Capítulo 7

Tânia soltou um grunhido assim que Cleyton bateu em sua nuca, fazendo corrigir suas palavras logo depois:

- Desculpa, mas a falta de palavras faz isso comigo e vocês sabem. - limpou seu queixo com o tecido de sua camisola que cobria um dos ombros.

- E oque você vai fazer? - perguntou Cleyton com a voz suave e menos grave que o normal.

- Vocês acham mesmo que eu estou em condições de tomar alguma decisão agora? - olhei para meu amigo e cravei meus dentes no lábio.

- Oky, vamos em fases. Primeiro: você está em dias férteis?

- Não sei. - respondi imediatamente a minha amiga.

- Como assim não sabe?

- Me atrapalhei na contagem, Tânia!

- Está bem, fazemos juntas. Quando iniciou teu período menstrual?

- Não lembro. - suspirei - Há duas ou três semanas.

Tânia tirou seu telefone do bolso e digitou rapidamente alguma coisa enquanto meu amigo, Cleyton, olhava preocupado para o chão, no qual batia freneticamente seu pé.

- Não deve ter acontecido nada, temos que considerar o facto de serem as tuas primeiras experiências. Pode não passar de um alarme desnecessário. - Tânia devolveu seu telefone, se ajoelhou na minha frente e segurou minhas mãos.

- Não me diga! Um preservativo estourado dentro dela não te parece alarmante o suficiente?

- Está bem, me expressei mal denovo. Só quero que ela seja otimista.

- Otimismo e eu não somos bons amigos, vocês sabem.

Passei meu polegar por baixo de meus óculos para enxugar a lágrima que escorrreu. Cleyton estava super quieto e indecifrável. Quando todos ficamos em silêncio, lembrei que estavamos na minha sala de aulas e afundei na minha cadeira, fungando cautelosamente para não atrair olhares curiosos.

- Eu acho que, caso estejas a te sentir insegura, devias fazer um teste.

- E eu acho que estão a fazer muito drama. - virou-se para Cleyton - Além do mais, não passou tempo suficiente para fazer um.

- Quando é que se deve fazer o teste de gravidez? - perguntou ele e deu uma rápida olhada no seu relógio no pulso.

- Eu lí na internet que precisa esperar que a menstruação atrase para que o teste funcione. Uns 2 à 5 dias, por aí.

- Isso não será tão já, certo? - Tânia.

Balancei minha cabeça em negação às suas palavras e olhei para meus dedos que ainda estavam atados aos dela.

- Conversou com o teu namorado sobre isso? - as palavras dele vieram até mim com firmeza.

- Sim. - menti.

- Porque é que tenho a impressão que isso é mentira? - Tânia soltou minha mão e se levantou, voltando a sua posição inicial.

- Porque é. - confessei depois de mais um longo suspiro, na tentativa de livrar o peito da dor.

Seus olhares eram indecifráveis, me levavam de voltas às várias conversas de avisos e repreensões que tivemos, dentre as quais surgiram frases que começavam a fazer sentido. Encaixavam naquele puzzle desgastante para mim, que me fazia alterar conceitos que criei sobre Weben Shadrack.

- Oque vai fazer até lá? - suas esferas castanhas continham preocupação quando atentas a mim.

- Não sei.

__________|♪|__________

Ao chegar em casa, me desfiz de minhas roupas e fui tomar um banho. Estava exausta e precisava deitar minha cabeça num lugar que não fosse frio nem tão sólido quanto minha mesa.

Eram 17 e quaisquer minutos quando vesti meu pijama e andei pela casa vazia em busca de algo para me distrair. Minha mãe avisou que levaria meu irmão para compras básicas e meu pai voltaria somente para lanchar e, logo depois, regressar ao trabalho.

Meus pés rastejantes me levaram até a sala e me joguei num dos sofás, super desajeitada, afim de assistir algo no telefone. Meu pescoço estava quase dolorido devido a posição na qual eu me encontrava, balançava os joelhos de um lado para o outro, na mesma medida que respirava pesado. Estava com o telefone na mão, passando o dedo pela tela e indecisa sobre oque fazer.

Entrei no facebook e havia várias notificações.

"Cleyton ED mencionou-te num comentário."

Surpreendentemente, a indiferença me fez aprumar meus lábios e arrastar o dedo pela tela até a barra de notificações, colocar play na música que estava em pausa e sair do aplicativo. Findo, coloquei minhas mãos por baixo da minha nuca, soltei um lufão de ar e fechei os olhos, sentindo meu medo se dissolver nas palavras que James Arthur cantava. Num passe de mágica, voltei a pegar no telefone e, na barra de pesquisa do YouTube, escrevi a primeira coisa que me veio à mente:

"Adolescentes grávidas em gestação."

Existem actos injustificáveis, que refletem clara e perfeitamente o que mais tememos no momento. Aquele era um deles, porque, na minha mente, nada mais cabia que possibilidades que giravam em torno do mesmíssimo ponto: gravidez. Minhas lágrimas eram o mais puro extrato do meu medo e com elas, pragas lançadas a Weben saiam de mim a todo vapor. Como se me tivesse ouvido, uma mensagem sua apareceu na barra de notificações. Juntou toda sua inconveniência para perguntar se estava tudo bem comigo, mas minha indisposição me fez desviar a atenção de sua mensagem, pelo simples e inexplicável facto de meu ódio por ele me lembrar que quando precisei de si, nada mais me deu que seu silêncio inútil.

Vários vídeos apareceram na tela e um específico chamou minha atenção, cuja imagem parecia de um grupo de adolescentes em uma espécie de terapia. A imagem me deu um frio na barriga e o título do mesmo ia contra qualquer coisa que me pudesse acalmar.

"Como lidar com a gravidez na adolescência"

Meu corpo tremeu de leve quando a porta foi aberta de forma brusca pelo meu pai e seu suspiro pareceu preencher a casa, evidenciando sua chegada. Desliguei de imediato meu telefone e me endireitei, o observei se livrar de suas botas e andar descalso até mim com uma barra de chocolate na mão.

- Olá, Vivi.


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