É claro que ao me ouvir gritar Ravi entrou no banheiro sem a menor dificuldade, com um único empurrão quebrou a fechadura e entrou.
- Pare de gritar, você está em uma pousada, não queremos atrair atenção!- ralhou comigo ele.
- Meus olhos!- gritei.
Ele suspirou e se aproximou de mim.
Segurou meu rosto entre suas mãos e pareceu analisar meus olhos com cuidado.- É normal isso acontecer, você só está com sede.- ao ouvir dizer isso me dei conta da sensação na garganta que me incomodava desde a hora que acordei, uma sensação dolorosa de sede.
Liguei a torneira e me abaixei tentando engolir o máximo de água que consegui, pareceu aplacar um pouco o que eu sentia, mas no fundo a sede ainda continuava ali, dolorosa e contínua.- Se vista, precisamos conversar.- avisou ele e saiu encostando a porta que eu não tinha mais a opção de trancar.
Aquilo era uma loucura, estavam me drogando com toda a certeza, tirei o vestido e procurei marcas de agulha pelo meu corpo, essa droga talvez fosse injetável, ou talvez estivesse no peixe que ele havia fritado para mim, ou na sopa talvez.O que estava acontecendo comigo afinal? Talvez eu estivesse tendo alucinações isso explicaria os sons.
Alucinações auditivas causadas por drogas, e pelo o que vi não eram drogas injetáveis, nenhum sinal de agulhas no meu corpo.Então estava em algo que ingeri é claro.Mas por quanto tempo durava o efeito? Imaginei antes que meu coração estava parando até...A única coisa que eu sabia era seus efeitos colaterais, náuseas, vômito, alucinações auditivas e visuais.Me vesti rapidamente e sai do banheiro, Ravi estava sentado me aguardando ao me ver se levantou, eu vestia agora calça jeans e uma blusa preta que encontrei no banheiro, coincidentemente eram do meu tamanho.
- Acho que você tem muitas perguntas.- pronunciou ele para mim.
Não muitas, só porque vocês me sequestraram e que tipo de drogas estão me dando? pensei e Caminhei para perto da cama.- Só uma.- respondi devagar.
- Pode perguntar.
- Sou prisioneira de vocês ?- indaguei.
Ravi não respondeu imediatamente, estava pensando no que deveria dizer sem dúvida, ao menos era isso que eu achava pela sua expressão.
- Já fui cativa de homens como você, qual o propósito real dessa pousada? Vocês são uma espécie de seita?- eu estava revelando minhas desconfianças todas para ele.
Porque fiz isso?- O propósito dessa pousada é exatamente o que parece, acomodar pessoas e ganhar dinheiro Nina.
Até parece!
- Sou prisioneira de vocês? - insisti na pergunta.
- Para onde você vai se eu disser que pode sair agora mesmo?- ele perguntou.
- Isso não importa, vocês não me deixariam ir de qualquer forma.
- O que você acha que aconteceu? - se aproximou de mim agora.
- Para ser sincera é isso que estou tentando descobrir mas se me deixar ir não preciso e nem terei interesse em descobrir nada, só quero seguir com minha vida, tem umas pessoas que eu preciso encontrar.- respondi com sinceridade, embora eu acreditasse que Sandra e seus homens estivessem de olho na minha família talvez eu estivesse errada, de todo caso eu não falaria com eles, só precisava saber se estavam bem.
- Nina, não vê que não está mais viva?- ele falava suave.
- Ravi estou viva bem aqui na sua frente!- protestei.
- Agora você é como eu e Olívia.- ele segurou a minha mão e calmamente a levou ao seu coração, não fui relutante, aprendi com os anos que em uma situação de desvantagem eu não devia ser rebelde.
- Sinta Nina.- pediu ele me encarando.
- Sinta o que Ravi?- perguntei mas ele não precisou responder.
Não se tratava de sentir algo, e sim do que eu deveria estar sentindo e não estava, as batidas de seu coração.Não tinha nenhuma frequência cardíaca, ao menos eu não conseguia sentir nada.- É um truque.- acusei.
- Sinta o seu agora, não é truque sei que antes de desmaiar você sentiu ele parando, dando suas últimas batidas.- Ele levou minha mão ao meu próprio coração e eu pude constatar horrorizada que ele não batia.
Ou talvez meu coração estivesse em uma frequência tão baixa que só minha mão não pudesse sentir, isso era possível não era?Mas quais as chances de nossos corações estarem passando pelos mesmos processos? A chance era se nós dois estivéssemos fazendo uso de drogas que afetassem a frequência cardíaca é claro, isso era o que talvez estivesse acontecendo.Eu tinha que me afastar e parar de ingerir qualquer coisa que eles me ofereciam porque essa droga podia estar em qualquer coisa.- Você está tentando buscar na sua mente uma resposta racional pra isso não é Nina? A resposta embora não seja fácil de acreditar é bem simples, transformei você em vampira para não morrer, bateu a cabeça muito forte, Olívia disse que você iria morrer em poucas horas.- revelou.
