O sol estava alto, sorri para Avati parado a beira do rio, seus cabelos negros caiam sobre a testa molhada, ele tinha entrado no rio sem mim é claro.
- Nina, você demora muito!- gritou ele nadando, Avati era um ótimo nadador.
Sentei nas pedras do rio sorrindo para ele.Hoje era o dia que mamãe faria meu bolo.- Avati você vai a minha casa hoje não vai?- gritei a pergunta a ele enquanto nadava no rio.
- Sua mãe vai fazer bolo olhos azuis?- perguntou ele.
Era como praticamente todos da tribo Kai me chamavam, eu tinha traços de indígena, cor de indígena e cabelo também mas os olhos da minha mãe.- Então você só vai pelo bolo seu cabeça oca?!- questionei fingindo estar irritada.
Avati saiu da água e se sentou ao meu lado.- Vou por você também olhos azuis.- sussurrou ao meu lado.
- Tenho certeza disso Avati.- respondi.
Ele se levantou de repente e andou até uma árvore, mexeu em umas folhas amontoadas ao pé dela, das folhagens retirou um objeto que eu reconheci imediatamente.- Avati isso é um..?
- Arco e flecha que fiz para você, vou ensinar você a caçar.- respondeu entusiasmado.
Avati embora fosse só uma criança já era um excelente caçador, mesmo eu vivendo longe das cidades papai nunca havia me ensinado a caçar, nem a nadar ele tinha me ensinado.Avati me ensinou.- Ele é muito bonito.- Ele me entregou o arco que era muito bem feito, com detalhes pintados de vermelho e um símbolo que nunca vi.
- Que símbolo é esse?- perguntei a ele, era um símbolo que se assemelhava ao sol, poderia ser o sol.
- É uma chama Nina, é fogo vê? - seus dedos tocaram a pintura no arco indicando as chamas, agora que ele falou parecia bem óbvio.- Essa vai ser minha marca de cacique quando eu me tornar um.- respondeu.
- Já está pensando em ser Cacique, não imagino você como um chefe de tribo.- respondi.
- Quando me tornar um, vou revogar essa lei idiota que proíbe a entrada de estrangeiros e mestiços Nina, você vai ter um lugar de honra na tribo.- revelou e meu coração pulou de alegria.
- Vou guardar esse arco para sempre.
Acordei com mãos me sacudindo, abri os olhos e vi olhos castanhos avermelhados de Ravi.
- Pensei que nunca fosse acordar, está dormindo há dias seguidos.- revelou.
Tentei me levantar, mas ao fazer isso minha cabeça doeu, toquei onde eu a tinha ferido e não tinha sangue só o que parecia ser um curativo, também senti um cheiro estranho e desagradável.
Olhei ao redor e vi onde estava, um quarto!Nada de mato, ou riacho, ou floresta!Um quarto!Estava deitada em uma cama e pasmem, eu não vestia o vestido vermelho maltrapilho de antes, agora vestia uma camisola branca de tecido mais grosso.- Seu canalha, se aproveitou de mim enquanto eu estava desacordada!- Ele me olhou completamente chocado.
- Você realmente se acha irresistível não é? - questionou ele olhando para mim.
O quarto era simples, porém arrumado, não tinha muitas janelas, só uma que estava fechada de modo que eu não sabia dizer se era dia ou noite, havia um armário ao canto, uma TV pequena na parede onde estava no canal de notícias, um banheiro com a porta entreaberta, e a cama onde agora eu estava deitada.
A porta que era a única saída estava fechada é claro.- Não toquei em você.- se defendeu ele.
- Então como estou usando essa roupa?- acusei.
A porta se abriu e uma mulher entrou por ela, alta, longos cabelos enrolados de pele negra, seus olhos se fixaram nos meus, eles tinham o mesmo tom castanho avermelhado que os de Ravi.
- Eu cuidei de Você Nina, não se preocupe, Ravi não estava aqui enquanto eu fazia isso.- respondeu ela e notei que carregava uma bandeja que deixou na cama a minha frente.- Trouxe sopa para você, precisa se alimentar você vomitou muito enquanto estava desmaiada.- revelou.
Então era o cheiro de vômito que eu havia sentido.- Também ficou repetindo um nome.- Ravi pronunciou.
- Isso não é importante agora Ravi.- a mulher respondeu.
- Que nome?- perguntei.
- Avati, é um nome indígena não é? - perguntou ele.
Eu quis desaparecer naquele momento, aquilo era íntimo demais, era meu passado, a única coisa que não conseguiram arrancar de mim ao longo dos anos, a memória de Avati...- Meu nome é Olivia. - se apresentou a mulher.
- Nina.- respondi.
Ravi me encarava agora, estava esperando respostas de mim, mas eu também queria respostas.- Quem são vocês? - perguntei direta.
