A porta não ficava trancada, eu fui verificar quando Ravi me deixou sozinha, olhei para o corredor e vi muitas portas, fiquei um tempo observando pessoas entrando e saindo dos seus quartos, parecia mesmo uma pousada.
Mas não tentei fugir, estava muito confusa e sem saber o que fariam comigo caso eu fugisse.Voltei para o quarto e liguei a TV, na boate não tínhamos TV nos quartos, nada que nos informasse sobre o mundo fora daquele lugar, a última TV que tinha visto era na casa dos meus pais, minha mãe estava assistindo a um filme, lembro-me que ela me chamou para ver com ela, mas eu não quis, estava ocupada com coisas de criança brincando com minhas bonecas...Porque o gosto do sangue Não me causou enjoos? Porque não me pareceu repulsivo?
Até mesmo agora que eu sabia exatamente o que havia tomado não sentia repulsa.O que estava acontecendo comigo afinal?Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.
- Entre.O garotinho de antes estava na porta, e sua semelhança com Ravi era impressionante, os olhos eram os mesmos, mas não só eles, o cabelo preto, a simetria do rosto, o nariz tudo.
Eu me lembrava de seu nome, era Odara.- Olívia perguntou se quer sair um pouco, dar uma volta pela pousada, ver um pouco de luz do sol.- informou ele.
- Pensei que vampiros queimassem na luz do sol.- provoquei para ver sua reação.
Ele sorriu achando engraçado.- Não queimamos na luz do sol como nos seus filmes. - respondeu ele.
Me levantei e fui o acompanhando para o corredor.- Você também é um vampiro? - indaguei enquanto andávamos pelo corredor, mais um acometido pelas drogas e loucura de achar que era um vampiro.
- Triste não? Estou para toda a eternidade preso no corpo de um pré-adolescente, sem esperanças de crescer, nem mesmo meu p...
- Odara! Onde está sua educação? - Olívia apareceu no final do corredor e repreendeu Odara.
- Olívia.- pronunciei.
- Se sente melhor Nina?- perguntou, Odara seguiu pelo corredor descendo as escadas sobre o olhar reprovador de Olívia antes de sumir piscou para mim.
- Estranhamente sim, mas eu ainda não entendo porque estão me mantendo aqui Olívia não pretendo contar nada do que vi na floresta para ninguém.- tentei explicar e ela se aproximou de mim entrelaçando seu braço no meu, em seguida fui guiada pelo corredor e descemos as escadas, lá embaixo havia um salão com diversas cadeiras estofadas, três sofás, uma mesa de vidro no centro, uma estante de livros e uma enorme TV na parede que transmitia uma novela.
Na sala algumas pessoas estavam sentadas conversando, mexendo no celular e lendo.- Aqui é um dos espaços de lazer dos hóspedes.- informou Olívia e foi me levando para fora da sala, chegamos a outra área com mais pessoas que jogavam em uma mesa de sinuca, viramos o corredor e chegamos em um cômodo mais reservado, onde só havia três poltronas, uma tv na parede e alguns livros em uma estante.
- Pode se sentar.- ela ofereceu uma das poltronas.
Me sentei e olhei para a janela, a cortina era de uma cor bonita, verde como das árvores com detalhes em vermelho.Olívia caminhou até um pequeno armário e retirou duas lindas taças de vidro e uma garrafa de vinho, as mostrou para mim sorrindo.
- Gosta de vinho certo?- perguntou.
- Aprendi com os anos a gostar.- respondi com sinceridade, na maioria das noites eu ingeria tanta bebida alcoólica que na manhã seguinte eu havia conseguido esquecer boa parte das coisas que tive de fazer, era um dos poucos alívio que eu conseguia ter, o álcool era como meu anestésico.
- Sei que por trás desses olhos azuis tem muita história, mas não vai contar hoje suponho.- ela caminhou até mim me entregando uma taça de vinho até a metade, tomei um pouco e só depois me dei conta de que o vinho podia estar com drogas.
Minha expressão deve ter mudado porque logo ela perguntou.
- O que foi? Não gostou do vinho? Esse vinho é muito bom e está aqui há muito tempo, estava esperando um bom momento para abrir.
- O vinho está ótimo.- respondi.
-Então é outra coisa.
- Ela acha que de alguma forma está sendo drogada Olívia.- Ravi apareceu na porta do cômodo fechando a porta atrás de si.