Me afastei dele tentando assimilar suas palavras loucas.
- Se esse era o caso porque me trazer pra cá? Porque não me levou em um hospital? - perguntei tentando entrar em seu jogo.
- Olívia já foi médica no passado, avaliou você e me disse que eu só tinha duas opções, deixar você morrer ou transforma-la.- respondeu.
-Espera que eu acredite que você me transformou em vampira para me salvar?- isso não era possível.
De repente me lembrei das lendas de criaturas da noite que os homens conversavam na boate, do desaparecimento de algumas jovens que foram vistas entrando na floresta.Mas não podia ser real...A sede que estava sentindo antes voltou, de uma forma mais intensa e dolorosa, era como se eu não bebesse água há dias.- Preciso de água, agora!- avisei e sentei na cama sentindo meu corpo todo doer.
Eu estava com sinais de desidratação? Eram as drogas que de alguma forma eu ingeri?- Não é de água que seu corpo precisa, a água só engana por alguns momentos.
- Água Ravi! Agora!- gritei com ele.
Ravi saiu do quarto e não demorou a voltar com uma caneca preta que entregou a mim, não pensei duas vezes bebendo todo o líquido na caneca, senti imediatamente um alívio e prazer juntos, as dores que sentia antes desapareceram para minha surpresa.
Ravi me observava enquanto eu retirava o copo dos lábios, foi então que olhei de fato para o conteúdo do copo.Aquilo não era água...O gosto também não era de água e deveria ter parecido repulsivo para mim, mas não pareceu.Isso era o pior de tudo.Toquei com a ponta dos dedos meus lábios e vi o sangue.Sangue...Aquele maldito me deu sangue.- Você me deu SANGUE!- acusei.
- Se sente melhor não se sente?- perguntou na maior naturalidade.
Me sentia, embora não fosse assumir.- Você me deu sangue Ravi, que tipo de seita você faz parte?! Está me drogando de alguma forma!
Ele se aproximou de mim se sentando na cama, pegou o copo das minhas mãos e o colocou em uma mesinha ao lado.- Precisa parar de tentar achar uma resposta lógica para isso, não sei de onde você veio mas de uma coisa eu sei, não passou coisas boas e está agora pensando que sou seu inimigo.
- E você não é? Mesmo que por um momento eu cogite a possibilidade de acreditar que você não está mentindo, que tipo de amigo transforma o outro em um demônio sugador de sangue?
Ravi não respondeu, mas sua expressão mudou ao me ver chama-lo de demônio sem dizer uma palavra ele saiu pela porta.
Fiquei deitada depois disso, pensando.A porta não ficava trancada, eu fui verificar quando Ravi me deixou sozinha, olhei para o corredor e vi muitas portas, fiquei um tempo observando pessoas entrando e saindo dos seus quartos, parecia mesmo uma pousada.Mas não tentei fugir, estava muito confusa e sem saber o que fariam comigo caso eu fugisse.Voltei para o quarto e liguei a TV, na boate não tínhamos TV nos quartos, nada que nos informasse sobre o mundo fora daquele lugar, a última TV que tinha visto era na casa dos meus pais, minha mãe estava assistindo a um filme, lembro-me que ela me chamou para ver com ela, mas eu não quis, estava ocupada com coisas de criança brincando com minhas bonecas... Porque o gosto do sangue Não me causou enjoos? Porque não me pareceu repulsivo?Até mesmo agora que eu sabia exatamente o que havia tomado não sentia repulsa.O que estava acontecendo comigo afinal? Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.- Entre. O garotinho de
Era tudo uma loucura, eu realmente estava morta.Agora era uma vampira sugadora de sangue alheio.Tantos anos em cativeiro para morrer sendo arremessada contra uma árvore.A garota que eu tentei salvar? Morta também, mas não morta como eu que Ravi me transformou em vampira, ela estava morta mesmo sem nenhum sangue em suas veias.Ravi a enterrou na floresta.O homem que eu vi ter a cabeça arrancada era um vampiro. - Porque não tenho nenhuma marca de mordida? Foi você que me mordeu certo?- perguntei enquanto voltávamos para meu quarto. Ele me olhou. - Para alguém que não via muita TV você tem uma visão muito hollywoodiana dos vampiros.- respondeu ele e só consegui me deter em ele saber que eu não assistia muita tv, como sabia? - Como sabe que eu não tinha acesso a TV?- questionei quando paramos em frente a porta do quarto. - Eu vejo lembranças e desejos quando toco em
Eu sabia que ela escondia algo difícil, aqui parado na porta eu conseguia ouvi-la chorar baixo, de forma que não quisesse ser descoberta e sua expressão assustada ao entender que eu teria acesso a quaisquer memórias esquecidas, perdidas definitivamente ela tinha um segredo que planejava a todo custo proteger.Mas todos tínhamos no final das contas, a deixaria em paz com o seu.Me afastei da porta e andei pelo longo corredor, ao descer as escadas pensei na reunião que iria hoje, o que seria decidido dessa reunião? - Irmão!- Odara surgiu a minha frente.- Estou com pressa Odara.- me apressei a dizer, não queria ouvir suas mesmas reclamações que me eram muito cansativas, depois de tantos anos vivendo em sua condição já deveria ter se conformado.- O que acha da indiazinha? Bonita não é? Foi uma boa idéia nos estabelecermos aqui.- perguntou maliciosamente enquanto me seguia desc
Olívia e Ravi saíram da sala carregando o garoto ferido, agora estavamos só eu e Odara que não sorria.Estava sentado apreensivo, sua expressão era de terror.Mas o seu terror com certeza não se igualava ao meu, os homens lá fora carregavam uma marca muito conhecida para mim.Uma tatuagem da fênix, assim como o fênix que matou Sara.Seria só uma coincidência? Ou talvez ele fosse um vampiro.- Odara, quem são esses lá fora que querem nos matar?- perguntei me aproximando dele.- Fazem parte do clã negro liderados pelo príncipe exilado, se denominam filhos da fênix, que iriam ressurgir sempre das cinzas, devem ter usado uma magia negra para estarem aqui, não é possivel esse tipo de viagem.- respondeu.Por isso a marca da fênix na mão, pensei.- O que eles querem??- perguntei.- Todos os vampiros que controlam a chama.