- Somos donos dessa pousada, Ravi disse que você estava vivendo sozinha na floresta e resolveu trazer você para cá, quer que eu ligue para sua família? - perguntou.
- Ravi arrancou a cabeça de um homem na minha frente com as mãos nuas! Quem são vocês!- exigi.
- Quem é você! E de quem está fugindo?!- rebateu ele.
- Ravi saia.- Pediu Olivia, Ravi a olhou contrariado mas obedeceu.
Ela se virou para mim.
- É óbvio que você estava se escondendo de alguém naquela floresta Nina, diante da sua expressão ao perguntar isso a você essa pessoa ou pessoas te assustam muito.
- Quem são vocês? - insisti.
- Quem é você? Está pronta para contar sua história? - perguntou.
Abaixei a cabeça, não contaria nada.- Foi exatamente o que imaginei, você não confia em nós e Ravi pode parecer grosseiro agora mas é só porque ele está preocupado, tivemos que fazer algo para salvar você que realmente eu não queria e nem ele.- sua expressão estava estranha agora.
De repente senti meu estômago revirar, me inclinei e vomitei no chão.
Olivia veio ao meu auxílio murmurando palavras delicadas enquanto alisava minhas costas.- Porque parece que meu estômago está se consumindo? - perguntei com dificuldade e vomitei novamente.
- A transição é um pouco difícil mesmo.- Olívia respondeu.
- Que transição? Do que está falando?
A porta se abriu e um garoto entrou, não parecia ter mais do que doze anos e suas feições eram idênticas as de Ravi.
- Veja pelo lado bom, nunca mais vai adoecer.- anunciou o garoto para mim.
- Odara saia daqui!- ordenou Olívia ao menino que permaneceu me encarando imóvel.
- Talvez ela seja a minha âncora.- o ouvi sussurrar seus olhos fixos em mim.
Deitei na cama suando e sentindo que o mundo estava girando.
- Que transição?- perguntei sentindo meu coração bater mais forte.Ravi entrou pela porta.
- Transição para vampira, é o que somos Nina.- revelou e então meu coração bateu uma última vez e eu morri.
É estranho morrer, achei que veria anjos ou demônios mas não vi nada disso, vi escuridão e vazio mas não fiquei tanto tempo assim.Mas é claro que eu não morri de verdade caso contrário não teria acordado.Quando acordei senti algo estranho.Para começar parecia que havia um buraco no meu peito, meu corpo que antes doía agora não doía nada.Abri os olhos e vi que estava no mesmo lugar, deitada na cama e ao meu redor cada um sentado em um banco estava Olívia e Ravi, seus olhos se alarmaram ao me verem se sentando na cama.Olívia foi a primeira a chegar perto se sentando na cama ao meu lado. - Vai ficar tudo bem.- sussurrou ela.Minha mente parecia um turbilhão, vozes sem sentido começaram a se tornar muito altas, um casal conversando sobre praias, crianças bricando de pega-pega, uma porta batendo, um chuveiro sendo ligado, um carro saindo, carros chegando, a tv ligada, várias tvs ligadas...aq
É claro que ao me ouvir gritar Ravi entrou no banheiro sem a menor dificuldade, com um único empurrão quebrou a fechadura e entrou. - Pare de gritar, você está em uma pousada, não queremos atrair atenção!- ralhou comigo ele. - Meus olhos!- gritei. Ele suspirou e se aproximou de mim.Segurou meu rosto entre suas mãos e pareceu analisar meus olhos com cuidado. - É normal isso acontecer, você só está com sede.- ao ouvir dizer isso me dei conta da sensação na garganta que me incomodava desde a hora que acordei, uma sensação dolorosa de sede.Liguei a torneira e me abaixei tentando engolir o máximo de água que consegui, pareceu aplacar um pouco o que eu sentia, mas no fundo a sede ainda continuava ali, dolorosa e contínua. - Se vista, precisamos conversar.- avisou ele e saiu encostando a porta que eu não tinha mais a opção de trancar.Aquilo era uma loucura, estavam me drogando com toda a certeza, tirei o vestido e procurei marcas de agulh
A porta não ficava trancada, eu fui verificar quando Ravi me deixou sozinha, olhei para o corredor e vi muitas portas, fiquei um tempo observando pessoas entrando e saindo dos seus quartos, parecia mesmo uma pousada.Mas não tentei fugir, estava muito confusa e sem saber o que fariam comigo caso eu fugisse.Voltei para o quarto e liguei a TV, na boate não tínhamos TV nos quartos, nada que nos informasse sobre o mundo fora daquele lugar, a última TV que tinha visto era na casa dos meus pais, minha mãe estava assistindo a um filme, lembro-me que ela me chamou para ver com ela, mas eu não quis, estava ocupada com coisas de criança brincando com minhas bonecas... Porque o gosto do sangue Não me causou enjoos? Porque não me pareceu repulsivo?Até mesmo agora que eu sabia exatamente o que havia tomado não sentia repulsa.O que estava acontecendo comigo afinal? Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.- Entre. O garotinho de
