Passava da meia noite e eu rebolava pela cama completamente desarrumada, buscando por uma posição que se não me permitisse cair no sono, me permitisse sossegar meu corpo dos tremores.
— Estourou! — deitada de bruços, sussurava a palavra dita por ele e mordiscava meu relógio menstrual.
Minhas lágrimas faziam trilhos grossos pelo meu rosto e encharcavam meus lençóis, quando pensamentos bizarros me apareciam na mente, esfumando minha quietação e me desorientando cada segundo mais. Me encolhi no meu desespero e não vi nada mais que um futuro completamente distorcido e contrário do que meus pais queriam que eu tivesse. Estava tão perdida nas consequências dos meus atos, que estava impossibilitada de ver possíveis soluções para meu problema.
Mano, oque foi que eu fiz?
Essa frase ecoava na minha mente e contorcia minha expressão a cada repetição.
Tentar imaginar as reações dos meus pais apenas piorava as coisas, me doíam os ouvidos de tanto lhes simular a fúria. Meu coração era uma caixa de som que reproduzia perfeitamente meu desespero e suas fortes batidas geravam intensidade no meu choro. O facto de ser tudo tão prematuro me amedrontava tanto que eu me sentia incapaz de respirar normalmente. Chorar não aliviava absolutamente nada quando, aos poucos, meus dedos gelados iniciavam vibrações em torno do relógio lilás.
Várias coisas me tiravam o sossego, dentre as quais ter que encarar a sociedade com uma barriga enorme e a minha própria aceitação me pareciam as mais difíceis de lidar.— Meu Deus! — soltei num sussurro corrompido e lambi meus lábios salgados.
A fome era uma reação do meu corpo ao pânico que sentia. Então, de vez em quando, para além do som do meu desespero, meu estômago também emitia graves arrotos. Todo aquele caos no meu interior me fez cair no erro da hipocrisia e questionar a existência de Deus, naquele momento. Eu tive escolhas melhores e uma delas foi serví-lo, mas ignorei como se nada fossem, alegando que o melhor seria dormir nos braços de um rapaz depois de uma tarde de sexo.
Quanto azar...
Com movimentos desgastados, limpei meu rosto e rebolei até a borda da cama, me permitindo cair no chão que me acolheu com sua frieza e dureza. Levantei sem ao menos reclamar e tentei regular meus pensamentos sempre que dava passos imprecisos até a cozinha.
A casa estava em silêncio, apenas com ares e cantigas noturnos. A luz da lua atravessava o corredor ao qual eu atravessava, projectando lindamente alguns galhos da mangueira perto da janela. Eu adoraria apreciar aquilo se meu estômago não me estivesse a apressar e se não estivesse entupida de preocupações.Entrei na cozinha e fui directo para a geleira em busca de algo que me satisfizesse a fome ou pelo menos me permitisse esquecer, por um segundo que fosse, a confusão que se passava no meu íntimo. O peso de tudo me fez apoiar minha testa na porta da geleira e o ar frio que dela saía criava ondas de arrepios que me incentivavam a chorar ainda mais.
Enquanto isso, eu me convencia cada vez mais de uma coisa: estava lascada.
Sexta-feiraDia de animação para adultos exaustos e adolescentes inconsequêntes. Era o início de compensação do estresse que os dias úteis da semana proporcionavam.Meu entusiasmo ficava explícito em tudo o que fazia, motivado pela autorização que meus pais me tinham dado para que fosse a tão esperada festa do mês, alusiva ao soprar do vento.Na aula de filosofia, vários pensamentos me tiravam a concentração, dentre os quais se destacava a promessa que Weben, meu namorado, me tinha feito. Sussurou no meu ouvido palavras de arrepiar o corpo e de torturar de ansiedade. Se tinha como, eu não sabia. Mas eu não resistia a voz daquela relíquia da estética. Seu sorriso enfeitava suas palavras tão cheias de segundas intenções e fazia com que a curiosidade me pipocasse pelo corpo todo de tal forma que me esgotavam as poss
Estava uma noite fresca em Maputo. Meu bairro acolhia sons abafados de algumas TV's e grilos cantavam cada vez mais alto a cada passo que eu dava, ansiosa para colocar meus olhos no rapaz que manipulava constantemente meus pensamentos.A medida que eu andava, sua imagem ficava mais nítida através daquele vidro. Lá estava ele, meu presente de Deus empacotado por um carro azul-escuro. Ansiedade reveio, então acelerei meus passos e abri a porta do banco do passageiro, sentindo seu perfume colidir com o meu assim que entrei.— Boa noite! Estás linda. — aquele sorriso e aquela voz surtiram efeito de gelo sobre minha pele.— Oi. — sorri tímida olhando para suas escuras e dilatadas pupílas, por delito da noite.Weben vestia um blusão preto, sem estampa alguma, cujas mangas tinham sido enroladas nos seus cotovelos, deixando seus braços mais cheios. Por baixo vestia um par de jeans azul-claro, sapatilhas a condizer e p
