A noite estava escura e densa, eu corria pela viela sem saber o que seria de mim, o vento soprava gelado em meu rosto, mas não era por causa dele que eu tremia repetidamente.
Os tremores eram causados pelo medo que sentia não o frio.Meu coração batia em um ritmo louco, desesperado, minha respiração ofegante se fazia alta no silêncio da noite.O som dos meus passos correndo era o único som daquele lugar.Logo os cachorros e seus donos viriam até mim, o fino vestido vermelho que eu usava agora estava todo amassado e sujo de suor, mas eu só precisava correr mais um pouco até chegar na floresta.Lá eu conseguiria sobreviver, mas seria muito difícil diante do clima frio, das condições que eu me encontrava sem provisões a não ser um pedaço de pão que eu segurava enrolado em um pano.Olhei para o céu e vi suas estrelas, a lua imponente e luminosa me fez querer chorar, em algum lugar meus pais poderiam estar vendo aquele mesmo céu que eu agora, só mais um pouco, somente mais alguns passos para conseguir chegar na floresta e logo iria encontrar eles.
Até que o som de latidos irromperam atrás de mim, meu coração antes acelerado agora tinha o feito contrário, parecia que havia parado de tanto medo.Eu não imaginei que fossem sentir minha falta tão rápido, a menos que alguma menina tenha me entregado.Era fresca na minha memória o que eles haviam feito com Nora ao capturarem ela após sua fuga.Dias sobrevivendo de água e pão na solitária e isso era um castigo brando se comparar com o que veio depois disso.- Pare Nina!- a voz de Carlos veio alto.
É claro que mandariam ele atrás de mim, afinal Carlos era o menos influenciável de todos os homens daquele lugar, ela não mandaria alguém que eu pudesse manipular.Corri o mais depressa possível mas era inútil caso ele quisesse soltar os cachorros eu não teria a mínima chance de escapar.Será que eu era valiosa o suficiente para eles para permanecer viva ? Ou me matariam para passar uma mensagem as outras?Eu não queria pagar para ver então corri mais rápido.- Pare ou solto os cachorros atrás de você sua maldita!- Esbravejou Carlos e antes que eu pudesse responder algo o vi soltar os três cachorros atrás de mim.
Era meu fim.Consegui chegar a cerca que separava o matagal que ninguém ousava cruzar depois de tantas jovens garotas dedaparecerem nessa mata toda a região via o lugar como uma morada de demônios, era o que acontecia em cidade pequena repleta de terras indígenas ao redor, as lendas se espalhavam, se eu ao menos chegasse ao matagal antes deles estaria salva, com todas essas lendas nessa região sobre criaturas da noite que vivem na mata, ninguém iria me procurar lá e Carlos não arriscaria perder seus cães na mata por mim.Alcancei a cerca e pulei rasgando boa parte do vestido vermelho, os cães não conseguiram pular como eu para meu alívio.Entrei a toda velocidade na mata, meus pés descalços pisando em pedras, terra e várias outras coisas cortantes, mas nada disso me parou.Na verdade eu quis gritar de felicidade cada vez que os latidos ficavam para trás, até desaparecerem completamente.Já não estava mais ao alcance para ouvir os gritos possessos de Carlos e os latidos dos cães.Agora tudo dependia de mim, sobreviver na mata e depois fugir dela de volta a minha Aldeia.Um som muito conhecido me fez pular enquanto corria, era o som de tiros.
Contei três tiros ao longe, parei de correr quando percebi que havia conseguido manter uma distância considerável.Caminhei até uma árvore grande e finalmente depois de muito correr me sentei recostada nela, ao sentar olhei para o céu noturno e meu coração se apertou ao imaginar o motivo daqueles tiros.Será que haviam descoberto que Clara havia distraído o guarda para que eu escapasse, se descobriram isso a matariam?Agora o frio se intensificou e pensei em tentar fazer uma fogueira, eles não seriam atraídos pela fumaça, não teriam coragem de entrar na mata atrás de mim.
Como se o universo estivesse conspirando contra minha recém idéia para me aquecer um trovão se fez ouvir no céu e logo em seguida as primeiras gotas de chuvas caíram geladas sobre toda a floresta.
Em questão de minutos eu já estava ensopada e tremendo de frio.Meus dentes batendo e meu corpo se encolhendo, o vestido vermelho agora parecia uma camisola todo rasgado, o tecido não era nem um pouco quente.Meu estômago roncou pedindo o pão enrolado no pano, mas eu o ignorei ciente de que tinha que poupar a escassa comida, já que embora eu tenha crescido em uma aldeia próxima a natureza isso não era a certeza que eu conseguiria sair rapidamente dessa floresta.
Eu precisava resistir a essa noite de chuva, não ficar doente e procurar um rio onde pudesse me hidratar.Eu desejava não encontrar nenhuma fera pelo caminho, não acreditava em criaturas da noite e nem em espíritos da natureza.