Era exatamente o que parecia ser.Uma viagem no tempo.Olívia seguiu com Ravi para inspecionar a área para se certificar de que estavamos sozinhos no vale, eu e Odaro permanecemos no mesmo lugar esperando os dois, parece que haviam ido buscar alguém também.- Como viemos parar aqui?- perguntei.- Lembra-se da chama que falei?-assenti.- Eu tenho a chama do tempo.Encarei-o.- A chave que você usou para formar aquele redemoinho, ela nos trouxe pra cá? - Sendo manipulada por mim, mas só viajo para lugares onde tenho uma âncora emocional, ou que eu tenha alguma possibilidade de ter...- seu olhar recaiu sobre mim.- acho que descobri o motivo de ter conseguido viajar para o seu tempo.- Eu era sua âncora do futuro? - perguntei.Odara assentiu.Mas uma coisa
O dia amanheceu e Odaro se alimentou com o sangue trazido por Radesh, pelo o que entendi uma longa caminhada nos esperava até a cidade portuária de Pompéia.Descemos o monte Vesúvio caminhando pela região montanhosa.- Não disse seu nome ainda.- Radesh me lembrou caminhando ao meu lado atrás, Olívia e Ravi continuavam mantendo distância razoável de mim, e eu não os culpava, Odara caminhava ao meu lado mas não falava muito.- Nina.- Significa fogo, o que é uma ironia, não é nenhum pouco como fogo.- exclamou Ravi a frente sem olhar para trás.- E o que seria para você um nome adequado para ela irmão? - perguntou Radesh com expressão de diversão.Eu não iria responder a esse tipo de provocação.- Com certeza nada que signifique força ou coragem, é covarde demais.Olívia o repreendeu para que não me atormentasse mais.Ravi se calou e eu me perguntei s
Os dias se passaram até que Odara estivesse bem de novo para uma nova viagem, mas mesmo quando estava bem nos perguntamos se voltar para a época deles quando sabiamos o que acontecia lá era a decisão mais sensata.E uma pergunta também me atormentava, como eles sabiam o que acontecia naquela época? - Eu estava revisando os livros de história e vi a linhagem de Alexandre da Grécia e sobre um golpe do próprio irmão, li sobre o conselho ter estado em reunião.- foi a resposta de Olívia quando perguntei.- E como acabou toda essa disputa? E como você sabia que eles viriam? Tecnicamente só Odara detém a chama do tempo certo?- perguntei.- Odara detém a chama do tempo sim, mas existe outros meios não tão seguros para viajar no tempo...- foi a resposta de Radesh.Então havia um meio para que eu pudesse viajar de volta?- Ele vai caçar um por um se não de
Eu deveria saber que as coisas acabariam por dar errado de novo, veja bem, você ser sequestrada uma vez é um baita azar, mas sequestrar DUAS VEZES é surreal, isso porque eu não estava considerando quando Ravi me tirou daquela floresta tenebrosa.Agora eu estava em uma época completamente desconhecida para mim, não fui ensinada o suficiente sobre a história do meu próprio país o Brasil, nunca fui a uma escola de fato, o pouco que sabia era o que minha me ensinou em casa, então imagine sobre a história da Grécia, onde eu suspeitava estar.Me lembrava das palavras do vampiro para Odaro, iam me usar como uma isca para atrair Ravi, então isso me fazia presumir que aquele relógio tenebroso nos trouxe para a mesma época da qual eu já ia viajar...Afinal o que era aquele relógio? Seja o que fosse desejava nunca mais ve-lo novamente.Despertei em um quarto amplo, as paredes eram claras com pinturas de um tom azul clar