Era tudo uma loucura, eu realmente estava morta.Agora era uma vampira sugadora de sangue alheio.Tantos anos em cativeiro para morrer sendo arremessada contra uma árvore.A garota que eu tentei salvar? Morta também, mas não morta como eu que Ravi me transformou em vampira, ela estava morta mesmo sem nenhum sangue em suas veias.Ravi a enterrou na floresta.O homem que eu vi ter a cabeça arrancada era um vampiro. - Porque não tenho nenhuma marca de mordida? Foi você que me mordeu certo?- perguntei enquanto voltávamos para meu quarto. Ele me olhou. - Para alguém que não via muita TV você tem uma visão muito hollywoodiana dos vampiros.- respondeu ele e só consegui me deter em ele saber que eu não assistia muita tv, como sabia? - Como sabe que eu não tinha acesso a TV?- questionei quando paramos em frente a porta do quarto. - Eu vejo lembranças e desejos quando toco em
Eu sabia que ela escondia algo difícil, aqui parado na porta eu conseguia ouvi-la chorar baixo, de forma que não quisesse ser descoberta e sua expressão assustada ao entender que eu teria acesso a quaisquer memórias esquecidas, perdidas definitivamente ela tinha um segredo que planejava a todo custo proteger.Mas todos tínhamos no final das contas, a deixaria em paz com o seu.Me afastei da porta e andei pelo longo corredor, ao descer as escadas pensei na reunião que iria hoje, o que seria decidido dessa reunião? - Irmão!- Odara surgiu a minha frente.- Estou com pressa Odara.- me apressei a dizer, não queria ouvir suas mesmas reclamações que me eram muito cansativas, depois de tantos anos vivendo em sua condição já deveria ter se conformado.- O que acha da indiazinha? Bonita não é? Foi uma boa idéia nos estabelecermos aqui.- perguntou maliciosamente enquanto me seguia desc
Olívia e Ravi saíram da sala carregando o garoto ferido, agora estavamos só eu e Odara que não sorria.Estava sentado apreensivo, sua expressão era de terror.Mas o seu terror com certeza não se igualava ao meu, os homens lá fora carregavam uma marca muito conhecida para mim.Uma tatuagem da fênix, assim como o fênix que matou Sara.Seria só uma coincidência? Ou talvez ele fosse um vampiro.- Odara, quem são esses lá fora que querem nos matar?- perguntei me aproximando dele.- Fazem parte do clã negro liderados pelo príncipe exilado, se denominam filhos da fênix, que iriam ressurgir sempre das cinzas, devem ter usado uma magia negra para estarem aqui, não é possivel esse tipo de viagem.- respondeu.Por isso a marca da fênix na mão, pensei.- O que eles querem??- perguntei.- Todos os vampiros que controlam a chama.
Era exatamente o que parecia ser.Uma viagem no tempo.Olívia seguiu com Ravi para inspecionar a área para se certificar de que estavamos sozinhos no vale, eu e Odaro permanecemos no mesmo lugar esperando os dois, parece que haviam ido buscar alguém também.- Como viemos parar aqui?- perguntei.- Lembra-se da chama que falei?-assenti.- Eu tenho a chama do tempo.Encarei-o.- A chave que você usou para formar aquele redemoinho, ela nos trouxe pra cá? - Sendo manipulada por mim, mas só viajo para lugares onde tenho uma âncora emocional, ou que eu tenha alguma possibilidade de ter...- seu olhar recaiu sobre mim.- acho que descobri o motivo de ter conseguido viajar para o seu tempo.- Eu era sua âncora do futuro? - perguntei.Odara assentiu.Mas uma coisa
O dia amanheceu e Odaro se alimentou com o sangue trazido por Radesh, pelo o que entendi uma longa caminhada nos esperava até a cidade portuária de Pompéia.Descemos o monte Vesúvio caminhando pela região montanhosa.- Não disse seu nome ainda.- Radesh me lembrou caminhando ao meu lado atrás, Olívia e Ravi continuavam mantendo distância razoável de mim, e eu não os culpava, Odara caminhava ao meu lado mas não falava muito.- Nina.- Significa fogo, o que é uma ironia, não é nenhum pouco como fogo.- exclamou Ravi a frente sem olhar para trás.- E o que seria para você um nome adequado para ela irmão? - perguntou Radesh com expressão de diversão.Eu não iria responder a esse tipo de provocação.- Com certeza nada que signifique força ou coragem, é covarde demais.Olívia o repreendeu para que não me atormentasse mais.Ravi se calou e eu me perguntei s