Tânia soltou um grunhido assim que Cleyton bateu em sua nuca, fazendo corrigir suas palavras logo depois:
- Desculpa, mas a falta de palavras faz isso comigo e vocês sabem. - limpou seu queixo com o tecido de sua camisola que cobria um dos ombros.
- E oque você vai fazer? - perguntou Cleyton com a voz suave e menos grave que o normal.
- Vocês acham mesmo que eu estou em condições de tomar alguma decisão agora? - olhei para meu amigo e cravei meus dentes no lábio.
- Oky, vamos em fases. Primeiro: você está em dias férteis?
- Não sei. - respondi imediatamente a minha amiga.
- Como assim não sabe?
- Me atrapalhei na contagem, Tânia!
- Está bem, fazemos juntas. Quando iniciou teu período menstrual?
- Não lembro. - suspirei - Há duas ou três semanas.
Tânia tirou seu telefone do bolso e digitou rapidament
Alguns dias depoisOs dias passaram com tanto vagar, que levou uma eternidade até que estivessemos no início de novembro e os testes finais estivessem à uma semana do nosso alcance.Na sala de aulas, várias vozes colidiam em conversas completamente diferentes, me fazendo perder interesse e atenção no que acontecia ao meu redor. Eu rabiscava meu nome com caligrafias variadas na capa do meu caderno, buscando tirar minha cara de preocupação do alcance dos olhos dos meus colegas.Minha vida girava em torno de preocupação e aflicção, encenava uma normalidade que não mais existia para minha família e enfrentava um dilema relacionado ao Weben. Não sabia qual passo dar e para piorar às coisas, o atraso do meu período menstrual começou
Acordei das poucas horas de sono que tive, para o feriado tenso que eu teria. Depois de tanto me revirar na cama, dormi decidida a fazer o teste e me livrar de tanta dúvida, rezando para que desse negativo.Estava despida de ânimo e o cansaço das noites mal dormidas pendia sobre meus ombros, mas lutava contra tudo aquilo para parecer o mais normal que conseguisse.Na noite de quinta-feira, Cleyton avisou que tinha conseguido comprar o teste e com tom de irritação, contou cada detalhe do momento constrangedor pelo qual passou. Segundo ele, o olhar da atendente caiu sobre si com pesar, surpresa e a dúvida de poder ou não confiar no que teria concluido à respeito dele. Enquanto isso, eu soltava lufas de ar para segurar meus risos e falar todas as palavras de conforto que poderia.Sorri e balancei a cabeça com a lembrança, ao passo que tamborilava meus dedos no sofá. Sozinha em casa e com os fones bombando alto em meus ouvidos, naquele momento, eu e
Tânia estava abraçada a cintura de Cleyton e se debatia, enquanto ele, alto que era, erguia sua mão o mais alto que podia para tirar o remote do alcance dela. Ambos trocavam insultos e ameaças, enquanto eu apenas ria da situação sentada e de braços cruzados.- Melhor você me deixar, senão isso não vai terminar bem! - meu amigo disse ofegante, pois era chacoalhado que nem árvore por Tânia.- Você não pode chegar me encontrar a assistir e querer trocar! Me dá o remote! -respondeu sentindo uma certa excassez de ar também.- Eu não quero assistir, só quero ver oque estão a dar lá.- Não foi isso que você disse primeiro. - ficou na ponta dos pés e tentou alcançar o remote, mas não teve sucesso.- Se continuarmos assim, nenhum de nós sairá a ganhar, porque nenhum dos dois está a assistir oque quer. - com a outra mão, Cleyton fez cocegas nela, que pulou para longe de si no mesmo instante.
