Ao acordar imaginei que estaria sozinha novamente, mas para a minha surpresa não estava.
A minha frente estava acesa uma fogueira onde peixes estavam sendo assados, o aroma era maravilhoso, Ravi o manejava no fogo com cuidado.Olhei para a manta que me cobria, era azul marinho.- Bom dia Nina.- comprimentou Ravi, retirou um peixe do fogo e o estendeu para mim no espeto.
Encarei-o sem entender porque ele ainda estava aqui.Afinal o que ele quer de mim?Começo a achar que ele não tem nada a ver com Sandra, se trabalhasse para ela já teria me levado.- Você é muito desconfiada.- pronunciou ele e retirou um pedaço do peixe provando-o na minha frente.
Em seguida estendeu o restante do peixe, aceitei mais confiante ao menos envenenado não estava.
Ele sorriu ao me ver comer o peixe, estava ótimo.
- Você fala muito pouco para uma mulher sabia Nina.
Não me dei ao trabalho de responder, ele continuaria o assunto assim mesmo.Mas quando ele se calou me dei conta de que se ele não estivesse me ajudando me trazendo comida, água e essa manta que me manteve aquecida, sem isso eu estaria faminta.
Mas porque ele estava me ajudando?- Porque você vem para essa floresta?- perguntei.
Seus olhos castanhos avermelhados estavam muito claros agora.- De quem você está fugindo? - rebateu minha pergunta.
Então ele mesmo falando sem parar ainda escondia coisas...- Tenho que ir agora.- se levantou caminhando para longe, antes que desaparecesse na mata parou e se virou em minha direção.- Não saia daqui tudo bem? Quando voltar posso guiar você até o riacho mas você ir sozinha é perigoso.
- Sei me defender.- respondi.
- Sei disso.- respondeu e desapareceu de vista.Bebi a água que Ravi havia deixado e fiquei sentada pensando no que deveria fazer a seguir, não podia ficar nessa mata para sempre, não podia ir na delegacia e nem voltar para minha família.Conhecia muito pouco do mundo, sabia ler e escrever graças a minha mãe que havia me ensinado, mas não tinha realmente vivido em sociedade minha companhia era os índios da tribo Kai, e mesmo isso foi arrancado de mim ao ser sequestrada...Viver naquela boate em cativeiro não era viver em sociedade.O que estariam pensando agora as meninas sobre mim? Será que pensam que morri?E aqueles tiros? Era uma agonia pensar que uma delas poderia ter sido castigada por minha causa, já sofriamos o suficiente.Estava aqui nessa floresta isolada sem saber como iria proceder e sem informações, e por mais que Ravi não tivesse se mostrado inimigo não podia confiar nele, não sabia quem ele era.
Me levantei disposta a caminhar e encontrar o riacho, precisava de um banho urgente!Talvez eu pudesse fugir para outro lugar longe daqui, mas como eu sairia dessa mata?Teria que pedir ajuda o que me causava náuseas só de imaginar.Enquanto caminhava eu pensava em tudo que tinha deixado para trás até que um grito de mulher atraiu minha atenção.Fiquei paralisada tentando localizar de onde vinha o som, a mulher gritou mais uma vez e fui seguindo devagar e silenciosamente.Em uma clareira eu vi um homem e uma mulher, estavam brigando e a mulher uma morena baixa estava perdendo, o homem estava a dominando com facilidade.Olhei para o chão em busca de alguma coisa para usar como arma, peguei a maior pedra que encontrei e parti para cima do agressor, não pensei em nada.Antes que eu o atingisse ele virou o rosto para mim, com uma mão livre me desferiu um golpe do qual fui arremessada contra uma árvore e caí ruidosamente no chão.A mulher gritou mais uma vez e pela última vez porque o homem quebrou seu pescoço.Minha visão estava turva, mas mesmo assim vi a figura do homem após fazer alguma coisa com o corpo da mulher deixa-lo lá e caminhar lentamente em minha direção.Então era isso, tanto tempo planejando uma fuga sem que eu morresse no processo para morrer na mata, sozinha e nas mãos de um desconhecido.Pensei que algo importante ou emotivo passaria pela minha cabeça nesses últimos momentos mas nada disso aconteceu.Pelo contrário, enquanto eu estava ali desvanecendo e observando a morte se aproximar eu pensava no peixe frito que tinha comido aquela manhã, pensava que queria ter comido mais.Era esse pensamento idiota que passava na minha cabeça quando uma figura masculina se aproximou por trás do homem, ouvi um ruído, algo como um grito sufocado, mas não pude entender o que acontecia porque meu campo de visão só abrangia os pés dos dois homens.Então eu vi, de repente uma cabeça cair e logo em seguida o corpo caiu de joelhos caindo inerte ao lado da cabeça decaptada.Sangue, muito sangue no chão.O outro homem se aproximou de mim e eu tentei gritar mas estava em choque, se abaixou a minha frente verificando meu ferimento na têmpora e seu rosto foi revelado.- Ravi.- murmurei sem acreditar.
