Capítulo 04

Ao acordar imaginei que estaria sozinha novamente, mas para a minha surpresa não estava.

A minha frente estava acesa uma fogueira onde peixes estavam sendo assados, o aroma era maravilhoso, Ravi o manejava no fogo com cuidado.

Olhei para a manta que me cobria, era azul marinho.

- Bom dia Nina.- comprimentou Ravi, retirou um peixe do fogo e o estendeu para mim no espeto.

Encarei-o sem entender porque ele ainda estava aqui.

Afinal o que ele quer de mim?

Começo a achar que ele não tem nada a ver com Sandra, se trabalhasse para ela já teria me levado.

- Você é muito desconfiada.- pronunciou ele e retirou um pedaço do peixe provando-o na minha frente.

Em seguida estendeu o restante do peixe, aceitei mais confiante ao menos envenenado não estava.

Ele sorriu ao me ver comer o peixe, estava ótimo.

- Você fala muito pouco para uma mulher sabia Nina.

Não me dei ao trabalho de responder, ele continuaria o assunto assim mesmo.

Mas quando ele se calou me dei conta de que se ele não estivesse me ajudando me trazendo comida, água e essa manta que me manteve aquecida, sem isso eu estaria faminta.

Mas porque ele estava me ajudando?

- Porque você vem para essa floresta?- perguntei.

Seus olhos castanhos avermelhados estavam muito claros agora.

- De quem você está fugindo? - rebateu minha pergunta.

Então ele mesmo falando sem parar ainda escondia coisas...

- Tenho que ir agora.- se levantou caminhando para longe, antes que desaparecesse na mata parou e se virou em minha direção.- Não saia daqui tudo bem? Quando voltar posso guiar você até o riacho mas você ir sozinha é perigoso.

- Sei me defender.- respondi.

- Sei disso.- respondeu e desapareceu de vista.

Bebi a água que Ravi havia deixado e fiquei sentada pensando no que deveria fazer a seguir, não podia ficar nessa mata para sempre, não podia ir na delegacia e nem voltar para minha família.

Conhecia muito pouco do mundo, sabia ler e escrever graças a minha mãe que havia me ensinado, mas não tinha realmente vivido em sociedade minha companhia era os índios da tribo Kai, e mesmo isso foi arrancado de mim ao ser sequestrada...

Viver naquela boate em cativeiro não era viver em sociedade.

O que estariam pensando agora as meninas sobre mim? Será que pensam que morri?

E aqueles tiros? Era uma agonia pensar que uma delas poderia ter sido castigada por minha causa, já sofriamos o suficiente.

Estava aqui nessa floresta isolada sem saber como iria proceder e sem informações, e por mais que Ravi não tivesse se mostrado inimigo não podia confiar nele, não sabia quem ele era.

Me levantei disposta a caminhar e encontrar o riacho, precisava de um banho urgente!

Talvez eu pudesse fugir para outro lugar longe daqui, mas como eu sairia dessa mata?

Teria que pedir ajuda o que me causava náuseas só de imaginar.

Enquanto caminhava eu pensava em tudo que tinha deixado para trás até que um grito de mulher atraiu minha atenção.

Fiquei paralisada tentando localizar de onde vinha o som, a mulher gritou mais uma vez e fui seguindo devagar e silenciosamente.

Em uma clareira eu vi um homem e uma mulher, estavam brigando e a mulher uma morena baixa estava perdendo, o homem estava a dominando com facilidade.

Olhei para o chão em busca de alguma coisa para usar como arma, peguei a maior pedra que encontrei e parti para cima do agressor, não pensei em nada.

Antes que eu o atingisse ele virou o rosto para mim, com uma mão livre me desferiu um golpe do qual fui arremessada contra uma árvore e caí ruidosamente no chão.

A mulher gritou mais uma vez e pela última vez porque o homem quebrou seu pescoço.

Minha visão estava turva, mas mesmo assim vi a figura do homem após fazer alguma coisa com o corpo da mulher deixa-lo lá e caminhar lentamente em minha direção.

Então era isso, tanto tempo planejando uma fuga sem que eu morresse no processo para morrer na mata, sozinha e nas mãos de um desconhecido.

Pensei que algo importante ou emotivo passaria pela minha cabeça nesses últimos momentos mas nada disso aconteceu.

Pelo contrário, enquanto eu estava ali desvanecendo e observando a morte se  aproximar eu pensava no peixe frito que tinha comido aquela manhã, pensava que queria ter comido mais.

Era esse pensamento idiota que passava na minha cabeça quando uma figura masculina se aproximou por trás do homem, ouvi um ruído, algo como um grito sufocado, mas não pude entender o que acontecia porque meu campo de visão só abrangia os pés dos dois homens.

Então eu vi, de repente uma cabeça cair e logo em seguida o corpo caiu de joelhos caindo inerte ao lado da cabeça decaptada.

Sangue, muito sangue no chão.

O outro homem se aproximou de mim e eu tentei gritar mas estava em choque, se abaixou a minha frente verificando meu ferimento na têmpora e seu rosto foi revelado.

- Ravi.- murmurei sem acreditar.

- Porque não ficou onde pedi para ficar, maldição você é muita teimosa!- ele retirou um lenço do bolso da calça e pressionou no meu ferimento, ardeu.

- Você matou aquele homem..- sussurrei.

Ele me encarou.

- Salvei sua vida Nina.- justificou.

- Arrancou a cabeça dele.- insisti, procurei alguma arma com ele, um falcão, uma espada ou qualquer coisa afiada, mas o que só foi suas mãos nuas e sangrentas.

- Um obrigado seria o suficiente.- respondeu ele.

- Como arrancou a cabeça dele?- questionei me sentindo sem forças.

Eu perderia a consciência a qualquer momento.

- Ótimo, você nunca fala mas agora resolveu não parar mais certo? E com um monte de perguntas sem sentido, você é cheia de surpresas.- exclamou Ravi.

Me segurou me levantando do chão, me carregava para algum lugar.

- Para onde está me levando?- questionei enquanto ele me carregava pela floresta.

- Para o riacho como disse que faria, se tivesse me esperado não estaria ferida agora.- reclamou ele.

- Você quer me matar.- acusei minha visão já escurecendo.

- Não seja ridícula Nina, salvei você.- foi a última coisa que ouvi antes de desmaiar em seus braços.

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