Droga, será que Olívia ficaria ofendida? Eu tinha que me manter calma e pensar em uma maneira de fugir daqui, mas isso não aconteceria se eles acreditassem que eu achava que estava sendo drogada.
Eu tinha que virar o jogo.- Não penso isso, embora não tenha nada de errado se vocês usarem essas coisas.- respondi e Ravi me encarou desconfiado.
- Então vamos beber um pouco e talvez queira ouvir um pouco sobre nós.- respondeu Olívia e pegou mais uma taça de vinho que entregou para Ravi.
- Eu gostaria.
- Não quer mais ir embora? - perguntou Ravi seus olhos fixos em mim, era estranho vê-lo agora tão desconfiado, como se eu fosse algum tipo de ameaça para eles.
- Não é sensato ficar andando com ela por toda a pousada Olívia, logo aqueles convidados vão chegar.- lembrou ele e vi suas expressões antes relaxadas e amigáveis mudarem.
- Quem vai chegar?- perguntei.
- De onde você veio Nina? Você me parece uma mestiça de indígena, se passaria facilmente por uma se não fosse esses olhos, de quem você puxou eles?- Olívia tentava desviar minha pergunta na cara dura.
- Minha mãe.- respondi.- quem vai chegar? Posso conhece-los?
- Não é uma boa ideia Olívia.- Ravi parecia preocupado.
- Eles só chegam na sexta-feira Ravi, teremos a semana toda para deixa-la familiarizada com nossos costumes.- respondeu ela e tomou todo o vinho de sua taça.
O telefone tocou e Olívia atendeu, trocou algumas palavras rápidas.- Tenho que sair, Lucas está com problemas na recepção, alguns clientes estão causando discórdia.
- Eu vou!- Ravi se ofereceu.
- Não, fique aqui com ela.- Olívia respondeu e saiu apressada pela porta.
Tentei não encarar Ravi, mas uma coisa não saía da minha cabeça, como ele havia visto o que eu estava vendo no banheiro? O dia que nunca aconteceu? O aniversário que nunca pude comemorar?
Que droga era essa que causava as mesmas alucinações em nós dois?Tantas coisas que eu não conseguia entender.Mas ainda assim não aceitava a resposta que eles insistiam em me dar, vampiros são uma criação dos humanos para representar seus próprios atos hediondos.Eu conhecia bem demais a maldade dos homens.- Ainda acredita que estou drogando você não é Nina?- perguntou ele.
Eu deveria responder?- Achei que você só era um cara bom que queria me ajudar na floresta.- respondi e fui sincera, mesmo sempre desconfiando dele eu acreditava nisso.
Ele se aproximou de mim, tomou o vinho das minhas mãos e o colocou na mesa, voltou e se sentou a minha frente.
Puxou minhas mãos para si e eu senti como se meu corpo de repente esquentasse.- De quem você está fugindo olhos azuis?- sussurrou a pergunta e fiquei paralisada ao ouvi-lo me chamar assim, era como se trouxesse meu passado de volta, como se Avati estivesse em algum lugar próximo.
Puxei minhas mãos das dele.- Não me chame assim.- exclamei para ele.
- Não chamarei mais, mas você sabe que eu vi o que você viu, seus desejos, pode ficar procurando uma resposta logica para isso o quanto quiser, não vai conseguir.- respondeu.
- Então a única resposta é que sou uma vampira agora, e supostamente estou morta?- perguntei irritada.
Ravi me encarou e retirou um canivete do bolso da calça jeans que vestia.
- Desculpe se irritei você, mas não precisa me castigar.- tentei acalma-lo mas ele só me olhou confuso.
- Acha que vou ferir você? - perguntou.
Não respondi, com toda a certeza minha expressão dizia tudo.- Não faria isso nunca.- respondeu e fez um corte enorme em seu braço.
Eu gritei ao vê-lo se mutilar daquele jeito e ele se aproximou de mim cobrindo minha boca com sua mão onde exibia o corte no braço.Olhei para o corte no braço dele e fiquei paralisada ao notar algo muito importante.
- Sem sangue.- sussurrou ele para mim e aos poucos tirou a mão da minha boca.
Segurei seu braço e analisei cada detalhe do corte, era um corte enorme e impossível de ser um truque, mas não tinha nenhum sangue.- Como é possível? - arfei.