- Porque não ficou onde pedi para ficar, maldição você é muita teimosa!- ele retirou um lenço do bolso da calça e pressionou no meu ferimento, ardeu.
- Você matou aquele homem..- sussurrei.
Ele me encarou.
- Salvei sua vida Nina.- justificou.
- Arrancou a cabeça dele.- insisti, procurei alguma arma com ele, um falcão, uma espada ou qualquer coisa afiada, mas o que só foi suas mãos nuas e sangrentas.
- Um obrigado seria o suficiente.- respondeu ele.
- Como arrancou a cabeça dele?- questionei me sentindo sem forças.
Eu perderia a consciência a qualquer momento.- Ótimo, você nunca fala mas agora resolveu não parar mais certo? E com um monte de perguntas sem sentido, você é cheia de surpresas.- exclamou Ravi.
Me segurou me levantando do chão, me carregava para algum lugar.- Para onde está me levando?- questionei enquanto ele me carregava pela floresta.
- Para o riacho como disse que faria, se tivesse me esperado não estaria ferida agora.- reclamou ele.
- Você quer me matar.- acusei minha visão já escurecendo.
- Não seja ridícula Nina, salvei você.- foi a última coisa que ouvi antes de desmaiar em seus braços.
O sol estava alto, sorri para Avati parado a beira do rio, seus cabelos negros caiam sobre a testa molhada, ele tinha entrado no rio sem mim é claro. - Nina, você demora muito!- gritou ele nadando, Avati era um ótimo nadador.Sentei nas pedras do rio sorrindo para ele.Hoje era o dia que mamãe faria meu bolo. - Avati você vai a minha casa hoje não vai?- gritei a pergunta a ele enquanto nadava no rio. - Sua mãe vai fazer bolo olhos azuis?- perguntou ele.Era como praticamente todos da tribo Kai me chamavam, eu tinha traços de indígena, cor de indígena e cabelo também mas os olhos da minha mãe. - Então você só vai pelo bolo seu cabeça oca?!- questionei fingindo estar irritada.Avati saiu da água e se sentou ao meu lado. - Vou por você também olhos azuis.- sussurrou ao meu lado. - Tenho certeza disso Avati.- respondi.Ele se levantou de repente e andou até uma árvore, mexeu em umas folhas amontoadas ao pé dela, das folhagen
É estranho morrer, achei que veria anjos ou demônios mas não vi nada disso, vi escuridão e vazio mas não fiquei tanto tempo assim.Mas é claro que eu não morri de verdade caso contrário não teria acordado.Quando acordei senti algo estranho.Para começar parecia que havia um buraco no meu peito, meu corpo que antes doía agora não doía nada.Abri os olhos e vi que estava no mesmo lugar, deitada na cama e ao meu redor cada um sentado em um banco estava Olívia e Ravi, seus olhos se alarmaram ao me verem se sentando na cama.Olívia foi a primeira a chegar perto se sentando na cama ao meu lado. - Vai ficar tudo bem.- sussurrou ela.Minha mente parecia um turbilhão, vozes sem sentido começaram a se tornar muito altas, um casal conversando sobre praias, crianças bricando de pega-pega, uma porta batendo, um chuveiro sendo ligado, um carro saindo, carros chegando, a tv ligada, várias tvs ligadas...aq
É claro que ao me ouvir gritar Ravi entrou no banheiro sem a menor dificuldade, com um único empurrão quebrou a fechadura e entrou. - Pare de gritar, você está em uma pousada, não queremos atrair atenção!- ralhou comigo ele. - Meus olhos!- gritei. Ele suspirou e se aproximou de mim.Segurou meu rosto entre suas mãos e pareceu analisar meus olhos com cuidado. - É normal isso acontecer, você só está com sede.- ao ouvir dizer isso me dei conta da sensação na garganta que me incomodava desde a hora que acordei, uma sensação dolorosa de sede.Liguei a torneira e me abaixei tentando engolir o máximo de água que consegui, pareceu aplacar um pouco o que eu sentia, mas no fundo a sede ainda continuava ali, dolorosa e contínua. - Se vista, precisamos conversar.- avisou ele e saiu encostando a porta que eu não tinha mais a opção de trancar.Aquilo era uma loucura, estavam me drogando com toda a certeza, tirei o vestido e procurei marcas de agulh