SábadoAcordei com um rio de baba que desagoava no meu travisseiro e para dificultar ainda mais o processo, o sol parecia ter se albergado no meu quarto. Era como se eu tivesse acordado num mundo paralelo até me acostumar com a claridade, ganhar coragem e disposição para me levantar.Movida pela preguiça matinal, arrastei meu corpo até estar sentada na cama e soltei um grunhido assim que senti um forte incômodo na minha intimidade. Depois de choramingar e espalmar a testa, meu cérebro me levou de volta a noite anterior, cujas cenas ficaram tatuadas na minha ervilha.Flashback onEu buscava por ar que nem maluca. O homem pesado e deitado por cima de mi
Primeiro dia útil da semana e minha empolgação ia ao encontro do petróleo no subterrâneo, por resultância do período menstrual.Vestia uniforme escolar preto e branco e arrastava os pés pelo asfalto, perdida nas batidas de músicas aleatórias. Faltavam mais ou menos vinte minutos até a escola e eu estava com disposição zero para fazê-lo em tempo recorde. Enquanto sabotava a sola dos meus sapatos, me perdia nas lembranças da sexta-feira.Demorou um tempinho até eu perceber que um som de bozina se misturava com as batidas da música. Três passos depois parei, retirei um dos meus fones e me virei, dando logo de cara com o carro azul-escuro.Ah Deus, Weben Shadrack!Cada dia parecia retocar sua beleza, era sempre como se o estivesse a ver pela primeira vez. Retirou seu braço através da janela do carro, assenou para mim e em seguida fez um gesto que deu a perceber que eu de
Passaram-se alguns dias e já era sábado novamente. Os dias passaram na mesma rotina e levaram consigo minha mudança de humor, porém, não me livraram das lembranças.Weben e eu falamos poucas vezes desde a passada segunda-feira, porque seus afazeres mantiveram muito ocupado. Mas, numa destas vezes, marcamos um encontro rápido, no início da noite de sábado, no fim da minha rua. Mas, por motivos pessoais, ele se atrasou.Nos sábados, os jantares na minha casa eram mais tarde. Este factor me deixava pensativa em relação a qual desculpa inventar para sair tão tarde, porque sair sem ser percebida era um risco que eu não queria correr de jeito nenhum! Estávamos todos reunidos na sala e super atentos ao único seriado que conseguiu conquistar a todos nós: Prision Break. Olhei para meu pai e ele mordiscava os nós de seus dedos, minha mãe limava suas unhas das mãos enquanto trocava comentários com meu irmão mais novo, deitado no tapete da
Meu olhar vagava pela escuridão densa que dominava cada canto do meu quarto. No silêncio da madrugada, derramava litros de lágrimas,ao mesmo tempo que segurava meu relógio menstrual, como se meu viver dependesse daquilo.Estava irritada comigo mesma, por não estar em condições de fazer a contagem direito. Me desleixei com o relógio e estava baralhada. Talvez estivesse em dia férteis, talvez não. Mas a única coisa que fazia, era passar o relógio esférico por entre meus dedos, também tentando digerir oque aconteceu havia menos de uma hora."Weben! Como assim estourou?"Com as mãos na cabeça erguida, Weben estava tão preocupado quanto eu. Lembrava de tê-lo ouvido sussurar palavrões de olhos fechados, enquanto eu estava perplexa sem saber por onde começar a me preocupar. Fiquei por um bom tempo encarando seus movimentos até que, assim como o medo, a vontade de voltar para casa me fez sair do carro desesperada,
Tânia soltou um grunhido assim que Cleyton bateu em sua nuca, fazendo corrigir suas palavras logo depois:- Desculpa, mas a falta de palavras faz isso comigo e vocês sabem. - limpou seu queixo com o tecido de sua camisola que cobria um dos ombros.- E oque você vai fazer? - perguntou Cleyton com a voz suave e menos grave que o normal.- Vocês acham mesmo que eu estou em condições de tomar alguma decisão agora? - olhei para meu amigo e cravei meus dentes no lábio.- Oky, vamos em fases. Primeiro: você está em dias férteis?- Não sei. - respondi imediatamente a minha amiga.- Como assim não sabe?- Me atrapalhei na contagem, Tânia!- Está bem, fazemos juntas. Quando iniciou teu período menstrual?- Não lembro. - suspirei - Há duas ou três semanas.Tânia tirou seu telefone do bolso e digitou rapidament
Tânia soltou um grunhido assim que Cleyton bateu em sua nuca, fazendo corrigir suas palavras logo depois:- Desculpa, mas a falta de palavras faz isso comigo e vocês sabem. - limpou seu queixo com o tecido de sua camisola que cobria um dos ombros.- E oque você vai fazer? - perguntou Cleyton com a voz suave e menos grave que o normal.- Vocês acham mesmo que eu estou em condições de tomar alguma decisão agora? - olhei para meu amigo e cravei meus dentes no lábio.- Oky, vamos em fases. Primeiro: você está em dias férteis?- Não sei. - respondi imediatamente a minha amiga.- Como assim não sabe?- Me atrapalhei na contagem, Tânia!- Está bem, fazemos juntas. Quando iniciou teu período menstrual?- Não lembro. - suspirei - Há duas ou três semanas.Tânia tirou seu telefone do bolso e digitou rapidament