- Continue olhando.
De repente o corte começou a se fechar diante dos meus olhos, estava se curando.Soltei seu braço dando alguns passos para trás em choque, aquilo não era possível....Mas ainda assim estava acontecendo, era inegável que aquilo não podia ser uma alucinação, não podia ser o vinho, eu já tinha usado muitas drogas antes mas nenhuma dava um efeito como esse.Era real, tudo aquilo era terrivelmente real! Continuei caminhando para trás até tropeçar em algo e cair ao chão sentada, Ravi se aproximou de mim ficando de joelhos a minha frente.- O que aconteceu com os reflexos de vampiros?- murmurei para ele.
- Isso é coisa do homem aranha, não sou o homem aranha Nina.
Encarei aquele homem que era o dobro do meu tamanho ali ajoelhado me olhando, seu braço completamente curado.- Você podia ter mostrado seus dentes de vampiro.- o lembrei.
- Achei que iria assustar você, mesmo você os tendo agora.
- Eu me curo como você? - perguntei.
Ele assentiu.
Peguei seu canivete de suas mãos e o levei até a palma da minha.Cortei e esperei doer, mas não doeu nada.Como no corte de Ravi o meu também não apareceu nenhuma gota de sangue e após alguns momentos o corte foi se fechando.- Os demônios na floresta...
- Vampiros.- respondeu ele.Era tudo uma loucura, eu realmente estava morta.Agora era uma vampira sugadora de sangue alheio.Tantos anos em cativeiro para morrer sendo arremessada contra uma árvore.A garota que eu tentei salvar? Morta também, mas não morta como eu que Ravi me transformou em vampira, ela estava morta mesmo sem nenhum sangue em suas veias.Ravi a enterrou na floresta.O homem que eu vi ter a cabeça arrancada era um vampiro. - Porque não tenho nenhuma marca de mordida? Foi você que me mordeu certo?- perguntei enquanto voltávamos para meu quarto. Ele me olhou. - Para alguém que não via muita TV você tem uma visão muito hollywoodiana dos vampiros.- respondeu ele e só consegui me deter em ele saber que eu não assistia muita tv, como sabia? - Como sabe que eu não tinha acesso a TV?- questionei quando paramos em frente a porta do quarto. - Eu vejo lembranças e desejos quando toco em
Eu sabia que ela escondia algo difícil, aqui parado na porta eu conseguia ouvi-la chorar baixo, de forma que não quisesse ser descoberta e sua expressão assustada ao entender que eu teria acesso a quaisquer memórias esquecidas, perdidas definitivamente ela tinha um segredo que planejava a todo custo proteger.Mas todos tínhamos no final das contas, a deixaria em paz com o seu.Me afastei da porta e andei pelo longo corredor, ao descer as escadas pensei na reunião que iria hoje, o que seria decidido dessa reunião? - Irmão!- Odara surgiu a minha frente.- Estou com pressa Odara.- me apressei a dizer, não queria ouvir suas mesmas reclamações que me eram muito cansativas, depois de tantos anos vivendo em sua condição já deveria ter se conformado.- O que acha da indiazinha? Bonita não é? Foi uma boa idéia nos estabelecermos aqui.- perguntou maliciosamente enquanto me seguia desc
Olívia e Ravi saíram da sala carregando o garoto ferido, agora estavamos só eu e Odara que não sorria.Estava sentado apreensivo, sua expressão era de terror.Mas o seu terror com certeza não se igualava ao meu, os homens lá fora carregavam uma marca muito conhecida para mim.Uma tatuagem da fênix, assim como o fênix que matou Sara.Seria só uma coincidência? Ou talvez ele fosse um vampiro.- Odara, quem são esses lá fora que querem nos matar?- perguntei me aproximando dele.- Fazem parte do clã negro liderados pelo príncipe exilado, se denominam filhos da fênix, que iriam ressurgir sempre das cinzas, devem ter usado uma magia negra para estarem aqui, não é possivel esse tipo de viagem.- respondeu.Por isso a marca da fênix na mão, pensei.- O que eles querem??- perguntei.- Todos os vampiros que controlam a chama.