Ainda com o olhar preso naquele teste, senti meu coração rasgar seu caminho até minha boca. Um frio anormal se apossou de meu corpo enquanto eu pensava apenas numa coisa: destruí minha vida.Abracei minhas pernas, escondi minha cabeça e comecei a chorar. Chorei muito, chorei até sentir sufoco e a dor do meu coração se expandir pelo corpo todo, chorei e desejei que o tempo voltasse e que nunca o tivesse conhecido.— Evie? — a voz abafada de Tânia soou do lado de fora.Respirei fundo e soltei um gemido que partiu do fundo de mim, para que percebesse que não estava em condições de proferir nenhuma palavra naquele momento. Me sentia desnorteada, junto com a ficha, meu humor caía lentamente quando ensopava o tecido das minhas calças de lágrimas.— Evie, posso entrar? — insistiu e eu ergui minha cabeça, mas não conseguia falar.Drenava lágrimas enquanto mordia meu joelho para abafar o barulho de choro, só
Eu devia ter percebido através das mudanças pelas quais meu corpo passava e alguns sintómas primários: sentia tonturas e me irritava constantemente; cuspia e meu olfato se tinha aflorado mais ainda; meus mamilos estavam mais escuros e patenteavam um ligeiro inchaço; seios estavam cada vez mais fartos e as curvas descomunais. Então percebi que o resultado do teste lavou meus olhos para que eu visse sinais que meu corpo me dava pouco à pouco. Mas, mesmo assim, eu me negava a crer que era tudo verdade, motivo pelo qual decidi colocar minhas fichas num segundo teste por fazer.Durante a longa noite em que destilava de mim toda minha sofrência, me agarrei a ideia daquele teste ter se ocupado das poucas chances de cometer falhas como um bote salva-vidas e me dei uma segunda chance. Me agarrei a aquilo de forma obssessiva, incapacitando minha mente de cogitar um segundo "positivo". Embora tivesse certeza que Cleyton conseguiria outro teste para mim assim que e
Olá, Evie. Eu não tenho muito oque dizer, mas vou conseguir um teste urgentemente. Bjs.Sua mensagem estava mais oca do que eu esperava. Sem explicações, sem pedido de desculpa, sem pelo menos procurar saber sobre meu estado. Mensagem que me fez perceber o quão raso e indiferente ele parecia estar perante aquilo. Me sentei na cama e lí sua mensagem novamente, pensando que talvez tivesse lido rápido demais. Mas era somente aquilo. Então senti uma pontada no coração e a desilusão marejar meus olhos enquanto pensava no que responder. "Só isso?" digitei e apaguei."Não vai escrever mais nada?" digitei e apaguei novamente.Fiz uma pausa para pensar e enxugar meus olhos. Respirei fundo, trazendo um pequeno alívio para meu peito e voltei a digita
Com o olhar completamente envergonhado, sustentei o de Agnes, através do qual me fazia perguntas. Implorei internamente para que ela não estragasse tudo. Não tinha certeza de como agiria perante aquilo, porque nunca fui muito próxima deles ao ponto de esperar cumplicidade, por isso seu silêncio me aniquilava de preocupação.— Soube que você lê de vez em quando. Tem algum livro de Mia Couto? — Allen perguntou e ganhou minha atenção no mesmo instante.— Eu não, mas meu pai tem.Devolvi minha atenção para Agnes e movi lentamente minha cabeça em negação para que não falasse nada sobre aquilo, porque oque eu menos precisava era de mais pessoas sabendo.— Só não sei onde deve estar. Quer que eu vá perguntar a minha mãe? — desencostei da porta e meti minhas mãos suadas nos bolsos do meu vestido.Quando percebeu que seu irmão se aproximava, minha prima escondeu o teste por baixo do cobertor e s
Meus pensamentos rondavam em torno de tudo que me tinha acontecido nas passadas 3 semanas. Rastejava meus pés pela terra abatida quando fazia uma análise dos pontos positivos e negativos daquela situação, chegando a conclusão que havia somente um ponto positivo: minha família ainda não tinha descoberto.Meu uniforme preto e branco enxugava o suor que saía de mim por conta de desconforto e das náuseas que sentia. Um nó na garganta me fazia engolir constantemente saliva para aliviar o sufoco e para piorar, a colisão das coisas em minha volta me deixava tonta e necessitada de uma pausa e apoio. Naquele momento eu mataria por alguns litros de água, uma boleia e um abraço bem apertado. Sentir coisas e não ter ninguém para ajudar a lidar com elas, não me parecia uma situação muito agradável de se passar. Mas continuei engolindo e respirando fundo, sem tirar a mão do peito, aumentando a velocidade dos meus passos até chegar à escola.Estava tudo uma confus