Capítulo 07

É claro que ao me ouvir gritar Ravi entrou no banheiro sem a menor dificuldade, com um único empurrão quebrou a fechadura e entrou.

- Pare de gritar, você está em uma pousada, não queremos atrair atenção!- ralhou comigo ele.

- Meus olhos!- gritei.

Ele suspirou e se aproximou de mim.

Segurou meu rosto entre suas mãos e pareceu analisar meus olhos com cuidado.

- É normal isso acontecer, você só está com sede.- ao ouvir dizer isso me dei conta da sensação na garganta que me incomodava desde a hora que acordei, uma sensação dolorosa de sede.

Liguei a torneira e me abaixei tentando engolir o máximo de água que consegui, pareceu aplacar um pouco o que eu sentia, mas no fundo a sede ainda continuava ali, dolorosa e contínua.

- Se vista, precisamos conversar.- avisou ele e saiu encostando a porta que eu não tinha mais a opção de trancar.

Aquilo era uma loucura, estavam me drogando com toda a certeza, tirei o vestido e procurei marcas de agulha pelo meu corpo, essa droga talvez fosse injetável, ou talvez estivesse no peixe que ele havia fritado para mim, ou na sopa talvez.

O que estava acontecendo comigo afinal? Talvez eu estivesse tendo alucinações isso explicaria os sons.

Alucinações auditivas causadas por drogas, e pelo o que vi não eram drogas injetáveis, nenhum sinal de agulhas no meu corpo.

Então estava em algo que ingeri é claro.

Mas por quanto tempo durava o efeito? Imaginei antes que meu coração estava parando até...

A única coisa que eu sabia era seus efeitos colaterais, náuseas, vômito, alucinações auditivas e visuais.

Me vesti rapidamente e sai do banheiro, Ravi estava sentado me aguardando ao me ver se levantou, eu vestia agora calça jeans e uma blusa preta que encontrei no banheiro, coincidentemente eram do meu tamanho.

- Acho que você tem muitas perguntas.- pronunciou ele para mim.

Não muitas, só porque vocês me sequestraram e que tipo de drogas estão me dando? pensei e Caminhei para perto da cama.

- Só uma.- respondi devagar.

- Pode perguntar.

- Sou prisioneira de vocês ?- indaguei.

Ravi não respondeu imediatamente, estava pensando no que deveria dizer sem dúvida, ao menos era isso que eu achava pela sua expressão.

- Já fui cativa de homens como você, qual o propósito real dessa pousada? Vocês são uma espécie de seita?- eu estava revelando minhas desconfianças todas para ele.

Porque fiz isso?

- O propósito dessa pousada é exatamente o que parece, acomodar pessoas e ganhar dinheiro Nina.

Até parece!

- Sou prisioneira de vocês? - insisti na pergunta.

- Para onde você vai se eu disser que pode sair agora mesmo?- ele perguntou.

- Isso não importa, vocês não me deixariam ir de qualquer forma.

- O que você acha que aconteceu? - se aproximou de mim agora.

- Para ser sincera é isso que estou tentando descobrir mas se me deixar ir não preciso e nem terei interesse em descobrir nada, só quero seguir com minha vida, tem umas pessoas que eu preciso encontrar.- respondi com sinceridade, embora eu acreditasse que Sandra e seus homens estivessem de olho na minha família talvez eu estivesse errada, de todo caso eu não falaria com eles, só precisava saber se estavam bem.

- Nina, não vê que não está mais viva?- ele falava suave.

- Ravi estou viva bem aqui na sua frente!- protestei.

- Agora você é como eu e Olívia.- ele segurou a minha mão e calmamente a levou ao seu coração, não fui relutante, aprendi com os anos que em uma situação de desvantagem eu não devia ser rebelde.

- Sinta Nina.- pediu ele me encarando.

- Sinta o que Ravi?- perguntei mas ele não precisou responder.

Não se tratava de sentir algo, e sim do que eu deveria estar sentindo e não estava, as batidas de seu coração.

Não tinha nenhuma frequência cardíaca, ao menos eu não conseguia sentir nada.

- É um truque.- acusei.

- Sinta o seu agora, não é truque sei que antes de desmaiar você sentiu ele parando, dando suas últimas batidas.- Ele levou minha mão ao meu próprio coração e eu pude constatar horrorizada que ele não batia.

Ou talvez meu coração estivesse em uma frequência tão baixa que só minha mão não pudesse sentir, isso era possível não era?

Mas quais as chances de nossos corações estarem passando pelos mesmos processos? A chance era se nós dois estivéssemos fazendo uso de drogas que afetassem a frequência cardíaca é claro, isso era o que talvez estivesse acontecendo.

Eu tinha que me afastar e parar de ingerir qualquer coisa que eles me ofereciam porque essa droga podia estar em qualquer coisa.

- Você está tentando buscar na sua mente uma resposta racional pra isso não é Nina? A resposta embora não seja fácil de acreditar é bem simples, transformei você em vampira para não morrer, bateu a cabeça muito forte, Olívia disse que você iria morrer em poucas horas.- revelou.

Me afastei dele tentando assimilar suas palavras loucas.

- Se esse era o caso porque me trazer pra cá? Porque não me levou em um hospital? - perguntei tentando entrar em seu jogo.

- Olívia já foi médica no passado, avaliou você e me disse que eu só tinha duas opções, deixar você morrer ou transforma-la.- respondeu.

-Espera que eu acredite que você me transformou em vampira para me salvar?- isso não era possível.

De repente me lembrei das lendas de criaturas da noite que os homens conversavam na boate, do desaparecimento de algumas jovens que foram vistas entrando na floresta.

Mas não podia ser real...

A sede que estava sentindo antes voltou, de uma forma mais intensa e dolorosa, era como se eu não bebesse água há dias.

- Preciso de água, agora!- avisei e sentei na cama sentindo meu corpo todo doer.

Eu estava com sinais de desidratação? Eram as drogas que de alguma forma eu ingeri?

- Não é de água que seu corpo precisa, a água só engana por alguns momentos.

- Água Ravi! Agora!- gritei com ele.

Ravi saiu do quarto e não demorou a voltar com uma caneca preta que entregou a mim, não pensei duas vezes bebendo todo o líquido na caneca, senti imediatamente um alívio e prazer juntos, as dores que sentia antes desapareceram para minha surpresa.

Ravi me observava enquanto eu retirava o copo dos lábios, foi então que olhei de fato para o conteúdo do copo.

Aquilo não era água...

O gosto também não era de água e deveria ter parecido repulsivo para mim, mas não pareceu.

Isso era o pior de tudo.

Toquei com a ponta dos dedos meus lábios e vi o sangue.

Sangue...

Aquele maldito me deu sangue.

- Você me deu SANGUE!- acusei.

- Se sente melhor não se sente?- perguntou na maior naturalidade.

Me sentia, embora não fosse assumir.

- Você me deu sangue Ravi, que tipo de seita você faz parte?! Está me drogando de alguma forma!

Ele se aproximou de mim se sentando na cama, pegou o copo das minhas mãos e o colocou em uma mesinha ao lado.

- Precisa parar de tentar achar uma resposta lógica para isso, não sei de onde você veio mas de uma coisa eu sei, não passou coisas boas e está agora pensando que sou seu inimigo.

- E você não é? Mesmo que por um momento eu cogite a possibilidade de acreditar que você não está mentindo, que tipo de amigo transforma o outro em um demônio sugador de sangue?

Ravi não respondeu, mas sua expressão mudou ao me ver chama-lo de demônio sem dizer uma palavra ele saiu pela porta.

Fiquei deitada depois disso, pensando.

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