na pele, sem as espinhas que de vez em quando deixavam marcas, mas o que mais me chocou foi a cor dos meus olhos.Estavam azuis como sempre foram, mas ao redor deles havia um círculo avermelhado.- Ah meu Deus que droga vocês estão me dando!- gritei enlouquecida.
É claro que ao me ouvir gritar Ravi entrou no banheiro sem a menor dificuldade, com um único empurrão quebrou a fechadura e entrou. - Pare de gritar, você está em uma pousada, não queremos atrair atenção!- ralhou comigo ele. - Meus olhos!- gritei. Ele suspirou e se aproximou de mim.Segurou meu rosto entre suas mãos e pareceu analisar meus olhos com cuidado. - É normal isso acontecer, você só está com sede.- ao ouvir dizer isso me dei conta da sensação na garganta que me incomodava desde a hora que acordei, uma sensação dolorosa de sede.Liguei a torneira e me abaixei tentando engolir o máximo de água que consegui, pareceu aplacar um pouco o que eu sentia, mas no fundo a sede ainda continuava ali, dolorosa e contínua. - Se vista, precisamos conversar.- avisou ele e saiu encostando a porta que eu não tinha mais a opção de trancar.Aquilo era uma loucura, estavam me drogando com toda a certeza, tirei o vestido e procurei marcas de agulh
A porta não ficava trancada, eu fui verificar quando Ravi me deixou sozinha, olhei para o corredor e vi muitas portas, fiquei um tempo observando pessoas entrando e saindo dos seus quartos, parecia mesmo uma pousada.Mas não tentei fugir, estava muito confusa e sem saber o que fariam comigo caso eu fugisse.Voltei para o quarto e liguei a TV, na boate não tínhamos TV nos quartos, nada que nos informasse sobre o mundo fora daquele lugar, a última TV que tinha visto era na casa dos meus pais, minha mãe estava assistindo a um filme, lembro-me que ela me chamou para ver com ela, mas eu não quis, estava ocupada com coisas de criança brincando com minhas bonecas... Porque o gosto do sangue Não me causou enjoos? Porque não me pareceu repulsivo?Até mesmo agora que eu sabia exatamente o que havia tomado não sentia repulsa.O que estava acontecendo comigo afinal? Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.- Entre. O garotinho de
Era tudo uma loucura, eu realmente estava morta.Agora era uma vampira sugadora de sangue alheio.Tantos anos em cativeiro para morrer sendo arremessada contra uma árvore.A garota que eu tentei salvar? Morta também, mas não morta como eu que Ravi me transformou em vampira, ela estava morta mesmo sem nenhum sangue em suas veias.Ravi a enterrou na floresta.O homem que eu vi ter a cabeça arrancada era um vampiro. - Porque não tenho nenhuma marca de mordida? Foi você que me mordeu certo?- perguntei enquanto voltávamos para meu quarto. Ele me olhou. - Para alguém que não via muita TV você tem uma visão muito hollywoodiana dos vampiros.- respondeu ele e só consegui me deter em ele saber que eu não assistia muita tv, como sabia? - Como sabe que eu não tinha acesso a TV?- questionei quando paramos em frente a porta do quarto. - Eu vejo lembranças e desejos quando toco em
Eu sabia que ela escondia algo difícil, aqui parado na porta eu conseguia ouvi-la chorar baixo, de forma que não quisesse ser descoberta e sua expressão assustada ao entender que eu teria acesso a quaisquer memórias esquecidas, perdidas definitivamente ela tinha um segredo que planejava a todo custo proteger.Mas todos tínhamos no final das contas, a deixaria em paz com o seu.Me afastei da porta e andei pelo longo corredor, ao descer as escadas pensei na reunião que iria hoje, o que seria decidido dessa reunião? - Irmão!- Odara surgiu a minha frente.- Estou com pressa Odara.- me apressei a dizer, não queria ouvir suas mesmas reclamações que me eram muito cansativas, depois de tantos anos vivendo em sua condição já deveria ter se conformado.- O que acha da indiazinha? Bonita não é? Foi uma boa idéia nos estabelecermos aqui.- perguntou maliciosamente enquanto me seguia desc
Olívia e Ravi saíram da sala carregando o garoto ferido, agora estavamos só eu e Odara que não sorria.Estava sentado apreensivo, sua expressão era de terror.Mas o seu terror com certeza não se igualava ao meu, os homens lá fora carregavam uma marca muito conhecida para mim.Uma tatuagem da fênix, assim como o fênix que matou Sara.Seria só uma coincidência? Ou talvez ele fosse um vampiro.- Odara, quem são esses lá fora que querem nos matar?- perguntei me aproximando dele.- Fazem parte do clã negro liderados pelo príncipe exilado, se denominam filhos da fênix, que iriam ressurgir sempre das cinzas, devem ter usado uma magia negra para estarem aqui, não é possivel esse tipo de viagem.- respondeu.Por isso a marca da fênix na mão, pensei.- O que eles querem??- perguntei.- Todos os vampiros que controlam a chama.
Era exatamente o que parecia ser.Uma viagem no tempo.Olívia seguiu com Ravi para inspecionar a área para se certificar de que estavamos sozinhos no vale, eu e Odaro permanecemos no mesmo lugar esperando os dois, parece que haviam ido buscar alguém também.- Como viemos parar aqui?- perguntei.- Lembra-se da chama que falei?-assenti.- Eu tenho a chama do tempo.Encarei-o.- A chave que você usou para formar aquele redemoinho, ela nos trouxe pra cá? - Sendo manipulada por mim, mas só viajo para lugares onde tenho uma âncora emocional, ou que eu tenha alguma possibilidade de ter...- seu olhar recaiu sobre mim.- acho que descobri o motivo de ter conseguido viajar para o seu tempo.- Eu era sua âncora do futuro? - perguntei.Odara assentiu.Mas uma coisa
O dia amanheceu e Odaro se alimentou com o sangue trazido por Radesh, pelo o que entendi uma longa caminhada nos esperava até a cidade portuária de Pompéia.Descemos o monte Vesúvio caminhando pela região montanhosa.- Não disse seu nome ainda.- Radesh me lembrou caminhando ao meu lado atrás, Olívia e Ravi continuavam mantendo distância razoável de mim, e eu não os culpava, Odara caminhava ao meu lado mas não falava muito.- Nina.- Significa fogo, o que é uma ironia, não é nenhum pouco como fogo.- exclamou Ravi a frente sem olhar para trás.- E o que seria para você um nome adequado para ela irmão? - perguntou Radesh com expressão de diversão.Eu não iria responder a esse tipo de provocação.- Com certeza nada que signifique força ou coragem, é covarde demais.Olívia o repreendeu para que não me atormentasse mais.Ravi se calou e eu me perguntei s
Os dias se passaram até que Odara estivesse bem de novo para uma nova viagem, mas mesmo quando estava bem nos perguntamos se voltar para a época deles quando sabiamos o que acontecia lá era a decisão mais sensata.E uma pergunta também me atormentava, como eles sabiam o que acontecia naquela época? - Eu estava revisando os livros de história e vi a linhagem de Alexandre da Grécia e sobre um golpe do próprio irmão, li sobre o conselho ter estado em reunião.- foi a resposta de Olívia quando perguntei.- E como acabou toda essa disputa? E como você sabia que eles viriam? Tecnicamente só Odara detém a chama do tempo certo?- perguntei.- Odara detém a chama do tempo sim, mas existe outros meios não tão seguros para viajar no tempo...- foi a resposta de Radesh.Então havia um meio para que eu pudesse viajar de volta?- Ele vai caçar um por um se não de