Era exatamente o que parecia ser.Uma viagem no tempo.Olívia seguiu com Ravi para inspecionar a área para se certificar de que estavamos sozinhos no vale, eu e Odaro permanecemos no mesmo lugar esperando os dois, parece que haviam ido buscar alguém também.- Como viemos parar aqui?- perguntei.- Lembra-se da chama que falei?-assenti.- Eu tenho a chama do tempo.Encarei-o.- A chave que você usou para formar aquele redemoinho, ela nos trouxe pra cá? - Sendo manipulada por mim, mas só viajo para lugares onde tenho uma âncora emocional, ou que eu tenha alguma possibilidade de ter...- seu olhar recaiu sobre mim.- acho que descobri o motivo de ter conseguido viajar para o seu tempo.- Eu era sua âncora do futuro? - perguntei.Odara assentiu.Mas uma coisa
O dia amanheceu e Odaro se alimentou com o sangue trazido por Radesh, pelo o que entendi uma longa caminhada nos esperava até a cidade portuária de Pompéia.Descemos o monte Vesúvio caminhando pela região montanhosa.- Não disse seu nome ainda.- Radesh me lembrou caminhando ao meu lado atrás, Olívia e Ravi continuavam mantendo distância razoável de mim, e eu não os culpava, Odara caminhava ao meu lado mas não falava muito.- Nina.- Significa fogo, o que é uma ironia, não é nenhum pouco como fogo.- exclamou Ravi a frente sem olhar para trás.- E o que seria para você um nome adequado para ela irmão? - perguntou Radesh com expressão de diversão.Eu não iria responder a esse tipo de provocação.- Com certeza nada que signifique força ou coragem, é covarde demais.Olívia o repreendeu para que não me atormentasse mais.Ravi se calou e eu me perguntei s
Os dias se passaram até que Odara estivesse bem de novo para uma nova viagem, mas mesmo quando estava bem nos perguntamos se voltar para a época deles quando sabiamos o que acontecia lá era a decisão mais sensata.E uma pergunta também me atormentava, como eles sabiam o que acontecia naquela época? - Eu estava revisando os livros de história e vi a linhagem de Alexandre da Grécia e sobre um golpe do próprio irmão, li sobre o conselho ter estado em reunião.- foi a resposta de Olívia quando perguntei.- E como acabou toda essa disputa? E como você sabia que eles viriam? Tecnicamente só Odara detém a chama do tempo certo?- perguntei.- Odara detém a chama do tempo sim, mas existe outros meios não tão seguros para viajar no tempo...- foi a resposta de Radesh.Então havia um meio para que eu pudesse viajar de volta?- Ele vai caçar um por um se não de
Eu deveria saber que as coisas acabariam por dar errado de novo, veja bem, você ser sequestrada uma vez é um baita azar, mas sequestrar DUAS VEZES é surreal, isso porque eu não estava considerando quando Ravi me tirou daquela floresta tenebrosa.Agora eu estava em uma época completamente desconhecida para mim, não fui ensinada o suficiente sobre a história do meu próprio país o Brasil, nunca fui a uma escola de fato, o pouco que sabia era o que minha me ensinou em casa, então imagine sobre a história da Grécia, onde eu suspeitava estar.Me lembrava das palavras do vampiro para Odaro, iam me usar como uma isca para atrair Ravi, então isso me fazia presumir que aquele relógio tenebroso nos trouxe para a mesma época da qual eu já ia viajar...Afinal o que era aquele relógio? Seja o que fosse desejava nunca mais ve-lo novamente.Despertei em um quarto amplo, as paredes eram claras com pinturas de um tom azul clar
Achei que os guardas seguidores do príncipe exilado, que agora era não estava tão exilado assim não vieram atrás de mim.Eu não sabia onde estava, só sabia que estava em uma cidade grega, mas qual não fazia idéia.Que reino era esse afinal? E por qual razão ele tinha me deixado fugir?Corri por toda a cidade, as pessoas passavam por mim com suas tarefas domésticas, carregando comida, puxando carroças.O sol a cima estava alto, a cidade barulhenta e eu sedenta de sangue no meio de milhares de pessoas.Era um pesadelo aquilo tudo, um grupo de crianças corria por uma rua, uma delas apontou para mim, gritando.- Vampira!- foi quando eu senti que minhas presas estavam perigosamente amostras, minhas garras ameaçadoras.Todos ao redor ouviram o menino e olharam na direção de onde seu dedo indicava, ou seja para mim.Seus olhares eram todos hostis e temeros