Minha aldeia não ficava tão longe, há dois anos havia sido sequestrada no rio perto da aldeia.Viviamos proximos a tribo Kai desde que meu pai foi expulso de sua própria tribo.Seu crime para ser expulso? Eu nunca soube.A chuva se intensificou ainda mais e meu corpo estava congelando, mas como tudo conseguia sempre piorar vi uma movimentação na mata.Levantei devagar em tom de alerta encarando o ponto onde a mata se mexia, alguma coisa vinha na minha direção rápido demais, eu desejei ter algo afiado comigo, desejei meu arco e flecha mas minhas mãos estavam nuas, olhei desesperada ao redor em busca de algo que pudesse usar como arma, nada eficiente o bastante e me contentei com um tronco leve demais.Provavelmente eu seria devorada.De nada esse tronco me ajudaria, se o que estivesse vindo em minha direção fosse um animal faminto, o que eu acreditava ser.Ah como eu queria meu arco e flecha agora aqui comigo, eu poderia ao menos ter uma chance de me defender!Mas para a minha surpresa do meio do mato não saiu um predador sedento pelo meu sangue e sim um inofensivo coelho pardo.Encarei o coelho saltitante voltando a respirar aliviada novamente, me sentei novamente recostadada a árvore e observei o coelho sumir nas profundezas da mata, talvez eu tivesse errado de não tentar pega-lo naquele momento.Afinal daria uma boa refeição, mas naquele momento não pensei profundamente nessa possibilidade, me sentia cansada e com frio.Para completar senti as primeiras gotas de chuva caindo, o frio da noite aumentando, me encolhi na árvore enquanto a chuva descia com tudo me molhando.Mas mesmo com frio, com fome e cansada meu coração não podia estar mais feliz, olhei para o céu estrelado sabendo que esta noite eu era livre.Olá espero que estejam gostando. Por favor não esqueçam de avaliar o livro isso me ajuda muito!
Acordei com o barulho dos passaros sobrevoando onde eu estava, por um momento esqueci que tinha fugido e imaginei que Sandra apareceria exigindo uma limpeza nos quartos e na boate, mas é claro isso não aconteceu.Estava de volta a natureza da qual eu passei a maior parte da infância.O cheiro da mata ao redor me trouxe uma felicidade que há muito não sentia e agora o céu estava limpo sem nenhum vestígio de chuva vindo.Me levantei caminhando com o único objetivo de encontrar um riacho, beber água e um banho seria uma benção agora, eu sabia que tinha um riacho na direção ao norte daqui graças a Pedro um dos meninos que trabalhava na boate.Ele já havia entrado na floresta para caçar apesar das lendas amendrontarem a todos para Pedro ver suas irmãs com fome pareceu mais assustador, esperava que ninguém soubesse que ele havia me dado algumas referências de como sobreviver aqui, embora ninguém soubesse que ele já havia entrad
Havia andado o dia todo sem encontrar o riacho, minha boca estava seca e meu corpo desejando um gole que fosse de água, até do vinho da boate eu sentia falta agora, mas só do vinho.Agora a noite se aproximava e a idéia de fazer uma fogueira me parecia tão insensata, se aquele homem havia entrado aqui sem medo então deveria ter outros e eu precisava ser o mais discreta possivel, afinal pensando agora para onde eu iria?Se fosse na delegacia eles arrumariam um jeito de me pegar de volta ou me matar, e minha casa?Estariam me esperando agora lá sem dúvida.Será que meus pais ainda viviam perto da tribo Kai? Ou minha finalmente convenceu meu pai a se mudar para a cidade? Será que eles acham que morri? De certa forma eu morri.Estava sentada pensando nessas coisas quando notei uma figura saindo das sombras, uma muito alta.Me levantei do chão de sobressalto segurando uma pedra pronta para jogar quando um rosto familiar foi iluminado pela lua.