A porta não ficava trancada, eu fui verificar quando Ravi me deixou sozinha, olhei para o corredor e vi muitas portas, fiquei um tempo observando pessoas entrando e saindo dos seus quartos, parecia mesmo uma pousada.Mas não tentei fugir, estava muito confusa e sem saber o que fariam comigo caso eu fugisse.Voltei para o quarto e liguei a TV, na boate não tínhamos TV nos quartos, nada que nos informasse sobre o mundo fora daquele lugar, a última TV que tinha visto era na casa dos meus pais, minha mãe estava assistindo a um filme, lembro-me que ela me chamou para ver com ela, mas eu não quis, estava ocupada com coisas de criança brincando com minhas bonecas... Porque o gosto do sangue Não me causou enjoos? Porque não me pareceu repulsivo?Até mesmo agora que eu sabia exatamente o que havia tomado não sentia repulsa.O que estava acontecendo comigo afinal? Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.- Entre. O garotinho de
Era tudo uma loucura, eu realmente estava morta.Agora era uma vampira sugadora de sangue alheio.Tantos anos em cativeiro para morrer sendo arremessada contra uma árvore.A garota que eu tentei salvar? Morta também, mas não morta como eu que Ravi me transformou em vampira, ela estava morta mesmo sem nenhum sangue em suas veias.Ravi a enterrou na floresta.O homem que eu vi ter a cabeça arrancada era um vampiro. - Porque não tenho nenhuma marca de mordida? Foi você que me mordeu certo?- perguntei enquanto voltávamos para meu quarto. Ele me olhou. - Para alguém que não via muita TV você tem uma visão muito hollywoodiana dos vampiros.- respondeu ele e só consegui me deter em ele saber que eu não assistia muita tv, como sabia? - Como sabe que eu não tinha acesso a TV?- questionei quando paramos em frente a porta do quarto. - Eu vejo lembranças e desejos quando toco em
Eu sabia que ela escondia algo difícil, aqui parado na porta eu conseguia ouvi-la chorar baixo, de forma que não quisesse ser descoberta e sua expressão assustada ao entender que eu teria acesso a quaisquer memórias esquecidas, perdidas definitivamente ela tinha um segredo que planejava a todo custo proteger.Mas todos tínhamos no final das contas, a deixaria em paz com o seu.Me afastei da porta e andei pelo longo corredor, ao descer as escadas pensei na reunião que iria hoje, o que seria decidido dessa reunião? - Irmão!- Odara surgiu a minha frente.- Estou com pressa Odara.- me apressei a dizer, não queria ouvir suas mesmas reclamações que me eram muito cansativas, depois de tantos anos vivendo em sua condição já deveria ter se conformado.- O que acha da indiazinha? Bonita não é? Foi uma boa idéia nos estabelecermos aqui.- perguntou maliciosamente enquanto me seguia desc
Olívia e Ravi saíram da sala carregando o garoto ferido, agora estavamos só eu e Odara que não sorria.Estava sentado apreensivo, sua expressão era de terror.Mas o seu terror com certeza não se igualava ao meu, os homens lá fora carregavam uma marca muito conhecida para mim.Uma tatuagem da fênix, assim como o fênix que matou Sara.Seria só uma coincidência? Ou talvez ele fosse um vampiro.- Odara, quem são esses lá fora que querem nos matar?- perguntei me aproximando dele.- Fazem parte do clã negro liderados pelo príncipe exilado, se denominam filhos da fênix, que iriam ressurgir sempre das cinzas, devem ter usado uma magia negra para estarem aqui, não é possivel esse tipo de viagem.- respondeu.Por isso a marca da fênix na mão, pensei.- O que eles querem??- perguntei.- Todos os vampiros que controlam a chama.
Era exatamente o que parecia ser.Uma viagem no tempo.Olívia seguiu com Ravi para inspecionar a área para se certificar de que estavamos sozinhos no vale, eu e Odaro permanecemos no mesmo lugar esperando os dois, parece que haviam ido buscar alguém também.- Como viemos parar aqui?- perguntei.- Lembra-se da chama que falei?-assenti.- Eu tenho a chama do tempo.Encarei-o.- A chave que você usou para formar aquele redemoinho, ela nos trouxe pra cá? - Sendo manipulada por mim, mas só viajo para lugares onde tenho uma âncora emocional, ou que eu tenha alguma possibilidade de ter...- seu olhar recaiu sobre mim.- acho que descobri o motivo de ter conseguido viajar para o seu tempo.- Eu era sua âncora do futuro? - perguntei.Odara assentiu.Mas uma coisa