Ao acordar imaginei que estaria sozinha novamente, mas para a minha surpresa não estava.A minha frente estava acesa uma fogueira onde peixes estavam sendo assados, o aroma era maravilhoso, Ravi o manejava no fogo com cuidado.Olhei para a manta que me cobria, era azul marinho.- Bom dia Nina.- comprimentou Ravi, retirou um peixe do fogo e o estendeu para mim no espeto. Encarei-o sem entender porque ele ainda estava aqui.Afinal o que ele quer de mim?Começo a achar que ele não tem nada a ver com Sandra, se trabalhasse para ela já teria me levado.- Você é muito desconfiada.- pronunciou ele e retirou um pedaço do peixe provando-o na minha frente.Em seguida estendeu o restante do peixe, aceitei mais confiante ao menos envenenado não estava.Ele sorriu ao me ver comer o peixe, estava ótimo.- Você fala muito pouco para uma mulher sabia Nina.Não me dei ao tra
O sol estava alto, sorri para Avati parado a beira do rio, seus cabelos negros caiam sobre a testa molhada, ele tinha entrado no rio sem mim é claro. - Nina, você demora muito!- gritou ele nadando, Avati era um ótimo nadador.Sentei nas pedras do rio sorrindo para ele.Hoje era o dia que mamãe faria meu bolo. - Avati você vai a minha casa hoje não vai?- gritei a pergunta a ele enquanto nadava no rio. - Sua mãe vai fazer bolo olhos azuis?- perguntou ele.Era como praticamente todos da tribo Kai me chamavam, eu tinha traços de indígena, cor de indígena e cabelo também mas os olhos da minha mãe. - Então você só vai pelo bolo seu cabeça oca?!- questionei fingindo estar irritada.Avati saiu da água e se sentou ao meu lado. - Vou por você também olhos azuis.- sussurrou ao meu lado. - Tenho certeza disso Avati.- respondi.Ele se levantou de repente e andou até uma árvore, mexeu em umas folhas amontoadas ao pé dela, das folhagen
É estranho morrer, achei que veria anjos ou demônios mas não vi nada disso, vi escuridão e vazio mas não fiquei tanto tempo assim.Mas é claro que eu não morri de verdade caso contrário não teria acordado.Quando acordei senti algo estranho.Para começar parecia que havia um buraco no meu peito, meu corpo que antes doía agora não doía nada.Abri os olhos e vi que estava no mesmo lugar, deitada na cama e ao meu redor cada um sentado em um banco estava Olívia e Ravi, seus olhos se alarmaram ao me verem se sentando na cama.Olívia foi a primeira a chegar perto se sentando na cama ao meu lado. - Vai ficar tudo bem.- sussurrou ela.Minha mente parecia um turbilhão, vozes sem sentido começaram a se tornar muito altas, um casal conversando sobre praias, crianças bricando de pega-pega, uma porta batendo, um chuveiro sendo ligado, um carro saindo, carros chegando, a tv ligada, várias tvs ligadas...aq
É claro que ao me ouvir gritar Ravi entrou no banheiro sem a menor dificuldade, com um único empurrão quebrou a fechadura e entrou. - Pare de gritar, você está em uma pousada, não queremos atrair atenção!- ralhou comigo ele. - Meus olhos!- gritei. Ele suspirou e se aproximou de mim.Segurou meu rosto entre suas mãos e pareceu analisar meus olhos com cuidado. - É normal isso acontecer, você só está com sede.- ao ouvir dizer isso me dei conta da sensação na garganta que me incomodava desde a hora que acordei, uma sensação dolorosa de sede.Liguei a torneira e me abaixei tentando engolir o máximo de água que consegui, pareceu aplacar um pouco o que eu sentia, mas no fundo a sede ainda continuava ali, dolorosa e contínua. - Se vista, precisamos conversar.- avisou ele e saiu encostando a porta que eu não tinha mais a opção de trancar.Aquilo era uma loucura, estavam me drogando com toda a certeza, tirei o vestido e procurei marcas de agulh
A porta não ficava trancada, eu fui verificar quando Ravi me deixou sozinha, olhei para o corredor e vi muitas portas, fiquei um tempo observando pessoas entrando e saindo dos seus quartos, parecia mesmo uma pousada.Mas não tentei fugir, estava muito confusa e sem saber o que fariam comigo caso eu fugisse.Voltei para o quarto e liguei a TV, na boate não tínhamos TV nos quartos, nada que nos informasse sobre o mundo fora daquele lugar, a última TV que tinha visto era na casa dos meus pais, minha mãe estava assistindo a um filme, lembro-me que ela me chamou para ver com ela, mas eu não quis, estava ocupada com coisas de criança brincando com minhas bonecas... Porque o gosto do sangue Não me causou enjoos? Porque não me pareceu repulsivo?Até mesmo agora que eu sabia exatamente o que havia tomado não sentia repulsa.O que estava acontecendo comigo afinal? Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.- Entre. O garotinho de
Era tudo uma loucura, eu realmente estava morta.Agora era uma vampira sugadora de sangue alheio.Tantos anos em cativeiro para morrer sendo arremessada contra uma árvore.A garota que eu tentei salvar? Morta também, mas não morta como eu que Ravi me transformou em vampira, ela estava morta mesmo sem nenhum sangue em suas veias.Ravi a enterrou na floresta.O homem que eu vi ter a cabeça arrancada era um vampiro. - Porque não tenho nenhuma marca de mordida? Foi você que me mordeu certo?- perguntei enquanto voltávamos para meu quarto. Ele me olhou. - Para alguém que não via muita TV você tem uma visão muito hollywoodiana dos vampiros.- respondeu ele e só consegui me deter em ele saber que eu não assistia muita tv, como sabia? - Como sabe que eu não tinha acesso a TV?- questionei quando paramos em frente a porta do quarto. - Eu vejo lembranças e desejos quando toco em